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Cinema

- Publicada em 16 de Agosto de 2019 às 03:00

O eclipse

Hélio Nascimento
A lição fundamental que os filmes argentinos exibidos no Brasil nos últimos anos têm oferecido se repete em Vermelho sol, dirigido por Benjamin Naishtat: o personagem sempre deve ser o ponto de partida, o elemento imprescindível. A notável cena de abertura, desenrolada num restaurante, sintetiza de forma perfeita tal opção. O conflito verbal que então se estabelece aos poucos vai se transformando em violência cada vez mais radical, até um ponto de reveladora ruptura. Os elementos fundamentais e os temas principais do relato que a seguir será acompanhado pelo espectador estão expostos de maneira a lembrar a abertura de uma ópera. Ocupando uma mesa enquanto espera a chegada da esposa um advogado que atua em uma cidade do interior é obrigado a ceder seu lugar a um desconhecido que reclama não estar sendo atendido. Essa disputa por espaço parece ter sido resolvida depois que o protagonista cede seu lugar. Mas tal não acontece, pois o que havia se retirado não controla sua inconformidade e começa a utilizar a palavra como arma. O importante aqui é que o realizador do filme não apela para a caricatura no momento de colocar em cena o lado oculto do personagem de Dario Grandinetti. O que ele diz para quem o afastou de seu lugar não é algo desprovido de veracidade. A humilhação se expressa através de um discurso, como se o advogado se transformasse em acusador ou então num analista levando ao conhecimento de todos os problemas de seu paciente. Isso fica comprovado no desfecho da sequência, quando também o lado oculto do advogado se revela. O trecho inicial sintetiza os dramas de um mundo no qual inconformidades são expressas de forma equivocada e reações geradas pelo medo costumam dar origem a situações que quase sempre causam rupturas geradoras de métodos marcados pela desumanidade e pelo mergulho na obscuridade e no terror.

A lição fundamental que os filmes argentinos exibidos no Brasil nos últimos anos têm oferecido se repete em Vermelho sol, dirigido por Benjamin Naishtat: o personagem sempre deve ser o ponto de partida, o elemento imprescindível. A notável cena de abertura, desenrolada num restaurante, sintetiza de forma perfeita tal opção. O conflito verbal que então se estabelece aos poucos vai se transformando em violência cada vez mais radical, até um ponto de reveladora ruptura. Os elementos fundamentais e os temas principais do relato que a seguir será acompanhado pelo espectador estão expostos de maneira a lembrar a abertura de uma ópera. Ocupando uma mesa enquanto espera a chegada da esposa um advogado que atua em uma cidade do interior é obrigado a ceder seu lugar a um desconhecido que reclama não estar sendo atendido. Essa disputa por espaço parece ter sido resolvida depois que o protagonista cede seu lugar. Mas tal não acontece, pois o que havia se retirado não controla sua inconformidade e começa a utilizar a palavra como arma. O importante aqui é que o realizador do filme não apela para a caricatura no momento de colocar em cena o lado oculto do personagem de Dario Grandinetti. O que ele diz para quem o afastou de seu lugar não é algo desprovido de veracidade. A humilhação se expressa através de um discurso, como se o advogado se transformasse em acusador ou então num analista levando ao conhecimento de todos os problemas de seu paciente. Isso fica comprovado no desfecho da sequência, quando também o lado oculto do advogado se revela. O trecho inicial sintetiza os dramas de um mundo no qual inconformidades são expressas de forma equivocada e reações geradas pelo medo costumam dar origem a situações que quase sempre causam rupturas geradoras de métodos marcados pela desumanidade e pelo mergulho na obscuridade e no terror.

Naishtat faz questão de ressaltar que a ação de seu filme se desenrola antes da última ditadura militar argentina, o que fica bem claro numa fala no epílogo. O que o cineasta procura focalizar são aqueles elementos que costumam gerar atentados à liberdade e ações que terminam espalhando o irracionalismo e a brutalidade. O personagem principal não é apenas um profissional respeitado na cidade, símbolo de toda uma sociedade, pois é também participante de tramas afastadas da ética. E escondidas sob uma aparência que procura se impor por gestos e falas civilizadas estão a violência e a repressão. A cena do eclipse é reveladora. Quando as luzes da civilização desaparecem, revela-se o elemento repressor, que se expressa por uma incontida agressividade verbal. A sequência da festa começa com o animal sendo laçado e depois o realizador poupa o espectador de detalhes que são apenas sugeridos, mas não totalmente ocultos. E há também o culto de modelos impostos, algo que se transforma em manifestações de ridículos rituais de submissão, como no caso dos vaqueiros americanos. E há também a entrevista quando um jornalista, no lugar de uma resposta, se vê diante de uma pergunta intimidadora.

O deserto na cena inicial é um claro substituto do mar que mais tarde seria o túmulo de opositores. E há também os jovens que não hesitam em fazer desaparecer o integrante de um grupo de dança, que nada tem a ver com o ciúme de um deles. Há muitos sinais no filme de Naishtat sobre o que aconteceria depois. Pena é que na caracterização do detetive que chega à cidade para descobrir o que aconteceu com o homem desaparecido, uma mistura do inspetor de Crime e castigo com o Columbo de Peter Falk, o realizador não consegue evitar o artificialismo e mesmo o ridículo, como aquela volta à cena para perguntar sobre os restos de comida que podem atrair insetos. É possível entender a tentativa de ligação com o quer aconteceu, mas a encenação é constrangedora, assim como diálogo no deserto, quando o advogado não consegue esconder o passado comprometedor. Essa tentativa de colocar na tela a consciência do protagonista tem sentido, mas é uma surpresa num filme até então correto a presença de uma deficiência de tal porte. Mas Vermelho sol, como já foi dito, é trabalho a ser visto, pois não é totalmente anulado por alguns equívocos.

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