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Cinema

- Publicada em 07 de Junho de 2019 às 03:00

O grande segredo

Há filmes que conseguem algum destaque menos por suas virtudes do que por revelarem que certos temas mereceriam melhor tratamento. Pode-se também dizer, e no caso a favor deles, que tais trabalhos merecem atenção por colocarem na tela, numa época dominada por infantilismos e sectarismos, e por vezes também pelo ódio e a intolerância, acontecimentos que se encontram na raiz de fatos contemporâneos. O processo iniciado na segunda década do século passado nem sempre tem sido bem elaborado por espectadores desta peça sem fim e que sendo vista de forma equivocada pode gerar o maniqueísmo, essa doença que costuma se transformar em grave ameaça. A espiã vermelha, filme dirigido por Trevor Nunn, é um desses trabalhos que, beneficiando-se da relevância do tema abordado e apoiado na presença de intérpretes consagrados, no caso a atriz Judi Dench, conseguem destaque. Não é a primeira vez que o cinema britânico aborda a questão da presença de células comunistas em postos da administração do Reino Unido durante o período da chamada guerra fria, iniciado depois que, derrotado o nazismo, as potências vencedoras se colocaram em posições opostas. Nem sempre tal conflito foi marcado pela baixa temperatura e por vezes, como em 1962, o mundo esteve à beira de um desastre de grandes proporções, com a revelação de que a URSS havia instalado armamento nuclear em território cubano.
Há filmes que conseguem algum destaque menos por suas virtudes do que por revelarem que certos temas mereceriam melhor tratamento. Pode-se também dizer, e no caso a favor deles, que tais trabalhos merecem atenção por colocarem na tela, numa época dominada por infantilismos e sectarismos, e por vezes também pelo ódio e a intolerância, acontecimentos que se encontram na raiz de fatos contemporâneos. O processo iniciado na segunda década do século passado nem sempre tem sido bem elaborado por espectadores desta peça sem fim e que sendo vista de forma equivocada pode gerar o maniqueísmo, essa doença que costuma se transformar em grave ameaça. A espiã vermelha, filme dirigido por Trevor Nunn, é um desses trabalhos que, beneficiando-se da relevância do tema abordado e apoiado na presença de intérpretes consagrados, no caso a atriz Judi Dench, conseguem destaque. Não é a primeira vez que o cinema britânico aborda a questão da presença de células comunistas em postos da administração do Reino Unido durante o período da chamada guerra fria, iniciado depois que, derrotado o nazismo, as potências vencedoras se colocaram em posições opostas. Nem sempre tal conflito foi marcado pela baixa temperatura e por vezes, como em 1962, o mundo esteve à beira de um desastre de grandes proporções, com a revelação de que a URSS havia instalado armamento nuclear em território cubano.
A ação do filme de Nunn se desenrola bem antes, numa fase em que britânicos, norte-americanos e soviéticos formaram uma frente contra a ameaça nazista. Naquele período, um dos fatores que muito influenciaram jovens de todo o mundo a se integrarem a partidos de esquerda, alguns deles caudatários dos interesses soviético, foi o cinema. Nos dias em que no Brasil se discute a importância de manifestações artísticas é bom lembrar que os países protagonistas da cena mundial nunca menosprezaram as artes -e entre elas o cinema- vendo nelas instrumentos poderosos de convencimento e armas indispensáveis na batalha pela conquista de opiniões. Um presidente dos Estados Unidos chegou a afirmar que onde vão nossos filmes também chegam os nossos produtos. E, durante a Segunda Guerra Mundial, as forças armadas daquele país convocaram nomes como John Ford, George Stevens, Frank Capra, John Huston e William Wyler a se integrarem no esforço destinado a derrotar a maior ameaça enfrentada pela civilização. Importante, também, foi a participação de Alfred Hitchcock, editando o material filmado por Stevens e seus colaboradores sobre as atrocidades praticadas nos campos de extermínio nazistas. Na Inglaterra, país que teve cidades severamente atacadas, houve interesse e apoio para que Laurence Olivier realizasse, durante o conflito, uma bela versão de Henrique V, a peça de Shakespeare tão necessária naquele período. E seria certamente injusto esquecer que na URSS, estúdios de cinema foram transferidos para locais seguros, a fim de que Eisenstein continuasse a realização de Ivan, o terrível, um díptico que depois seria proibido pela censura stalinista, e também obras destinadas a exaltar a luta contra o nazismo.
A espiã vermelha vê tal processo de forma superficial. Numa cena faz uma referência a ele, quando a protagonista lembra que ela e outros colegas costumavam ver filmes soviéticos e diante deles se entusiasmavam, mesmo que fossem muito ruins. A generalização é injusta, pois alguns deles têm lugar assegurado na História do Cinema, principalmente os de Eisenstein e Pudovkin, sem esquecer que Chtchors do ucraniano Dovjenko, é dotado de vitalidade e humor. O filme de Nunn, no entanto, se aproxima superficialmente de tal tema: o da importância do cinema no processo destinado a tornar maior o prestígio de uma nação. Na época em que se desenrola ação os crimes stalinistas, algo lembrado num diálogo, não eram plenamente conhecidos. Mas mesmo assim o tema da ingenuidade colocada a serviço de interesses políticos não merece atenção maior. O filme prefere se colocar ao lado de quem via no compartilhamento de um segredo uma segurança para a paz. O filme de Nunn é desses que se aproximam de temas sem elaborá-los de forma convincente. Porém, apesar de suas limitações, valem mais do que tolices cada vez mais numerosas.
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