Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cinema

- Publicada em 31 de Maio de 2019 às 03:00

Filme e realidade

Durante o desenrolar da ação de O Caravaggio roubado, muitas influências, referências e homenagens são percebidas. É que o filme de Roberto Andò não se limita a ser um relato ambientado no mundo do cinema. Mais do que isso, sua narrativa procura aproximação com muitos filmes e até com certas figuras do cinema, como o diretor do filme dentro do filme, interpretado pelo cineasta polonês Jerzy Skolimowski. Em outro momento, é através dele que uma célebre fala de Gloria Sawson em O crepúsculo dos deuses, de Billy Wilder, é integralmente citada. Numa determinada cena, assim como Godard já havia feito em O desprezo, a profecia de Louis Lumière - não confirmada, pelo menos até agora - é exposta na tela: "O cinema é uma invenção sem futuro". Trata-se, portanto, de uma dupla citação. Em outra cena, há uma maldosa referência a Lars von Trier e a todos que pensam que fazer a câmera tremer é sinal de talento. E mesmo que não mereça ser colocado ao lado de obras maiores sobre a criação cinematográfica, o filme de Landò - que, no original, tem o título de Uma história sem nome - não merece o desconhecimento do espectador. Mesmo que seu roteiro, por vezes, pareça procurar de forma deliberada complicações exageradas e desnecessárias, o filme é desses que prende a atenção. Inspirado num fato verdadeiro, o trabalho de Andò, construído a partir de personagens fictícios e situações criadas pelo roteiro, faz uma espécie de relato sobre o mundo moderno, onde a privacidade praticamente deixou de existir e no qual tudo é filmado. É o reino da espionagem que o cineasta expõe nas imagens do filme.
Durante o desenrolar da ação de O Caravaggio roubado, muitas influências, referências e homenagens são percebidas. É que o filme de Roberto Andò não se limita a ser um relato ambientado no mundo do cinema. Mais do que isso, sua narrativa procura aproximação com muitos filmes e até com certas figuras do cinema, como o diretor do filme dentro do filme, interpretado pelo cineasta polonês Jerzy Skolimowski. Em outro momento, é através dele que uma célebre fala de Gloria Sawson em O crepúsculo dos deuses, de Billy Wilder, é integralmente citada. Numa determinada cena, assim como Godard já havia feito em O desprezo, a profecia de Louis Lumière - não confirmada, pelo menos até agora - é exposta na tela: "O cinema é uma invenção sem futuro". Trata-se, portanto, de uma dupla citação. Em outra cena, há uma maldosa referência a Lars von Trier e a todos que pensam que fazer a câmera tremer é sinal de talento. E mesmo que não mereça ser colocado ao lado de obras maiores sobre a criação cinematográfica, o filme de Landò - que, no original, tem o título de Uma história sem nome - não merece o desconhecimento do espectador. Mesmo que seu roteiro, por vezes, pareça procurar de forma deliberada complicações exageradas e desnecessárias, o filme é desses que prende a atenção. Inspirado num fato verdadeiro, o trabalho de Andò, construído a partir de personagens fictícios e situações criadas pelo roteiro, faz uma espécie de relato sobre o mundo moderno, onde a privacidade praticamente deixou de existir e no qual tudo é filmado. É o reino da espionagem que o cineasta expõe nas imagens do filme.
Talvez a maior referência seja aquela feita a Os mil olhos do Dr. Mabuse, uma das profecias plenamente concretizadas do mestre Fritz Lang. Em várias cenas do filme, as câmeras revelam intimidades e segredos ocultos. Uma delas é aquela da reunião do presidente do conselho com alguns de seus ministros. Entre eles, o titular da cultura, que, numa das primeiras cenas do filme, é mostrado pedindo socorro a uma assessora informal, pois se encontra desesperado para encontrar citações que impressionem um dos ministros do Reino Unido prestes a visitar a Itália. Numa outra cena, uma reunião ministerial dedicada a resolve o caso da obra desaparecida, o espectador dela participa não apenas por estar assistindo ao filme de Andò. Tal reunião, que era para ser secreta, é filmada por câmeras escondidas e um de seus participantes é orientado a distância, apenas repetindo palavras que lhe são transmitidas. Tudo parece uma encenação, mas o que se descobre é que a corrupção não se limita ao roubo de um quadro e se infiltra entre os altos escalões. Não falta humor nesta e em outras sequências do filme, no qual se mesclam o real com a imaginação de forma, até certo ponto, inédita.
Narrar o que acontece depois que um estúdio cinematográfico, patrocinado por um nobre ligado à máfia, é utilizado para que seja executada uma operação destinada a resolver o desaparecimento de uma obra de arte, é algo engenhoso, que também é aproveitado para que seja colocado em cena o tema do autor oculto, do talento não revelado. O diretor também utiliza a situação para falar de relações familiares, algo esclarecido só nos momentos finais, como nos melodramas tradicionais. Aproximações também são feitas aos filmes policiais, com personagens misteriosos, um deles que parece saber tudo e possuir a capacidade de parecer estar em vários lugares ao mesmo tempo, até porque o realizador não estar muito interessado em coerência, importando-se mais em efeitos que causem surpresa. Não estamos diante de filmes como Assim estava escrito, de Minnelli; A noite americana, de Truffaut; e do já lembrado O crepúsculo dos deuses. Porém, ao procurar expor o que se encontra oculto por encenações e falsidades, o filme não deixa de ser algo apropriado a uma época em que a cólera e o fanatismo substituem a lucidez. O realizador não se detém diante da ingenuidade da cena final, pois está mais interessado em focalizar o sonho concretizado da harmonia e da felicidade plenas. A cena final, desenrolada dentro de um cinema, parece uma referência a Cantando na chuva, o clássico musical de Donen e Kelly no qual o tema do talento desconhecido também era abordado.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO