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Cinema

- Publicada em 05 de Abril de 2019 às 03:00

Solidão humana

Refilmagem de obras consagradas, seja pela crítica, seja pelas bilheterias, é algo bastante comum em cinema. Clássicos japoneses, como Rashomon e Os sete samurais, foram refeitos pelo cinema norte-americano. Vários filmes europeus recentes serviram de base para produtos hollywoodianos, e os próprios norte-americanos, vez por outra, revisitam seus sucessos de épocas passadas. Em alguns casos, cineastas fascinados por obras de realizadores de gerações anteriores procuram recriá-las à sua maneira, certamente pensando em enriquecer propostas e ampliar visões de certos temas. Há até mesmo exemplos bastante discutíveis, como aquela tentativa de recriar Psicose, perpetrada por Gus van Sant, que seguiu plano por plano a obra original, com pequenas inserções de imagens originais. Além dos citados, é interessante lembrar que até Dona flor e seus dois maridos teve uma versão norte-americana, e o admirável filme argentino Nove rainhas, de Fabián Bielinsky, cujo roteiro tinha como mérito maior a surpresa a cada cena e teve uma versão norte-americana que, como era previsível, passou em branco. Algo mais raro é o mesmo cineasta refilmar uma obra sua. Alfred Hitchcock refilmou, em 1956, O homem que sabia demais, cuja primeira versão foi realizada em 1934. O mestre certamente percebeu que o filme original carecia de técnica sonora mais apropriada, principalmente para a célebre sequência desenrolada no Royal Albert Hall, uma até hoje insuperável mescla de música e suspense. O primeiro filme tinha méritos, mas o segundo é uma obra-prima. Recentemente, Michael Haneke realizou uma versão norte-americana de Violência gratuita, recriando integralmente a versão original, uma operação que apenas trocou cenários e intérpretes para chegar ao mesmo ponto: a intensidade da agressividade humana. E há também o caso de A flauta mágica, a ópera de Mozart que primeiro interessou a Ingmar Bergman e, recentemente, foi outra vez filmada por Kenneth Branagh, homem de teatro e cinema, assim como o cineasta sueco, e que realizou várias novas versões de filmes clássicos.
Refilmagem de obras consagradas, seja pela crítica, seja pelas bilheterias, é algo bastante comum em cinema. Clássicos japoneses, como Rashomon e Os sete samurais, foram refeitos pelo cinema norte-americano. Vários filmes europeus recentes serviram de base para produtos hollywoodianos, e os próprios norte-americanos, vez por outra, revisitam seus sucessos de épocas passadas. Em alguns casos, cineastas fascinados por obras de realizadores de gerações anteriores procuram recriá-las à sua maneira, certamente pensando em enriquecer propostas e ampliar visões de certos temas. Há até mesmo exemplos bastante discutíveis, como aquela tentativa de recriar Psicose, perpetrada por Gus van Sant, que seguiu plano por plano a obra original, com pequenas inserções de imagens originais. Além dos citados, é interessante lembrar que até Dona flor e seus dois maridos teve uma versão norte-americana, e o admirável filme argentino Nove rainhas, de Fabián Bielinsky, cujo roteiro tinha como mérito maior a surpresa a cada cena e teve uma versão norte-americana que, como era previsível, passou em branco. Algo mais raro é o mesmo cineasta refilmar uma obra sua. Alfred Hitchcock refilmou, em 1956, O homem que sabia demais, cuja primeira versão foi realizada em 1934. O mestre certamente percebeu que o filme original carecia de técnica sonora mais apropriada, principalmente para a célebre sequência desenrolada no Royal Albert Hall, uma até hoje insuperável mescla de música e suspense. O primeiro filme tinha méritos, mas o segundo é uma obra-prima. Recentemente, Michael Haneke realizou uma versão norte-americana de Violência gratuita, recriando integralmente a versão original, uma operação que apenas trocou cenários e intérpretes para chegar ao mesmo ponto: a intensidade da agressividade humana. E há também o caso de A flauta mágica, a ópera de Mozart que primeiro interessou a Ingmar Bergman e, recentemente, foi outra vez filmada por Kenneth Branagh, homem de teatro e cinema, assim como o cineasta sueco, e que realizou várias novas versões de filmes clássicos.
O cinema chileno, uma das cinematografias que, nos últimos anos, começou a adquirir relevo graças ao trabalho de diretores como Pablo Larrain, Andres Wood e Sebastian Lelio, já foi laureado com um Oscar de filme estrangeiro concedido a Uma mulher fantástica, filme dirigido pelo último citado. Lelio já havia recebido também o prêmio de direção no Festival de Berlim, quando, então, a atriz protagonista de Gloria, Paulina Garcia, foi laureada como a melhor atriz. Ele, agora, se coloca entre aqueles cineastas que retornam a um filme anterior, refilmando a obra premiada na Alemanha, agora com o título ampliado para Gloria Bell. O roteiro, obviamente, não foi alterado, e o novo filme pouco tem a acrescentar ao tema antes desenvolvido. Mas o novo trabalho não é obra menor. A competência do cineasta para abordar o tema da solidão e as tentativas de ocultá-la é evidente desde a primeira sequência, quando a coreografia exercida pela protagonista é claramente uma tentativa de fugir do drama por ela vivenciado. Principalmente para quem não viu o filme original, o novo Gloria certamente terá algo a oferecer.
Um cineasta como Lelio certamente não iria fracassar refilmando uma obra sua. E outra vez contando com uma atriz de talento superior, agora Julianne Moore, consegue realizar um daqueles filmes valorizados pela perfeição como é colocada em cena uma personagem cuja trajetória expressa esse drama gerado por uma procura de salvação num movimento que revela apenas angústia e desespero, quando a figura humana se transforma em caricatura animada de seres solitários e infelizes, como nas cenas de abertura e encerramento. Quando o filho executa uma peça de Bach, a distância entre o sofrimento e a harmonia é claramente exposta. E a cena da vingança, quando a família do homem do parque de diversões surge pela primeira vez em cena, o cineasta, como no filme anterior, mostra o mundo não aceito pela protagonista, um cenário do qual ela se afasta e contra o qual dirige uma revolta limitada pelo gesto de desespero disfarçado de alegria.
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