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Cinema

- Publicada em 08 de Fevereiro de 2019 às 01:00

América

O diretor Adam Mckay é o primeiro cineasta norte-americano a realizar uma biografia cinematográfica de um vice-presidente. Presidentes foram vários, desde Wilson até Nixon, passando, é claro, por Lincoln, que esteve presente em filmes de Griffith, Ford e Spielberg. Até mesmo Obama, um recente chefe do Poder Executivo, andou merecendo imagens cinematográficas, dividindo o estrelato com a esposa Michelle. Ao deixar sua contribuição ao gênero e ao mesmo tempo se colocar entre os cineastas de destaque nos tempos atuais, McKay optou por uma narrativa que procura se afastar do relato tradicional. Mas não chega a ser muito original, pois sua proposta deve bastante ao que Stone concretizou em seus filmes sobre Kennedy e Nixon. Mas não há dúvida de que Vice tem elementos originais ao mesclar recursos do filme encenado com o documentário e ao lembrar que o humor e a irreverência são armas poderosas no processo destinado a sintetizar elementos fundamentais para que certas figuras públicas sejam expostas de maneira a explicitar verdades ocultas. Mas é verdade também que Dick Cheney, que exerceu o cargo durante o governo de George W. Bush, teve antes sua trajetória exposta pelos meios de comunicação, em processo que ressaltou um personagem obcecado pelo poder e interessado em transformar uma tragédia nacional em pretexto para uma ação bélica mais focalizada em riquezas petrolíferas do que numa ação vingadora e justiceira. Mas não estamos diante de um panfleto político. A ambição de McKay parece maior.
O diretor Adam Mckay é o primeiro cineasta norte-americano a realizar uma biografia cinematográfica de um vice-presidente. Presidentes foram vários, desde Wilson até Nixon, passando, é claro, por Lincoln, que esteve presente em filmes de Griffith, Ford e Spielberg. Até mesmo Obama, um recente chefe do Poder Executivo, andou merecendo imagens cinematográficas, dividindo o estrelato com a esposa Michelle. Ao deixar sua contribuição ao gênero e ao mesmo tempo se colocar entre os cineastas de destaque nos tempos atuais, McKay optou por uma narrativa que procura se afastar do relato tradicional. Mas não chega a ser muito original, pois sua proposta deve bastante ao que Stone concretizou em seus filmes sobre Kennedy e Nixon. Mas não há dúvida de que Vice tem elementos originais ao mesclar recursos do filme encenado com o documentário e ao lembrar que o humor e a irreverência são armas poderosas no processo destinado a sintetizar elementos fundamentais para que certas figuras públicas sejam expostas de maneira a explicitar verdades ocultas. Mas é verdade também que Dick Cheney, que exerceu o cargo durante o governo de George W. Bush, teve antes sua trajetória exposta pelos meios de comunicação, em processo que ressaltou um personagem obcecado pelo poder e interessado em transformar uma tragédia nacional em pretexto para uma ação bélica mais focalizada em riquezas petrolíferas do que numa ação vingadora e justiceira. Mas não estamos diante de um panfleto político. A ambição de McKay parece maior.
Sabendo que um relato sobre alguém que ocupou um lugar poderoso na chefia da nação americana não deve ser apequenado pela crítica superficial, interessada em obter aplausos de um público que espera ouvir determinado discurso, Mckay não é vencido pela tentação do esquematismo. Ele começa a ação com dois temas que durante todo o filme serão paralelamente desenvolvidos. Os ataques de 11 setembro de 2001, algo que revelou o pouco valor dado à vida de seres humanos por grupos movidos pela mais intensa das agressividades, é um dos temas da abertura. O outro é o da juventude do protagonista. Esta mescla de documentário com a rebeldia sem causa de Nicholas Ray é o ponto de partida ao revelar que o biografado não é um personagem falso colocado em determinado cenário. Sem dúvida, McKay quer demonstrar que Cheney encontrou um palco no qual poderia se mover de modo a obter poder e satisfazer sua ambição. Isso fica bem claro quando ele opta pelo lado republicano, seduzido pela ação de Donald Rumsfeld e ali percebendo um caminho a ser percorrido. Não existe qualquer ideal a ser perseguido. É apenas um projeto. A cena do jantar, quase uma paródia de trecho semelhante no Poderoso Chefão 2, reforça essa visão crítica de todo um sistema, então chefiado por um político medíocre, que encontra em Cheney um mentor. Um retrato crítico não deve apenas ser composto por elementos já conhecidos. McKay não esquece certos acontecimentos que certamente seriam ocultos numa biografia marcada pelo sectarismo ofensivo, ao ressaltar episódios da vida familiar de seu personagem. E expõe de forma vigorosa a contradição fundamental, quando na sequência final Cheney olha para o espectador e ressalta seu papel de defensor da tranquilidade da nação, momento destinado a ressaltar que personagens assim sempre representam amplos segmentos de uma sociedade em momentos de crise.
Os apressados de sempre, aqueles que parecem estar num cinema por obrigação e que fogem da sala logo que a ação se conclui, perdem, agora, a cena que é uma das mais importantes do filme. É que, nos créditos finais, McKay coloca um trecho que mostra um país dividido e no qual argumentos perdem a força e são substituídos pela agressão. Tudo ao som de uma das mais famosas canções do musical West side story, de Leonard Bernstein, Stephen Sondheim e Jerome Robbins, com a música, a letra e a coreografia sintetizando o que, agora, o filme também procura expor. A utilização da canção enquanto a imagem não volta já é uma indicação clara de que o filme não é apenas uma crítica a um político ambicioso. Seu objetivo é bem mais amplo: questionar valores e métodos.
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