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Cinema

- Publicada em 04 de Janeiro de 2019 às 01:00

Vozes do desespero

Hélio Nascimento
O gênero policial costuma ser encenado em cenários diversos. Na medida em que flagra a ruptura, aproximando-se assim das fontes da dor humana e das soluções marcadas pela violência, cada cenário propicia uma jornada por sinais reveladores do sofrimento e imagens nas quais atos violentos expressam inconformidades e vinganças. O agente da lei não é apenas aquele encarregado de desvendar mistérios e descobrir culpados. O gênero, cuja origem pode ser encontrada no Édipo Rei, é aquele que permite a revelação do oculto e também a solução de enigmas. A revelação e a punição do transgressor são apenas os elementos exteriores de tramas que exteriorizam e materializam conflitos que, por sua vez, são os símbolos da violência que as regras civilizatórias procuram controlar. O gênero propiciou ao cinema momentos antológicos e, algumas vezes, demonstrações de que, por vezes, certas regras necessitam ser alteradas para que o processo de enriquecimento seja mantido. Trazer tudo para um cenário único foi o que William Wyler fez em Chaga de fogo, no ano de 1951, tendo por base uma peça de Sidney Kingsley. Utilizando como cenário único uma delegacia de polícia, algo que a peça original já o fazia, o cineasta não apenas se apropriou de uma proposta como também terminou provando que nem sempre o cinema policial necessita de vários cenários para prender a atenção do espectador. Quinze anos mais tarde, ao iniciar sua carreira, Sidney Pollack, inspirado num artigo de Shana Alexander, realizou Uma vida em suspense, outra variação valiosa e que, provavelmente, o também estreante Gustave Möller - realizador de Culpa - conhece e admira. Principalmente em seus momentos finais, o drama dinamarquês se aproxima bastante daquela primeira obra.
O gênero policial costuma ser encenado em cenários diversos. Na medida em que flagra a ruptura, aproximando-se assim das fontes da dor humana e das soluções marcadas pela violência, cada cenário propicia uma jornada por sinais reveladores do sofrimento e imagens nas quais atos violentos expressam inconformidades e vinganças. O agente da lei não é apenas aquele encarregado de desvendar mistérios e descobrir culpados. O gênero, cuja origem pode ser encontrada no Édipo Rei, é aquele que permite a revelação do oculto e também a solução de enigmas. A revelação e a punição do transgressor são apenas os elementos exteriores de tramas que exteriorizam e materializam conflitos que, por sua vez, são os símbolos da violência que as regras civilizatórias procuram controlar. O gênero propiciou ao cinema momentos antológicos e, algumas vezes, demonstrações de que, por vezes, certas regras necessitam ser alteradas para que o processo de enriquecimento seja mantido. Trazer tudo para um cenário único foi o que William Wyler fez em Chaga de fogo, no ano de 1951, tendo por base uma peça de Sidney Kingsley. Utilizando como cenário único uma delegacia de polícia, algo que a peça original já o fazia, o cineasta não apenas se apropriou de uma proposta como também terminou provando que nem sempre o cinema policial necessita de vários cenários para prender a atenção do espectador. Quinze anos mais tarde, ao iniciar sua carreira, Sidney Pollack, inspirado num artigo de Shana Alexander, realizou Uma vida em suspense, outra variação valiosa e que, provavelmente, o também estreante Gustave Möller - realizador de Culpa - conhece e admira. Principalmente em seus momentos finais, o drama dinamarquês se aproxima bastante daquela primeira obra.
Möller, cineasta sueco trabalhando na Dinamarca, é ousado e talentoso. A ideia do cenário único é habilmente explorada por ele, que certamente acredita que o rosto humano tem muito a revelar. O grande Ingmar Bergman já havia provado que a face de um personagem é o mais importante dos elementos com que conta um cineasta realmente preocupado em criar personagens. Aquele cineasta, que também foi um encenador teatral dos mais notáveis, segundo os que puderam acompanhar seu trabalho nos palcos, algo que o próprio Bergman considerava a parte mais importante de sua obra, via no primeiro plano algo essencial quando a tela substituía o palco. Möller faz algo semelhante. São poucas as imagens nas quais aparecem outros personagens e raras aquelas nas quais são vistos detalhes da sala onde funciona um serviço policial de emergência. Mas ele acrescenta elementos novos, principalmente a utilização da voz humana através de novas tecnologias de comunicação. Esta é a novidade, mas não o único mérito do filme, que termina se impondo como um relato de suspense dos mais primorosos.
Do filme de Wyler vem o tema do drama pessoal do protagonista mesclado ao que acontece no exterior. Do relato de Pollack, a situação na qual um atendente - e, no caso do modelo, não se tratava de um policial, e sim de assistente social - tenta, pelo uso da palavra, evitar algo pior do que o já acontecido. A diferença é que, agora, tudo se concentra no personagem do policial, ele próprio envolvido num drama que só aos poucos, assim como no caso do sequestro focalizado, vai sendo revelado. O espectador, à medida em que o tempo avança, vai tomando conhecimento de que a função exercida é uma espécie de castigo temporário. Há um problema, portanto, enfrentado por aquele que procura uma solução para o caso. Sem a utilização de imagens diretas, apenas com o som e a descrição com palavras, o diretor consegue armar uma trama cinematográfica habilmente estruturada. Isso porque o drama gerado pela crise no núcleo fundamental não é descrito de forma explícita. Tal crise se revela através das situações, estas contando com a imaginação do espectador. E o tema principal termina sendo o dos meios modernos de comunicação, sendo, por vezes, impotentes diante de dramas humanos. O filme termina com outro pedido de socorro, desta vez do próprio protagonista, que parece buscar um apoio enquanto caminha num cenário cada vez mais sombrio.
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