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Cinema

- Publicada em 28 de Dezembro de 2018 às 01:00

Carências e compensações

Um filme com a pretensão de lançar luzes sobre uma vida não deve ser apenas um acúmulo de dados e um desfilar de situações. Tal limitação costuma produzir não apenas lugares-comuns e originar superficialidades. Uma narrativa cinematográfica, literária ou mesmo musical desprovida daquele empenho que procura as causas de determinados efeitos será sempre desprovida de significado. O cinema, muitas vezes, se aproximou de compositores e intérpretes de várias épocas. Algumas vezes inspirado em figuras reais; outras, em personagens criados por roteiristas. Na grande maioria das vezes, os resultados estiveram longe de algo significativo. Mas o inglês Ken Russell e o checo Milos Forman foram dois, entre poucos, que se destacaram. O primeiro, tanto na televisão britânica como no cinema, realizou trabalhos sobre Liszt, Mahler, Tchaikowski e outros, e o segundo, criando uma obra-prima sobre Mozart, mostraram que era possível falar a um público amplo sem cair em concessões. Russell também dirigiu Tommy, uma ópera-rock, e o segundo, antes de Amadeus, havia dirigido Hair. Não foram, portanto, cineastas elitistas, para usar esse termo utilizado de forma equivocada para definir uma arte elaborada e que procura se distanciar de compromissos com o supérfluo. E há também o caso de Alan Parker, em Pink Floyd - The Wall, e Martin Scorsese em The Last Waltz, documentário sobre a despedida do conjunto The Band. Parker fez uma espécie de relato em imagens sobre a crise familiar projetada no mundo e Scorsese e falou sobre impasses contemporâneos ao saber filmar um espetáculo e entrevistar os principais participantes.
Um filme com a pretensão de lançar luzes sobre uma vida não deve ser apenas um acúmulo de dados e um desfilar de situações. Tal limitação costuma produzir não apenas lugares-comuns e originar superficialidades. Uma narrativa cinematográfica, literária ou mesmo musical desprovida daquele empenho que procura as causas de determinados efeitos será sempre desprovida de significado. O cinema, muitas vezes, se aproximou de compositores e intérpretes de várias épocas. Algumas vezes inspirado em figuras reais; outras, em personagens criados por roteiristas. Na grande maioria das vezes, os resultados estiveram longe de algo significativo. Mas o inglês Ken Russell e o checo Milos Forman foram dois, entre poucos, que se destacaram. O primeiro, tanto na televisão britânica como no cinema, realizou trabalhos sobre Liszt, Mahler, Tchaikowski e outros, e o segundo, criando uma obra-prima sobre Mozart, mostraram que era possível falar a um público amplo sem cair em concessões. Russell também dirigiu Tommy, uma ópera-rock, e o segundo, antes de Amadeus, havia dirigido Hair. Não foram, portanto, cineastas elitistas, para usar esse termo utilizado de forma equivocada para definir uma arte elaborada e que procura se distanciar de compromissos com o supérfluo. E há também o caso de Alan Parker, em Pink Floyd - The Wall, e Martin Scorsese em The Last Waltz, documentário sobre a despedida do conjunto The Band. Parker fez uma espécie de relato em imagens sobre a crise familiar projetada no mundo e Scorsese e falou sobre impasses contemporâneos ao saber filmar um espetáculo e entrevistar os principais participantes.
Bryan Singer, o realizador de Bohemian Rhapsody, é nome de escalão inferior do atual cinema norte-americano. O filme por ele dirigido que chamou mais atenção foi Operação Valquíria, no qual, beneficiado por recursos de produção e a presença de um astro famoso, Tom Cruise, fez um trabalho apenas razoável, deixando escapar a oportunidade de realizar algo significativo sobre a conspiração chefiada perlo coronel Claus von Stauffenberg e destinada a colocar um fim no regime nazista. Seu novo filme, outra vez, tem como figura central um personagem verdadeiro, o vocalista e líder do grupo The Queen, Freddie Mercury. O filme, que procura acompanhar os passos, no palco e fora dele, de um astro maior do gênero, capta um mundo agitado por movimentos e acordes, no qual artistas no palco e multidões em estádios e parques, propiciam espetáculos gigantescos ao qual não faltam emoção gerada pela comunicabilidade entre o artista e seu público. Mercury, que, ao contrário dos Beatles, que procuraram inspiração e modelos no folclore europeu, na música medieval e até em quartetos oitocentistas, sem esquecer O Messias, de Handel, tinha a ópera como admiração e ponto de referência, levando para seus espetáculos a teatralidade e a dramaticidade daquele gênero. Ele tinha grande admiração por Montseraat Caballé e com a célebre soprano chegou a participar de um espetáculo para o qual escreveu as canções. É uma falha grave do filme de Singer omitir tal fato, pois sua inclusão no filme certamente permitiria aos admiradores de Mercury entender melhor sua arte.
Embora baseado num artista de nosso tempo e realizado numa época de revisões e busca de ineditismo, o filme se assemelha àquelas biografias cinematográficas realizadas no século passado por diretores sem maior expressão sobre alguns compositores e artistas. O universo familiar, este microcosmo revelador, é explorado superficialmente e sua origem no comportamento adulto do artista é praticamente ignorada, assim como as compensações no palco para carências familiares. Mas o filme tem seus momentos, como nas cenas destinadas a expor a solidão do personagem, quando árias de óperas são utilizadas, discretamente, na faixa sonora. E também no momento que o Mercury contempla a gravação na qual o público canta uma de suas canções. Singer, mais uma vez, se beneficia de um personagem e de poderosos recursos técnicos, algo evidente no espetáculo final. Mas como criador ele continua em seu lugar. E o entusiasmo que pode despertar se deve ao artista focalizado e não a ele, que foi substituído durante as filmagens por outro realizador, Dexter Fletcher, cujo nome não aparece nos créditos.
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