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Cinema

- Publicada em 21 de Dezembro de 2018 às 01:00

Prelúdio

Sidonie Gabrielle Colette (1873-1954) tem ligações com o cinema, pois alguns de seus romances chegaram às telas. Um deles, que antes havia sido transformado em espetáculo teatral, no qual Audrey Hepburn, indicada pela própria autora, interpretou o papel principal, foi Gigi. Tal trabalho seguiu uma trajetória que o levou aos palcos da Broadway, transformado em musical escrito por Alan Jay Lerner e Frederick Loewe, os autores de My fair lady, depois de ter servido de roteiro para um filme francês, realizado em 1949 por Jacqueline Audrey.
Sidonie Gabrielle Colette (1873-1954) tem ligações com o cinema, pois alguns de seus romances chegaram às telas. Um deles, que antes havia sido transformado em espetáculo teatral, no qual Audrey Hepburn, indicada pela própria autora, interpretou o papel principal, foi Gigi. Tal trabalho seguiu uma trajetória que o levou aos palcos da Broadway, transformado em musical escrito por Alan Jay Lerner e Frederick Loewe, os autores de My fair lady, depois de ter servido de roteiro para um filme francês, realizado em 1949 por Jacqueline Audrey.
O espetáculo norte-americano serviu de base para o filme homônimo realizado por Vincente Minnelli em 1958 e que foi o grande vencedor do Oscar daquele ano. O filme de Minnelli, um espetáculo deslumbrante, é sempre classificado como o ponto final e um dos mais expressivos da primeira fase dos musicais, período no qual o cineasta contribuiu com, pelo menos, mais quatro títulos antológicos: Agora seremos felizes, O pirata, Sinfonia de Paris e A roda da fortuna. Colette é também a autora do romance que deu origem a Amor de outono, que Claude Autant-Lara realizou em 1954. Agora, Colette, que Otto Maria Carpeaux classificou como "mais sincera e sentimental do que profunda", tem uma parte de sua vida levada ao cinema por Wash Westmoreland, realizador que, a se julgar pelo trabalho atual, não é daqueles mais ambiciosos e parece seduzido pelos convencionalismos. Mas seu filme ostenta algumas virtudes, principalmente em áreas nas quais o lado visual do espetáculo se impõe. Produção britânica, Colette capricha na reconstituição de época, algo que faz com que superficialidades de roteiro sejam parcialmente ocultas pela ostentação dos cenários.
Para o cinema, sem dúvida, é muito mais fácil falar de pintores, escultores e compositores do que de escritores. Os dois primeiros contribuem de forma decisiva para o impacto visual de algumas obras e os musicistas costumam se impor como elemento fundamental para o sucesso de alguns filmes. Que o digam o já citado Minnelli de Sede de viver e o Milos Forman de Amadeus. Já quando se trata de transformar em peças cinematográficas, para escritores o desafio é mais complexo. O essencial, talvez, fosse encontrar num determinado livro os elementos que possam contribuir para uma biografia, na medida em que os acontecimentos relatados tenham sido inspirados em experiências pessoais do autor. Ao focalizar a vida de Colette, Westmoreland preferiu seguir um outro caminho, o que não deixa de ser uma novidade: optou por reconstituir o primeiro período da escritora, aquele no qual, nos quatro livros dedicados à personagem Claudine ela permaneceu oculta, já que os mesmos foram publicados como se o autor fosse Willy, pseudônimo do marido da verdadeira autora. Os temas sugeridos por tal situação começam em imposições disciplinadoras - expostas na sequência inicial, quando a protagonista é obrigada a trocar de vestido - e se ampliam depois, ao se transformarem na matéria que permite meditações sobre uma opressão que anula a personalidade e impede o reconhecimento da criatividade. O filme trata de tais questões de maneira um tanto superficial, explorando mais os diálogos do que as possibilidades dramáticas de tal conflito.
O filme, assim, não está interessado na totalidade da trajetória da escritora, limitando-se a ser uma espécie de prelúdio de uma ópera bem maior. Em suas imagens e situações, surgem observações e críticas sobre superficialidades e o vazio de rituais de um mundo no qual as aparências são cultuadas e ardorosamente defendidas. Ao focalizar as atividades cênicas da autora, Westmoreland faz uma espécie de reconstituição resumida da estreia de A sagração da primavera, este ponto de ruptura, ao mostrar um público indignado e recorrendo ao insulto quando se depara com um quadro no qual é visto algo antes vetado a qualquer forma de espetáculo. O filme de Westmoreland se aproxima de temas relevantes de uma forma que não permite um desenvolvimento apropriado de questões como o conflito entre as convenções e o comportamento contestador. Mas é obra que se destaca pela procura de um afastamento de um cinema prisioneiro de efeitos especiais e voltado para a missão de transformar adultos em crianças facilmente controláveis.
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