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Cinema

- Publicada em 07 de Dezembro de 2018 às 01:00

Violência e corrupção

O londrino Steve McQueen, homônimo de um dos astros norte-americanos do século passado, procura realizar um cinema afastado do discurso, preferindo o método de colocar na tela situações que exponham claramente imperfeições, precariedades e aquelas forças que movimentam um mundo. O cineasta acredita que colocar o espectador diante da realidade é algo que dispensa dissertações. Ele é daqueles que procura mostrar a realidade, em vez de comentá-la com intervenções que quase sempre revelam em quem as pratica um olhar depreciativo para os integrantes da plateia. O cineasta de As viúvas não está interessado em prestar vassalagem ao politicamente correto e em isolar em clássicos cenas que separadas do contexto possam dar aos que não o conhecem uma ideia equivocada de seu papel na evolução do cinema. Realizador de um poderoso drama sobre uma das manchas da história humana, 12 anos de escravidão, McQueen já pode ser visto como dos grandes do cinema atual, na medida em que, ao colocar o personagem como elemento principal, sabe vê-lo como aquela figura que deve ser acompanhada para que todo um contexto seja exposto na tela. Em vez de tentar diminuir filmes anteriores, ele procura expor uma engrenagem responsável por distorções e foi responsável não apenas por mensagens em clássicos do cinema, pois bem mais ampla é sua influência e mais poderosa a escala de valores por ela criada.
O londrino Steve McQueen, homônimo de um dos astros norte-americanos do século passado, procura realizar um cinema afastado do discurso, preferindo o método de colocar na tela situações que exponham claramente imperfeições, precariedades e aquelas forças que movimentam um mundo. O cineasta acredita que colocar o espectador diante da realidade é algo que dispensa dissertações. Ele é daqueles que procura mostrar a realidade, em vez de comentá-la com intervenções que quase sempre revelam em quem as pratica um olhar depreciativo para os integrantes da plateia. O cineasta de As viúvas não está interessado em prestar vassalagem ao politicamente correto e em isolar em clássicos cenas que separadas do contexto possam dar aos que não o conhecem uma ideia equivocada de seu papel na evolução do cinema. Realizador de um poderoso drama sobre uma das manchas da história humana, 12 anos de escravidão, McQueen já pode ser visto como dos grandes do cinema atual, na medida em que, ao colocar o personagem como elemento principal, sabe vê-lo como aquela figura que deve ser acompanhada para que todo um contexto seja exposto na tela. Em vez de tentar diminuir filmes anteriores, ele procura expor uma engrenagem responsável por distorções e foi responsável não apenas por mensagens em clássicos do cinema, pois bem mais ampla é sua influência e mais poderosa a escala de valores por ela criada.
O novo filme de McQueen tem por base uma série da televisão britânica escrita por Lynda La Plante, que o futuro cineasta assistiu quando jovem. A adaptação, feita por Gilliam Flynn, também tem o cineasta como roteirista. Tudo foi transposto para Chicago de nossos dias. A cidade, como se sabe, foi palco de inúmeros clássicos sobre corrupção e violência, na época tratados apenas como filmes policiais e que, vistos hoje, podem ser classificados como ensaios, alguns brilhantes e que o tempo transformou em clássicos, sobre a violência gerada pela corrupção e a ambição desmedida e descontrolada de indivíduos e grupos que parecem insaciáveis na busca de poder e riqueza. É um tema universal e contemporâneo. O diretor não esconde sua admiração por momentos maiores do gênero e toda a sequência inicial parece uma homenagem a Cães de aluguel, de Tarantino. Como é praticamente impossível um afastamento de um clássico como O segredo das joias, de Huston, e também de muitos de seus sucessores, McQueen não tem receio de fazer referências e explicitar influências. E no epílogo ele se mostra disposto a se afastar de algumas soluções que muitas imposições obrigavam diretores e roteiristas colocar na tela. A condenação ao inferno aqui é substituída por outro tipo de ponto final e por uma visão afastada do maniqueísmo e que focaliza destinos diversos para grupos e personagens.
Durante a ação, são vários os momentos em que o diretor mostra interesse em enriquecer o gênero, principalmente com engenhosas voltas ao passado, uma delas habilmente fazendo parte do tempo real e manipulada de forma a mesclar tempos diferentes e exercendo na trama uma ação desmistificadora. E há também o conflito com a figura paterna e as ligações de influentes políticos com o mundo do crime. E a figura de um assessor do candidato que se apresenta como uma opção ao domínio de uma família sobre o distrito em disputa é o poderoso resumo da brutalidade em ação. Vivido pelo ator Daniel Kaluuya, que há pouco foi vítima de racistas brancos em Corra!, este personagem é mais do que vilão: ele revela também que McQueen não é tocado pela ingenuidade e pelo comportamento previsível. Ele vê a desumanidade se espalhar por todo o espaço filmado. Ciente de que a descrição meticulosa de um assalto já foi devidamente explorada, o cineasta procura dar ênfase a outros elementos da trama, deixando que a própria ação vá aos poucos esclarecendo todo o ritual de preparação. E há também momentos engenhosos de utilização da montagem, como o do encontro no qual só um plano mais amplo focaliza o que realmente aconteceu. O filme também se destaca por um olhar que descreve o cair das máscaras e por focalizar os bastidores de um espetáculo cujos encenadores tentam esconder do público o verdadeiramente essencial.
 
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