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Cinema

- Publicada em 23 de Novembro de 2018 às 01:00

Luzes e sombras

Hélio Nascimento
O circo é aquela forma de espetáculo diante da qual não foram indiferentes cineastas como Chaplin, Bergman, Kazan, Ophlüs, Hathaway e De Mille, para citar apenas os mais conhecidos. Os dois primeiros têm, em sua filmografia, filmes ambientados em tal cenário que figuram entre os maiores já realizados e, se a pesquisa for ampliada, muitos outros trabalhos dignos de serem lembrados certamente aparecerão. O fascínio que tal gênero exerceu sobre tantos diretores é facilmente explicável. Muito popular antes que o lazer e o entretenimento passassem a ser dominados por forças derivadas de tecnologias surgidas e aprimoradas nas últimas décadas, tal forma de espetáculo sintetiza aspectos da natureza humana, ora vistos em forma de caricatura, ora colocando indivíduos diante de desafios, sem esquecer o domínio sobre a natureza e o controle sobre várias formas de agressividade. O próprio Carlos Diegues, o realizador de O grande circo místico, já havia abordado tal universo em um de seus melhores filmes, Bye Bye Brasil. Agora, ele volta a este palco, tendo como ponto de partida um poema de Jorge de Lima, o autor de A invenção de Orfeu, um tema que também interessou ao cineasta em momentos de sua filmografia.
O circo é aquela forma de espetáculo diante da qual não foram indiferentes cineastas como Chaplin, Bergman, Kazan, Ophlüs, Hathaway e De Mille, para citar apenas os mais conhecidos. Os dois primeiros têm, em sua filmografia, filmes ambientados em tal cenário que figuram entre os maiores já realizados e, se a pesquisa for ampliada, muitos outros trabalhos dignos de serem lembrados certamente aparecerão. O fascínio que tal gênero exerceu sobre tantos diretores é facilmente explicável. Muito popular antes que o lazer e o entretenimento passassem a ser dominados por forças derivadas de tecnologias surgidas e aprimoradas nas últimas décadas, tal forma de espetáculo sintetiza aspectos da natureza humana, ora vistos em forma de caricatura, ora colocando indivíduos diante de desafios, sem esquecer o domínio sobre a natureza e o controle sobre várias formas de agressividade. O próprio Carlos Diegues, o realizador de O grande circo místico, já havia abordado tal universo em um de seus melhores filmes, Bye Bye Brasil. Agora, ele volta a este palco, tendo como ponto de partida um poema de Jorge de Lima, o autor de A invenção de Orfeu, um tema que também interessou ao cineasta em momentos de sua filmografia.
Diegues tem seu nome assegurado entre os nossos melhores cineastas. É dele a autoria de obras como Chuvas de verão e Joana francesa, ambos escritos e dirigidos por ele. O primeiro, que nunca deveria estar excluído da lista dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, foi também aquele no qual o cineasta, entre o caminho iluminado pela realidade e a estrada dominada pelas sobras das alegorias, escolheu o primeiro. Numa cena antológica daquela obra-prima, aquela na qual espectadores aplaudem o real pensando ver uma encenação, atingiu um nível que sintetiza a essência do cinema, esta arte que reunindo recursos de todas as outras, nos coloca diante do mundo verdadeiro. Nem sempre foi assim na trajetória do diretor, que, agora, volta ao reino da alegoria, descrevendo um século e, ao mesmo tempo, afastando-se dele, na medida em que concentra a atenção na trajetória de uma família. A opção não é incorreta, mas passa a ser objeto de questionamento quando deixa de ser a imagem num espelho que sintetize o exterior ao concentrar sinais reveladores de um mundo originado em tal núcleo. Pouco ou quase nada se sabe do universo em que vive a família focalizada, mas não há como negar que muito do que agora é visto se relaciona com situações antes abordadas nos filmes do diretor, algo que garante a autoria, mesmo que não nos devolva o cinema contemplado antes nas duas obras citadas.
O incesto e a repressão apareceram nos filmes anteriores do cineasta e agora ressurgem como os mais significativos. Tais temas são vistos como elementos reveladores de uma sociedade severamente controlada. Em muitas passagens, o chicote e a violência não estão nas imagens apenas para desmitificar uma forma de divertimento ou denunciar o que se esconde sobre proezas de animais. Elas estão ali para mostrar a civilização dominando instintos e desejos. O chicote contra o animal equivale à agressão física ao filho. Este é o ponto principal, que o diretor procura espalhar por todos os episódios desta saga familiar. O filme exibe, em todo o seu desenrolar, além do esmero em todos os setores de produção, este tema: o do sufocamento da natureza e do conflito entre impulsos e o rigor das regras civilizatórias. E há, também, a utilização do cenário. À medida em que o tempo passa, ele se deteriora. É cada vez mais acentuada a crise visualmente expressa por tudo que cerca os personagens. E se Diegues não chega a solucionar bem a presença de uma figura que lembra aquela construída por Fosse em Cabaret, uma clara referência e provável admiração do cineasta, a utilização do cenário vale ser destacada. Tal elemento, um dos mais importantes porque revelador de essências e de algo não expresso por palavras, acentua a crítica que o filme procura fazer a um mundo dominado pela crise e desprovido de valores. Mesmo não sendo o melhor que se poderia esperar do realizador, o novo filme de Diegues ostenta propostas e observações que procuram se afastar das superficialidades e resumos empobrecedores.
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