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Cinema

- Publicada em 16 de Novembro de 2018 às 01:00

O roubo

Em seu segundo longa-metragem, o diretor mexicano Alonso Ruizpalacios adota como modelo alguns clássicos do cinema e neles procura sinais e referências que lhe permitam tecer variações em torno de temas anteriormente abordados e desenvolvidos com técnica e sensibilidade muito superiores a tudo o que agora estamos vendo na tela. Ele parte de um fato verídico para se aproximar de filmes como O segredo das joias, de John Huston; Rififi, de Jules Dassin; O grande golpe, de Stanley Kubrick; e Cães de aluguel, de Quentin Tarantino. Estes filmes formam um quarteto que dificilmente será ampliado e não foi ameaçado nem mesmo quando um mestre como William Wyler dele se aproximou quando dirigiu Como roubar um milhão de dólares. Sabendo que estava entrando em terreno desafiador, o cineasta procurou fazer de seu relato algo que se afastasse daqueles modelos, colocando em segundo plano o já tradicional ritual de preparação, optando pela ênfase no tema da rebelião diante da rotina. É verdade que na sequência do roubo das relíquias ele procurou se aproximar do documentário, mas até neste trecho, em sua parte final, o aparecimento da divindade no momento da fuga revela que o realizador estava interessado menos num assalto do que em acompanhar uma atitude de rebelião diante de normas de comportamento. Quando a imaginação interfere na realidade e paralisa a ação do rebelde, se materializa na tela o peso da figura paterna exercendo poder sobre o filho e se transformando num obstáculo difícil de ser ultrapassado.
Em seu segundo longa-metragem, o diretor mexicano Alonso Ruizpalacios adota como modelo alguns clássicos do cinema e neles procura sinais e referências que lhe permitam tecer variações em torno de temas anteriormente abordados e desenvolvidos com técnica e sensibilidade muito superiores a tudo o que agora estamos vendo na tela. Ele parte de um fato verídico para se aproximar de filmes como O segredo das joias, de John Huston; Rififi, de Jules Dassin; O grande golpe, de Stanley Kubrick; e Cães de aluguel, de Quentin Tarantino. Estes filmes formam um quarteto que dificilmente será ampliado e não foi ameaçado nem mesmo quando um mestre como William Wyler dele se aproximou quando dirigiu Como roubar um milhão de dólares. Sabendo que estava entrando em terreno desafiador, o cineasta procurou fazer de seu relato algo que se afastasse daqueles modelos, colocando em segundo plano o já tradicional ritual de preparação, optando pela ênfase no tema da rebelião diante da rotina. É verdade que na sequência do roubo das relíquias ele procurou se aproximar do documentário, mas até neste trecho, em sua parte final, o aparecimento da divindade no momento da fuga revela que o realizador estava interessado menos num assalto do que em acompanhar uma atitude de rebelião diante de normas de comportamento. Quando a imaginação interfere na realidade e paralisa a ação do rebelde, se materializa na tela o peso da figura paterna exercendo poder sobre o filho e se transformando num obstáculo difícil de ser ultrapassado.
Museu recebeu no Festival de Berlim deste ano o prêmio de melhor roteiro, escrito pelo próprio cineasta em parceria com Manuel Alcalá. Tal roteiro, que como está indicado nos créditos é uma paráfrase do que realmente aconteceu, recorre, como na cena citada, a elementos gerados pela fantasia, pois só assim pode ser explicada a cena em que os dois fugitivos enganam uma barreira policial, depois que o personagem principal é confundido com um ator de cinema. Trata-se, evidentemente, de uma referência ao próprio Gael Garcia Bernal, cuja baixa estatura é mencionada em diversas passagens e até pelo apelido com que ele é tratado em família. Essa mescla de reconstituição de um fato com elementos que brincam com a realidade e interferem na narrativa fazem com que, pelo menos por enquanto, não seja possível ver em Ruizpalacios um diretor no nível de cineastas como Alejandro Gonzales Iñárritu e Alfonso Cuarón, os outros mexicanos em destaque no cinema mundial atualmente. Mesmo que o realizador se revele atento para certos detalhes e um razoável narrador, não é possível registrar a canhestra utilização da música, mesmo que na faixa sonora o cineasta recorra a uma sonata de Beethoven. Acordes exagerados se fazem ouvir em diversos instantes, com pouca relação ao que está acontecendo. Isso para não falar no tom caricatural com que são tratados alguns personagens, como o inglês que se recusa a participar da operação.
Se o objetivo principal foi captar o espírito rebelde do protagonista, que no epílogo se rende diante das normas, o melhor do filme está nas reuniões familiares, principalmente a festa natalina, quando é evidente o desconforto do personagem principal diante das formalidades festivas da data. É interessante também observar o comportamento do pai, cujo desapreço por tudo que está acontecendo é evidente. Mas pouco se sabe sobre seu passado. Diante deste cenário no qual as convenções e as aparências procuram esconder frustrações, ao protagonista só resta o gesto de revolta. Mas este gesto, que aparentemente é uma forma de revelar que a acumulação de preciosidades em museus também foi o resultado de saques e desapropriações que não levaram em consideração o passado de povos e culturas, esbarra na constatação de que o novo assalto, que procura ser uma definição, é na verdade uma expressão de angústia. A revolta não é contra operações ilícitas, mas diante do que as relíquias representam: forças destinadas a manter o ser humano controlado pelo passado, algo registrado na cena da fuga após o assalto. Mas para tanto seria necessário outro filme e outro diretor.
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