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Cinema

- Publicada em 26 de Outubro de 2018 às 01:00

O espaço e a prisão

Como admirador do jazz, algo que ficou bem claro em seu segundo longa-metragem, Whiplash, em busca da perfeição, Damien Chazelle sabe perfeitamente que um tema musical, assim como qualquer episódio real ou fictício - e a ficção é sempre algo baseado em dados extraídos da realidade - pode ser visto de forma a expandir seu significado e aprofundar seu sentido. As variações em torno de um tema propiciam uma movimentação que ruma para o infinito. Jamais serão esgotadas as possibilidades abertas por determinada sugestão, seja ela uma frase musical ou um acontecimento presenciado ou vivido. As ciências e as artes não cessam de colocar o ser humano diante de novas realidades, num processo em que a renovação é constante. Chazelle é um nome novo no cinema e, ao que tudo indica, apareceu para ficar entre os grandes. Seu primeiro filme, Guy and Madeline on a park bench permanece inédito no Brasil e já colocava em cena um músico como um dos personagens principais. O segundo, o já citado Whiplash, tinha outra vez a música como integrante da narrativa, ao mesmo tempo que desenvolvia o tema do aprendizado não afastado de certos elementos associados ao culto da disciplina e a rigores aproximados a forças repressivas. A consagração veio com La la land, outra vez a música, mas não apenas isso, pois na bela sequência final, derivada dos epílogos de Splendor in the grass, de Elia Kazan, e Os guarda-chuvas do amor, de Jacques Demy, realidade (tema principal) e a imaginação (variações) se mesclavam, permitindo a contemplação de tudo que poderia ter sido vivenciado ao mesmo tempo que mostrava que a vitória material por vezes esconde um fracasso humano.
Como admirador do jazz, algo que ficou bem claro em seu segundo longa-metragem, Whiplash, em busca da perfeição, Damien Chazelle sabe perfeitamente que um tema musical, assim como qualquer episódio real ou fictício - e a ficção é sempre algo baseado em dados extraídos da realidade - pode ser visto de forma a expandir seu significado e aprofundar seu sentido. As variações em torno de um tema propiciam uma movimentação que ruma para o infinito. Jamais serão esgotadas as possibilidades abertas por determinada sugestão, seja ela uma frase musical ou um acontecimento presenciado ou vivido. As ciências e as artes não cessam de colocar o ser humano diante de novas realidades, num processo em que a renovação é constante. Chazelle é um nome novo no cinema e, ao que tudo indica, apareceu para ficar entre os grandes. Seu primeiro filme, Guy and Madeline on a park bench permanece inédito no Brasil e já colocava em cena um músico como um dos personagens principais. O segundo, o já citado Whiplash, tinha outra vez a música como integrante da narrativa, ao mesmo tempo que desenvolvia o tema do aprendizado não afastado de certos elementos associados ao culto da disciplina e a rigores aproximados a forças repressivas. A consagração veio com La la land, outra vez a música, mas não apenas isso, pois na bela sequência final, derivada dos epílogos de Splendor in the grass, de Elia Kazan, e Os guarda-chuvas do amor, de Jacques Demy, realidade (tema principal) e a imaginação (variações) se mesclavam, permitindo a contemplação de tudo que poderia ter sido vivenciado ao mesmo tempo que mostrava que a vitória material por vezes esconde um fracasso humano.
O novo filme do cineasta confirma que estamos diante não apenas de um diretor competente como também de um autor. Tido como uma reconstituição do pioneiro contato do ser humano com o satélite da Terra, O primeiro homem é, em sua forma exterior, uma meticulosa reconstituição dos preparativos e do voo que levou Neil Armstrong e mais dois astronautas à Lua. Mas não se trata apenas disso e o filme deve ser visto somente como um documentário reconstituído. Assim como nos filmes anteriores do cineasta, a música se faz presente de forma significativa. O autor da partitura musical, Justin Hurwitz, é o mesmo dos trabalhos anteriores de Chazelle, e o espectador certamente perceberá que o tema principal se assemelha significativamente ao de La la land. Além disso, há referências e citações às operetas de Gilbert e Sullivan e aos musicais de Rodgers e Hammerstein, e uma cena de dança do casal, que parece retirada do filme anterior. Isso para não falar no piano, não apenas um detalhe na narrativa. E o tema principal dos filmes anteriores, o sacrifício exigido do ser humano na sua jornada de afirmação é outra vez desenvolvido com brilhantismo e de uma forma a afastar a narrativa do sensacionalismo e das demagogias praticadas por encenadores medíocres. Assim como Kubrick já havia feito em 2001: uma odisseia no espaço, os efeitos especiais não são utilizados para criar ilusões, mas para colocar na tela o máximo de realismo.
A morte da filha do protagonista é um motivo condutor que está presente em toda a ação e na comovente cena desenrolada no cenário lunar. Neste trecho admirável, Chazelle se afasta de toda e qualquer manifestação que possa ser confundida com alguma forma de exaltação. Ele mantém a famosa frase, mas retira a bandeira, universalizando o feito, antes de transformá-lo numa homenagem aos caídos e numa manifestação da dor constante pela perda. Mas o plano mais eloquente e revelador do filme é o último, aquele em que tudo parece se desenrolar numa prisão e num cenário e no qual o casal pelo gesto expressa sua solidão. A vitória, assim como no filme anterior, é vista como uma realização apenas material e que não satisfaz exigências básicas. E as cenas de preparação para o voo, realistas ao extremo e realizadas de forma a mostrar ao público o sofrimento dos pilotos, são igualmente imagens poderosas e reveladoras de um processo no qual o indivíduo é como que triturado por uma engrenagem que dele exige o máximo e lhe oferece em troca uma barreira que impede o contato humano.
 
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