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Cinema

- Publicada em 05 de Outubro de 2018 às 01:00

O campeão

Ao contrário da televisão, onde o esporte é visto quase sempre como a mais importante das atividades humanas, o cinema brasileiro raramente se aproximou de nomes que se destacaram em tal universo. Mesmo do futebol, setor no qual o Brasil tanto brilhou e ainda aparece como uma das forças principais, nosso cinema não se aproximou de forma expressiva. No longa-metragem só um filme se destaca, aquele que José Henrique Fonseca realizou em 2011 sobre Heleno de Freitas. Alguns documentários sobre Pelé se limitaram a utilizar imagens e cinejornais, enquanto destacavam o gênio do atleta. Tais filmes ficam pequenos perto de um documentário feito pela televisão inglesa há alguns anos e intitulado O major e o rei, no qual é feita uma pergunta sobre quem foi o maior de todos os tempos: Puskas ou Pelé? Tal documentário terminava sem responder à pergunta e dava a palavra, depois de encerrado, ao craque húngaro que dizia que em sua opinião o maior de todos foi Di Stefano. E acrescentava: "Pelé não foi um jogador de futebol. Foi algo muito acima de todos nós". São momentos e propostas assim que faltam aos filmes sobre esportes produzidos aqui, com exceção do citado trabalho de Fonseca. Mesmo Joaquim Pedro de Andrade, sempre colocado entre nossos maiores cineastas, não escapou de algumas críticas, quando realizou Garrincha, alegria do povo, entre elas a do flamenguista Antônio Moniz Vianna, que, paixão clubística à parte, tinha razão ao afirmar que o cineasta errou no título, pois o botafoguense só merecia ser assim chamado quando atuava na seleção brasileira.
Ao contrário da televisão, onde o esporte é visto quase sempre como a mais importante das atividades humanas, o cinema brasileiro raramente se aproximou de nomes que se destacaram em tal universo. Mesmo do futebol, setor no qual o Brasil tanto brilhou e ainda aparece como uma das forças principais, nosso cinema não se aproximou de forma expressiva. No longa-metragem só um filme se destaca, aquele que José Henrique Fonseca realizou em 2011 sobre Heleno de Freitas. Alguns documentários sobre Pelé se limitaram a utilizar imagens e cinejornais, enquanto destacavam o gênio do atleta. Tais filmes ficam pequenos perto de um documentário feito pela televisão inglesa há alguns anos e intitulado O major e o rei, no qual é feita uma pergunta sobre quem foi o maior de todos os tempos: Puskas ou Pelé? Tal documentário terminava sem responder à pergunta e dava a palavra, depois de encerrado, ao craque húngaro que dizia que em sua opinião o maior de todos foi Di Stefano. E acrescentava: "Pelé não foi um jogador de futebol. Foi algo muito acima de todos nós". São momentos e propostas assim que faltam aos filmes sobre esportes produzidos aqui, com exceção do citado trabalho de Fonseca. Mesmo Joaquim Pedro de Andrade, sempre colocado entre nossos maiores cineastas, não escapou de algumas críticas, quando realizou Garrincha, alegria do povo, entre elas a do flamenguista Antônio Moniz Vianna, que, paixão clubística à parte, tinha razão ao afirmar que o cineasta errou no título, pois o botafoguense só merecia ser assim chamado quando atuava na seleção brasileira.
Quanto ao pugilismo, mesmo entre os que o detestam, há diretores que o empregaram para tornar mais expressivas certas situações, como, por exemplo, Luchino Visconti, que o empregou de forma a tornar ainda mais dramática a trajetória do personagem principal em Rocco e seus irmãos. É verdade também que tal esporte, chamado de "nobre", talvez porque procura controlar a agressividade humana com uma série de regras, que muitas vezes não evitam resultados lamentáveis, como lembrou John Ford em Depois do vendaval, sempre fascinou muitos diretores e apareceu mesmo em um filme de Chaplin, Luzes da cidade, e recentemente serviu de base para uma obra-prima como A menina de ouro, de Clint Eastwood, o mesmo cineasta que logo a seguir utilizaria outro esporte, o rúgbi, para realizar um belo filme, Invictus, sobre Nelson Mandela. E há também, sobre pugilismo, um clássico como Punhos de Campeão, de Robert Wise, baseado num poema de Joseph Moncure March, e o mais recente e poderoso Touro indomável, de Martin Scorsese.
Ao abordar a vida e a carreira de Éder Jofre, José Alvarenga Jr. deixa bem claro, em 10 segundos para vencer, que sabe as diferenças entre cinema e televisão. Ele opta, com a colaboração do fotógrafo Lula Carvalho, por uma iluminação afastada do contraste exagerado e do brilho artificial. E se revela também um seguro diretor de intérpretes, todos perfeitos, e um narrador cuja competência é indiscutível. Seu filme, que poderia naufragar na monotonia já que a vida do biografado não é daquelas que propiciem momentos de alta dramaticidade ou efeitos surpreendentes, é uma narrativa fácil de ser acompanhada. A ênfase é dada no autoritarismo da figura paterna, exposta, principalmente, no conflito com o tio do personagem principal, mas sem deixar de ser dominante no relacionamento com o filho. O tema não é desenvolvido de forma sólida, permanecendo o filme fixo em manifestações exteriores de tal conflito. O cineasta, um dos autores do roteiro, não está exaltando nenhuma forma de tirania, mas lembrando a importância e a necessidade da disciplina, esse elemento pelo qual se expressa a civilização. Porém, ao focalizar os resultados de tal processo, no ringue ou fora dele, o cineasta não se aproxima das contradições e nem critica com clareza a utilização da agressividade visando ao espetáculo. Não é uma imperfeição grave estar longe dos modelos de Wise, Scorsese e Eastwood antes citados, cujas lições não deveriam ser esquecidas, mas é importante seguir os métodos que permitam a exposição, na tela, do que, permanecendo oculto, evita a compreensão do funcionamento de uma engrenagem que pode ter no boxe um resumo e um símbolo.
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