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Cinema

- Publicada em 31 de Agosto de 2018 às 01:00

Violência e manipulação

O diretor Fernando Leon de Aranoa, o mesmo realizador de Segunda-feira ao sol, produzido em 2002 e um dos filmes espanhóis exibido no Festival de Gramado, é mais um seduzido pelo tema da desintegração social causada pelo domínio de grupos organizados que têm sabido explorar a dependência de drogas para se transformar em verdadeiros donos do poder, fazendo dos detentores nominais simples marionetes. O tema não é novo, embora dele se afastem os interessados, no cinema e em outras áreas, em mantê-lo oculto. Na essência, o que alguns realizadores mais corajosos têm procurado abordar é o tema da corrupção, do qual não se afastaram cinematografias como a norte-americana e a italiana. Coppola, Scorsese, Petri e alguns mais são nomes que levaram ao cinema o funcionamento de uma engrenagem reveladora, quase sempre vista como uma alegoria de um mundo em crise. Até Alain Renais, este investigador dos mecanismos do tempo e da memória, o abordou em Stavisky, sobre um escândalo acontecido na França, na década de 1930o. Aqui, José Padilha, no primeiro Tropa de elite, foi uma exceção, num filme premiado no Festival de Berlim, quando o júri foi presidido por Costa-Gavras. Escobar - a traição, o novo filme de Aranoa, não é uma obra à altura dos melhores títulos desse subgênero, pois, claramente, procura uma narrativa interessada em se aproximar das facilidades testadas com sucesso na televisão. Mas se o filme não é formalmente ousado, não é, também, integralmente vitimado pela mediocridade, embora o recurso a cenas de violência em algumas passagens seja marcado por exageros desnecessários. O cineasta esquece que, por vezes, sugerir é algo mais forte do que tornar explícitos certos detalhes, como, por exemplo, mostrou Dennis Villeneuve em Sicário, outro filme a revelar a ruína do humano num universo dominado pela ambição e a brutalidade.
O diretor Fernando Leon de Aranoa, o mesmo realizador de Segunda-feira ao sol, produzido em 2002 e um dos filmes espanhóis exibido no Festival de Gramado, é mais um seduzido pelo tema da desintegração social causada pelo domínio de grupos organizados que têm sabido explorar a dependência de drogas para se transformar em verdadeiros donos do poder, fazendo dos detentores nominais simples marionetes. O tema não é novo, embora dele se afastem os interessados, no cinema e em outras áreas, em mantê-lo oculto. Na essência, o que alguns realizadores mais corajosos têm procurado abordar é o tema da corrupção, do qual não se afastaram cinematografias como a norte-americana e a italiana. Coppola, Scorsese, Petri e alguns mais são nomes que levaram ao cinema o funcionamento de uma engrenagem reveladora, quase sempre vista como uma alegoria de um mundo em crise. Até Alain Renais, este investigador dos mecanismos do tempo e da memória, o abordou em Stavisky, sobre um escândalo acontecido na França, na década de 1930o. Aqui, José Padilha, no primeiro Tropa de elite, foi uma exceção, num filme premiado no Festival de Berlim, quando o júri foi presidido por Costa-Gavras. Escobar - a traição, o novo filme de Aranoa, não é uma obra à altura dos melhores títulos desse subgênero, pois, claramente, procura uma narrativa interessada em se aproximar das facilidades testadas com sucesso na televisão. Mas se o filme não é formalmente ousado, não é, também, integralmente vitimado pela mediocridade, embora o recurso a cenas de violência em algumas passagens seja marcado por exageros desnecessários. O cineasta esquece que, por vezes, sugerir é algo mais forte do que tornar explícitos certos detalhes, como, por exemplo, mostrou Dennis Villeneuve em Sicário, outro filme a revelar a ruína do humano num universo dominado pela ambição e a brutalidade.
A alegoria que o cineasta procura erguer está repleta de sinais reveladores de uma realidade que não é justo ignorar. Assim, a focalização de Pablo Escobar nas cenas iniciais mostra ao espectador uma figura diante da qual se submete todo um mundo habitado por estrelas da televisão e políticos poderosos. O realizador procura acentuar esse aspecto, ao mesmo tempo em que vai colocando o espectador diante de uma realidade que, atualmente, já não é mais desconhecida. É familiar a qualquer um que acompanhe no noticiário cenas como a da comissão de inquérito do Congresso colombiano, quando Pablo Escobar é confrontado com o ministro da Justiça. Esse, por sinal, será, depois, assassinado num atentado, método usado pelos poderosos quando se sentem ameaçados. E não faltam, no filme, as malas abarrotadas de dinheiro, as ligações de nomes importantes com o crime organizado e até uma prisão luxuosa, construída pelo próprio condenado e da qual ele continua exercendo seu poder de manipulação. E, graças ao talento de seu principal intérprete, não deixa de ser impressionante a descrição dos métodos de tortura utilizados por ambos os lados em conflito, pois só que os conhecem bem poderiam descrevê-los daquela maneira.
A fragilidade de novo trabalho de Aranoa não anula a força de algumas constatações, mas não há dúvida de que o filme é desses que não ultrapassam aquela barreira diante da qual ficam paralisados os que, diante de certos fenômenos, sabem olhar apenas para efeitos, e nunca para as causas. E há, também, certas escolhas que apenas contribuem para que o filme perca sua força e se distancie de algo mais sólido. O ator que interpreta o agente norte-americano, por exemplo, é um equívoco que acentua a artificialidade de certas cenas. E encerrar a narrativa com a atriz principal recitando o título no livro no qual o filme é baseado é algo que se aproxima do ridículo. Provavelmente, Aranoa é um admirador de Coppola. Mas certas aproximações são perigosas, pois costumam, por vezes, revelar que é grande a distância entre o modelo e seu seguidor. O tema da família ameaçada, motivo condutor da célebre trilogia do diretor norte-americano, é, agora, apenas esboçado, nunca aprofundado daquela maneira que costuma originar filmes relevantes.
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