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Cinema

- Publicada em 24 de Agosto de 2018 às 01:00

O assalto

A partir dos anos 1970, o cinema brasileiro, através de todos os seus segmentos, da realização até seus ardorosos defensores espalhados pela crítica cinematográfica, se organizou para defender seu espaço no mercado exibidor. O grande inimigo, claro, foi o cinema norte-americano, o grande ocupante de tal espaço. O risco de xenofobia foi, sem dúvida, algo ameaçador. Apesar de um cineasta como Glauber Rocha ter afirmado não ser contra a presença do cinema americano, pois tal presença exercia uma importante função dialética, e sim contra a submissão a modelos estrangeiros, certo sectarismo se constituiu, sem dúvida, em uma ameaça. O grande Paulo Emílio Salles Gomes, por exemplo, autor de um livro sobre Jean Vigo, escrito originalmente em francês, e sobre uma série de artigos antológicos sobre cineastas universais no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, em seus últimos dias se recusava a ver filmes estrangeiros. Hoje, quando alguns filmes americanos produzidos apenas de olho na bilheteria são tratados por parte da crítica brasileira como se fossem ensaios definitivos sobre a natureza humana e o tempo atual, fica bem claro que a linha adotada pelo crítico citado resultou em algo muito afastado do pretendido. As alterações no mercado exibidor, com a criação de complexos formados por várias salas, permitiu que nos dias atuais portarias que garantem a exibição de filmes nacionais sejam cumpridas sem problemas, sendo assim garantida em horários e espaços diversos a exibição de filmes nacionais. Tal tema parece até mesmo superado. Mas o cinema nacional, pelo menos parte dele, tem enfrentado outro problema: a dificuldade de ser compreendido o que está sendo dito pelos atores e atrizes. Em alguns filmes nacionais, há cenas em que tudo é sussurrado, com o espectador longe de segredos e intenções expressos com palavras que parecem pertencer a uma língua estrangeira. E parece que não adianta culpar as salas de exibição, pois alguns filmes aqui produzidos não enfrentam tal obstáculo para se comunicar com o público. Em O animal cordial, estreia no longa-metragem de Gabriela Amaral Almeida, tal problema volta a acontecer, pois há passagens nas quais fica difícil se não impossível compreender o que está sendo dito.
A partir dos anos 1970, o cinema brasileiro, através de todos os seus segmentos, da realização até seus ardorosos defensores espalhados pela crítica cinematográfica, se organizou para defender seu espaço no mercado exibidor. O grande inimigo, claro, foi o cinema norte-americano, o grande ocupante de tal espaço. O risco de xenofobia foi, sem dúvida, algo ameaçador. Apesar de um cineasta como Glauber Rocha ter afirmado não ser contra a presença do cinema americano, pois tal presença exercia uma importante função dialética, e sim contra a submissão a modelos estrangeiros, certo sectarismo se constituiu, sem dúvida, em uma ameaça. O grande Paulo Emílio Salles Gomes, por exemplo, autor de um livro sobre Jean Vigo, escrito originalmente em francês, e sobre uma série de artigos antológicos sobre cineastas universais no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo, em seus últimos dias se recusava a ver filmes estrangeiros. Hoje, quando alguns filmes americanos produzidos apenas de olho na bilheteria são tratados por parte da crítica brasileira como se fossem ensaios definitivos sobre a natureza humana e o tempo atual, fica bem claro que a linha adotada pelo crítico citado resultou em algo muito afastado do pretendido. As alterações no mercado exibidor, com a criação de complexos formados por várias salas, permitiu que nos dias atuais portarias que garantem a exibição de filmes nacionais sejam cumpridas sem problemas, sendo assim garantida em horários e espaços diversos a exibição de filmes nacionais. Tal tema parece até mesmo superado. Mas o cinema nacional, pelo menos parte dele, tem enfrentado outro problema: a dificuldade de ser compreendido o que está sendo dito pelos atores e atrizes. Em alguns filmes nacionais, há cenas em que tudo é sussurrado, com o espectador longe de segredos e intenções expressos com palavras que parecem pertencer a uma língua estrangeira. E parece que não adianta culpar as salas de exibição, pois alguns filmes aqui produzidos não enfrentam tal obstáculo para se comunicar com o público. Em O animal cordial, estreia no longa-metragem de Gabriela Amaral Almeida, tal problema volta a acontecer, pois há passagens nas quais fica difícil se não impossível compreender o que está sendo dito.
Outro fato desagradável a ser registrado, novamente, são aquelas luzes irritantes colocadas junto à tela, que não estão prejudicando apenas filmes nacionais e sim todos os que são exibidos. O animal cordial foi visto na Sala 8 do espaço Itaú de Cinema, que por ser a menor delas é a mais prejudicada. Desde que os irmãos Lumière realizaram a primeira sessão de cinema que tal forma e espetáculo exige uma sala escura. Os responsáveis pela segurança deveriam saber disso e, portanto, encontrar uma solução que também levasse em consideração o espetáculo cinematográfico. Há cenas de alguns filmes, principalmente aquelas nas quais o claro-escuro é fundamental, que tem sua força dramática completamente anulada. Alguns cinemas, naqueles avisos antes da sessão, chegam a lembrar que luzes de celulares prejudicam a exibição. Muito pior, é claro, são aquelas placas luminosas colocadas, praticamente, dentro das cenas. Certamente, seria importante que algum tipo de solução fosse encontrada para que o público, que já é informado antes da sessão onde ficam as saídas, tivesse sua segurança e seus direitos de espectador devidamente assegurados.
O animal cordial, prejudicado pelos fatores destacados, é filme que se destaca por abandonar simplificações, ao falar sobre temas atuais. O relato procura retirar as máscaras que escondem frustrações e agressividades. São muitas as referências a serem devidamente apreciadas pelos cinéfilos, desde a cena do espelho em Motorista de táxi, até o epílogo de O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante. E ao colocar os personagens num só cenário a realizadora aceita o desafio de realizar um filme no qual a direção de atores é algo fundamental para que o nível dramático se mantenha. E há também que registrar o aumento gradual da violência à medida que o tempo passa. Mas o ritual por vezes é prejudicado por excessos e falta o humor de Tarantino, outro modelo que o filme procura seguir.
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