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Cinema

- Publicada em 09 de Agosto de 2018 às 22:00

O matador

O policial é um gênero que se apresenta ao público como revelador de aspectos ocultos da natureza e da sociedade humanas. A ruptura dos rituais cotidianos através da violência também pode ser vista como algo que, devidamente encenado e focalizado, permite ao cinema uma aproximação com uma realidade quase sempre oculta, quando não sufocada pelos mais diversos meios empregados para que permaneçam devidamente reprimidos impulsos e ações indicadores de verdades difíceis de ser aceitas. Esse gênero de cinema deu origem a inúmeros clássicos assinados por mestres de diversas nacionalidades e seu tema principal foi objeto de variações que partindo de atos de violência procuraram chegar às causas da quebra da harmonia exterior. Henrique Goldman, o realizador de O nome da morte, segue aquela linha do gênero que abandona a investigação, não pretende captar a atenção do espectador tornando-o cúmplice de uma investigação e desde o início coloca claramente na tela o criminoso. Seu filme se aproxima assim de dois clássicos do cinema brasileiro, ambos assinados por Roberto Farias: Cidade ameaçada e Assalto ao trem pagador. Recentemente, outro filme nacional, igualmente baseado em fato da crônica policial, O lobo atrás da porta, obra poderosa e admirável assinada por Fernando Coimbra, foi outro exemplo de que o gênero também pode servir de instrumento destinado a captar aspectos que explicitam na tela deformações e imperfeições geradoras das mais diversas formas de violência.
O policial é um gênero que se apresenta ao público como revelador de aspectos ocultos da natureza e da sociedade humanas. A ruptura dos rituais cotidianos através da violência também pode ser vista como algo que, devidamente encenado e focalizado, permite ao cinema uma aproximação com uma realidade quase sempre oculta, quando não sufocada pelos mais diversos meios empregados para que permaneçam devidamente reprimidos impulsos e ações indicadores de verdades difíceis de ser aceitas. Esse gênero de cinema deu origem a inúmeros clássicos assinados por mestres de diversas nacionalidades e seu tema principal foi objeto de variações que partindo de atos de violência procuraram chegar às causas da quebra da harmonia exterior. Henrique Goldman, o realizador de O nome da morte, segue aquela linha do gênero que abandona a investigação, não pretende captar a atenção do espectador tornando-o cúmplice de uma investigação e desde o início coloca claramente na tela o criminoso. Seu filme se aproxima assim de dois clássicos do cinema brasileiro, ambos assinados por Roberto Farias: Cidade ameaçada e Assalto ao trem pagador. Recentemente, outro filme nacional, igualmente baseado em fato da crônica policial, O lobo atrás da porta, obra poderosa e admirável assinada por Fernando Coimbra, foi outro exemplo de que o gênero também pode servir de instrumento destinado a captar aspectos que explicitam na tela deformações e imperfeições geradoras das mais diversas formas de violência.
A cinematografia nacional aproximou o policial clássico do cinema chamado social. Os dois exemplos acima citados não esgotam a lista de títulos significativos aqui produzidos e que seguiram tal tendência. Um deles, Tropa de elite, de José Padilha, chegou a vencer o Festival de Berlim, e, certamente, será difícil deixar de incluir Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, de Hector Babenco, e Faca de dois gumes, de Murilo Salles, entre os melhores filmes brasileiros. O nome da morte tem como ponto de partida o livro de Klester Cavalcanti, adaptado pelo roteirista George Moura. O diretor Goldman, também um dos roteiristas, exibe segurança e oferece ao público um trabalho formalmente impecável e que merece aquela atenção voltada para aspectos não relacionados apenas à competência de narrador. O filme centraliza a atenção em um personagem que, seduzido por um parente que exerce o papel de agente tentador, passa a percorrer o caminho mais fácil para o encontro do conforto material e da riqueza. Mais do que isso, a estrada escolhida é aquela que permitirá ao protagonista chegar ao palco onde se move a família humana e no qual valores aceitos como os definitivos aparentam estar seguramente protegidos. O que o filme propõe é uma investigação, não aquela destinada a descobrir um criminoso, mas a que revela o que está oculto sob normas e aparências. Assim, a indumentária falsa entregue pelo tio é símbolo de um disfarce, um ato ilegal que permite a ação de uma brutalidade que o filme não esconde e acentua em cenas realizadas com perfeição.
Os acontecimentos reconstituídos pela narrativa de Goldman adquirem, assim, uma força simbólica facilmente decifrável por quem acompanha não apenas o noticiário policial. A trajetória do personagem principal é o caminho percorrido por um homem que se deixa conduzir por imposições deformadoras, algo colocado na imagem na cena em que ele segue o rapaz que o encaminha ao local de uma de suas missões. Algumas simplificações merecem ser lembradas, entre elas aquela sequência no supermercado, iniciada pela imagem da estátua e depois mostrando o consumo como tema dominante. Porém, é importante salientar que este chefe de família, sempre preocupado com o bem-estar da mulher e o filho, está muito longe do monstro temido e ameaçador. Ele não surge das sombras e nem é perseguido pela lei. Ao contrário, pois além de solto, depois de algumas horas preso, continuará uma trajetória que o retirou de um cenário pobre e limitador. As contradições que o filme descreve certamente mereciam obra mais profunda e consistente. Mas o trabalho de Goldman é desses que provam que há vozes em nosso cinema que não estão dispostas a ficar caladas diante de uma realidade que nunca será abalada pelo humor inconsequente e pelas concessões à vulgaridade.
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