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Cinema

- Publicada em 12 de Julho de 2018 às 22:08

Estrutura desfeita

O realizador Xavier Legrand em seu primeiro longa-metragem se coloca entre os maiores da atualidade. A constatação é obrigatória depois da visão deste notável e impressionante Custódia, que recebeu o prêmio de direção no Festival de Veneza do ano passado, o mesmo no qual A forma da água recebeu o Leão de Ouro de melhor filme, em mais uma evidência de que a inversão de valores se espalha e se agiganta em nosso tempo. Mas o ridículo se torna irrelevante diante dos méritos deste filme extraordinário, que sabe mesclar de forma sensível e inteligente influências dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardene, do americano Stanley Kubrick e de alguns cineastas iranianos. O cinema francês retorna com este trabalho aos seus momentos de esplendor, pois é irrefutável a capacidade deste estreante em criar uma atmosfera dramática derivada da exploração de fatos cotidianos, colocados na imagem de maneira a transformá-los em símbolos eloquentes de uma crise derivada da intensidade de forças irracionais que por vezes dominam e controlam o comportamento humano. Estes fantasmas que atormentam e costumam transformar indivíduos em feras estão em cena, sem que o cenário e os personagens sejam deformados por qualquer artificialismo. O diretor chega a dispensar o comentário musical, ele próprio organizando uma partitura feita de manifestações sonoras cotidianas, como os passos registrados na cena inicial, quando os personagens se encaminham para a sala de audiências, uma forma de colocar na faixa sonora a agressividade e a violência que depois serão explicitadas.
O realizador Xavier Legrand em seu primeiro longa-metragem se coloca entre os maiores da atualidade. A constatação é obrigatória depois da visão deste notável e impressionante Custódia, que recebeu o prêmio de direção no Festival de Veneza do ano passado, o mesmo no qual A forma da água recebeu o Leão de Ouro de melhor filme, em mais uma evidência de que a inversão de valores se espalha e se agiganta em nosso tempo. Mas o ridículo se torna irrelevante diante dos méritos deste filme extraordinário, que sabe mesclar de forma sensível e inteligente influências dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardene, do americano Stanley Kubrick e de alguns cineastas iranianos. O cinema francês retorna com este trabalho aos seus momentos de esplendor, pois é irrefutável a capacidade deste estreante em criar uma atmosfera dramática derivada da exploração de fatos cotidianos, colocados na imagem de maneira a transformá-los em símbolos eloquentes de uma crise derivada da intensidade de forças irracionais que por vezes dominam e controlam o comportamento humano. Estes fantasmas que atormentam e costumam transformar indivíduos em feras estão em cena, sem que o cenário e os personagens sejam deformados por qualquer artificialismo. O diretor chega a dispensar o comentário musical, ele próprio organizando uma partitura feita de manifestações sonoras cotidianas, como os passos registrados na cena inicial, quando os personagens se encaminham para a sala de audiências, uma forma de colocar na faixa sonora a agressividade e a violência que depois serão explicitadas.
O filme é perfeito em todo o seu desenrolar, mas duas sequências são exemplares. Uma delas é a da festa, quando a sociedade se diverte enquanto a ameaça está nas proximidades, ignorada pela maioria que canta e dança sem saber do perigo que está prestes a se transformar em algo difícil de ser contido. A segunda, um trecho de dramaticidade incomum, é aquele no qual Legrand se aproxima de uma cena famosa de O iluminado. Provavelmente uma citação, nunca uma cópia, mas de qualquer maneira uma aproximação daquele ensaio kubrickiano no terreno do filme de horror. Aqui o terror vem do cotidiano e da realidade, e por isso ainda mais assustador. Tudo tem sua origem, como num filme de Ingmar Bergman, em relações humanas e familiares imperfeitas e precárias. Isso fica claro no fato de o diretor colocar em cena outra família, além daquela que está sendo desfeita por instrumentos jurídicos, símbolos da cultura humana que ainda não conseguiu dominar amplamente a irracionalidade. A colocação em cena da família de um dos protagonistas é uma espécie de volta ao passado, um retorno que explica o presente. E a desintegração da figura paterna diante do filho é o lance de maior impacto do filme, com a utilização do automóvel, numa clara aproximação ao cinema de Abbas Kiarostami e outros cineastas iranianos que souberam utilizar de forma marcante esse recurso para falar de buscas e descobertas.
Infelizmente, aqui em Porto Alegre, numa das salas do Espaço Itaú, o filme está sendo prejudicado pelas irritantes placas luminosas que, por determinação de responsáveis pela segurança, estão colocadas em lugar inapropriado. Em outras salas daquele complexo exibidor, que é exemplar na qualidade do serviço que oferece ao público, o mesmo acontece. O espetáculo cinematográfico exige uma sala escura. No caso de Custódia, o magnífico trecho final é bastante prejudicado, pois o diretor utiliza a escuridão como elemento essencial. É importante que haja preocupação das autoridades responsáveis com indicações precisas relacionadas à segurança. Mas é preciso haver cuidados, também, com o espetáculo. Aquelas placas incômodas têm de ser colocadas em outro lugar, ou então terem sua intensidade diminuída, para que a imagem projetada na tela não seja prejudicada por luzes. Já basta a má educação de alguns que insistem em ligar as luzes de seus celulares durante a projeção. A segurança é essencial, mas a integridade de um filme e os direitos do espectador devem ser respeitados.
 
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