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Cinema

- Publicada em 21 de Junho de 2018 às 23:00

Medíocre e repetitivo

Steven Spielberg tem seu lugar assegurado na história do cinema. Sua filmografia está repleta de obras notáveis, seja na área do grande espetáculo, seja no espaço reservado a depoimentos reveladores sobre nosso tempo, sem esquecer os filmes dedicados a explorar o universo da fantasia. Os três primeiros filmes dedicados a Indiana Jones são insuperáveis em seu gênero. A lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan sempre serão referência quando se procurar exemplos de como o cinema registrou a irracionalidade e os sacrifícios exigidos para combatê-la. E.T. ficará como exemplo maior de conto infantil cinematográfico. A lista é muito mais extensa, e qualquer espectador que tenha acompanhado a evolução do cinema nos últimos anos poderá elaborar a sua. Recentemente, aliás, ele nos brindou com outro filme notável, A ponte dos espiões, no qual exaltou a tolerância e a inteligência, ao mesmo tempo em que, recriando a chamada Guerra Fria, a utilizou como exemplo de maniqueísmo, enquanto definia a tolerância e a lucidez como valores maiores. Mas há outro Spielberg que não desperta o mesmo entusiasmo. Este apareceu há pouco no deplorável O jogador número um, concessão ao que de pior o cinema norte-americano tem produzido nos últimos anos. E há um terceiro Spielberg, aquele que, como produtor, tem permitido que algumas ideias suas sejam aproveitadas por realizadores sem competência e imaginação. É o cinema apoiado em efeitos especiais e numa poluição sonora que procuram esconder a pobreza da proposta.
Steven Spielberg tem seu lugar assegurado na história do cinema. Sua filmografia está repleta de obras notáveis, seja na área do grande espetáculo, seja no espaço reservado a depoimentos reveladores sobre nosso tempo, sem esquecer os filmes dedicados a explorar o universo da fantasia. Os três primeiros filmes dedicados a Indiana Jones são insuperáveis em seu gênero. A lista de Schindler e O resgate do soldado Ryan sempre serão referência quando se procurar exemplos de como o cinema registrou a irracionalidade e os sacrifícios exigidos para combatê-la. E.T. ficará como exemplo maior de conto infantil cinematográfico. A lista é muito mais extensa, e qualquer espectador que tenha acompanhado a evolução do cinema nos últimos anos poderá elaborar a sua. Recentemente, aliás, ele nos brindou com outro filme notável, A ponte dos espiões, no qual exaltou a tolerância e a inteligência, ao mesmo tempo em que, recriando a chamada Guerra Fria, a utilizou como exemplo de maniqueísmo, enquanto definia a tolerância e a lucidez como valores maiores. Mas há outro Spielberg que não desperta o mesmo entusiasmo. Este apareceu há pouco no deplorável O jogador número um, concessão ao que de pior o cinema norte-americano tem produzido nos últimos anos. E há um terceiro Spielberg, aquele que, como produtor, tem permitido que algumas ideias suas sejam aproveitadas por realizadores sem competência e imaginação. É o cinema apoiado em efeitos especiais e numa poluição sonora que procuram esconder a pobreza da proposta.
O catalão Juan Antonio Bayona é o mesmo realizador de O impossível, um filme não desprovido de valores sobre a luta de uma família para sobreviver diante da fúria da natureza. Mas seu trabalho neste Jurassic World: reino ameaçado revela uma indisfarçável rendição aos esquemas e aos ditames de uma produção voltada apenas para elementos exteriores permitidos pela tecnologia. E entre os produtores executivos do filme está Spielberg, quase sempre grande como realizador, mas um produtor pouco interessado em ousadias e profundidades. Como o título indica, este é uma continuação do primeiro filme de uma série. A obra inaugural, dirigida pelo próprio Spielberg, tinha seus méritos, mas as seguintes, inclusive um filme dirigido por ele mesmo, nada mais fizeram do que repetir situações e explorar o que já havia sido feito. O fato de tais filmes terem obtido sucesso de bilheteria apenas revela a ausência de critérios rigorosos por parte de um grande número de espectadores. O diretor de The Post, nos filmes por ele dirigidos, nunca esqueceu a bilheteria, mas na sua quase totalidade nunca permitiu que tal interesse impedisse o exercício da criatividade. Tal rigor, no entanto, deixa de existir quando ele atua apenas como produtor. Quanto a Bayona, se antes era movido por algumas inquietações, agora surge como um bem-comportado executivo, uma peça em engrenagem destinada a repetir o que antes, em termos quantitativos, tinha sido testado.
O novo filme é uma sucessão de episódios onde a gritaria é constante e os lugares-comuns ditam as regras. Não falta até mesmo aquele analista de sistema, figura que costuma aparecer como elemento cômico em filmes como este, repetindo piadas sem graça. Quanto aos dinossauros, estes surgem dotados de senso de humor, pois antes do ataque costumam encenar uma coreografia que antecipa a violência. E isso para não falar da existência de dissidentes entre eles, já que em certas cenas as divergências surgem como salvação inesperada para os protagonistas. Temas com o a exploração comercial de avanços tecnológicos, a universalização de interesses econômicos e as relações familiares são superficialmente abordados. Mas há um trecho que pelo menos tem o valor de sugerir o que o filme poderia ser se fosse desenvolvido com outros interesses. Trata-se do momento em que a neta do grande responsável foge dos monstros, se refugia na cama e procura proteção sob as cobertas. Eis uma cena sintonizada com a imaginação infantil, este universo que Spielberg soube explorar em muitos de seus filmes e que agora ocupa um espaço pequeno. Os produtores do filme, Spielberg entre eles, certamente exigiram que tais observações fossem limitadas a um fragmento.
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