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- Publicada em 06 de Março de 2019 às 23:09

O reconhecimentoda condição humana

"Recorda-te que és pó e ao pó retornarás." Com essa exortação, inicia-se o tempo durante o qual a comunidade de fé, mais intensamente, se prepara para a festa da ressurreição e da vida.
"Recorda-te que és pó e ao pó retornarás." Com essa exortação, inicia-se o tempo durante o qual a comunidade de fé, mais intensamente, se prepara para a festa da ressurreição e da vida.
A exortação soa quase cínica e cruel. Segundo ela, o ser humano não valeria nada, seria inútil e insignificante.
Trata-se de uma expressão perigosa, à qual os ditadores e manipuladores da vida recorrem prazerosamente. O ser humano, considerado mero pó, não necessitaria gozar da mínima consideração. Ele poderia ser manipulado segundo objetivos e intenções quaisquer.
Contudo, a expressão, conservando uma sólida verdade, permite alimentar a esperança. Verdadeiramente, a existência humana é marcada pela fragilidade e pela fugacidade. No entanto, essa verdade representa motivo para que o ser humano, diante de Deus, reivindique não ser julgado com severidade, que não se coloque na balança os erros cometidos diariamente e que seja reduzido o metro da justiça, encurtando a medida, pois a condição humana requer consideração.
Diante de Deus a única coisa que pode salvar o ser humano é o reconhecimento da própria condição. Também diante de si mesmo e dos demais, o ser humano experimenta maior misericórdia se não perder de vista o cenário de miséria e necessidade. Desse modo, também o outro passa a ser considerado menos ameaçador e vice-versa.
Reconhecer a própria medida, o próprio limite e identidade consiste em superar a ânsia de ser como Deus. Assim, a imposição das cinzas se torna para o batizado um sinal de benção, pois não há razão para envergonhar-se da própria condição.
Blaise Pascal (1623-1662) soube expressar essa realidade humana na proverbial máxima: "O ser humano não é nem anjo, nem animal". Sua existência se caracteriza pelo encontro de duas realidades: é carne (pó) e é espírito. Quando o ser humano não mais se reconhece desse modo e busca ir em uma ou em outra direção, perde a saúde, o equilíbrio, a paz, a identidade, a felicidade.
Sem censurar o empenho por uma existência sempre mais marcada pelo mundo da economia, segundo o qual o bem-estar e a felicidade dependem da conquista e do acúmulo de bens, é possível perceber, a partir do espetáculo construído pelas ciências positivas, seu declínio. Declínio à semelhança do sol que, no crepúsculo, realiza o seu ocaso, na celebração de um colorido arrebol.
Entretanto, o sol, segundo o ciclo da própria natureza, renasce na aurora do novo dia. Já o ser humano pode sucumbir diante da própria autossuficiência marcada por certo pelagianismo, esquecendo a própria identidade. Por isso, a Igreja, durante o tempo da Quaresma, não cessa de exortar o ser humano a reconhecer sua condição de "pó". Mas "pó" redimido pelo amor de Deus, expresso no escândalo da cruz, em favor de toda humana criatura.
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