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Livros

- Publicada em 17 de Julho de 2020 às 03:00

O testamento de um serial killer

No romance realista Tanto por fazer, Daniels usou sua ampla experiência com bandidos prisioneiros

No romance realista Tanto por fazer, Daniels usou sua ampla experiência com bandidos prisioneiros


EDITORA É REALIZAÇÕES /DIVULGAÇÃO/JC
O que se passa na mente de um britânico assassino em série que cometeu 15 crimes hediondos e enterrou as vítimas em um jardim urbano dificilmente maior que um cemitério de adro de igreja? Tanto por fazer (É Realizações Editora, 184 páginas, R$ 59,90, tradução de Marcelo Consentino), de Theodore Dalrymple, um dos pseudônimos do escritor e médico psiquiatra inglês Anthony Daniels, trata justamente do tema e apresenta um verdadeiro depoimento-manifesto de um serial killer chamado Graham Underwood.
O que se passa na mente de um britânico assassino em série que cometeu 15 crimes hediondos e enterrou as vítimas em um jardim urbano dificilmente maior que um cemitério de adro de igreja? Tanto por fazer (É Realizações Editora, 184 páginas, R$ 59,90, tradução de Marcelo Consentino), de Theodore Dalrymple, um dos pseudônimos do escritor e médico psiquiatra inglês Anthony Daniels, trata justamente do tema e apresenta um verdadeiro depoimento-manifesto de um serial killer chamado Graham Underwood.
Anthony Daniels trabalhou em quatro continentes e até 2005 foi médico no Hospital da Cidade e na Winston Green Prison, em Birmingham, Inglaterra. No romance realista Tanto por fazer, Daniels usou sua ampla experiência com bandidos prisioneiros e usou a literatura para desvendar a mente de um assassino que, de certa forma, sintetiza todos os criminosos que ele conheceu em sua longa experiência profissional.
Daniels tem muitos livros publicados com sucesso no Brasil pela É Realizações, como A vida na sarjeta; Nossa cultura... Ou o que restou dela?; A nova síndrome de Vichy e Viagens aos confins do comunismo, entre outros. Ele pensa e reflete sobre temas importantes da contemporaneidade e os trata com originalidade, humor e contundência.
Tanto por fazer traz um protagonista multifacetado que tem argumentação bastante complexa e sofisticada para tentar justificar suas atitudes e seus crimes. No fundo, ele se orgulha pelo que fez e, principalmente, por ter enganado a polícia, que não conseguiu desvendar alguns de seus crimes.
O discurso de justificação traz sentimentalismo familiar em nossos dias: infância difícil, pai que abandonou a família e mãe problemática que não dava atenção ao filho. O criminoso estabelece um diálogo intelectual com seu interlocutor, usando argumentos complexos e um senso de humor bastante sofisticado. Ao invés de apelar para o sentimentalismo, o assassino oferece uma justificativa intelectual mais profunda para seu comportamento antissocial.
O criminoso mostra o caminho para a barbárie e o relativismo moral, utilizado para explicar a liberdade irrestrita e ressaltar o mito de que todos são capazes de fazer seus próprios julgamentos morais usando a razão pura.

O novo anormal

Já não aguento mais ouvir tantos especialistas em epidemiologia e tantos especialistas em generalidades que andam por aí, em tudo quanto é plataforma de mídia. Existe uma pandemia de epidemiologistas e palpiteiros que estão aí falando de tudo, toda hora, em todo lugar. De manhã, muitas vezes acordo me sentindo com Covid, achando que estou sem ar, que tem algo na garganta e que tenho que fazer o exame. Aí dou uma respirada, dou um tempo e vou adiante, enquanto o danado do vírus não me pega e até não endoidar com tanta informação contraditória.
Na pandemia, consegui terminar de ler o belo livro best-seller Sapiens - Uma breve história da humanidade, do professor e historiador israelense Yuval Noah Harari, que trata das dezenas de milênios que percorremos desde as cavernas até nos tornarmos deuses, passando pelas revoluções cognitiva, agrícola, científica e industrial. No final da leitura da obra, a gente fica pensando que o mundo e as pessoas nunca foram lá muito normais. Alguns períodos de paz e harmonia, outros de guerras e barbáries, momentos de lucidez e de loucura e por aí vai. O mundo sempre foi mais quadro surrealista que teorema matemático.
No início do século XXI, este mundozinho "normal" com conflitos sociais e políticos gigantes (nacionais e internacionais), devastação do meio ambiente em várias partes do planeta, guerras, desigualdade nunca vista em termos de distribuição de renda, racismo, discriminações variadas e, enfim, depois de tanto progresso científico e milhões de mudanças rápidas, ainda permanecemos só com um verniz levezinho encobrindo a selvageria do planeta e dos seres humanos. "Normal" aonde, quando, cara pálida? Mundo pós-moderno sem contornos, sem lideranças consistentes e duráveis, sociedade líquida conforme Bauman, vale-tudo lá por tudo, onde o "normal"?
E agora essa história de "novo normal", como se antes as pessoas e o mundo fossem lá muito "normais". Talvez fosse melhor falar em "novo anormal", sei lá, opiniões e colaborações para nossa redação. Será que de perto ninguém e nada é normal?
Os videntes de ocasião estão aí dizendo como será o futuro imprevisível, sem fixar datas ou referências e os apocalípticos distópicos andam aí assustando todos com suas profecias de fim de mundo e dizendo que as coisas vão levar anos para entrar nos eixos de novo, se isso for possível.
Os otimistas e os realistas esperançosos lançam mensagens de crenças em melhoras não tão demoradas e dizem que após outros momentos de crises, guerras, pestes e outros perrengues universais, vieram períodos de euforia, alegria e criatividade, como nos anos 1920, os "roaring twenties", os anos loucos que marcaram o século passado.
É viver para crer. Quem usar máscara dupla ou tripla, álcool em gel, lavar as mãos 20 vezes por dia, se isolar ao máximo, quem sabe, verá o que vem. Tens uns muitos aí que querem pegar o vírus logo e ir rápido para o andar de cima. Calma, galera. Não se apressem, não passem o vírus. Nos tempos da Aids, alguns malucos passavam o mal para quantos conseguissem. Por vezes, o ser humano é demasiadamente humano.

Lançamentos

O livro é um grande alerta sobre as grandes ameaças à sobrevivência humana no planeta

O livro é um grande alerta sobre as grandes ameaças à sobrevivência humana no planeta


EDITORIAL CRÍTICA/DIVULGAÇÃO/JC
  • Internacionalismo ou extinção (Editorial Crítica, 128 páginas, R$ 39,90) (acima), de Noam Chomsky, um dos maiores intelectuais da atualidade, é, acima de tudo, um grande alerta sobre as grandes ameaças à sobrevivência humana no planeta. Diz que os estados não conseguem mais controlar o futuro. A obra traz prefácio sobre o coronavírus.
  • O escândalo do século (Editora Record, 350 páginas, R$ 59,90), do genial escritor e jornalista Gabriel Garcia Márquez, Nobel de Literatura, mostra o lado repórter de Gabo e sua paixão pelo jornalismo. A obra vem em boa hora, quando a imprensa está sendo alvo de muitos ataques.
  • Com amor, Creekwood (Intrínseca, 144 páginas, R$ 29,90 impresso e 19,90 e-book), da célebre escritora Becky Albertalli, destaque na literatura juvenil, é a novela que dá continuidade ao best-seller Com amor e narra a vida dos protagonistas no ambiente universitário.

a propósito...

Neste "novo anormal", enquanto caminho quilômetros e quilômetros no meu apartamento, faço visitas ao celular e tento contactar os otimistas que dizem, de preferência, que levaremos só mais uns dois meses para sair da crise. Minha prima Paula dorme todo dia às seis da manhã e acorda às três de tarde. Está dependente química de séries na TV. Meu amigo de pandemia Cadito me ligou às nove da madrugada. Como sua sessão com o psicoterapeuta era só às cinco da tarde, me disse que teve a brilhante e pandemônica ideia de tomar um vinho tinto matinal. Normal é sua avó. Ou será que não. Normal é a anormalidade continuando feito baleia voando até a lua. (Jaime Cimenti)