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Cultura

- Publicada em 14 de Agosto de 2020 às 18:52

Orquestra Villa-Lobos retoma atividades à distância graças a financiamento coletivo

Projeto estava paralisado desde abril, quando convênio com a prefeitura foi suspenso

Projeto estava paralisado desde abril, quando convênio com a prefeitura foi suspenso


Luiza Prado/JC
Roberta Requia
Após cinco meses de pausa, a Orquestra Villa-Lobos retomou suas atividades de maneira virtual. Desde abril, os recursos disponibilizados pelo convênio entre o Centro de Promoção da Criança e Adolescente São Francisco de Assis e a Prefeitura de Porto Alegre estão suspensos devido ao corte de gastos causado pela pandemia. A ONG, parceira que viabilizava a contratação dos professores, precisou demitir os 20 educadores do projeto por falta de verba, fazendo com que 600 alunos da Villa-Lobos ficassem sem aulas. “Foi o momento mais difícil dos 28 anos de trabalho. Foi terra arrasada. Inacreditável”, contou Cecília Silveira, coordenadora do programa. A Orquestra jamais havia passado por um momento tão crítico em sua história.
Após cinco meses de pausa, a Orquestra Villa-Lobos retomou suas atividades de maneira virtual. Desde abril, os recursos disponibilizados pelo convênio entre o Centro de Promoção da Criança e Adolescente São Francisco de Assis e a Prefeitura de Porto Alegre estão suspensos devido ao corte de gastos causado pela pandemia. A ONG, parceira que viabilizava a contratação dos professores, precisou demitir os 20 educadores do projeto por falta de verba, fazendo com que 600 alunos da Villa-Lobos ficassem sem aulas. “Foi o momento mais difícil dos 28 anos de trabalho. Foi terra arrasada. Inacreditável”, contou Cecília Silveira, coordenadora do programa. A Orquestra jamais havia passado por um momento tão crítico em sua história.
A Orquestra Villa-Lobos é um projeto de educação musical que funciona desde 1995 na Escola de Ensino Fundamental Heitor Villa-Lobos, na Lomba do Pinheiro, Zona Leste de Porto Alegre. Sob a regência de Cecília Rheingantz Silveira, a Orquestra já fez mais de 1,2 mil concertos, além de receber menções importantes de instituições ligadas à música, à cultura e à educação. Atualmente, o conjunto é formado por 45 músicos, com idades entre 12 e 25 anos, que tocam flauta doce, violino, viola, violoncelo, violão, percussão, teclado, contrabaixo elétrico e cavaquinho.o
Mesmo distante do carnaval, o bloco da orquestra conseguiu pontuar e garantir seu desfile para os próximos meses. Através da campanha de financiamento coletivo batizada de Bloco na rua, cerca de R$ 67 mil reais foram captados para custear o programa. A meta inicial era a arrecadação de R$ 55 mil, valor necessário para manter as atividades durante 30 dias. “Em abril, quando lançamos a campanha, não se projetava tanto tempo de pandemia. A questão é que precisamos de recursos que garantam a continuidade dos trabalhos, sem nova interrupção, até a retomada do convênio. E isso só acontecerá depois da volta às aulas nas escolas municipais. Ou seja, há muitas variáveis ainda imprevisíveis”, relata Cecília.
A campanha ganhou grande movimento nas redes sociais, recebendo apoio de artistas e músicos. Dessa maneira, chegou até um apoiador que decidiu custear parte do programa relacionado a aulas online até o mês de dezembro. “Readequamos a campanha para o formato de aulas remotas, com atendimento diferenciado, a bem de podermos retomar as atividades num custo um pouco menor e, assim, ter a garantia de recurso para continuidade do trabalho”, aponta a regente.
Para ela, a Orquestra faz parte da cultura da Vila Mapa, distrito da Lomba do Pinheiro, onde se situa a escola: “Nossa relação com a comunidade é de muito respeito e orgulho mútuos. Há um vínculo muito bem construído entre o programa e a comunidade. Arrisco a dizer, indissociável.” Não é a toa que 14 dos 20 professores do projeto são ex-alunos da orquestra, sendo quatro professores formados e os demais monitores.
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Beto Chedid leciona na Villa-Lobos desde os 21 anos, onde atualmente é professor de violão e teoria musical. Foto: Joyce Rocha/JC
Deixar de ser aluno para tornar-se professor da Orquestra Villa-Lobos é um dos objetos de Michel Silva, estudante de 18 anos: “A música significa praticamente tudo na minha vida. Me deu um rumo. Hoje eu sei o que eu quero fazer: continuar trabalhando com música, seguir nesse caminho.” O jovem está no projeto desde os oito anos de idade, quando começou a tocar flauta e depois, por influência dos amigos, passou a praticar também o violoncelo, instrumento que toca na Orquestra. “Eu estava na quinta série, e via no corredor da escola crianças da minha idade tocando. Eu estudava na Heitor Villa-Lobos, tinha aula de música, mas nunca tinha me interessado. Uma vez a porta da sala da Orquestra estava aberta e eu fiquei olhando. Depois disso comecei a me interessar”, comentou o músico em entrevista.
Michel mora na Lomba do Pinheiro com os pais e viveu momentos memoráveis com o grupo, como uma viagem ao Rio de Janeiro e até para a Argentina. “Não consigo me imaginar sem a Orquestra, sem a música na minha vida. Mudou praticamente tudo, me deu um futuro. Hoje em dia eu sigo estudando para fazer faculdade de música, poder dar aula para crianças. Quero seguir na escola junto com os outros professores.” Após cinco meses longe das aulas, ele aguarda ansioso pelo retorno: “É como se fosse a primeira aula de novo, a alegria que eu estou sentindo. Ver meus amigos, poder tocar junto com eles, mesmo online. É ótimo poder ter esse contato”.
A relação duradoura com a Orquestra também faz parte da vida do músico Beto Chedid, que há 14 anos atua como professor no projeto. Em 2006, no último ano da graduação em Licenciatura em Música, ele passou a estagiar no projeto, sendo contratado como professor de violão um ano depois. “Tive, nestes 14 anos, vários outros trabalhos, tanto artísticos (como músico profissional) quanto na educação musical. Porém, em nenhum momento, pensei em não fazer mais parte do projeto da Orquestra, já que este trabalho sempre me gratificou muito.” Em 2012, Beto foi agraciado com o prêmio Açorianos de Música como Melhor Arranjador, junto com Alvaro Rosa Costa e Simone Rasslan, pelo CD Xaxados e Perdidos.
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Estudante retoma aulas de violoncelo de maneira virtual na sala de casa. Foto: Luiza Prado/JC
O trabalho com a Orquestra, para ele, significa fazer parte de algo maior que o projeto representa. O ato de oportunizar novos caminhos através da música para os alunos: “É um trabalho onde tenho liberdade para ser quem sou e colaborar em um todo em que acredito e acho bonito. Significa ver valor na música e poder ensinar o que sei e me foi ensinado em anos de formação e aprendizados, formais ou informais, e aprender também muitas coisas que a equipe de colegas, que a coordenação e os alunos acabam nos ensinando”, explicou Beto.Assim como o aluno, o violonista também aguarda com empolgação a retomada das aulas, e carrega a responsabilidade de responder, através de seu trabalho, a confiança dos mais de 400 doadores da campanha: “Vejo desafios na tentativa de viabilizar um modelo de aulas à distância de música, o que já é difícil muitas vezes dentre público de classes média e alta, o que dirá em comunidades de baixo poder aquisitivo.” Durante o período, o professor procurou auxiliar Cecília nas ações da campanha de financiamento, na produção de vídeos coletivos para a divulgação e outras frentes que tornaram a arrecadação um sucesso.
Conhecendo a região e a situação econômica do bairro, Cecília, Beto e outros colaboradores também organizaram a arrecadação de cestas básicas para famílias da Vila Mapa e região. Mais de 18 toneladas de alimentos já foram doadas pela instituição.
Assim, a Orquestra Villa-Lobos da Lomba do Pinheiro retoma suas atividades depois de um de seus períodos mais sombrios. Os alunos novamente estão contando com a presença da música no seu dia a dia, graças aos esforços e energia do time do projeto e dos mais de 400 doadores que fizeram a retomada das aulas ser possível. Mesmo que à distância, a Orquestra Villa-Lobos retoma em conjunto sua melodia, que mesmo depois de cinco meses de inatividade, não deixou silenciar-se.
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