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Cultura

- Publicada em 11 de Novembro de 2019 às 03:00

João Marcello Bôscoli lança livro de memórias sobre a mãe, Elis Regina

Bôscoli na foto, no colo de Elis, ao lado dos irmãos Pedro Mariano e Maria Rita

Bôscoli na foto, no colo de Elis, ao lado dos irmãos Pedro Mariano e Maria Rita


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Daniel Sanes
"Você se lembra da sua Mãe?"
"Você se lembra da sua Mãe?"
Com essa pergunta, referindo-se à mãe assim mesmo, com M maiúsculo, é que o empresário e produtor musical João Marcello Bôscoli abre seu livro de "memórias infantis". E não é para menos. A mãe em questão é nada menos que Elis Regina, um dos maiores talentos que a música popular brasileira já conheceu.
Com lançamento nesta terça-feira (12), às 19h, no Shopping Iguatemi (João Wallig, 1.800), Elis e eu - 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe (Editora Planeta, 192 páginas) revela um pouco da rotina da cantora porto-alegrense dentro de casa, em ensaios, viagens e outras situações que poucas pessoas tiveram o privilégio de vivenciar. A obra é puramente baseada em reminiscências da infância e da pré-adolescência do primogênito de Elis, como ele faz questão de destacar.
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"Nada foi pesquisado para escrever o livro. O que narro ali é baseado em imagens, alguns fragmentos de lembrança... A memória que eu poderia ter, como uma criança que viveu aqueles momentos", afirma, em entrevista ao Jornal do Comércio. "Por exemplo: quando falo que fui com minha mãe visitar a Rita Lee na prisão (a roqueira foi detida em 1976, por posse de maconha), eu lembro do lugar, de alguns flashes... No livro da Rita (Rita Lee: uma autobiografia, de 2016), evidentemente que ela fala sobre isso com muito mais riqueza de detalhes."
Segundo João Marcello, abrir parte de sua vida em um livro foi a maneira que encontrou de responder à manjada pergunta ("Você se lembra da sua Mãe?"). "Eu não tenho o tempo necessário para conversar com todo mundo, então essa foi uma forma de falar para um maior número de pessoas. Também é uma forma de meus filhos (Arthur e André) conhecerem um pouco melhor a avó", explica.
Para tanto, não pôde se abster de falar sobre situações difíceis. Logo no primeiro capítulo, o leitor se depara com um pequeno João Marcello atônito e consternado pela morte prematura da mãe, por overdose, com apenas 36 anos. "Estava claro. Ela partira. Nos abraçamos e choramos. (...) Meu mundo acabou", escreveu. Apesar do sofrimento, o autor garante que não foi um incômodo tocar em um assunto tão delicado. "Desde criança convivo com essa realidade, nunca foi um tabu para mim, jamais desviei do assunto. Se fizesse isso, estaria ajudando a criar um mito, uma coisa que não é verdade", argumenta.
Passado o início trágico, Elis e eu é, em grande parte, um mergulho na vida pessoal de Elis Regina - ou, pelo menos, o que a memória de uma criança poderia registrar. De personalidade forte, a "Pimentinha", como apelidou Vinicius de Moraes, se revela uma mãe severa, mas igualmente carinhosa.
"Se você procurar entrevistas antigas dela, vai notar que Elis era uma pessoa de temperamento forte. E com um garoto hiperativo em casa... Mesmo assim, nunca apanhei. Sofri castigos, privações - ela podia ficar três dias sem falar comigo se eu fizesse uma coisa errada", diz ele, lembrando quando roubou a carteira da mãe e também da ocasião em que foi dormir na casa do filho de um político de São Paulo. "São muitas histórias, mas me limitei a mencionar algumas. Afinal, é um livro sobre Elis, não sobre traquinagens", brinca.
Os relacionamentos da cantora com o compositor, produtor e jornalista Ronaldo Bôscoli (pai de João Marcello), com o músico Cesar Camargo Mariano (pai dos outros dois filhos de Elis, Pedro Camargo Mariano e Maria Rita) e com o advogado Samuel Mac Dowell também são mencionados, mas engana-se quem vai achar "podres" sobre a vida a dois ou conflitos com o menino. João Marcello é só elogios aos padrastos e, mesmo tendo uma relação distante com o pai inicialmente, acabou se aproximando dele depois.
E a música? Ela está presente em diversos momentos da obra, como naqueles em que João Marcello se mostra impressionado com o enorme talento da mãe-cantora. "Falando como filho, é difícil não parecer apaixonado. Mas é a minha visão, não tentei ser impessoal. Justamente por ser filho dela é que eu pude escrever esse livro, pois é uma perspectiva que outros autores não poderão ter", argumenta.
Além de oferecer essa perspectiva única ao leitor, João Marcello acredita que escrever sobre Elis nunca é demais. Questionado sobre a recente leva de obras retratando a vida e o trabalho da artista, ele lembra que foram escritos milhares de livros sobre John F. Kennedy e Marilyn Monroe, só para citar dois ícones da cultura pop. "Sobre Elis, foram três ou quatro. É pouco o que temos de biografias de grandes personalidades brasileiras", avalia, considerando seu livro uma singela homenagem à memória da cantora. "Não sou um escritor. Escrevo um artigo ou outro, para jornais e revistas, quando me pedem... Talvez eu seja autor de um livro só. A importância do livro está na Elis, não em mim. Se for só essa a minha única contribuição para a literatura, já está de bom tamanho."
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