Para Andreea Pal, CEO da Fraport Brasil e que administra o Aeroporto de Porto Alegre, a pandemia continua sendo um desafio importante para o setor aéreo mundial. Na entrevista a seguir, a executiva fala do andamento das obras de extensão da pista do Salgado Filho, comenta sobre as ampliações já concluídas na Capital e projeta um 2022 de retomada para os voos domésticos.
Jornal do Comércio - Passados praticamente quatro anos de administração da Fraport no aeroporto de Porto Alegre, qual é o balanço que a empresa faz da gestão nesse período até agora? Quais foram os principais desafios até agora e os avanços alcançados?
Andreea Pal - O principal desafio foi e permanece sendo a pandemia. O impacto da perda de receita em caixa é muito grande e a recuperação por meio do reequilíbrio acontece em um período de seis anos ou mais. Como em 2022/2023 começa a amortização do empréstimo que fizemos com o BNDES, ficamos em uma situação financeira muito apertada. Em segundo lugar na lista dos desafios, com certeza podemos mencionar a desocupação da Vila Nazaré, que foi um processo muito mais demorado do que o esperado. E, para nós, como investidores estrangeiros, um processo difícil de entender e gerenciar. Muitos atores com muitos interesses diferentes mexeram no processo causando atraso e desperdício de recursos. Cabe ressaltar que as medidas do governo federal para apoiar as companhias durante a pandemia foram tomadas de maneira rápida e foram efetivas. O apoio dos governos federal, estadual e municipal durante o período de construção também foi essencial para que pudéssemos alcançar os objetivos.
JC - E os avanços?
Andreea - Assim, podemos concluir que nossa experiência no Brasil nesses primeiros quatro anos foi boa: conseguimos entregar as obras no prazo e no orçamento planejado, oferecendo aos usuários as melhorias por tanto tempo esperadas e, apesar da crise da indústria da aviação causada pela pandemia, a situação financeira da empresa está, por enquanto, estável. Entre as principais entregas estão a reforma e ampliação do Terminal de Passageiros, que de 35.400m2 passou a ter 72.000m2, reforma de taxiways (vias de taxiamento), construção do novo edifício garagem e bolsões de estacionamento, totalizando 4.300 vagas, e adequação do sistema de drenagem. Esta última contemplou um investimento de R$ 170 milhões para a construção de cinco bacias de drenagem que têm capacidade de armazenamento de água equivalente a 406 piscinas olímpicas, em uma área equivalente a 50 campos de futebol. O investimento total nas obras (terminal, pista etc.) atinge a soma de R$ 1,8 bilhão.
JC - Como foi a realização da obra do novo terminal de cargas, e qual será a sua importância para a ampliação das atividades no aeroporto?
Andreea - Esta obra integra os investimentos em melhorias do sítio aeroportuário conduzidos pela Fraport Brasil - Porto Alegre, à frente das operações do aeroporto desde janeiro de 2018. Inaugurado em julho/2021, o novo Teca Internacional (Terminal de Cargas) não faz parte das obrigações do contrato de concessão com a Anac. No acumulado de janeiro a outubro de 2021, o Teca Internacional obteve sua maior marca em arrecadação, com o aumento de mais de 45% em receita bruta no comparativo com o mesmo período de 2020. O somatório do período superou todo o ano de 2020, o que já havia sido um ano de recorde histórico. O crescimento comparado com 2020 é uma boa notícia, porém na área das exportações ainda não alcançamos o nível de 2019. Empresas de importação dos segmentos de máquinas e equipamentos, automotivo, indústria química, ferramentas motorizadas e eletrônicos foram os que mais cresceram em receita.
JC - Como está a obra de ampliação da pista, qual a sua previsão de conclusão e como essa melhoria vai afetar também a capacidade e o tráfego no aeroporto Salgado Filho?
Andreea - As obras na Resa (área de segurança) foram iniciadas em setembro e a expectativa é de finalizar a infraestrutura em 6 seis meses (a partir do início). No entanto, a meteorologia é mandatória para o andamento da obra e o prazo contratual com a Anac permanece sendo agosto de 2022. As obras estão hoje 38,6% concluídas. Após a entrega da infraestrutura, haverá a instalação de equipamentos de auxílio à navegação aérea e homologação da pista pelas autoridades competentes. A pista de pouso e decolagem com 2.280m permite operações atuais de aproximadamente 9.000 km, porém com a capacidade máxima de passageiros e carga aérea limitada (75%). A ampliação para 3.200m permitirá operações com capacidade máxima de passageiros e carga, a uma distância de cerca 12.000 km.
JC - As obras de ampliação poderão acarretar em novas rotas aéreas chegando à capital, tanto de carga quando de lazer?
Andreea - Com certeza a oferta de uma infraestrutura mais robusta faz com que o aeroporto de Porto Alegre se torne mais atrativo. No entanto, a decisão de abrir novas rotas é das companhias aéreas, de acordo com seus estudos de viabilidade. A pista estendida é um diferencial para a indústria gaúcha, que hoje precisa transportar a maior parte da sua produção por rodovia até São Paulo para, de lá, seguir ao destino por via área. Isso gera custos adicionais para os exportadores. Com a extensão da pista, será possível o pouso e decolagem de aeronaves maiores, que combinam carga e passageiros, e voam direto para o exterior. Além do ganho para a indústria, há também o potencial de crescimento turístico local. Se vamos ter voos adicionais depende só da demanda criada pela economia gaúcha, a infraestrutura só facilita a chegada.
JC - Quais foram as principais dificuldades que a Fraport enfrentou durante a pandemia, e como a empresa conseguiu administrar a grande diminuição repentina de viagens aéreas que se iniciou em 2020?
Andreea - No início da pandemia, chegamos a registrar uma queda de mais de 90% na movimentação de passageiros no aeroporto. Foi um choque para o qual ninguém estava preparado. A indústria da aviação foi uma das que mais sofreram com os impactos da pandemia. Tomamos todas as medidas necessárias para reduzir os custos e, ao mesmo tempo, preservar o emprego dos nossos colaboradores orgânicos. Além disso, seguimos todas as recomendações da Anvisa e demais autoridades de saúde para oferecermos um ambiente limpo e seguro aos nossos passageiros. Continuamos seguindo os protocolos sanitários vigentes e certos de que a vacinação é essencial para que a retomada da economia como um todo aconteça de forma permanente. Permanecemos acreditando na atratividade do mercado de aviação brasileiro e principalmente no aquecimento do turismo doméstico. Estamos monitorando a situação diariamente.
JC - Qual é a expectativa para o movimento de voos agora no final do ano e durante o verão brasileiro?
Andreea - Nos últimos meses observamos o gradual crescimento na movimentação de passageiros. Para dezembro, a expectativa é de 4.883 voos de chegadas e partidas (domésticos e internacionais), alcançando 84% do registrado em igual período de 2019. Quanto aos passageiros, são estimados 611 mil, o que equivale a 82% da movimentação registrada em igual período de 2019. A expectativa da retomada para 2022 é boa para os voos domésticos, mas tudo vai depender do comportamento da Covid-19 nos próximos meses.
JC - Quais são os principais planos da empresa para os próximos anos de administração do Aeroporto Salgado Filho?
Andreea - Nossos planos incluem melhorias contínuas em infraestrutura e qualidade de operações, segurança e serviços. Estamos trabalhando em projetos de real estate, que pretendem instalar no sítio aeroportuário negócios como hotéis, supermercados, centros de logística, entre outros. Os investimentos em manutenção são constantes e também trabalhamos diariamente para atrair novos cessionários e oferecer um mix de produtos e serviços cada vez mais interessante para os passageiros e usuários.