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Mobilidade

- Publicada em 31 de Maio de 2019 às 03:00

Transporte público perde usuários nas metrópoles

Serviço público de Londres realizou 106 mil viagens a menos, entre 2017 e 2018, por meio de metrô e de seus icônicos ônibus vermelhos

Serviço público de Londres realizou 106 mil viagens a menos, entre 2017 e 2018, por meio de metrô e de seus icônicos ônibus vermelhos


/MARCELLO CASAL JR /ABR/JC
Os passageiros do transporte público têm tido ótimas chances de pegar ônibus e metrôs mais vazios em cidades como Nova Iorque, Los Angeles e Londres. Nos últimos anos, esses meios de transporte vêm perdendo usuários nessas metrópoles.
Os passageiros do transporte público têm tido ótimas chances de pegar ônibus e metrôs mais vazios em cidades como Nova Iorque, Los Angeles e Londres. Nos últimos anos, esses meios de transporte vêm perdendo usuários nessas metrópoles.
Entre 2017 e 2018, a rede pública da maior cidade dos EUA deixou de transportar 176 mil passageiros por dia, em média. Londres teve queda próxima no período: seu transporte público, que inclui os icônicos ônibus vermelhos e o metrô mais antigo do mundo, teve 106 mil viagens a menos.
Nos EUA, o total de usuários transportados nas cidades caiu 2% em 2018, na comparação com 2017, segundo dados da Associação do Transporte Público Americano (Apta). Em Los Angeles, houve 37 mil viagens diárias a menos, em média. Chicago (31 mil) e Washington (29 mil) também tiveram baixas.
Entre os diferentes modais, o ônibus é o mais afetado. "Nos últimos anos, muitas cidades tiveram aumento nos congestionamentos, o que atrasa as viagens e torna o ônibus menos atrativo", disse a Matthew Dickens, analista sênior da Apta.
No Brasil, os ônibus urbanos perderam 17% dos usuários que tinham entre 2012 e 2017, segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Já o transporte sobre trilhos teve alta de 21% no número de passageiros em 2018 em relação a 2017, segundo a ANPTrilhos, devido à abertura de novas linhas. Apenas nove estados e o DF possuem trens, metrô ou VLT.
Outras razões apontadas por Dickens para a queda nos EUA são a prática de home office, que reduz a necessidade de deslocamento, e a disputa com aplicativos de transporte, como o Uber. "Esses novos meios são subsidiados pelas empresas para que tenham um preço competitivo em relação ao transporte público."
Um estudo da Universidade de Kentucky publicado em agosto aponta que a chegada dos apps levou a uma queda de 1,3% no uso de trens e metrô e de 1,8% no de ônibus, a cada ano. A pesquisa considerou 25 cidades. "Esse efeito aumenta com o tempo, conforme cresce o uso desses aplicativos", conclui o estudo. "Após oito anos, isso pode ser associado à queda de 12,7% no uso dos ônibus."
Em Nova Iorque, uma das poucas cidades que oferece dados públicos sobre os aplicativos, o total de viagens feitas por eles subiu de 60 mil para 600 mil por dia entre 2015 e 2018. O estudo apontou ainda que a chegada de um serviço de empréstimo de bicicletas a uma cidade é capaz de aumentar o uso de transportes sobre trilhos, mas levar a uma queda de 1,8% nas viagens de ônibus.

Para cortar gastos, saída é eliminar linhas e diminuir a frequência

A falta de público coloca as empresas de transporte em uma espiral de queda. Com menos usuários, há menos dinheiro em caixa. Para cortar gastos, a saída costuma ser eliminar linhas, diminuir a frequência dos coletivos e investir menos em renovação da frota. Isso torna o serviço ruim e afasta ainda mais passageiros, realimentando o problema.
Para quebrar o ciclo, governos e empresas buscam novas formas de obter dinheiro, principalmente a partir de novas taxas aos usuários de carro. Nova Iorque aprovou um pedágio urbano em abril, cuja arrecadação será direcionada a melhorar o transporte público.
Outra frente, com avanços ainda tímidos, é oferecer viagens apenas sob demanda. Neste modelo, o usuário avisa por um aplicativo para onde deseja ir, antes de se dirigir ao ponto, onde passará uma van ou ônibus que leva apenas passageiros que reservaram a viagem antes.
O veículo faz uma rota maleável, para se adaptar à demanda: se não houver gente, não é preciso cumprir o itinerário todo, por exemplo. Isso reduz custos e evita rodar com lugares vazios. Testes com essa tecnologia estão sendo feitos em Londres, Goiânia e São Bernardo do Campo, ainda em pequena escala. No futuro, essas vans poderão ser guiadas por computador, sem motorista, o que gerará mais economia.
"No futuro, a receita desse serviço poderá ajudar a custear o sistema", diz Edmundo Pinheiro, presidente da HP, empresa de ônibus que testa as vans sob demanda em Goiânia. "De modo geral, as viagens curtas e médias ajudam a equilibrar o custo das viagens longas. A perda dessas viagens menores, que estão indo para aplicativos e bicicletas, gera ainda mais desequilíbrio."
Enquanto esses novos modelos não chegam, o transporte público poderia investir em maior integração entre os serviços. No Brasil, é comum que serviços intermunicipais e locais operem de forma isolada, embora circulem nas mesmas vias. "Na Alemanha, o governo federal passou a só liberar investimentos para as cidades se os projetos forem integrados", diz Cristina Albuquerque, gerente de mobilidade urbana do instituto de pesquisas WRI.
Outra sugestão dela é melhorar a comunicação. "O transporte público pode oferecer rapidez e pontualidade, mas não terá o mesmo conforto de um carro. É preciso deixar claro o que as pessoas podem esperar dele e ser capaz de cumprir."

Capital paulista quer incentivar uso de bike como alternativa de deslocamento

Incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte tornou-se uma das prioridades do Plano de Metas revisado em abril pela gestão Bruno Covas (PSDB), na prefeitura de São Paulo, que espera chegar ao final do ano que vem com 677 quilômetros de vias em bom estado para pedalar. Serão 173 quilômetros novos e 310 quilômetros recauchutados, ou 61% do total existente de 504 quilômetros.
O plano cicloviário será discutido em audiências até junho. Em 2020, se tudo ocorrer como planejado, as ciclovias representarão 3,4% da rede viária - aumento de menos de 1 ponto percentual em relação ao que representam hoje, 2,5% do total.
Seguindo a mesma lógica de comparar a malha de ciclovias com o total de vias para carros, o economista Miguel Jacob, mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e que integra a equipe de políticas públicas da empresa 99, elaborou um ranking das cidades brasileiras mais cicláveis.
Com base em dados do OpenStreetMap, ele analisou a situação dos centros urbanos com mais de 200 mil habitantes, totalizando 128, que concentram mais da metade da população urbana do País (82 milhões de habitantes).