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ferrovias

- Publicada em 14 de Junho de 2018 às 23:00

Um terço dos trilhos está abandonado no Brasil

31% da malha ferroviária está abandonada, equivalente a 8,6 mil quilômetros

31% da malha ferroviária está abandonada, equivalente a 8,6 mil quilômetros


JOÃO MATTOS/JC
O Brasil não usa quase um terço de seus trilhos ferroviários, além de deixar apodrecer boa parte da pouca estrutura que possui nessa área. Os dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) apontam que, dos 28.218 quilômetros da malha ferroviária, 8,6 mil - o equivalente a 31% - estão completamente abandonados. Desse volume inutilizado, 6,5 mil quilômetros estão deteriorados, ou seja, são trilhos que não poderiam ser usados, mesmo que as empresas quisessem.
O Brasil não usa quase um terço de seus trilhos ferroviários, além de deixar apodrecer boa parte da pouca estrutura que possui nessa área. Os dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) apontam que, dos 28.218 quilômetros da malha ferroviária, 8,6 mil - o equivalente a 31% - estão completamente abandonados. Desse volume inutilizado, 6,5 mil quilômetros estão deteriorados, ou seja, são trilhos que não poderiam ser usados, mesmo que as empresas quisessem.
Os números chamam a atenção, especialmente depois que a greve dos caminhoneiros expôs a dependência do País em relação ao transporte rodoviário. Os dados da ANTT foram reunidos em um estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que faz um retrato atual da operação da malha ferroviária brasileira.
"É um sistema com deficiências, com destaque para o desempenho insatisfatório das concessionárias, ausência de concorrência no mercado e as dificuldades de interconexão das malhas", afirma a instituição no trabalho "Transporte ferroviário: colocando a competitividade nos trilhos".
O material, que integra uma série de 43 documentos sobre temas estratégicos que a CNI entregará aos candidatos à presidência da República, detalha propostas para a melhoria do setor ferroviário. "O governo está em vias de decidir sobre a prorrogação antecipada dos contratos de concessão ferroviária. Essa antecipação é uma oportunidade para corrigir erros cometidos nos anos 1990, incluindo novos investimentos nos contratos e incorporando o compartilhamento das malhas", diz Matheus de Castro, especialista em políticas e indústria da CNI.
Dos 20 mil quilômetros de malha que são usados no País, cerca de metade tem uso mais intenso. Cerca de 10 mil quilômetros têm baixa utilização. As limitações também estão atreladas ao perfil do que efetivamente é transportado pelos trilhos brasileiros. As commodities agrícolas, por exemplo, são raridade no setor, apesar de a região Centro-Oeste ser a maior produtora de grãos em todo o mundo.
Até 2001, 60% do que circulava pelos vagões de trens no Brasil era minério de ferro. Hoje, esse volume chega a 77%, percentual puxado pela estrada de ferro Carajás, na Região Norte, e pela Vitória-Minas, no Sudeste, ambas controladas pela mineradora Vale.
"O Brasil fez uma opção rodoviarista na década de 1960. A rodovia é um modal eficiente, mas quando se pensa em curtas e médias distâncias. As ferrovias, que demandam mais tempo de maturação e investimento, acabaram ficando para trás", diz Castro.
Atualmente, as estradas brasileiras respondem por 63% do transporte nacional de cargas em geral, enquanto as ferrovias são responsáveis por apenas 21% desse volume, seguidas pelas hidrovias (13%) e pelo setor aeroviário e de estruturas de dutos (3%).
"Os atuais investimentos do governo no setor de transportes refletem a política para o setor. No ano passado, as ferrovias ficaram com apenas 6,5% dos investimentos públicos do governo no setor logístico, enquanto as rodovias receberam 85% do total investido."

Europa privilegia o modal ferroviário

Na esperança de barrar o fluxo de caminhões pelas estradas, reduzir o poder de operadores privados e ainda cortar as emissões de gás carbônico, a Europa adotou um plano para reduzir pela metade o transporte de carga pelas rodovias até 2050. Para isso, investiu mais de R$ 100 bilhões em cinco anos.
Mas, diante das dificuldades regulatórias, do custo ainda elevado de certos trechos e da lentidão no transporte dos trens, a região tem registrado sérias dificuldades para implementar sua estratégia.
Em 2001, os governos europeus se comprometeram a não permitir um aumento do transporte de cargas pelas rodovias, em comparação às ferrovias. Em 2011, ficou estabelecido que, até 2050, 50% das mercadorias terão de ser transportadas por ferrovias em trajetos de mais de 300 quilômetros. Para alcançar o objetivo, a Comissão Europeia destinaria € 28 bilhões em investimentos.
No entanto documentos da Corte de Auditoria da Europa, uma espécie de Tribunal de Contas da União, apontam que a estratégia tem tido sérias dificuldades para ser implementadas. Segundo o levantamento, não houve aumento de participação dos trens no total de carga transportada até 2016.
Atualmente, a Europa conta com 216 mil quilômetros de linhas ferroviárias. Mas, diante da burocracia, exportadores veem no transporte rodoviário uma opção mais econômica. A cada tonelada de carga transportada por trem, três são levadas por caminhões pela Europa. Alguns países, no entanto, se destacam. Na Áustria, 42% da carga é transportada por trens, enquanto a fatia chega a 60% na Letônia.