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Transporte

- Publicada em 07 de Junho de 2018 às 23:45

Caminhoneiro hoje tem renda próxima de zero, mostra estudo

Greve de 11 dias parou o País em protesto contra o preço do diesel

Greve de 11 dias parou o País em protesto contra o preço do diesel


/TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL/JC
Durante a greve de 11 dias dos caminhoneiros, os manifestantes argumentavam que a atividade de transporte rodoviário era economicamente inviável. Estudo do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) mostra que a situação da categoria se deteriorou bastante desde 2014. Em 2016 e 2017, a atividade trabalhou no vermelho e, hoje, gera renda perto de zero. No acumulado de 2018, a margem de lucro ficou em 3%. Ou seja: em um frete de R$ 10 mil, que consome 15 dias de trabalho, em média, o lucro do profissional é atualmente de R$ 300,00.
Durante a greve de 11 dias dos caminhoneiros, os manifestantes argumentavam que a atividade de transporte rodoviário era economicamente inviável. Estudo do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) mostra que a situação da categoria se deteriorou bastante desde 2014. Em 2016 e 2017, a atividade trabalhou no vermelho e, hoje, gera renda perto de zero. No acumulado de 2018, a margem de lucro ficou em 3%. Ou seja: em um frete de R$ 10 mil, que consome 15 dias de trabalho, em média, o lucro do profissional é atualmente de R$ 300,00.
Apesar de a atividade ter saído do fundo do poço, a situação do setor ainda é muito delicada, de acordo com Maurício Lima, diretor do Ilos. Além de o frete mal cobrir os custos do caminhoneiro, apesar da melhora da economia desde 2017, o especialista diz que esses profissionais estão endividados por causa do movimento de troca de veículos na época do ProCaminhoneiro, programa de financiamento do governo Dilma Rousseff.
O transporte rodoviário viveu a "tempestade perfeita". Graças ao financiamento de caminhões com juro baixo, a frota cresceu no momento em que a demanda por frete despencou junto com a economia, que se retraiu 7% em 2015 e 2016. Em crise, as empresas, além de contratarem menos, também reduziram os preços pagos pelo transporte de mercadorias. "O caminhoneiro ficou sem nenhum poder de barganha."
Diante do baixo retorno da atividade atualmente, os caminhoneiros buscam saídas para continuar trabalhando enquanto os preços praticados não melhoram. Embora seja difícil economizar em combustível - item que pode chegar a quase 50% dos custos em viagens de longa distância, segundo o Ilos -, Lima diz que os motoristas podem recorrer a "gambiarras" para adiar gastos com manutenção do veículo, por exemplo - a despeito do perigo que essa decisão pode representar.
A empresa de tecnologia CargoX, que funciona como elo entre transportadores e cargas, chegou ao mercado justamente em meio à crise do setor. Hoje, a empresa tem 300 mil caminhões cadastrados em sua plataforma, que trabalha no sistema "spot" - ou seja, contratados de imediato, e não por meio de acordos de longo prazo.
Segundo Federico Vegas, presidente da CargoX, o atual preço do frete reflete uma relação de oferta e demanda desequilibrada. O executivo estima que mais transportadoras deverão sair do mercado antes de o preço médio do frete voltar a ser economicamente viável. Segundo ele, 30 mil transportadoras desistiram de operar em 2017.
Embora hoje se ocupe de atividades feitas por transportadoras, a CargoX, que já recebeu US$ 35 milhões em investimentos, se define como uma plataforma de tecnologia que visa aumentar a produtividade da movimentação de cargas. "Hoje, 40% dos caminhões fazem a viagem de volta vazios", diz ele, lembrando que isso compromete o já quase nulo ganho atual dessa atividade.
O ganho de produtividade, diz Vegas, é especialmente importante em um mercado deprimido como o atual. Além da redução da oferta de caminhões, ele diz que não existirá milagre para o reajuste do preço do frete. Tudo dependerá da retomada da economia. "As empresas tiveram fortes perdas de margem (com a crise). Então todo mundo está focado em cortar custos, em sobreviver."

Fazenda deu parecer contra possível tabelamento do frete

Uma das medidas tomadas pelo governo Michel Temer para encerrar a paralisação dos caminhoneiros, o tabelamento do frete foi criticado pelo Ministério da Fazenda em documento de 2017. Na época, a questão foi analisada pois estava em discussão como projeto de lei na Câmara dos Deputados. No parecer, o ministério alegava que os valores tabelados restringem a competição e elevam os preços do transporte de cargas.
De acordo com o documento, o valor mais alto nos fretes acaba sendo pago, no final, pelo consumidor. O parecer, elaborado pela então Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), foi feito para contrapor o projeto de lei que criaria o tabelamento e estava, na época, em discussão na Câmara dos Deputados.
Na última semana, com a pressão dos manifestantes, o governo decidiu converter o projeto de lei em medida provisória, publicada no dia 27 de maio, para atender à exigência de celeridade dos manifestantes em suas demandas. Entre os principais pedidos estava a fixação de preços mínimos no frete para cessar a paralisação.
O documento, a que a reportagem teve acesso, é restrito e foi preparado a pedido da Câmara dos Deputados para a análise do projeto de lei. Nele, os técnicos alertam que, com o tabelamento, "o escopo de competição entre os ofertantes (de frete) seria reduzido, afetando-se o processo de barganha e a potencial concessão de descontos (...) por meio de ações como: barganha junto a fornecedores, política de compras, seleção de fornecedores e produtos substitutos".
Como não há alternativa efetiva ao transporte rodoviário de cargas no Brasil, prossegue o texto, a elevação de preços seria paga, ao fim, pelos consumidores, já que os mais diferentes setores produtivos teriam um custo mínimo de frete inescapável. Os efeitos seriam danosos sobre a economia como um todo.
"O modal rodoviário é predominante na matriz de transportes brasileira e, caso seja estabelecida uma política de preços mínimos, espera-se tanto a redução da competitividade e da produtividade da economia - em razão do acréscimo dos custos logísticos, com possíveis impactos negativos sobre o PIB e a balança comercial - como a elevação do custo de vida, resultando em elevação da inflação."
O parecer da Seae é mais uma evidência de que as decisões políticas tomadas para acalmar os caminhoneiros são alvo de críticas de técnicos que trabalham no governo e enfrentarão resistência.
Não caiu bem na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) a ordem de reservar 30% de sua demanda de frete para autônomos, sem licitação. Na sexta-feira, dia 1, com a interferência branca do governo na política de preços dos combustíveis adotada pela Petrobras, o presidente da companhia, Pedro Parente, pediu demissão.
Em audiência no Senado no dia 29 de maio, o presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), Alexandre Barreto, afirmara que políticas de controle e tabelamento de preços são vistos com "extrema reserva" pelos conselheiros.
Há cerca de dois meses, o plenário do Cade decidiu abrir investigação contra dois sindicatos de transportes de cargas de Itajaí (SC) para apurar a prática de tabelamento de frete e proibição de precificação abaixo do custo.