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Profissão

- Publicada em 11 de Outubro de 2021 às 18:15

Novos contadores renovam a atividade e trazem desafios à profissão

Os novatos encaram desafios, mas também os promovem nas empresas já consolidadas no mercado

Os novatos encaram desafios, mas também os promovem nas empresas já consolidadas no mercado


LOOKSTUDIO/FREEPIK/DIVULGAÇÃO/JC
Tecnologia que vem de berço, preocupação com sustentabilidade e engajamento em questões sociais: essa é a bagagem que a nova geração de contadores está trazendo para a profissão. Com agilidade e curiosidade pelos processos, os novatos encaram desafios, mas também os promovem nas empresas já consolidadas no mercado, sugerindo mudanças estruturais na formatação das atividades.
Tecnologia que vem de berço, preocupação com sustentabilidade e engajamento em questões sociais: essa é a bagagem que a nova geração de contadores está trazendo para a profissão. Com agilidade e curiosidade pelos processos, os novatos encaram desafios, mas também os promovem nas empresas já consolidadas no mercado, sugerindo mudanças estruturais na formatação das atividades.
A preferência pelo trabalho remoto e híbrido é uma das novidades que chegam nessa leva. "A nova geração preza pela qualidade de vida. Preferem ganhar menos e ter mais comodidade, mais tempo para estudar", observa a coordenadora da Comissão Jovem do Conselho de Contabilidade do RS (CRCRS), Aline Mattana. A contadora destaca, também, a entrega por produtividade, sem horários fixos. "Tanto eles quanto o mercado terão que se adaptar a essas novidades", diz.
Para ela, a flexibilidade por parte dos empresários é essencial para manter a mão de obra mais nova dentro das companhias, não só na parte prática, operacional, como na parte estratégica. "Eles são mais ágeis do que as gerações anteriores, então, pode haver um conflito de pensamento", afirma Aline. Porém, a coordenadora ressalta que, mesmo com as diferenças, os novos contadores são curiosos e respeitam a caminhada dos profissionais mais velhos.
Todo esse cenário de encontro geracional e adaptação foi intensificado, segundo a contadora, pela pandemia de Covid-19. "Os empresários teriam que se acostumar mais lentamente se não fosse por isso", diz. Porém, com a necessidade de distanciamento social, os donos de negócios se perceberam obrigados a flexibilizar e ampliar os limites do trabalho. "Até as faculdades tiveram que se adaptar, porque não tinha como dar aulas presenciais", pontua.
A preocupação com pautas ambientais e sociais é outro ponto de destaque. Acostumados com documentos digitais, em nuvem, os contadores recém-formados começaram a questionar tarefas simples como imprimir um documento, avaliando o impacto do gasto em folhas de ofício. "No meu escritório, eles me pedem para não imprimir, mas sim, salvar em PDF", conta Aline. O exemplo demonstra a preocupação que as empresas terão de ter, cada vez mais, com os investimentos em tecnologia. Na visão da coordenadora, investir em tecnologia representa redução de outros custos, como materiais e mobiliário de escritório. "Se o empresário não largar de mão a estrutura física, pode perder não só a mão de obra, como também, os clientes, que começam a demandar processos mais remotos", destaca.
Porém, os desafios também se estendem, justamente, aos novatos. Na avaliação da contadora, com diversas ferramentas e programas que auxiliam nos cálculos, os profissionais não podem perder de vista uma postura estratégica e comunicativa. "Usamos muitos termos técnicos na nossa profissão e tem quem pense que falar bonito é status. Mas status é se fazer entender", destaca. Do funcionário de "chão de fábrica" ao CEO de grandes corporações, os novos contadores precisam saber se comunicar ao passar informações, de acordo com Aline, para que sejam visto como profissionais sérios e acessíveis a todos.

Conflito geracional deve ser tratado com cautela, avalia professora

É tradicional haver barreiras para os mais novos, afirma Patrícia Coelho

É tradicional haver barreiras para os mais novos, afirma Patrícia Coelho


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Historicamente, o encontro de duas gerações com mentalidades diferentes pode causar alguns conflitos. Na contabilidade, não é diferente. Com mais sistemas e ferramentas tecnológicas disponíveis, a nova geração é acelerada e, comumente, ansiosa para implementar suas ideias. Porém, é importante ter cautela nesses processos para evitar problemas, analisa a diretora da faculdade de Ciências Contábeis da Unilasalle, Patrícia Coelho. "Quem é mais novo, tem que ter humildade para escutar os mais velhos", aconselha.
Para ela, é natural que empresas mais tradicionais imponham algumas barreiras para quem é mais novo. "Eu mesma tive que provar que mereci estar nesse meio porque sempre que dava uma opinião, era barrada", compartilha. A postura de enfrentamento, portanto, não é ideal de ser adotada, e sim, a de soma. "Pode começar perguntando 'e se aplicasse tal modelo?', 'e se fizesse de certa maneira?'. Punho de ferro, nesses casos, nunca é bom", avalia a professora.
Mesmo assim, Patrícia ressalta que os mais novos querem ser ouvidos e ter suas opiniões consideradas. "A nova geração não tem tempo para esperar. Tudo muda muito rápido e o mercado acaba sendo flutuante", afirma. Para ela, um bom gestor de contabilidade começa a mostrar resultados com seis meses em uma empresa nova e é importante "dar tempo ao tempo" para o período de amadurecimento e entendimento da cultura da companhia.
Já nos negócios de família, em que as gerações mais novas sucedem os fundadores, o panorama das diferenças se intensifica. Patrícia avalia que, muitas vezes, é preciso haver uma quebra de paradigma, o que pode ser mais delicado por se tratar de um âmbito familiar. "Às vezes, o neto precisa ir trabalhar na concorrência para demonstrar que um novo modelo dá certo", expõe, destacando que o profissional jovem tem a característica de não aceitar sendo um eterno assistente.
Para dar conta das demandas da nova geração, Patrícia afirma que a própria faculdade está implementando mudanças curriculares e culturais. "Enquanto universidade, temos que nos preparar ao aluno que tem acesso à informação de forma mais rápida", diz. Com projetos integradores, o curso foca em trabalhar a parte prática da contabilidade dentro dos negócios, como abertura de empresas, formalização de atividades, entre outras. "Tem que se dar conta de que o bom contador trabalha com a vida de alguém. Não é só um número", afirma.

Conforto e flexibilidade são preocupações frequentes dos recém-formados

Recém-formada em Ciências Contábeis pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Priscila Vargas, 22 anos, já soma alguns anos de experiência na área por ter começado a trabalhar nos primeiros semestres do curso. E com essa bagagem, a jovem contadora já determina suas prioridades na hora de escolher um emprego. "A produção está ligada ao conforto", afirma.
Mesmo com essa visão, Priscila expõe que ainda há preconceito no mercado com relação à remuneração pela produtividade do contador, e não pelo horário. Atualmente, ela afirma que prioriza companhias que a permitam trabalhar em qualquer ambiente, sem estar presa a lugares e horários fixos. "Na pandemia, as empresas se viram obrigadas a se adaptar. Mas com a tecnologia, o contador jovem não sofreu tanto", destaca.
A contadora afirma que é preocupada com a sustentabilidade ambiental, mas que o hábito de acessar documentos remotamente fala mais alto. "É um costume nosso ter ferramentas em nuvem, acessar pelo celular. É muito natural pra nós. O papel, às vezes, pode dar confusão", enxerga. Além disso, Priscila observa, na sua geração, maior atenção às questões de gênero. "Como mulher, acredito que não vou ter problemas que mulheres do passado já enfrentaram", diz, reconhecendo que ainda existem visões ultrapassadas, mas em menor escala.
Sobre as ferramentas e sistemas de cálculo, a contadora as enxerga como auxiliares dos profissionais contábeis. "Quando a gente entra na faculdade, fica um pouco assustado", confessa. Porém, ela reconhece que só se gera um dado de qualidade quando o sistema é alimentado com informações de qualidade e, por isso, os contadores sempre serão essenciais.
 

Contabilidade digital é aposta de atividade para estudante

Já atenta às diversas áreas possíveis em que os contadores podem atuar, Viviane de Moraes, 26 anos, acredita que o nicho da contabilidade digital será um dos principais eixos de trabalho dos profissionais. Prestes a se formar pela Faculdade Cesurg, de Marau, a estudante já pensa em investir no ramo assim que completar a graduação, apostando que o desenvolvimento tecnológico só irá aumentar daqui para frente.
Ela conta que, quando ingressou no curso, sentiu falta da parte prática da atuação e demorou a conhecer os sistemas que auxiliam na contabilidade. "Se não fosse a pandemia, teria ferramentas que eu nem saberia que existem", conta, observando que o período foi crucial para o avanço na parte tecnológica e remota. É por isso que, para a estudante, a atuação digital será imprescindível aos profissionais. "Muitos clientes procuram contadores que não estão na região, então, é importante ter acesso em tempo real a documentos e sistemas", avalia. Porém, ela reconhece que ainda existem clientes mais tradicionais e exigentes, que demandam de mais atenção e atendimento presencial.
Com o auxílio dos sistemas de cálculo, Viviane entende que os contadores passaram a ter mais tempo para desempenhar posições estratégicas, de gestão. E isso, para ela, será um diferencial dos profissionais do futuro. "Antes, a parte operacional demandava muito tempo e não sobrava para prestar assessoria e consultoria ao cliente", opina. Agora, para se destacar, os profissionais contábeis terão que se aprofundar na cultura dos negócios de seus clientes, a fim de serem aconselhadores. Outra tendência, na visão da formanda, é o apelo social e ambiental que os contadores também precisam se atentar. "Por exemplo, fazer balanço de ações de sustentabilidade das empresas para obter selos de certificação e atrair investidores de fora", diz.