Investir em diversidade de gênero, raça e sexualidade é um dos preceitos para uma governança corporativa efetiva. Ao longo dos últimos anos, movimentos pontuais foram observados, porém, ainda há muito para trilhar. Foi a essa conclusão que chegaram os participantes do painel "Diversidade e inclusão na agenda das lideranças: um caminho sem volta", que ocorreu durante o 22° Congresso Anual do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), no dia 5 de outubro. A conversa foi mediada por Reinaldo Bulgarelli, sócio diretor da Txai Consultoria e Educação
"Qual é o conselho que queremos construir para o futuro? Quem vai construir as estratégias daqui a 10 anos?". As dúvidas da conselheira de administração da Kunumi SA Jandaraci Araujo fomentaram o debate em torno da questão racial, colocando as mulheres negras como o centro da equação.
"Todos os negócios são feitos para as pessoas. Quando olhamos o cenário das mulheres negras, é um contrasenso não estarmos nos espaços de decisão", afirmou. Jandaraci é uma das criadoras do Conselheira 101, programa de incentivo à presença de mulheres negras em conselhos de administração, criado com apoio da KPMG e da WCD (Women Corporate Directors) Foundation.
Também promovendo o debate racial, o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, professor José Vicente, lembrou do caso da empresa Avel, que foi denunciada após a viralização de uma foto da equipe majoritariamente branca. "Aquela foto foi suficiente para se transformar numa peça acusatória e a Justiça receber a denúncia e instaurar a responsabilidade", lembrou.
Por isso, para Vicente, além de perder do ponto de vista de valor, reputação e diferencial competitivo, não ter atenção à diversidade racial significa incorrer num risco empresarial. "É o desafio do nosso tempo. É importante entender que estamos em falta com essa agenda", destacou.
A sexualidade foi outro ponto discutido pelos painelistas. Diante de uma perspectiva de hegemonia branca e heterossexual, Robert Juenemann, sócio fundador da Robert Juenemann Advocacia e da Plataforma Conselhos , afirmou que a questão de orientação sexual é, sim, assunto para ser fomentado dentro dos conselhos. "Eu sou homossexual, sou conselheiro e esse tema não pode ficar varrido pra baixo do tapete", declarou.
De acordo com o executivo, o assunto ainda é motivo de vergonha para muitos empresários, o que é nocivo para instaurar um ambiente diverso, respeitoso e empático.