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Governança

- Publicada em 10 de Agosto de 2021 às 13:06

Iniciativas ESG abrem espaço na agenda corporativa das companhias

Sigla pauta iniciativas  ambientais, sociais e de governança de uma empresa, além de ser usada como critério para investimentos

Sigla pauta iniciativas ambientais, sociais e de governança de uma empresa, além de ser usada como critério para investimentos


FREEPIK/DIVULGAÇÃO/JC
Cada vez mais crescente no mundo corporativo, o tema ESG ("environmental, social and governance" ou "ambiental, social e governança", em português) vem pautando ações em companhias do mundo todo. No Brasil, não é diferente. Pesquisa da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) com 178 líderes de companhias e startups em operação no País apontou que 95% dos respondentes já iniciaram algum nível de engajamento e ações sustentáveis da companhia, sendo que 68% já reconhece benefícios diretos dessa agenda no negócio.
Cada vez mais crescente no mundo corporativo, o tema ESG ("environmental, social and governance" ou "ambiental, social e governança", em português) vem pautando ações em companhias do mundo todo. No Brasil, não é diferente. Pesquisa da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) com 178 líderes de companhias e startups em operação no País apontou que 95% dos respondentes já iniciaram algum nível de engajamento e ações sustentáveis da companhia, sendo que 68% já reconhece benefícios diretos dessa agenda no negócio.
A sigla norteia iniciativas ambientais, sociais e de governança de uma empresa, além de ser usada como critério para investimentos. Segundo o diretor da Amcham Porto Alegre, Marcelo Rodrigues, o movimento é fruto da compreensão de que o mundo externo às organizações não está distante. "Os consumidores são uma força enorme na sociedade e estão atentos, principalmente em mercados com poder aquisitivo maior, ao impacto que a empresa fornecedora tem", afirma. Além disso, reforça o diretor, os investidores também estão percebendo o movimento global e buscando oportunidades de investir em empresas que estão em sintonia com as práticas.
Desenvolver e aprimorar metodologias que permitam às empresas mensurar os seus ativos e passivos ambientais e quantificar o impacto dos investimentos em sustentabilidade pode ser desafiador para os profissionais contábeis. É o que afirma a presidente do Conselho Regional de Contabilidade do RS (CRCRS), Ana Tércia Rodrigues. Segundo a contadora, num primeiro momento, avançar na agenda ESG requer um investimento em inovação que vai além dos recursos operacionais e tecnológicos, envolvendo mudanças culturais internas que só são possíveis com o envolvimento da alta gestão. "Negociações têm vindo acompanhadas de um checklist da sustentabilidade para os quais as empresas precisam estar atentas, sob pena de se tornarem pouco atrativas para investimentos e ainda perderem a preferência de consumidores", ressalta.
Na visão de Ana Tércia, iniciativas ESG integram o rol dos ativos intangíveis de uma companhia, mesmo sem reconhecimento ou mensuração para tal, porque podem representar a perda de um investimento significativo para a expansão empresarial. "Empresas deixam de fechar negócios, são impedidas de exportar, deixam de receber aporte financeiro e até perdem valor patrimonial de ações por negligenciar as questões de sustentabilidade entre as quais se inserem práticas de equidade, diversidade, pluralidade e inclusão", alerta.
Por outro lado, escândalos corporativos, acidentes ambientais, fraudes, corrupções, propinas, baixa qualidade de produtos, descumprimento de exigências regulatórias podem representar um custo que inviabiliza a continuidade de muitos negócios, pontua. A contadora sugere que empresas busquem ser signatárias do pacto global e escolham Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para implementarem de forma voluntária e progressiva. "São ações de baixo custo que estão ao alcance de todos os empresários que queiram começar a se inserir nessa agenda global", destaca.

Aplicar ESG na esfera pública pode ser decisivo para alavancar nações

No mês passado, o estado de São Paulo aderiu à campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) para reduzir emissões de poluentes e mitigar efeitos das mudanças climáticas. A campanha mundial Race to Zero estabelece que as nações envolvidas devem construir e seguir planos de ação climática até 2050. Essa é uma das iniciativas ESG que estão se desenvolvendo ao redor do mundo e chamam a atenção não só de empresários, mas principalmente, de gestores públicos.
Porém, no Brasil, a agenda ainda caminha a passos lentos, contando com alguns retrocessos pelo percurso. Conforme pontua o coordenador de Competitividade do Centro de Liderança Pública (CLP), Lucas Cepeda, durante a pandemia de Covid-19, o País presenciou falhas de transparência e de comunicação objetiva. "Houve uma falta de governança mais organizada, alinhamento dos três níveis de níveis da federação, para ter uma atuação conjunta que, de fato, fosse ordenada", opina.
Cepeda reconhece que o tema ESG fica mais distante da realidade governamental globalmente, mas destaca que já há regiões que investem em iniciativas com foco sustentável e social, como a Ásia. "China e Hong Kong são pontos que, embora ainda tenham questões de governança que podem não ser as ideais, conseguem se destacar por ter empresas de alta tecnologia e baixa geração de carbono", afirma.
Para implementar ações ESG no Brasil, o coordenador acredita que a pauta mais urgente no País é a ambiental, seguida de responsabilidade fiscal nas contas públicas e mitigação de mazelas sociais, como a pobreza. "O termo, em si, ainda é uma novidade. Quando a gente está tratando de governo, é uma coisa que não fica tão próxima em nível subnacional. Não é algo generalizado", ressalta.
Porém, para ele, essa realidade precisa mudar rapidamente, pois cada vez mais se faz necessário o compromisso com as pautas da sigla para continuar o fluxo de recursos internacionais."É algo fundamental para que a gente continue tendo condições de atrair recursos", destaca.

Falso engajamento entra na mira de investidores e consumidores

Filipe Monteiro recomenda buscar fontes de informação confiáveis sobre a agenda ESG nas empresas

Filipe Monteiro recomenda buscar fontes de informação confiáveis sobre a agenda ESG nas empresas


ICTS/DIVULGAÇÃO/JC
om a crescente preocupação em se engajar com pautas relacionadas à agenda ESG, empresas podem esbarrar em práticas consideradas enganosas. Para Filipe Monteiro, gerente da ICTS Protiviti, especializada em soluções para gestão de risco, ESG e proteção de dados, algumas companhias fazem uso dos chamados greenwashing, socialwashing e rainbowhasing. São ações de marketing relacionadas, respectivamente, a questões ambientais, sociais e de diversidade, mas que não carregam transparência quanto à sua efetividade.
Monteiro dá exemplos de como ocorrem as práticas: rótulos de produtos considerados veganos que não possuem comprovação, empresas que levantam a bandeira da diversidade de gênero mas não empregam mulheres em cargos de tomada de decisão e companhias que aproveitam datas relacionadas às questões de diversidade sexual nas redes sociais, mas que não implementam políticas efetivas de inclusão. "Muitas vezes, estes produtos com um apelo ESG, por serem tratados como "premium", têm um custo maior para o consumidor que pode estar gastando mais sem obter os benefícios esperados", expõe.
Na visão do gerente, a ausência de regulações específicas e de fiscalização tornam esta temática um campo fértil para a prática destas campanhas publicitárias enganosas. Para as empresas, a prática se configura num grande risco de perda de valor e confiança por parte dos consumidores e até de investidores. Como prejuízos possíveis, Monteiro elenca multas por denúncias em órgãos reguladores, perda de marketshare devido à "fuga" de clientes que se sentiram enganados e "na pior das hipóteses, perda de valor da marca além de prejuízos econômicos, podendo levar à falência de empresas". Processos jurídicos também podem ser movidos, causando impactos financeiros significativos.
Para proteger-se das "armadilhas", o especialista recomenda buscar fontes de informação confiáveis e procurar saber as reais ações das companhias. "É aconselhável fugir de informações muito rasas ou meramente qualitativas", diz. Outras grandes aliadas dos consumidores são as certificações de órgãos reconhecidos, como o Forest Stewardship Council (FSC), conselho responsável pelas normas de certificação de madeiras; o programa ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) de Rotulagem Ambiental, que mede o desempenho ambiental de produtos e serviços no Brasil; o programa governamental Procel, cujo selo atesta o consumo sustentável de energia e o selo IBD Orgânico para certificação de produtos orgânicos.