Liberdade e protagonismo como construções coletivas

Por trás da inquietação de querer conquistar espaços, protagonismo e empoderamento feminino esconde-se um desejo genuíno de liberdade.  Se pensarmos que há 89 anos as mulheres saíam às ruas pelo direito de ir às urnas, esse movimento revela um profundo desejo de liberdade. Liberdade de escolha, exercício de cidadania e democracia.

Precisamos relembrar essas lutas históricas para que as conquistas do passado não sejam banalizadas ou consideradas pautas ultrapassadas. Para quem vem ao mundo com esses direitos garantidos, pode parecer irrelevante uma data para celebrar o Dia Internacional da Mulher. Só quem enfrenta o mercado, o ambiente corporativo e suas escalas de excelência rigidamente medidas por exigências de performance e formação, cada vez mais elevadas, sabe a diferença que tem o tempo na construção de uma psique que nos autorize a sonhar grande e voar nas alturas.

Não se trata de comemorar uma data festiva, se trata de resgatar o que num passado bem recente não passava de um sonho, um ideal. Hoje, podemos! Não recebemos autorização de ninguém, fomos à luta. Estudamos, nos especializamos, investimos no autoconhecimento e desenvolvemos o espírito empreendedor. Uma a uma estamos desbravando espaços nunca antes ocupados por mulheres, descobrindo nossas fortalezas e aprendendo a conviver com nossas fraquezas sem que elas nos impeçam de seguir avançando. Descobrimos que o perfeccionismo é uma armadilha perigosa demais para ser abraçada; então, nos autorizamos a errar e descobrimos que o erro é a pedagogia do processo evolutivo.

Precisávamos apenas que umas fossem na frente para contar às outras que depois do vale nebuloso e da floresta densa e escura não tem monstros, tem oportunidades. Foi preciso coragem e luta para que determinados espaços, hoje, ocupados por mulheres fossem conquistados. Foi preciso articulação política, embates e muita dedicação de líderes feministas que queimaram sutiãs em praça pública para simbolizar o fim da submissão de muitas gerações. Equívoco nosso pensar que o empoderamento feminino foi conquista recente, da nossa geração. Somo o resultado bem-sucedido de mulheres visionárias que precisaram enfrentar todo um sistema programado para nos ejetar, sem dó nem piedade.

Recentemente, no processo de escolha da presidência do Senado Federal um fato inusitado chamou atenção: pela primeira vez uma mulher estava concorrendo à presidência da casa, Simone Tebet, lançou candidatura independente num ato de ousadia e coragem, não tendo sido apoiada nem pelo próprio partido. Para que avancemos de forma consistente na ocupação de mais espaços de destaque e liderança, precisamos que o sentimento de vitória seja percebido como uma vitória coletiva. O sucesso de uma é o sucesso de todas!

Kamala Harris, por ser a primeira mulher a assumir a vice-presidência dos Estados Unidos, causou forte impacto na imprensa mundial pelo ineditismo do feito, potencializado por sua etnia negra, e, de uma única vez, rompeu dois paradigmas importantes na busca de uma equidade, de gênero e de raça, tão necessária quanto rara, e sentenciou: "Sou a primeira, mas não serei a última".

Temos de fato um momento muito desafiador, pois enquanto aguardamos na fila da vacina, a fila das vagas nos altos escalões das melhores empresas do País e do mundo anda a passos lentos na construção da equidade que contemple os recortes sociais, de gênero e raça. Nosso próximo desafio, além do protagonismo, é o de compartilhar a jornada para o topo, uma mentoria do sucesso para que cada uma se perceba trilhando o caminho rumo ao ápice do seu próprio sonho.