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JC Contabilidade

- Publicada em 28 de Janeiro de 2020 às 14:54

Diversidade nos conselhos é mola propulsora da inovação

Valéria Café, diretora de Vocalização e Influência do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

Valéria Café, diretora de Vocalização e Influência do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)


IBGC/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Mello
O ainda baixo número de mulheres nos conselhos das companhias brasileiras motivou o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) a criar o Comitê Diversidade em Conselho e, pouco depois, o Programa de Mentoria para Conselheiras. Rumo à sua quinta edição, o programa voltado a mulheres atuantes ou interessadas nesse mercado abre inscrições em março e tem duração de um ano.
O ainda baixo número de mulheres nos conselhos das companhias brasileiras motivou o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) a criar o Comitê Diversidade em Conselho e, pouco depois, o Programa de Mentoria para Conselheiras. Rumo à sua quinta edição, o programa voltado a mulheres atuantes ou interessadas nesse mercado abre inscrições em março e tem duração de um ano.
Para a diretora de Vocalização e Influência do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Valéria Café, é só através do aumento no número de conselheiras que as mulheres irão começar a realmente ter voz dentro dos ambientes corporativos. A representatividade também deve fazer aumentar o número de conselheiras a partir do momento em que as profissionais que estão começando têm em quem se espelhar.
Os benefícios de ter conselhos mais diversos são muitos. "Já é consenso entre executivos e conselheiros que sem diversidade não tem inovação nas empresas", avisa Valéria. Contudo, segundo a diretora do IBGC, os homens dificilmente pensam em uma profissional do sexo feminino quando estão em busca de um novo nome.
O objetivo do programa de mentoria é, por isso, identificar e criar uma rede de mulheres preparadas para atuar em conselhos de administração, conselhos fiscais e comitês de organizações públicas, privadas ou do terceiro setor, por meio de troca de experiências, aprendizado e fortalecimento do seu network com apoio de profissionais experientes na atuação em conselhos, que atuam como mentores e mentoras.
Para participar, a candidata deve preencher um formulário de inscrição online onde serão avaliados, principalmente, os critérios de diversidade no grupo, tais como função e setor de atuação, além de reputação no mercado, interesse e disposição para assumir imediatamente posições em conselhos.
A ação é feita em parceria com a B3, a International Finance Corporation (IFC) e a WomenCorporateDirectors (WCD). Até agora, já passaram pelo programa 100 mentoradas. Além dos encontros individuais, o Comitê Diversidade em Conselho promove palestras e fóruns de discussão com temas importantes para a formação das mentoradas, como responsabilidade dos administradores, mercado de capitais e gestão de riscos.
JC Contabilidade - Como surgiu a ideia do Comitê Diversidade em Conselho dentro do IBGC?
Valéria Café - Todo ano, visitamos algum país para entender como funciona a governança corporativa dessa nação. Em 2014, o IBGC esteve na Austrália e, nessa visita, identificamos um projeto de mentoria para mulheres que achamos muito interessante. Trouxemos a ideia ao Brasil e adaptamos à realidade nacional. A ideia do programa de mentoria é baseada em dois conceitos. O primeiro objetivo é fazer com que as mulheres entendam a diferença entre ser executiva e atuar no conselho. Quando se é conselheira, o papel deve ser monitorar, acompanhar e aconselhar sobre o processo de gestão dando suporte para que a gestão consiga executar. O segundo ponto buscado pelo programa é aproximar mentores que já são conselheiros de administração das participantes. E, sobre isso, destaco algo que considero mais importante: a mentoria reversa. Nela, buscamos que os conselheiros de administração se deem conta de que existem mulheres preparadas para assumir o conselho e indiquem essas profissionais. Ainda hoje, o processo de contratação de conselheiros se dá muito por indicação, e engajar os mentores na promoção das participantes do mercado de trabalho é crucial para o sucesso do programa.
Contabilidade - Você nota que ainda existe uma certa desconfiança dos conselheiros em relação à capacidade das profissionais femininas?
Valérias - Eu não diria que é desconfiança. Atualmente, todo mundo sabe da importância da diversidade dentro dos conselhos. Existem muitas pesquisas que demonstram que quanto mais diverso é o conselho, não apenas em relação a gênero mas também em relação a formação e experiência profissional, maior é a capacidade de inovação da empresa. A questão é que no momento em que o conselheiro tem de indicar alguém a um conselho, a primeira pessoa com as competências necessárias naquele momento que vem à mente dificilmente é uma mulher.
Contabilidade - Isso por que estamos em número muito menor nos cargos de liderança das companhias?
Valéria - Sim, por isso também. Pesquisa aponta que as mulheres representam apenas 10,5% do total de assentos nos conselhos das empresas listadas no Brasil.
Contabilidade - Esse número é semelhante ao de outros países do mundo?
Valéria - Não. Os números variam bastante. Tem países em que ainda se tenta a aplicação de cotas e esse é um assunto que tem gerado muito debate. A conclusão a que muitos países têm chegado é que o importante não é a cota, mas a inclusão. O mais relevante no ambiente corporativo é a mulher realmente conseguir participar do conselho, ter voz, ser incluída no debate e ser ouvida, já que a decisão de conselho é colegiada. Existe uma organização chamada 30% Club, com atuação no mundo inteiro, e que trabalha junto aos investidores para que eles exijam das empresas que ao menos 30% das cadeiras do conselho sejam ocupadas por mulheres. Análises comprovam que quando você tem 30% de mulheres em conselho, elas começam a ter voz por que não se sentem sozinhas e outras passam a acreditar que também podem chegar ali devido à representatividade.
Contabilidade - É como no caso das cotas de candidaturas femininas nas eleições em que um dos resultados foi o aumento no número de candidaturas laranjas?
Valéria - Exatamente. O que vemos é que o realmente importante nisso tudo é promover a conscientização. O que estamos trabalhando hoje no programa de mentoria é que os homens passem a falar que querem mulheres no conselho, que saibam que fazemos a diferença, que trazemos inovação e um novo olhar para os negócios.
Contabilidade - O programa tenta garantir que as participantes também sejam diversas entre si?
Valéria - Temos um trabalho de buscar mentores e mentoradas do Brasil inteiro. É claro que a gente ainda tem a maioria de mentores e mentoradas em São Paulo e Rio de Janeiro, mas cada vez mais sentimos interesse de outros locais. Estamos no meio de um planejamento estratégico e em março abrimos as inscrições para uma nova turma. Com isso, já estamos pensando em como vamos expandir esse programa para o País inteiro sem colocar em risco a qualidade do programa.
Contabilidade - Vocês percebem um aumento no número de interessadas desde 2015, quando foi formada a primeira turma?
Valéria - Para se ter ideia, no primeiro ano tínhamos 18 duplas de mentores e mentoradas. No segundo ano foram 23. No terceiro, 27. Nesta edição - 2019/2020, temos 32 duplas. O foco no próximo grupo (2020/2021) é trabalhar mais fortemente a questão dos mentores para que eles efetivamente sejam patrocinadores da ampliação do número de mulheres em assentos dos conselhos. Realmente esperamos trabalhar mais de perto junto a esses mentores e por isso achamos que quanto mais mentores tivermos mais patrocinadores teremos. Precisa a comunidade inteira trabalhar para que isso aconteça.
Contabilidade - Além da equidade de gênero em todas as instâncias das organizações, outros pontos são valorizados, como a diversidade sexual, responsabilidade ambiental, inclusão de pessoas com deficiência. Tem algum trabalho do IBGC para promover também essas outras pautas?
Valéria - O que a gente tem trabalhado é a importância dos critérios ESG (Environmental, Social and Governance) - índice que avalia os impactos ambientais, sociais e de governança das empresas. Existem vários critérios dentro do ESG, como os Relatórios de Sustentabilidade, também conhecidos como o GRI (Global Reporting Initiative). Também existe o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) que é da B3 voltado às empresas listadas. O que reconhecemos e mostramos é que é importante que as empresas valorizem a diversidade como um todo. Por isso, buscamos mais mentores e mentoras do Brasil inteiro.
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