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Apreensões

- Publicada em 18 de Dezembro de 2018 às 17:41

Destinação de mercadorias apreendidas está mais humanizada

Mutirão levou para o campus da Pucrs os itens confeccionados a partir da reciclagem das mercadorias

Mutirão levou para o campus da Pucrs os itens confeccionados a partir da reciclagem das mercadorias


BRUNO TODESCHINI/DIVULGAÇÃO/JC
Tecidos de roupas falsificadas viram almofadas, bebidas contrabandeadas são transformadas em álcool etílico e equipamentos eletrônicos que entram irregularmente no País se tornam insumos para aulas de cursos técnicos. Itens apreendidos pela Receita Federal do Brasil (RFB) que antes eram destruídos agora têm um destino nobre.
Tecidos de roupas falsificadas viram almofadas, bebidas contrabandeadas são transformadas em álcool etílico e equipamentos eletrônicos que entram irregularmente no País se tornam insumos para aulas de cursos técnicos. Itens apreendidos pela Receita Federal do Brasil (RFB) que antes eram destruídos agora têm um destino nobre.
E ações que resultam na apreensão dessas mercadorias não faltam, já que uma das frentes de trabalho da RFB é fazer a fiscalização de fronteiras e em aeroportos para impedir a entrada e a comercialização de produtos falsificados ou que não atendem às normas de vigilância sanitária e de defesa agropecuária no País.
Para dar mais visibilidade ao trabalho de reciclagem dos resíduos e transformação em matéria-prima para geração de renda a comunidades de periferia, foi realizado o 22º Mutirão Nacional de Destruição, que ocorreu durante a semana do dia do Combate à Pirataria e à Biopirataria. Em Porto Alegre, o evento, realizado no campus da Pucrs, reuniu integrantes de projetos impactados pela reutilização de materiais.
O delegado da Alfândega de Porto Alegre, Gastão Tonding, lembrou que, até alguns anos, todas as mercadorias eram destruídas. "Hoje, não se fala mais nisso, mas em reaproveitamento", destaca Tonding. Também presente no evento, o subsecretário de Gestão Corporativa da Receita Federal, Marcelo de Melo Souza, explicou que, atualmente, há quatro destinações possíveis. "A primeira delas pode ser a utilização pelos órgãos públicos a fim de evitar gastos com compras de produtos necessários. Outra possibilidade é a realização de leilões, em que 40% do resultado das vendas é destinado à seguridade social. E, ainda, pode ser feita a reutilização por entidades beneficentes e a destruição, quando nenhuma das outras soluções for possível, como no caso dos cigarros", enfatizaa.
Segundo Souza, em torno de 70% das mercadorias apreendidas diariamente em todo o Brasil são leiloadas ou destruídas. "Mas a nossa preocupação é em dar retorno à sociedade e, por isso, aumentar o reaproveitamento", avisa o subsecretário.
Neste ano, já se registra um total de saídas superior a R$ 2,10 bilhões, sendo 55% por meio de destruição e 20% por meio de leilão. No período de janeiro a outubro deste ano, os valores de apreensão já atingiram o montante de R$ 2,53 bilhões.
A intensificação do combate ao contrabando e ao descaminho e o contínuo desenvolvimento do comércio exterior levaram a um incremento significativo das apreensões de mercadorias nos últimos anos. Atualmente, o estoque de mercadorias abandonadas, entregues à Fazenda Nacional ou objeto de pena de perdimento, sob guarda da Receita, é da ordem de R$ 3,76 bilhões. Assim, considerando a necessidade de se promover o rápido esvaziamento dos depósitos, para que não falte espaço físico para armazenar mercadorias provenientes de novas apreensões, bem como para minimizar o custo incorrido com a guarda e a armazenagem desses bens, é imprescindível que os procedimentos de destinação estejam sob constante aprimoramento.
Só neste mutirão, nos mais de 50 pontos da RFB em todo o Brasil, foram destruídas, ao todo, cerca de 3 mil toneladas de mercadorias, o que equivale ao montante de mais de R$ 440 milhões em autuações fiscais. São produtos como CDs piratas, cigarros, bebidas, cosméticos, medicamentos e alimentos impróprios para consumo ou utilização, produtos falsificados (brinquedos, pilhas, isqueiros, relógios, agrotóxicos), químicos, entre outros produtos condenados por não atenderem a normas de vigilância sanitária ou defesa agropecuária.
Para a RFB, a destinação de mercadorias apreendidas pelo Fisco, além de ser uma atividade essencial para a administração, tem trazido benefícios para o País e para a sociedade. Elas têm auxiliado entidades sem fins lucrativos e equipado órgãos públicos em suas atividades-fim, contribuído para a preservação da saúde da população e do meio ambiente, e arrecadado recursos para a Administração e a seguridade social.

Aulas de programação e eletrônica ganham peças de equipamentos tecnológicos

Benedetto e Meneghetti dizem que parceria evita degradação ambiental

Benedetto e Meneghetti dizem que parceria evita degradação ambiental


/LUIZA PRADO/JC
Os equipamentos eletrônicos apreendidos têm destino certo. O Polo Marista de Formação Tecnológica do Centro Social Marista (Cesmar) reaproveita praticamente tudo - desde as placas até os plásticos e metais, nas aulas dos cursos técnicos de programação de software e eletrônica voltados a jovens em situação de vulnerabilidade social.
Mais de 300 meninas e meninos ressignificam o que ainda hoje pode ser visto como lixo eletrônico nas aulas realizadas no bairro Mário Quintana de Porto Alegre. Ao chegar no Cesmar, os produtos não precisam ser descaracterizados como as roupas. Eles são desmontados, e as partes, divididas em caixas por tipo de material. Depois, cada peça é usada nas aulas e nos projetos livres, elaborados pelos alunos ao final do curso de um ano.
O educador no Cesmar, Junior Meneghetti, ressalta que lá os jovens são estimulados a inventar soluções a partir dos materiais. Quanto mais material excedente, mais eles podem exercitar a criatividade.
Também educador no local, Marcelo Benedetto diz que, além de garantir o acesso dos jovens a produtos novos e com qualidade, a parceria e a reutilização das apreensões evitam que haja degradação ambiental. "Todos esses produtos têm componentes químicos e se forem simplesmente incinerados ou jogados no lixo geram um impacto enorme", avisa Benedetto.

Produtos geram renda a 3 mil artesãos da Capital e região

Sedonia, Mirian, Gladis e Denisa comemoram corte nos gastos com material

Sedonia, Mirian, Gladis e Denisa comemoram corte nos gastos com material


LUIZA PRADO/JC
A artesã Miriam Gonçalves Teixeira, moradora do bairro Glória em Porto Alegre e integrante do grupo Misturando Arte, festeja quando recebe o aviso de que é chegada a hora de ir à Receita Federal fazer a descaracterização das mercadorias para, mais tarde, receber os insumos. Os materiais, explica Miriam, são de grande qualidade e diminuem a quase zero os gastos para produzir as peças que depois ela comercializa por valores entre R$ 6,00 e R$ 20,00.
A descaracterização é uma prática adotada para garantir a segurança de que as roupas normalmente falsificadas e com símbolos de marcas bastante popularizadas bem aparentes continuem sendo identificáveis. Os grupos de artesãos vão até a Receita e retiram as partes em que logomarcas aparecem. Após, elas embalam e separam por tipos de tecidos para, em seguida, os materiais irem aos locais em que os grupos se encontram para produzir bonecas, tapetes, enfeites para casa, mochilas, vestidos e outros.
Em um lado oposto da cidade, no bairro Rubem Berta - Zona Norte da Capital -, a também artesã Denisa Oliveira tem muito em comum com Miriam. Ela é aposentada e também consegue complementar a renda da família através do seu trabalho manual.
Com a reutilização do que antes seria completamente descartado, Gládis garante um lucro maior com a reutilização dos produtos. Além de garantir a circulação da moeda no bairro em que vive, ela busca criar produtos que retratem a sua estética e das mulheres do local em que vive. "Crio bonecas, bolsas, roupas com imagens de meninas e mulheres negras. Essa é uma marca da minha arte", diz Gládis, orgulhosa.
O artesão e coordenador do grupo Arte é Vida, do bairro Sarandi, Idemar Domingues Mendonça, conta que já trabalhava com a confecção de objetos com técnicas de tecelagem antes mesmo de começar a receber os retalhos provenientes de apreensões. "Mas tudo tinha que ser comprado, o que dependia de investimentos que nem sempre temos à disposição", comenta Mendonça.
O laço criado entre a Receita Federal e os grupos de artesãos passa pelo trabalho de uma organização de fomento a iniciativas de geração de renda e economia solidária. A Avesol mantinha, desde 2002, através do projeto Rede Ideia - Cultivando o Amanhã oficinas de capacitação dos empreendedores, assessoria e articulação em rede entre as pessoas de diferentes locais.
"Em 2012, a Receita Federal nos procurou para saber se tínhamos interesse em fazer a aproximação. Realizamos um projeto-piloto de descaracterização e transformação em produto final para venda e deu supercerto", comenta a supervisora administrativa da Avesol, Daniela Pimentel.
Hoje, o trabalho em conjunto gera renda para mais de 20 grupos de artesão de Porto Alegre e região, impactando diretamente em torno de 3 mil pessoas. A parceria vem rendendo mais frutos. Essas pessoas têm passado, ainda, por cursos de educação fiscal, contabilidade para pequenos empreendimentos sociais e outros.

Resíduos da destruição também são leiloados

Souza destaca destruição de produtos nocivos à saúde da população

Souza destaca destruição de produtos nocivos à saúde da população


/LUIZA PRADO/JC
O procedimento de destruição conta com previsão legal de destino aos resíduos que, sempre que possível, devem ser reciclados. Bebidas alcoólicas são destinadas a universidades para utilização em pesquisas e transformação em álcool gel e combustível; isqueiros contrafeitos têm seus materiais - plástico e metal - separados para reaproveitamento; resíduos de cigarros são misturados a outros materiais compatíveis para servir como fonte de energia calorífica.
O leilão de resíduos de mercadorias apreendidas antes mesmo de sua inutilização também é uma solução adotada pela Receita Federal a fim de garantir que nem mesmo a destruição ocorra sem gerar qualquer impacto positivo.
Conforme o subsecretário de Gestão Corporativa da Receita Federal, Marcelo de Melo Souza, durante o ano inteiro, foi realizada a destruição de 10 mil toneladas de produtos nocivos à saúde da população e/ou ao meio ambiente e não liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desse total, uma grande parte dos resíduos foi leiloado, contribuindo também com a arrecadação.
O procedimento é feito pela RFB, mas os encargos da destruição são repassados ao arrematante. Nesse caso, conforme previsto na legislação e em cada edital de leilão, cabe ao arrematante providenciar a destruição das mercadorias arrematadas, com acompanhamento por comissão de servidores da Receita Federal e com observância das normas ambientais. A entrega do resíduo ao arrematante é efetuada somente depois que a comissão atesta que as mercadorias constantes do lote são efetivamente destruídas/inutilizadas.
Na avaliação do Fisco, o procedimento de "leilão de resíduos" é bastante vantajoso à administração, uma vez que, além de não mais arcar com o custo dos procedimentos de destruição, que são integralmente repassados ao arrematante, ainda são arrecadados recursos com a venda de bens sem serventia, liberando espaço físico nos depósitos e economizando recursos públicos com a armazenagem e a guarda desses bens.
Com esse procedimento bastante inovador, inclusive em relação a outros países, a Receita Federal se alinha às diretrizes da promoção do desenvolvimento nacional sustentável, além de economizar recursos públicos que seriam necessários para pagamento dos serviços de transporte e de aterro sanitário no caso de ter sido adotada a destinação por destruição.