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Comércio exterior

- Publicada em 11 de Julho de 2018 às 01:00

Setor exportador busca ampliar acordos comerciais


KJPARGETER/FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
A recente onda de protecionismo no mercado internacional e as ameaças de uma guerra comercial aberta entre Estados Unidos e China - com impactos no desempenho da economia mundial - tornaram o ambiente de negócios menos previsível para o setor exportador. Antes de aproveitar as oportunidades que despontam no comércio exterior, é preciso estudar de forma criteriosa o País de destino da mercadoria, em aspectos tributários e culturais, para montar uma estratégia de exportação que traga resultado.
A recente onda de protecionismo no mercado internacional e as ameaças de uma guerra comercial aberta entre Estados Unidos e China - com impactos no desempenho da economia mundial - tornaram o ambiente de negócios menos previsível para o setor exportador. Antes de aproveitar as oportunidades que despontam no comércio exterior, é preciso estudar de forma criteriosa o País de destino da mercadoria, em aspectos tributários e culturais, para montar uma estratégia de exportação que traga resultado.
Diante desse quadro, o País deve concentrar esforços em abrir negociações com outros países e ampliar a participação nos mercados já conquistados, avaliam autoridades e especialistas. Assegurar novos destinos para os produtos brasileiros, porém, requer foco na capacitação profissional e no investimento em inovação, afirmam especialistas.
"Vivemos uma série de retrocessos em diversos níveis que pedem reflexão. No comércio, são duas frentes, com o recrudescimento do protecionismo, numa onda inaugurada pelos Estados Unidos, e em seu desdobramento, o conflito do país com a China. É um quadro que abala o sistema internacional", destaca o embaixador Roberto Jaguaribe, presidente da ApexBrasil. "É uma situação em que ninguém ganha. O Brasil, contudo, vem avançando em exportações e, com disciplina e investimento, pode ganhar maior inserção econômica internacional", complementa Jaguaribe.
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge, cita dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) para mostrar que o País tem mostrado fôlego nas exportações. As vendas ao exterior das 70 nações que, juntas, representam 90% do comércio global cresceram 13% nos primeiros quatro meses do ano, na comparação com igual período de 2017. No Brasil, os embarques subiram mais de 16% de janeiro a abril, um percentual superior ao registrado em países como Colômbia, México e Canadá.
"Estamos acima de importantes países como Canadá, México, Colômbia, Peru, Alemanha, França, África do Sul, Austrália e Índia. Esses números reforçam que o caminho traçado por nós está correto, apesar de ainda ter muito o que ser feito para o fortalecimento de nosso setor produtivo", disse Jorge.
"Ainda há muito a ser feito para o fortalecimento do nosso setor produtivo. Temos que continuar na melhoria do ambiente de negócios, dar estímulos aos ganhos de competitividade e combater o custo Brasil", destacou Jorge. O ministro frisou que será concluída, neste ano, a última etapa do Portal Único do Comércio Exterior, uma plataforma que elimina o uso de papel e reduz a burocracia ao conectar 22 órgãos em um único ambiente.
Nos cálculos do ministro, isso reduziria em mais de 40% o tempo para que as operações que envolvem esses órgãos sejam feitas. Diante do cenário atual, Jorge vê chance de destravar negociações envolvendo o Mercosul. "Espero concluir em agosto o tão sonhado acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia", diz Jorge.
O ministro Marcos Jorge ressaltou que a atuação do Mdic é guiada pela abertura comercial e o aumento da produtividade, da inovação e da excelência na formulação de políticas públicas. "Nossa meta é, cada vez mais, integrar o Brasil ao mundo, por meio da facilitação de comércio e da busca ambiciosa por melhor e maior acesso a mercados estrangeiros", comentou, destacando o trabalho desempenhado para atingir tal objetivo.
Nos últimos dois anos, foi revisado o posicionamento estratégico do Brasil no cenário global, com a retomada e o fortalecimento do diálogo com mais de 15 países, incluindo Estados Unidos, Argentina e China, os três maiores parceiros comerciais do Brasil. Jorge reforçou a conclusão do acordo de livre-comércio com a União Europeia e a entrega, ainda em 2018, da última etapa do Portal Único de Comércio Exterior - que beneficiará diretamente cinco milhões de operações anuais de exportação de mais de 255 mil empresas.
O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, também ressaltou a importância do Mercosul para o Brasil. Para ele, foram abertas novas oportunidades de negociação diante do aumento do protecionismo norte-americano. Nesse sentido, ele avalia que Mercosul e Brasil passariam a ser vistos como "noivas cobiçadas".
Mesmo assim, reconheceu que os avanços dependem de mudanças estruturais. "Sem produtividade e sem competitividade, não teremos inserção no comércio mundial. Daí o esforço de qualificar as empresas brasileiras, sobretudo as pequenas e as médias", ressalta Nunes.
O diretor-geral da consultoria Euromonitor International no Brasil, Marcel Motta, frisa que os maiores países do mundo são também os maiores exportadores, mas o Brasil tem desempenho em valor abaixo de nações como Coreia do Sul e Taiwan, na Ásia.
"A exportação promove ganhos de produtividade em escala, estimula a inovação e a qualificação da mão de obra, além de fortalecer as condições de concorrência e resiliência econômica das empresas do País", enumera Motta, falando sobre a força do comércio exterior como gerador de emprego e renda.
Com um forte mercado local, continua Motta, é preciso cuidado para não ficar preso a ele, o que trava os avanços em exportação. "Esse mercado interno, que, por tanto tempo, cresceu muito, já não cresce mais assim. O Brasil é grande, mas o mundo é maior. O Brasil é o quarto maior mercado em beleza e cuidados pessoais no mundo, mas representa entre 6% e 7% desse mercado global. Só vamos aumentar a renda média do brasileiro quando explorarmos melhor o mercado internacional", ressalta o diretor-geral da Euromonitor.

Mudanças atreladas ao fim da greve dos caminhoneiros são entraves à exportação

Dissenso na bancada ruralista pode empurrar votação de tabelamento para depois do recesso

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NELSON ALMEIDA/AFP/JC
O gargalo em infraestrutura no país e seu impacto na logística são alguns dos principais entraves às exportações, na avaliação de empresários e analistas. Itens que já compunham um quadro de problemas recorrentes no País ganharam destaque com o impasse em torno da criação de uma tabela de frete para o transporte rodoviário de cargas. A fixação de um preço mínimo foi uma das promessas do governo para encerrar a greve dos caminhoneiros, que durou dez dias em maio e causou uma crise de desabastecimento.
O episódio prejudicou o escoamento de matérias-primas e a venda de produtos, mas ainda não há definição para o tabelamento. "Não há mais greve, mas está tudo parado. Ninguém vai contratar frete custando mais do que o produto a ser transportado", afirmou o diretor geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Daniel Carrara.
Contar com uma matriz de transportes majoritariamente rodoviária, dizem os empresários, torna a logística mais custosa, derrubando a competitividade de produtos brasileiros lá fora. "Existe o desafio da infraestrutura, é preciso reduzir o custo brasil. O agronegócio é o setor mais afetado. O custo para levar a mercadoria até o porto é duas vezes maior que o de embarque para a China", reconhece o embaixador Roberto Jaguaribe, presidente da ApexBrasil.
O presidente da Usiminas, Sergio Leite de Andrade, destaca o peso do custo Brasil. A recente mudança no Reintegra, programa que desonera exportadores, foi reduzido de 2% para 0,1% em devolução de impostos ao exportador em função da crise gerada pela greve dos caminhoneiros. "O Brasil é um exportador de impostos", sentencia Andrade.
O custo logístico pesa muito nas contas das empresas. "Há 40 anos se fala no projeto para duplicação da BR-381 (a Rodovia da Morte, que liga Belo Horizonte a Governador Valadares), usada por grandes empresas como a Usiminas. A estrada está sempre em obras. Agora, o governo quer cortar R$ 51 milhões do orçamento para duplicar a via e transferir para outras áreas", ressalta Andrade.
A produção da siderúrgica é escoada em parte via ferrovia, diz Andrade, mas ela não dá acesso a diversos clientes. "Produzimos aço competitivo. O país tem de ter condições de oferecer infraestrutura e logística adequada para que o produto que sai das usinas continue competitivo. Perdemos nas estradas, nos portos, no frete", sustenta o presidente da Usiminas. "A indústria de transformação está perdendo participação no PIB. O Brasil tem de ser um país manufatureiro, gerando emprego de qualidade", completa.
O designer Guto Índio da Costa destaca ainda a dificuldade de se produzir em meio às bruscas oscilações da macroeconomia no país. "Exportar é um processo desesperador para as empresas, sobretudo para as pequenas. O câmbio muda o tempo todo, o preço do produto se torna competitivo e, depois, deixa de ser. A indústria é uma máquina lenta e complexa. É impossível acompanhar a volatilidade de uma economia tão nervosa como a brasileira. Planejar a longo prazo é dificílimo", salienta Costa.
Para ajudar as empresas a exportar, a ApexBrasil tem ampliado seus programas de qualificação. No ano passado, ao todo, foram capacitadas 4.734 empresas, o que representa um aumento de 67% na comparação com o número de 2016, conta Jaguaribe. No Rio de Janeiro, mais de 250 empresas participaram dos cursos.
O presidente da agência de fomento à exportação diz que a Apex Brasil trabalha para capacitar as empresas para que atuem de forma mais ativa no comércio exterior, sempre atuando com parceiros. "No Rio, atuamos com a PUC. O convênio vence nas próximas duas semanas, mas vamos renová-lo, para ampliar o Peiex (Programa de Qualificação para a Exportação) no Rio", conta Jaguaribe.
Além deste programa, a Apex tem outras iniciativas voltadas para preparar empresas para exportar de forma mais eficiente. Um deles é focado em design. "Quanto mais o dólar sobe, mais facilidade para exportar o produto brasileiro, que fica com o preço mais competitivo. Mas só isso não é o suficiente. É preciso disciplina de produção e estratégia de atuação internacional", avalia o embaixador.
 

Qualificação é saída para driblar dificuldades de acessar mercado externo

Jaguaribe, presidente da ApexBrasil, destaca a necessidade de reduzir o custo Brasil

Jaguaribe, presidente da ApexBrasil, destaca a necessidade de reduzir o custo Brasil


/TÂNIA RÊGO/AGÊNCIA BRASIL/JC
Dar os primeiros passos no mercado internacional é um caminho árduo. Mas manter a posição conquistada requer forte investimento em profissionalização ao longo de todos os elos da cadeia produtiva - do chão de fábrica, da lavoura ou do estoque da loja até o ponto de venda no exterior, destacam especialistas e empresários.
Produtos específicos para o mercado internacional, abertura de subsidiárias no exterior e investimento em processos logísticos para reduzir os custos e aumentar a eficiência são algumas das apostas de empresas brasileiras para crescer no mercado internacional. Mas os empresários alertam que é preciso mais aporte em infraestrutura no Brasil, principalmente em transporte, como em ferrovias e portos, para que os produtos brasileiros ganhem mais competitividade mundo afora.
"O Brasil ainda segue um ritmo muito tradicional de vendas, muito baseado em preço, com formação de profissionais muito operacional e pouco estratégica", alerta o professor Edmir Kuazaqui, coordenador do Grupo de Excelência em Relações Internacionais do Conselho Regional de Administração do Estado de São Paulo (CRA/SP). Roberto Jaguaribe, presidente da ApexBrasil, destaca para a necessidade de reduzir o custo Brasil.
Daniel Carrara, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), alega que o agronegócio responde por 40% do total de exportações brasileiras. Para ampliar essa fatia, é necessário investir na qualificação profissional do vaqueiro ao gestor das propriedades rurais. "É um desafio formar pessoas de todos os níveis e para todas as funções. É preciso formar o vaqueiro que aplica vacina no gado. Esse profissional que fica no início do processo, no campo, é fundamental. Se a vacina é mal aplicada e causa um edema no animal, o couro está perdido. Se tiver um único caso de febre aftosa no Brasil, não exportamos mais nada", avisa Carrara.
O Senar desenvolveu um modelo de atendimento ao produtor rural, que mantém técnicos visitando propriedades pelo País para transferir tecnologias. Em paralelo, montou a InterAgro, rede de comércio exterior para agropecuária em parceria com a Apex-Brasil, que capacita produtores para exportar. Carrara lembra que há produtores rurais localizados a dois mil quilômetros de um centro urbano. Em razão disso, a saída foi investir em educação a distância, com uma faculdade que oferece cursos de logística, gestão de pessoas, negócios, meio ambiente e projetos.