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Com a palavra

- Publicada em 22 de Janeiro de 2022 às 10:00

Cenário eleitoral gera incertezas para a economia, diz Oscar Frank Junior

Economista-chefe da CDL-POA lembra que massa salarial real está caindo

Economista-chefe da CDL-POA lembra que massa salarial real está caindo


LUIZA PRADO/JC
Marcelo Beledeli
Oscar Frank Junior foi escolhido pelo Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul (Corecon-RS) como Economista do Ano 2021. A honraria, segundo o conselho, busca destacar sua contribuição no fortalecimento do desenvolvimento econômico regional ou nacional, através de análises críticas e inovadoras sobre assuntos relevantes e de interesse público. Natural de Cerro Largo, na região das Missões, com 36 anos de idade, Oscar Frank Junior, é, desde 2018, Economista-Chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 2008, Frank Junior também foi economista sênior da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Nesta entrevista, Frank Junior fala sobre os cenário para este ano os efeitos das eleições na economia, entre outros temas.
Oscar Frank Junior foi escolhido pelo Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul (Corecon-RS) como Economista do Ano 2021. A honraria, segundo o conselho, busca destacar sua contribuição no fortalecimento do desenvolvimento econômico regional ou nacional, através de análises críticas e inovadoras sobre assuntos relevantes e de interesse público. Natural de Cerro Largo, na região das Missões, com 36 anos de idade, Oscar Frank Junior, é, desde 2018, Economista-Chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em 2008, Frank Junior também foi economista sênior da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Nesta entrevista, Frank Junior fala sobre os cenário para este ano os efeitos das eleições na economia, entre outros temas.
Jornal do Comércio - O ano de 2021 foi marcado pela alta da inflação, que passou de 10% em 12 meses. O que causou a aceleração da inflação?
Oscar Frank Junior - É evidente que estamos vivendo um problema relacionado aos desequilíbrios de oferta, toda a disrupção das cadeias produtivas que ocorreu durante a pandemia acabou pesando, mas só alcançamos esse patamar de inflação porque injetamos dinheiro na economia de uma forma sem precedentes na história, e isso ocorreu em vários países. Políticas fiscais, de crédito, redução de taxa de juros, política monetária, todas contribuíram para esse sentido. Geramos um descompasso entre uma oferta restrita - causada por uma parada abrupta nas cadeias produtivas - e uma demanda aquecida através do despejo de recursos. Esse desequilíbrio fez com que chegássemos a essa situação global de inflação. Claro, aqui no Brasil o fenômeno foi mais exacerbado porque tivemos uma desvalorização cambial mais intensa que outros países, e isso repercute na inflação, transmitindo-se principalmente em aumento de custos de produtos importados. E porque tivemos essa desvalorização cambial mais intensa? Houve uma aversão ao risco, relacionada à Covid-19, mas foram os riscos domésticos que pesaram no câmbio, como a questão fiscal e as turbulências políticas.
JC - Como a alta de preços repercute no comércio?
Frank Junior - A partir do momento que a gente tem uma inflação pressionada, a renda real (descontando o efeito da inflação) diminui. A massa salarial real dos trabalhadores está diminuindo, muito por conta do efeito da inflação e também porque as novas contratações estão ocorrendo com nível salarial mais baixo do que era antes da pandemia, o que é um termômetro de mercado de trabalho desaquecido. Em uma situação como essa, de mercado de trabalho deteriorado, perspectivas de empregabilidade complicadas e inflação alta, a confiança das famílias tende a se deprimir. Por mais que os consumidores disponham de recursos, se não se sentirem confiantes em relação à situação atual e às expectativas de futuro, eles não vão gastar, a roda da economia não gira.
JC - Em 2022 devemos ter um arrefecimento da inflação?
Frank Junior - A taxa será menor. O mercado projeta algo em torno de 5% ao ano. Ninguém imagina uma inflação de dois dígitos em 2022, até porque a gente deve observar um crescimento muito baixo neste ano, talvez na melhor das hipóteses não me surpreenderia se fecharmos o ano com estabilidade ou até pequena recessão. Mas ela deve incomodar, pressionando preços até o segundo semestre deste ano. Só então a gente vai notar uma desaceleração mais intensa, mais visível pelo consumidor. Naturalmente, quanto maior a inflação, mais difícil controlar no ano seguinte esse aumento de preços, porque temos uma economia que é bastante indexada, e isso acaba alimentando uma economia de inércia inflacionária. Como isso funciona? Diversos preços e contratos são indexados, e esses mecanismos fazem com que as perdas relacionadas à inflação sejam automaticamente corrigidas. Então ocorre o efeito de jogar a inflação do passado para o futuro, e isso faz com que seja mais difícil controlar esse aumento de preços. O caso mais clássico é o salário mínimo, mas diversos outros contratos de prestação de serviço, por exemplo, também são indexados. É algo que preocupa e que certamente vai continuar atuando em 2022.
JC - O que podemos esperar para a economia do RS em 2022?
Frank Junior - Algumas questões negativas para 2022 já podem ser notadas, como os efeitos da estiagem em culturas como o milho. Mas também teremos efeitos positivos das reformas aprovadas no Estado, como reforma administrativa, previdenciária, teto de gastos e privatizações. Também é importante notar que o caixa dos estados está reforçado. Como é um ano eleitoral deve ser aberta um pouco a torneira em relação a investimentos e talvez nos ganhos de salários para funcionalismo público, o que ajuda a impulsionar o PIB.
JC - Além de uma tendência de aumentos de gastos, quais os efeitos de uma eleição na economia?
Frank Junior - As eleições trazem um cenário de complicação para este ano, porque introduzem um comportamento de espera por parte dos agentes do mercado. Devido ao cenário de incertezas, os consumidores tendem a postergar gastos com bens e serviços, sobretudo aqueles que acabam tendo uma maior necessidade de desembolso, os empresários acabam postergando expansões de parques produtivos e contratações de mão de obra. Isso, naturalmente, tem impacto negativo no PIB. Para 2022, ainda há muitas especulações, uma vez que os candidatos e suas propostas econômicas ainda não estão claramente definidos. Além disso, a eleição reduz a janela de oportunidades para se aprovar reformas. O próprio presidente da República, em entrevista há alguns meses, disse que se não fossem aprovadas as reformas administrativa e tributária no ano passado, elas não seriam votadas em 2022. Quando há sinalização negativa tão clara do próprio mandatário, a situação fica complicada. Essas reformas poderiam gerar ânimo no mercado, contaminar positivamente o canal das expectativas para que pudéssemos ter um cenário mais animador em 2022.
JC - Que outros fatores deverão ser observados neste ano para analisar o comportamento da economia?
Frank Junior - O primeiro é a energia. Apesar de uma melhora na questão hídrica na região Sudeste, ainda vamos viver um rescaldo da falta de chuvas, e o custo da energia vai continuar pressionando a inflação. Vamos ter que lidar também com a redução dos estímulos econômicos oriundos dos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos. Mas, superado - se possível - o problema da pandemia, retornamos à questão da velha agenda, dos velhos problemas que impedem que o Brasil tenha um crescimento sustentável. Espero que isso seja bem debatido ao longo das discussões das eleições, o que precisamos fazer, os consensos que precisamos alcançar enquanto sociedade para que tenhamos avanços expressivos na geração de renda. Espero que isso venha a acontecer.
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