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Renda

- Publicada em 06 de Dezembro de 2021 às 03:00

Auxílio emergencial ajudou a reduzir pobreza extrema em 2020

Pobreza extrema abrange quem vive com menos de US$ 1,90 por dia

Pobreza extrema abrange quem vive com menos de US$ 1,90 por dia


/MARCELO G. RIBEIRO/arquivo/JC
As transferências de renda via programas sociais, como o Auxílio Emergencial, impediram em 2020 uma disparada da extrema pobreza no Brasil. A conclusão é de uma análise divulgada sexta-feira passada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
As transferências de renda via programas sociais, como o Auxílio Emergencial, impediram em 2020 uma disparada da extrema pobreza no Brasil. A conclusão é de uma análise divulgada sexta-feira passada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o impacto dos programas sociais, o percentual de pessoas em extrema pobreza caiu para 5,7% no ano inicial da pandemia. O resultado equivale a cerca de 12 milhões de pessoas no país.
Em um cenário simulado, sem o suporte das medidas de auxílio, que mitigaram a crise vista no mercado de trabalho, a proporção de brasileiros em extrema pobreza alcançaria 12,9% em 2020. Ou seja, seria mais do que o dobro do resultado verificado. A marca de 12,9% corresponderia a cerca de 27,3 milhões de brasileiros, diz o IBGE.
A projeção faz parte da Síntese de Indicadores Sociais, publicação anual que avalia uma série de resultados nas áreas de economia, educação, habitação e saúde.
Para definir a linha de extrema pobreza, o IBGE levou em conta o critério do Banco Mundial, que abrange pessoas que sobrevivem com menos de US$ 1,90 por dia - ou R$ 155 per capita por mês, conforme a cotação e a metodologia utilizadas na síntese.
Em 2019, o percentual de brasileiros em pobreza extrema havia sido de 6,8%, maior do que o verificado em 2020. Esse número leva em consideração o impacto dos programas sociais. A marca de 5,7%, registrada em 2021, é a menor desde 2015 (5,1%). A série do IBGE reúne dados a partir de 2012.
O instituto fez outra comparação levando em conta a linha de pobreza de menos de US$ 5,50 por dia por pessoa (R$ 450 per capita por mês, segundo a pesquisa). É o nível de pobreza considerado pelo Banco Mundial para países de renda média-alta, como é o caso do Brasil.
Com o suporte dos programas sociais, a proporção de brasileiros nessa condição foi de 24,1% em 2020, a menor desde 2014 (23,8%). O percentual do ano passado equivale a quase 51 milhões de pessoas.
Sem as transferências de renda, a proporção teria saltado para 32,1%. O percentual corresponderia a cerca de 67,7 milhões de brasileiros. "Ao longo da série histórica (2012-2019), a diferença entre as taxas de pobreza e extrema pobreza, com benefícios de programas sociais e em um cenário simulado de rendimentos sem benefícios de programas sociais, oscilou entre 2,0 e 3,0 pontos percentuais. Em 2020, na ausência dos benefícios sociais, a diferença seria de 7,2 pontos percentuais para extrema pobreza e 8,0 pontos percentuais para pobreza", diz a publicação.
O alcance dos programas como o auxílio emergencial também é ilustrado por outros resultados da síntese. Houve alta de 14,9% na renda domiciliar per capita dos 10% da população com os menores rendimentos em 2020. Sem as medidas de auxílio, essa parcela amargaria um tombo de 75,9% na renda frente a 2019.
Na média de todas as faixas da população, o rendimento domiciliar per capita recuou 4,3% no ano passado, mesmo com os programas sociais. Sem as medidas de suporte, o recuo seria quase o dobro, de 8,4%.
Ao atingir especialmente os mais vulneráveis, os programas sociais ainda reduziram a desigualdade de maneira temporária, sinaliza o IBGE.
O índice de Gini, que mede a disparidade entre os ganhos de pobres e ricos, recuou em 2020 para 0,524, mesmo patamar de 2015 e o menor da série iniciada em 2012.
Em um cenário sem as transferências de renda, o indicador teria alcançado 0,573, o maior valor da série, segundo o IBGE. O índice de Gini varia de zero a um. Quanto mais próximo de zero estiver o resultado, menor é a desigualdade.
O auxílio emergencial foi encerrado pelo governo federal ao final de outubro de 2021. Às vésperas da corrida eleitoral de 2022, o Palácio do Planalto também decidiu substituir o Bolsa Família pelo Auxílio Brasil.
O novo programa vem despertando incertezas. Nas últimas semanas, pontos de assistência social espalhados pelo país registraram filas de pessoas em busca de informações sobre os pagamentos do benefício.
O Senado aprovou, na quinta-feira passada, a proposta que cria o Auxílio Brasil, que agora segue para sanção. O ministro da Cidadania, João Roma, afirmou que o pagamento do benefício no valor de R$ 400 deve ser feito ainda em dezembro.

Pretos e pardos com curso universitário ganham 31% menos do que brancos

Pretos e pardos têm renda média do trabalho menor do que brancos mesmo com níveis de escolaridade iguais no Brasil. A conclusão é da Síntese de Indicadores Sociais de 2020, divulgada na sexta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o órgão, o resultado reflete o quadro de desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho.
A pesquisa do IBGE mostra que, em 2020, a população identificada como preta ou parda pelo instituto tinha rendimento menor do que a branca em qualquer um dos quatro níveis de instrução analisados.
Na faixa da população com ensino superior completo, pretos e pardos recebiam, em média, por hora, cerca de 30,8% a menos do que os brancos (R$ 23,40 e R$ 33,80, respectivamente).
O indicador analisado é o rendimento real do trabalho principal por hora de trabalho. Ou seja, tem o desconto da inflação.
Na parcela com menos estudo, que reúne pessoas sem instrução ou com ensino fundamental incompleto, pretos e pardos recebiam em torno de 23,9% a menos, por hora, do que brancos (R$ 7 e R$ 9,20, respectivamente).
Na média das quatro faixas pesquisadas, pretos e pardos ganhavam 40,8% a menos do que os brancos (R$ 10,90 e R$ 18,40). Com recorte anual, a Síntese de Indicadores Sociais avalia uma série de resultados nas áreas de economia, educação, habitação e saúde.
O IBGE também afirma que, em média, a população ocupada branca tinha um rendimento médio real do trabalho principal estimado em R$ 3.056, por mês, no ano passado. A quantia era 73,3% maior do que a da população preta ou parda (R$ 1.764).
A administradora Sônia Lesse, 36 anos, conhece de perto a realidade desigual que os números divulgados evidenciam. Com duas graduações, especialização, pós-graduação e MBA, relembra diversas experiências de trabalho em que ser negra e mulher significou disparidade de salário em relação aos colegas brancos e menor acesso a oportunidades.
Quando trabalhava numa empresa de telecomunicações, ouviu dos gestores que a justificativa para a diferença salarial era a falta de diploma. "Quando me formei, disseram que os colegas recebiam mais porque tinham sido contratados em outro momento da empresa ou tinham mais experiência. Mas, conversando, eu via, por exemplo, que a experiência deles era menor ou igual a minha", conta.
Como analista numa instituição financeira, soube que um colega, homem e branco com a mesma formação e experiência que a sua, recebia o dobro pela mesma função. A empresa, então, prometeu a ela bônus e promoção, mas afirmou que a paciência em aguardar a reposição em sua renda era parte das habilidades esperadas da profissional. "É como se buscassem justificativas para continuar dizendo não para quem é diferente. As exigências são maiores. A porta nunca está aberta por completo para nós", diz.
As experiências inspiraram Sônia a se capacitar para ajudar pretos e pardos a enfrentarem a desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Hoje ela atua como consultora na área. A maioria dos profissionais que a procuram são mulheres. Oito em cada dez afirmam que já passaram, ao menos uma vez, pela experiência de descobrir que ganhavam menos do que os colegas.
"Diferença salarial é um ponto gritante. Pedem ajuda para negociar com a chefia cargos e salários cujas responsabilidades já exercem. Ter que convencer a liderança de que devem ganhar o mesmo que colegas brancos é uma forma de violência", diz Sônia.
Embora exista um movimento recente de maior inclusão de negros no mercado de trabalho --por meio de programas de trainees exclusivos para jovens pretos e pardos, por exemplo - é preciso pensar na retenção, remuneração e permanência desses profissionais, defende.