Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Reportagem especial

- Publicada em 03 de Outubro de 2021 às 16:00

Casas noturnas de Porto Alegre esperam sair do vermelho após flexibilizações

Espaço Cultural 512, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, é uma das operações que resistiu; empresários esperam recuperar perdas da pandemia

Espaço Cultural 512, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, é uma das operações que resistiu; empresários esperam recuperar perdas da pandemia


RODRIGO BECK/DIVULGAÇÃO/JC
"Fomos os primeiros a fechar e seremos os últimos a reabrir". A frase, dita com bastante frequência desde o início da pandemia de Covid-19, reflete bem a realidade dos donos de bares e casas noturnas. Esses espaços, em que a aglomeração não só é natural, mas até mesmo essencial, tiveram que se reinventar logo no início do isolamento imposto pelo coronavírus. E, claro, nem sempre tiveram sorte.
"Fomos os primeiros a fechar e seremos os últimos a reabrir". A frase, dita com bastante frequência desde o início da pandemia de Covid-19, reflete bem a realidade dos donos de bares e casas noturnas. Esses espaços, em que a aglomeração não só é natural, mas até mesmo essencial, tiveram que se reinventar logo no início do isolamento imposto pelo coronavírus. E, claro, nem sempre tiveram sorte.
Em Porto Alegre, não foram poucos os que fecharam as portas. É o caso do Odeon, colocado à venda recentemente. Referência de boa música no Centro Histórico há 35 anos, o estabelecimento enfrentou dificuldades para se adequar às normas sanitárias. "Não tenho como funcionar nos padrões exigidos, abrir para cerca de 20 clientes não fecha a conta", argumenta o dono Celestino Santana, o Tino, 75 anos.

Operando com capacidade restrita, os bares que resistiram tiveram que buscar outras formas de subsistência. Muitos contraíram empréstimos que vão levar anos para serem quitados. E, mesmo aqueles que tinham algumas economias, depois de um ano de pandemia, viram-nas se esvair no pagamento de contas que nunca pararam de chegar.

“É uma área que não voltou, de fato, como poderia. Não temos nem como mensurar quantos estabelecimentos fecharam ou reabriram, pois há muitas variáveis. Tem gente que desistiu do negócio, e tem também quem mudou o modus operandi para poder sobreviver”, observa o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Henry Chmelnitsky.

Estima-se que, até julho do ano passado, os setores representados pelo sindicato perderam, somados, cerca de 5 mil empregos. “Com as flexibilizações, acreditamos que pelo menos 50% da capacidade de trabalho foi recuperada", afirma Chmelnitsky. Ainda assim, a grande maioria dos negócios não consegue se sustentar. “Eu diria que há um mínimo de estabelecimentos que operam no azul, de 10% a 15%, uma parcela está equilibrada e pelo menos 50% seguem no vermelho.”

Na semana passada, o governador Eduardo Leite anunciou medidas que trouxeram algum alento à categoria. Pelos novos protocolos do Sistema 3As de monitoramento da pandemia, em vigor desde sexta-feira, 1 de outubro, as casas noturnas podem receber até 800 pessoas (mais que o dobro das 350 permitidas anteriormente). As pistas de dança também foram liberadas, sendo vedado, porém, o consumo de bebida e alimento nesses espaços. Outras condições foram impostas: em eventos com mais de 400 pessoas, haverá exigência de teste de Covid feito até 72 horas antes e carteira de vacinação. Para capacidade inferior a isso, a testagem não será exigida.

Diretor do Departamento de Auditoria do SUS da Secretaria Estadual da Saúde e coordenador adjunto do GT Saúde (grupo de trabalho que monitora os índices da pandemia e faz recomendações ao gabinete de crise do Executivo), Bruno Naundorf ressalta que as flexibilizações são consequência de índices menores de casos e óbitos, assim como das taxas de ocupação hospitalar. “A grande questão é que nesses locais, considerados de maior risco, as pessoas têm contato com outras que não são da sua convivência, e, portanto, tem que haver um cuidado maior”, ressalta Naundorf, destacando que avanços maiores só serão possíveis na medida em que a vacinação avançar.

Esse é um ponto de convergência entre o governo e os empresários: apenas com uma cobertura vacinal significativa é que se poderá pensar na retomada plena das atividades. Enquanto isso, a vida noturna retorna a passos lentos e cautelosos, como você poderá conferir nesta reportagem.

Algumas casas que estão na ativa

Pista de dança do Ocidente foi reaberta na festa Balonê de sábado, 2 de outubro, com público usando máscara

Pista de dança do Ocidente foi reaberta na festa Balonê de sábado, 2 de outubro, com público usando máscara


Lucas Martins de Mello/DIVULGAÇÃO/JC
De acordo com o Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), a Capital conta, hoje, com pouco mais de 100 casas noturnas, entre bares e danceterias. É um número difícil de precisar, ainda mais em meio a uma pandemia. Confira, na lista a seguir, alguns dos espaços que têm realizado shows, festas ou outro tipo de programação aberta ao público com certa frequência nos últimos meses.
  • 72 New York Pub Bar - Nova York, 72 (Auxiliadora). Site: 72newyork.com.br
  • Agulha - Conselheiro Camargo, 300 (São Geraldo). Site: agulha.poa.br
     
  • Bate - João Alfredo, 701 (Cidade Baixa). Instagram: @instadobate
     
  • Cabaret Poa - 7 de Setembro, 708 (Centro Histórico) - Instagram: @cabaretpoa
     
  • Café Fon Fon - Vieira de Castro, 22 (Farroupilha) - Instagram: @cafefonfonportoalegre
     
  • Club 688 - Siqueira Campos, 688 (Centro Histórico). Instagram: @club688
     
  • Cucko - Lima e Silva, 1.037 (Cidade Baixa) - Site: cucko.com.br
     
  • Divina Comédia - República, 649 (Cidade Baixa). Instagram: @divinacomediapub_
     
  • Espaço Cultural 512 - João Alfredo, 500/506/512 (Cidade Baixa). Site: espaco512.com.br
     
  • In Sano Pub - Lima e Silva, 601 (Cidade Baixa). Instagram: @insano.pub
     
  • Liberty - Venâncio Aires, 240 (Cidade Baixa). Instagram: @libertypoa
     
  • Matita Perê - João Alfredo, 626 (Cidade Baixa). Site: botecomatitapere.com.br
     
  • Moov - Marquês do Herval, 215 (Moinhos de Vento). Instagram: @moovpoa
     
  • Nuvem Club - João Alfredo, 483 (Cidade Baixa). Site: nuvemclub.com.br
     
  • Ocidente - Osvaldo Aranha, 960 (Bom Fim). Site: barocidente.com.br
     
  • Opinião - José do Patrocínio, 834 (Cidade Baixa). Site: opiniao.com.br
     
  • Parangolé - Lima e Silva, 240 (Cidade Baixa). Instagram: @parangolebar
     
  • Parapha Baiúca - João Alfredo, 425 (Cidade Baixa). Instagram: @parapha_baiuca
     
  • Patrimônio - Conselheiro Camargo, 212 (São Geraldo). Instagram: @patrimonio
     
  • PoaClub - Oscar Pereira, 2.655 (Glória). Instagram: @poaclubpoa
     
  • Sgt. Peppers - Quintino Bocaiúva, 356 (Moinhos de Vento). Site: peppers.com.br
     
  • Tabu 386 - Benjamin Constant, 321 (São João). Instagram: @tabu386
     
  • Thomas Pub - Padre Chagas, 330 (Moinhos de Vento). Site: thomaspub.com.br
     
  • Fuga Bar - Álvaro Chaves, 91 (Floresta). Instagram: @fugabar
     
  • Vitraux Club - Conceição, 492 (Independência). Site: vitraux.com.br
     

Opinião reativa agenda do Araújo Vianna

Reaberto em agosto, tradicional bar Opinião, na Cidade Baixa, voltou a promover festas, com cadeiras e outras restrições sanitárias

Reaberto em agosto, tradicional bar Opinião, na Cidade Baixa, voltou a promover festas, com cadeiras e outras restrições sanitárias


ANDRESSA PUFAL/JC
Se tivessem “apenas” o bar Opinião para administrar, os sócios Alexandre "Alemão" Lopes, 58 anos, e Claudio "Magrão" Favero, 59, já estariam bastante apreensivos. Mas o baque foi triplo, uma vez que a Opinião Produtora é responsável por gerenciar o Auditório Araújo Vianna e o Pepsi On Stage.

Reaberto em agosto, com uma série de apresentações acústicas, o tradicional bar da Cidade Baixa tem promovido também algumas festas, todas com cadeiras e outras restrições. Segundo Magrão, a retomada é significativa, mas ainda está longe do ideal.

“Essa abertura pra nós é muito mais simbólica, de estarmos conseguindo superar uma crise após um ano e meio parados. Ela é importante mais para a saúde mental do que para a saúde financeira da empresa, mas é uma atividade que ainda não se paga”, pondera.

Mesmo com todas as dificuldades, o Opinião conseguiu manter o quadro com cerca de 40 funcionários, utilizando-se da Medida Provisória 936, que autorizou a suspensão de contrato e redução de jornada de trabalho e salário. Também foi preciso realizar negociações com fornecedores e bancos.

Os shows do projeto Acústico Opinião ocorreram ainda sob um decreto que permitia no máximo 200 pessoas na casa, e os eventos posteriores, já com uma nova flexibilização, para cerca de 350. “No entanto, estamos falando de uma estrutura para receber 1.700 pessoas e trabalhando com 10% a 20% da capacidade”, compara Magrão.

Como boa parte dos espaços, o bar passou por uma reforma enquanto esteve fechado. Uma novidade que chama a atenção é uma escada externa, na frente da bilheteria, que leva diretamente a um espaço no mezanino batizado de “Inferninho”, com capacidade para até 400 pessoas. A ideia é que a área receba, depois que a pandemia passar, eventos para até 400 pessoas. “Sempre tem um pessoal que gostaria de permanecer na casa depois dos shows, mas como o espaço é muito grande, não havia clima para continuar. Agora temos um lugar bacana para quem quiser esticar a noite”, destaca.

Em outubro, mês em que o Opinião completa 38 anos, a agenda começa a ficar mais movimentada, com shows de nomes como Maria Rita e Vera Loca, ambos no Araújo Vianna, comportando 50% de sua capacidade. “O Pepsi e o Opinião são casas que têm um DNA de festa, com shows em pé, pessoas dançando. Como o Araújo é um teatro, com lugares marcados, é bem mais tranquilo garantir o distanciamento”, argumenta Magrão.

O empresário torce agora para que não surjam novas variantes do vírus e que o setor de entretenimento seja, finalmente, liberado para trabalhar a pleno. “Com todo mundo recebendo a segunda dose, entendemos que não há por que ficar com tudo fechado”, acredita ele, estimando a retomada definitiva dos shows no Opinião e no Pepsi On Stage para março de 2022.

Funcionando como barzinho, Bate adota cautela no retorno

Localizado no último quarteirão da João Alfredo, o Bate - antigo Batemacumba - vem voltando à ativa devagarinho. Carolina Pizzato, 34 anos, Kátia Azambuja, 33, e Diego Dresch, 41, optaram por reabrir o estabelecimento como barzinho, "sábado sim, sábado não", como destaca Carolina. "É curioso que, nesse novo formato, estamos trabalhando em um horário bem diferente do usual, das 16h às 23h. Antigamente, a gente abria às 23h e ia até a madrugada".
O espaço, que recebia até 200 pessoas em noites de shows, hoje não comporta mais que 20. São apenas quatro mesas, mais dois balcões na parede e um espaço junto ao balcão de atendimento. O que "salva" é a calçada, onde são disponibilizadas mais algumas mesas, e outros tantos fregueses podem ficar em pé. Sem funcionários fixos, o Bate não contraiu empréstimos para quitar dívidas, apenas negociando a redução do aluguel. "Passamos algum tempo pagando o mínimo de luz, mas as primeiras contas foram complicadas, porque vieram logo depois do verão, quando o ar-condicionado funcionava no talo. A gente colocou dinheiro nosso em alguns meses", afirma a empresária.
As coisas só não ficaram piores porque cada sócio tem sua atividade fora do bar - o que acabou levando, posteriormente, à decisão de reabri-lo somente duas vezes por mês. Sobre a volta dos shows, Carolina acredita que, nas atuais condições, "talvez um voz e violão", mas prefere não fazer previsões. "Não é um plano de imediato", garante. Por ora, constatada a boa presença de público nos "sábados sim", a tendência é abrir com uma frequência maior.

Quarentão, Ocidente é a resistência no Bom Fim

Funcionar como pub em horário reduzido foi uma das alternativas do Ocidente para permanecer operando

Funcionar como pub em horário reduzido foi uma das alternativas do Ocidente para permanecer operando


JOYCE ROCHA/JC
"A possibilidade que eu tenho é de falir, não de fechar. São tantos contratos e compromissos com tantas pessoas que fechar, simplesmente, não tem como", dispara Fiapo Barth, 68 anos, 40 deles à frente do Ocidente. Último reduto dos tempos boêmios do Bom Fim, o bar já enfrentou de tudo, de arrombamentos a interdições. Mas nem todo esse histórico poderia preparar o sobrado na esquina da Osvaldo Aranha com a João Telles para os reveses causados pela pandemia. O déficit, somando despesas do próprio bolso e empréstimos bancários (ainda não pagos), chega a R$ 1,1 milhão, revela Fiapo.
Ao contrário da maioria dos bares, o Ocidente não recorreu imediatamente a lives ou outras formas de obter recursos. "Em um primeiro momento, fiquei sem saber o que fazer mesmo, esperando para ver se as coisas melhoravam", admite o empresário. O fato de o Ocidente já trabalhar como restaurante ajudou a evitar um rombo pior, já que a entrega e retirada de refeições foi uma das primeiras atividades liberadas, ainda no primeiro semestre do ano passado.
O que deu uma pequena esperança foi a abertura no formato pub, já em outubro de 2020, com mesas na calçada. Em julho deste ano, duas lives sob o nome S.O.S. Socorro Ocidente Show, com a participação de dezenas de artistas identificados com o bar, arrecadaram cerca de R$ 47 mil para minimizar os prejuízos. As próximas serão para socorrer a classe artística, ainda bastante impactada pela falta de trabalho. A segunda edição está prevista para a segunda quinzena de outubro.
As demissões, ressalta Fiapo, ocorreram em um primeiro momento, quando percebeu que a casa não reabriria tão cedo. "Dispensei o pessoal mais jovem, que trabalhava nos balcões, e fiquei com a equipe antiga. Hoje (dia 4 de setembro, quando ocorreu uma edição da festa Balonê) tem vários extras trabalhando. O pessoal da segurança, por exemplo, está de volta", destaca. O clima de balada, com as pessoas dentro do bar, só voltou em agosto, quando o projeto Ocidente Acústico foi reativado com uma apresentação do músico Marcelo Gross, ex-Cachorro Grande. De lá para cá, ocorreram várias festas, shows e performances artísticas, sempre com o público sentado. Com 35 mesas com quatro cadeiras, recebia até 140 pessoas.
Fiapo não nega que tinha certo receio de que o público se descuidasse em relação às regras de isolamento. "Até que o pessoal está respondendo bem... Acho que o mais difícil é conter a empolgação de quem está envolvido diretamente com as festas", brinca.
Agora, com os novos protocolos, começaram as festas com a pista de dança liberada - a estreia foi sábado, 2 de outubro, com a Balonê.
Se os 40 anos do Ocidente tiveram que ser celebrados de forma virtual, para os 41, a serem completados no fim do ano, Fiapo não projeta nenhuma megacomemoração. "O aniversário do Ocidente sempre foi um festão, mas não acredito que a gente esteja em condições de fazer grandes eventos até dezembro. Com a vacinação avançando, vamos torcer para que a vida volte à normalidade o mais breve possível."
 

Espaço 512 aguarda para funcionar como casa noturna

Estabelecimento ocupa três casarões na rua João Alfredo

Estabelecimento ocupa três casarões na rua João Alfredo


rodrigo beck/divulgação/jc
Criado em 1999 como ateliê e operando como bar desde 2006, o Espaço Cultural 512 se tornou referência de arte, boemia e gastronomia na Cidade Baixa. Mas o estabelecimento, que ocupa três imóveis na rua João Alfredo, almejava há muito obter o alvará de casa noturna, o que viabilizaria seu funcionamento durante a madrugada. Ironicamente, o documento foi liberado quando a noite de Porto Alegre já estava paralisada pelo coronavírus.
"Quando chegou a pandemia, estávamos perto de jogar a toalha. Só que, na segunda semana da quarentena, tivemos o nosso projeto, que há quatro anos tramitava na prefeitura, aprovado. Então ficou aquela sensação de nadar muito e não querer morrer na praia", explica Guilherme Carlin, 38 anos, que divide a sociedade do 512 com Rafael Corte, 40.
A boa notícia deu um ânimo para a dupla encarar o duro período de isolamento social, no qual o faturamento foi reduzido em cerca de 90%. "Tivemos uma boa negociação com os proprietários das casas, e isso é o que nos permite manter algumas contas em dia. Mas até agora não consegui tirar um real para me sustentar", desabafa Carlin. Houve momentos difíceis, especialmente envolvendo demissões. "Seis funcionários que estavam há muito tempo com a gente foram desligados. Foi uma situação custosa, não só financeiramente, mas também no aspecto psicológico", lembra.
Os sócios recorreram a linhas de crédito para executar as reformas necessárias para o projeto de casa noturna e o cumprimento do PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndio). "Passado esse período de distanciamento, acreditamos que haverá uma necessidade represada das pessoas de ir para festas. Então, concentramos todos os nossos esforços para preparar o espaço para um momento de retomada que até hoje estamos aguardando", diz o empresário.
Como diversos bares, o 512 apelou para financiamento coletivo, lives e delivery de comida. Mais recentemente, reabriu para shows. "O espaço tem capacidade para receber 430 pessoas. Com o distanciamento, pode comportar 50% disso, mas a gente vem operando com 25%", relata Carlin. Os eventos têm ajudado a atenuar os prejuízos, mas ainda não pagam as contas. "Estou trabalhando em uma imobiliária e toco minha outra empresa, a Cachaça da Chica. Meu sócio também desenvolve outras atividades".
Apesar dos percalços, o 512 celebra 15 anos (a comemoração foi presencial, neste dia 3 de outubro) com boas perspectivas. Os proprietários ainda buscam um terceiro sócio, conforme o Jornal do Comércio noticiou, em primeira mão, no dia 28 de abril. "Já tivemos duas ou três propostas, mas acabamos não acertando. Procuramos alguém que, além de entrar com capital, tenha um perfil administrativo para ajudar a gerenciar o negócio", ressalta Carlin.

Parangolé se adapta a espaço menor para sobreviver

Cláudio Freitas lembra que foi preciso mudar, pois as contas acumularam

Cláudio Freitas lembra que foi preciso mudar, pois as contas acumularam


ANDRESSA PUFAL/JC
Quem entra no Parangolé, hoje em dia, percebe uma mudança significativa: palco de inúmeros músicos independentes da cena local e outros tantos de fora que fazem questão de bater ponto ali, o aconchegante barzinho na Lima e Silva ocupa apenas 50% da área que possuía. Duas das quatro salas que faziam parte da casa foram colocadas para alugar.
"Para ficar com todo aquele espaço, era preciso ter demanda. Como as contas foram se acumulando, decidi entregar o imóvel", explica o proprietário do estabelecimento, Cláudio Freitas.
Quando ensaiou-se uma reabertura dos bares, em outubro do ano passado, o Parangolé voltou em horário reduzido. Mas logo uma nova bandeira preta mudou os planos. "Já estávamos montando uma agenda de shows e tivemos que cancelar tudo", relata Freitas. Cobrir os custos de manutenção foi um desafio. "Houve um momento de tele-entrega de comida, outro de pegue e leve. Fizemos o possível para sobreviver". A casa também promoveu algumas lives, com o intuito de arrecadar recursos para a classe artística.
Entre abril e junho, o Parangolé passou por uma reforma, na qual se destaca um sistema de ventilação natural. A ideia é ter um ambiente mais seguro para os frequentadores.
"Tiramos o vidro (divisório entre as áreas interna e externa) e instalamos esse sistema de renovação do ar, porque senão as pessoas ficariam receosas e não sentariam aqui dentro. E eu preciso aproveitar essa área. Por conta do distanciamento, estamos ocupando metade do espaço, que, por sua vez, é metade do que era antes".
A retomada dos shows presenciais começou há cerca de um mês e meio. Freitas diz que o "movimento é bom", dentro do possível. Obrigado a dispensar funcionários, ele só conta com uma pessoa para ajudar na cozinha e outra para o atendimento, e acha difícil que o Parangolé retome o formato pré-pandemia.
"Mesmo que tudo isso passasse agora, eu iria refletir muito. Já tenho 67 anos. Mesmo aposentado, preciso trabalhar para poder ter um plano de saúde, um carrinho, coisa poucaMas meus filhos estão formados, trabalhando, não precisam de mim. Aliás, eu é que precisei deles, que me ajudaram financeiramente nesse momento tão complicado", ressalta. Freitas ainda teve que recorrer a um empréstimo bancário, cujo pagamento foi prorrogado, dando um alívio nas despesas imediatas.
Diante de tantas dificuldades, o empresário pensou mais de uma vez em fechar as portas, mas, como considera o bar uma extensão da sua casa, voltou atrás. "Estamos aqui há 15 anos. Construímos uma relação muito boa com os músicos e com o público. Quando a casa lotava, muitas vezes as pessoas acabavam sentadas junto com desconhecidos e logo faziam amizade", lembra Freitas. "Com a vacinação avançando, tomara que a gente possa ter esse tipo de convivência de novo. Eu tenho esperança. Aliás, só estou aqui ainda porque sou otimista."

Estrutura própria atenuou prejuízos no 72 New York

A história do 72 New York Pub Bar começou em 1985, como confeitaria. Depois, o estabelecimento no bairro Auxiliadora se transformou em restaurante, esticou o expediente até virar happy hour e mergulhou definitivamente na noite a partir dos anos 2000, quando se tornou uma das mais badaladas casas da Capital. Com a Covid-19, vieram novas mudanças - desta vez, forçadas.
" A casa fechou (no início da pandemia). Houve uma demissão gradativa em torno de 50% funcionários", lamenta o proprietário, Horizonte Venzon, 62 anos. O fato de ainda trabalhar como restaurante e bar permitiu que o 72NY voltasse a funcionar antes dos estabelecimentos que não oferecem essa alternativa, atenuando os prejuízos. "Financeiramente perdemos muito, mas continuamos com o bar, que é uma referência na cidade. Como a estrutura é própria, conseguimos administrar melhor esta crise. Uma pena, já que colegas e outros proprietários perderam quase tudo ou tudo".
Mesmo não sendo necessária uma reforma, Venzon aproveitou o tempo parado para remodelar o espaço, especialmente a entrada. A capacidade do bar segue a mesma (420 pessoas), mas foi reduzida a menos da metade em tempos de pandemia.
Apesar das restrições de espaço e horário (a casa está funcionando das 17h às 23h), os eventos, que incluem discotecagem e apresentações de cantores sertanejos, vêm atraindo um bom público. "A recepção tem sido muito positiva, mas estamos na expectativa de novas liberações, tanto de horário como na capacidade, em razão do distanciamento. Acredito nos cuidados com a vida andando junto com o trabalho", conclui Venzon.
 

Café Fon Fon reabre na próxima sexta-feira

Estabelecimento na rua Vieira de Castro irá comemorar dez anos em 2022

Estabelecimento na rua Vieira de Castro irá comemorar dez anos em 2022


luizinho santos/divulgação/jc
Localizado na rua Vieira de Castro, a apenas alguns metros do Parque da Redenção, o Café Fon Fon é uma das raras casas que ainda não teve nenhum tipo de programação presencial, mantendo-se essencialmente de lives. Até agora. Nesta sexta-feira, o espaço abre suas portas ao público pela primeira vez em mais de um ano e meio, com apresentação do InDuo, formado pelos músicos e proprietários Bethy Krieger e Luizinho Santos, além de uma exposição do artista plástico e carnavalesco Luciano Santos. Sábado, é a vez do guitarrista brasilo-americano Phill Fest.
A retomada foi cautelosa. De início, as apresentações eram transmitidas diretamente da residência de Bethy, 56 anos, e Luizinho, 62. A partir do final do ano passado, o café começou a receber artistas, que, seguindo todos os protocolos de segurança, permitiram aos fregueses ter um gostinho do ambiente intimista do Fon Fon, regado a muita música brasileira, blues e jazz. As contribuições via Pix têm ajudado a pagar as contas.
Aos sábados, o casal passou a oferecer almoços, iniciativa que também foi bem recebida pelo público. Ainda assim, a proprietária admite que a pandemia gerou um prejuízo "incalculável". "Ganhamos dinheiro? Não. Mas sem a solidariedade das pessoas, seja com uma doação ou o simples compartilhamento dos nossos eventos nas redes sociais, não teríamos conseguido manter a casa", reconhece Bethy.
Segundo ela, a expectativa é grande por conta da reabertura. "Não fizemos isso antes porque não nos sentimos à vontade, temendo expor as pessoas ao vírus. Mas agora estamos um pouco mais otimistas porque já temos uma quantidade maior de vacinados", afirma a proprietária. Ela espera comemorar os dez anos do Fon Fon, em maio do ano que vem, com uma comemoração à altura - junto ao público, claro. "Acredito que vai dar, em função da vacinação. Já fizemos dois aniversários com a casa fechada. Não é fácil, ainda mais para a gente, que gosta de festa", brinca.

Agulha não cogita retomada dos shows tão cedo

Com despesas mensais que, mesmo reduzidas, ultrapassam R$ 20 mil, proprietários do Agulha buscam saídas

Com despesas mensais que, mesmo reduzidas, ultrapassam R$ 20 mil, proprietários do Agulha buscam saídas


akeem delanhesi/divulgação/jc
Aberto em 2017, o Agulha foi um dos primeiros estabelecimentos a apostar suas fichas no 4º Distrito. Se tornou um case de sucesso na região e referência de música independente em Porto Alegre, com noites concorridas e shows lotados. Essa ascensão, porém, foi brecada pela pandemia.
"Foram vários os momentos em que cogitamos fechar", admite Eduardo Titton, 35 anos, que criou o espaço junto com o irmão Fernando, de 32. Segundo ele, a ideia de desistir ressurgia a cada tentativa infrutífera de criar uma fonte de renda alternativa. A primeira foi a realização de lives. "Tivemos três ou quatro, mas vimos que não ia ser o caminho. Se antes as pessoas já não pagavam muito por música, na pandemia acabou ficando pior. Além disso, como intermediador entre artista e público, perdemos um pouco a relevância nesse formato", analisa o empresário.
A seguir, foi lançada uma coleção de produtos do Agulha, de meias a pijamas - algo simbólico num momento em que todo mundo permanece mais tempo em casa. O resultado não foi dos piores, mas os sócios perceberam que o mais viável era comercializar produtos que permitissem vendas sucessivas, como cachaças e cervejas.
Nesse processo de tentativa e erro, uma tele-entrega de comida também não mostrou resultados satisfatórios. "Durou uns dois ou três meses, mas nunca funcionou a ponto de ser viável", lamenta Titton.
Com despesas mensais que, mesmo reduzidas, ultrapassam R$ 20 mil, a água começou a bater no queixo. "Felizmente, conseguimos manter a equipe integralmente, inclusive com os salários, complementando com eventuais benefícios do governo. Os únicos desligamentos foram por iniciativa de funcionários que conseguiram oferta melhor". O empresário lembra que havia uma reserva emergencial de segurança, suficiente para manter a casa por quatro meses. "Era algo que guardávamos pensando, sei lá, se viesse um tufão e destelhasse o imóvel. Jamais imaginamos que seria usado em uma pandemia", afirma Titton. Depois que as economias evaporaram, o jeito foi recorrer a empréstimos. Um clube com recompensas para os apoiadores também ajuda a atenuar os prejuízos. "No ápice, chegamos a 280 sócios, mas, mesmo somando todas iniciativas, nunca conseguimos vencer as despesas", ressalta.
O Agulha começou a respirar quando reabriu as portas, no início de julho, em formato de bar e restaurante. "A gente já consegue ver um movimento consistente no espaço, que está segurando as pontas até reabrirmos de fato". Sobre a volta das apresentações ao vivo, Titton é mais cauteloso. Embora o Agulha ocupe um grande galpão no bairro São Geraldo, o espaço onde fica o palco é pequeno.
"Com distanciamento, colocaríamos apenas umas 30 pessoas ali, gerando uma renda que não remuneraria de forma justa o artista e ainda provocaria aglomeração", argumenta o empresário. Ele revela que estão sendo estudadas algumas possibilidades, como um pocket show ou algo ao ar livre, uma vez que o bar fica em uma rua sem saída, sem trânsito. "Pensamos em fazer algum evento-teste, talvez no final de novembro. Mas começamos a formular uma agenda para shows a partir de janeiro. Esperamos que as coisas melhorem."

Club688 se transforma em bar à beira do Guaíba

Equipe foi remontada de forma reduzida para a nova operação

Equipe foi remontada de forma reduzida para a nova operação


club688/divulgação/jc
Até o perfil do Club688 no Instagram sofreu mudanças durante a pandemia. Na descrição da casa, um aviso: "Atualmente Bar688". Localizado na rua Siqueira Campos, no Centro Histórico, e com uma vista privilegiada do Guaíba, o estabelecimento celebrou uma década em plena pandemia. Não do jeito que gostaria, mas como foi possível.
A casa ficou fechada por mais de um ano, voltando a funcionar somente em maio, em formato mais enxuto. Segundo o proprietário Roberto Huwwari, 44 anos, foi necessário se desfazer de bens pessoais "para manter a coisa viva". Em relação aos prejuízos, prefere não mencionar cifras, mas dá uma dimensão do rombo: "Posso dizer que precisaríamos de 13 meses funcionando para zerar a conta".
Após um acordo com o locador do prédio, o 688 reabriu como bar, seguindo os protocolos sanitários estabelecidos. "Praticamente demitimos todos os funcionários e alguns pediram para sair, pois foram tocar projetos próprios atrás de mais dinheiro. Ficou basicamente uma pessoa enquanto estávamos fechados e remontamos de forma reduzida a equipe para atender essa fase de bar", explica Huwwari.
Não houve necessidade de reformas, e como o dono já dispunha de mesas (utilizadas em outro estabelecimento, durante o verão), elas foram reaproveitadas no 688. Uma parceria com um foodtruck para fornecer comida ajudou a consolidar o formato. Atualmente, a casa abre às sextas-feiras e aos sábados, das 20h à 1h30min, com capacidade para receber 250 pessoas.
O Bar688, cuja programação musical varia de performances de DJs a shows de pagode, vem funcionando bem, segundo o proprietário. "O público gostou de voltar a frequentar a casa por vários motivos. Dentre eles, a saudade do próprio Club688". Mesmo com o negócio funcionando bem, Huwwari espera que o bar possa voltar a ser club o mais breve possível. 

Proprietários defendem passaporte da vacina

A criação de um passaporte de vacinação para entrar em eventos, exigência que já está em vigor em algumas cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, e que está sendo instituída no Estado, em algumas atividades, é vista como algo positivo pelos proprietários de casas noturnas. "É uma solução para que aqueles que 'esqueceram' ou não estão dispostos a tomar a vacina repensem sua individualidade a partir da necessidade coletiva. Vemos isso com bons olhos e pretendemos implementar assim que for instituído", garante Guilherme Carlin, do 512.
Claudio Favero, do Opinião, pondera que, mesmo que a medida pareça burocrática, é necessária para garantir um ambiente seguro. "A gente tem uma plataforma de venda de ingressos que é simples de acessar. No momento da compra, em vez de registrar o CPF, a pessoa colocaria o número da carteira de vacinação."
No Agulha, Eduardo Titton pretende cobrar o documento dos frequentadores independentemente da existência de uma lei específica. Bethy Krieger, do Café Fon Fon, considera a medida uma forma de tornar o ambiente não só mais seguro, mas também confortável. "As pessoas vão ficar mais tranquilas", diz.
Já Fiapo Barth, do Ocidente, acha o passaporte "excelente" como incentivo à vacinação, mas observa que não dá para afrouxar nos demais cuidados. Proprietário do 72 New York, Horizonte Venzon defende que a vida deve voltar o mais próximo possível da normalidade e se para isso ocorrer for necessário exigir comprovante de vacinação, "que assim se faça". Roberto Huwwari, do Club688, tem pensamento semelhante.
 

Pura nostalgia ao frequentar novamente a noite da Capital

Produtora e DJ da festa Balonê, Thais Scherer vê com cautela as novas flexibilizações

Produtora e DJ da festa Balonê, Thais Scherer vê com cautela as novas flexibilizações


LUCAS MARTINS DE MELLO/DIVULGAÇÃO/JC
A primeira sensação é de estranheza. Não dá para ficar muito entusiasmado em uma balada com cadeiras, e a máscara também é um notório incômodo para alguns. Ainda assim, depois de um ano e meio na “seca”, a boemia porto-alegrense está tão sedenta por uma festa que, mesmo com todas as restrições, uma espécie de euforia toma conta do ar.
De euforia e de nostalgia. Completando 20 anos, a Balonê, tradicional festa do Ocidente que celebra os anos 80 e 90, teve que soprar as velinhas no formato de bar, no dia 4 de setembro. Espalhadas pelas duas pistas e pelo mezanino, quase todas as mesas estavam ocupadas. No telão, trechos de filmes da época e videoclipes de bandas “confirmadas” ajudavam a criar o clima nostálgico, algo inerente a uma festa desse tipo, mas que ficou ainda mais forte por remeter aos dias pré-Covid, quando as pessoas saiam de casa sem tanto medo.
Alguns, mais empolgados, ficaram decepcionados por não poderem ir para a pista de dança, mas, para a maioria, só o fato de estar ali já era uma coisa a ser festejada. Um designer de 37 anos que preferiu se identificar apenas como Stu admitiu que nem é frequentador da Balonê, mas do Ocidente. “É muito importante ver um lugar como este, que é um ícone de Porto Alegre, funcionando de novo”, afirma ele, elogiando os cuidados tomados contra a Covid. “Levantei da mesa para ir no balcão comprar bebida e não percebi que estava sem a máscara. Chamaram minha atenção, de uma forma bem educada”, relata. Já a auxiliar administrativa Rose Castro, de 26 anos, elogiou a festa, dizendo que o clima estava muito parecido com os eventos tradicionais. “Claro que não é a mesma coisa, mas dentro do possível nessas circunstâncias, dá pra se divertir”. Produtora e DJ da Balonê, Tais Scherer ficou satisfeita com o resultado, tanto que repetiu a dose em 2 de outubro (a festa ocorre no primeiro sábado de cada mês), em evento que marcou a reabertura da pista do Ocidente, todo mundo dançando de máscara. Mas se mantém cautelosa quanto a flexibilizações. “Não vou colocar o público e quem trabalha no bar em risco”, argumenta.
Uma semana depois da volta da Balonê, a reportagem foi conferir uma edição da Fiesta Opinion Latina, no Opinião, no dia 11 de setembro. A casa também registrou um bom público, mas, talvez pelo clima ser mais de show do que de balada - além de discotecagem, houve apresentações ao vivo de Pedrito y El Compaz e Tablado Andaluz -, raramente se via alguém de pé.
Assim como no Ocidente, as pessoas só tiravam a máscara para consumir bebidas e petiscos. E também não era incomum encontrar gente que nunca havia comparecido ao evento, dedicado aos ritmos latinos. É o caso das funcionárias públicas Marcela Messias, 39 anos, e Raquel Moreira, 44. “Eu não conhecia essa festa, não era frequentadora, mas tô achando bem interessante. E fiquei feliz em ver que as pessoas estão respeitando o distanciamento social”, diz Marcela. Raquel faz coro e, com uma frase, sintetiza o pensamento geral dos frequentadores: “É bom dar uma saída de casa de vez em quando, né!”.

Teatro do Bourbon Country retoma agenda de shows

Carlos Konrath, da Opus, destaca lançamento de fundo em parceria com a XP

Carlos Konrath, da Opus, destaca lançamento de fundo em parceria com a XP


MILA MALUHY/DIVULGAÇÃO/JC
Depois de um ano e meio fechado, o Teatro do Bourbon Country volta a receber eventos a partir deste mês, com apresentações do humorista Paulinho Mixaria e do Queen Experience In Concert, tributo à banda britânica Queen. A casa de espetáculos é gerenciada pela Opus Entretenimento, que ainda promove shows em outros espaços (como a despedida do Kiss, na Arena do Grêmio, em abril do ano que vem) e é responsável pela agenda do Teatro Feevale, em Novo Hamburgo, além de diversas operações fora do Rio Grande do Sul.
Mesmo com o mercado do entretenimento parado pela pandemia, a empresa tem um bom motivo para comemorar: no mês passado, junto com a XP Asset, gestora da plataforma tecnológica XP Inc., a Opus anunciou o lançamento de um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios. Com captação inicial de R$ 260 milhões, trata-se da maior operação no setor nos últimos dez anos, e consiste na compra de shows de diversos artistas brasileiros em turnês distintas - a lista inclui nomes como Alexandre Pires, Bruno e Marrone, Daniel, Seu Jorge, Leonardo, Raça Negra e Roupa Nova.
"A primeira etapa prestigia artistas que fazem parte do nosso portfólio (desde 2019, a Opus também realiza o agenciamento artístico de carreiras) e produtos que já estavam programados para a nossa retomada de shows presenciais. A partir de agora, vamos valorizar ainda mais a cultura e a musicalidade brasileira", afirma Carlos Konrath, presidente da Opus.
Jornal do Comércio - O Teatro do Bourbon Country está retomando sua agenda de shows agora em outubro. Como foi a preparação para esse retorno?
Carlos Konrath - É do DNA da Opus prezar pela segurança, pela qualidade do que produzimos, em todos os aspectos. Não seria diferente agora, nesse momento que o mundo vive. Eu diria que nossas atenções com relação a essa retomada são "cirúrgicas'', avaliadas detalhe a detalhe. Temos uma obrigação perante os colaboradores, o público, os artistas, nossa comunidade como um todo. O fato de contarmos com operações no Nordeste, no Sudeste e aqui no Sul também nos permite ter mais conhecimento (sobre a realidade de outros estados em relação à pandemia) e transformar isso em segurança para o público.
JC - Recentemente a Opus anunciou o lançamento de um fundo de investimento com um valor de captação inicial bem significativo. Como ele vai funcionar?
Konrath - É uma revolução para o mercado do entretenimento, pois o fundo alavanca todo esse universo, não só a nossa operação. Talvez seja a maior operação desse setor na América Latina. Temos uma primeira etapa a ser concluída em um período de 24 meses, em que trabalhamos com a gestão da carreira de alguns artistas, como Seu Jorge, Alexandre Pires, Daniel e Roupa nova, e com outros que não estão sob o nosso guarda-chuva, mas que têm uma relação construída ao longo dos 45 anos da Opus, como Leonardo, Bruno e Marrone... A partir disso desenvolvemos alguns produtos. Agora no início de outubro, por exemplo, vamos levar às cidades de Guimarães e Lisboa, em Portugal, o show Irmãos, um duo entre Seu Jorge e Alexandre Pires. Também realizaremos outra parceria nesses moldes chamada Samba, Sertão e Brasa, que tem como âncoras Daniel e Alexandre Pires.
JC - Além do Rio Grande do Sul, a Opus administra teatros em São Paulo, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Há planos de levar a empresa para ainda mais estados?
Konrath - Estamos construindo uma casa no Rio de Janeiro, no shopping Citá, e outra no shopping Tatuapé, em São Paulo, com cerca de 3.500 lugares, junto a um centro de eventos espetacular. E estamos nos "finalmentes" em acordos para outras três casas. É óbvio que as dificuldades para o entretenimento na pandemia foram gigantes, ainda estão sendo. Mesmo assim, conseguiremos sair dela com mais espaços culturais, e tivemos a felicidade de fazer esse acordo com a XP.
JC - Apesar disso, a Opus enfrentou dificuldades sem a realização de shows. Houve necessidade de demitir funcionários? E qual foi o tamanho do prejuízo?
Konrath - Lamentavelmente sim, como em qualquer operação, tivemos que dispensar algumas pessoas, que nos fazem muita falta. Precisamos fazer grandes esforços para chegarmos até aqui, e, diante dessa situação toda, tenho muito orgulho dos meus sócios e da nossa equipe. O prejuízo ainda é uma realidade, não é algo passado, então vou ficar devendo em relação a números.
JC - Qual o seu posicionamento sobre a exigência de um passaporte de vacinação para eventos culturais?
Konrath - Sou a favor de qualquer medida que nos dê segurança. É essencial que todos colaborem para que possamos sair logo dessa situação. E que as pessoas não vejam isso como algo pessoal, mas comunitário.

*Daniel Sanes é jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Já foi repórter e editor no Jornal do Comércio. Hoje, atua como freelancer.