A Prometeon irá ampliar em 30% a produção de pneus agrícolas em sua unidade de Gravataí, em sua segunda medida de expansão na planta gaúcha neste ano. A empresa, que fabrica pneus focada na indústria de máquinas agrícolas e da construção civil, tratores, caminhões e ônibus, não para por aí. O CEO da Prometeon para Américas, Eduardo Fonseca, prevê a possibilidade de continuar o plano de investimentos no Estado.
Jornal do Comércio - Decisão de investir em pneus agrícolas tem a ver com as características do Estado ou era algo que já estava nos planos da empresa?
Eduardo Fonseca - Tem um pouco dos dois aí. O Rio Grande do Sul realmente tem sido casa dos grandes produtores máquinas agrícolas é um fator preponderante para a gente fazer esse aumento de capacidade. Segundo, a gente está aumentando a produção também em São Paulo devido a uma demanda bastante pujante do mercado agrícola do Brasil nos últimos anos e que a gente considera que vai continuar crescendo num futuro próximo, a curto e médio prazo.
JC - Então essa decisão passa também pelo momento do agronegócio brasileiro?
Fonseca - Totalmente. A situação atual do agronegócio, que está em franco crescimento, e perspectivas futuras de todo e qualquer consultoria do agronegócio com que nós conversamos, foram fatores preponderantes para tomarmos essa decisão. A gente vê isso na demanda hoje de insumos de componentes, que incluem pneus, e a gente está tomando uma ação de acreditar no Brasil, no crescimento da economia e principalmente te do agronegócio.
JC - Prometeon espera que o mercado gaúcho absorva com tranquilidade essa ampliação na produção?
Fonseca - O mercado gaúcho é um mercado super importante para a gente e um dos principais dentre todos os estados no Brasil. São grandes consumidores de pneus agrícolas, e também pneus de caminhões que são utilizados no agronegócio. Não esperamos maiores problemas para absorver essa produção. Nossos planos estratégicos mostram que esse aumento na produção é um aumento que vai ser necessário para atender a demanda atual de médio prazo no Brasil.
JC - O setor de máquinas, como outros, está sofrendo com alta de custos de produção e falta de insumo. A medida pretende atender a essa necessidade do mercado?
Fonseca - Sim. Acredito que hoje a demanda do mercado de pneus agrícolas e de caminhões está bastante aquecida nos dois grandes canais. O canal de montadoras e o canal de revenda. Hoje existe uma demanda maior do que a produção. A gente está se baseando nisso para poder tomar ações necessárias e poder aumentar a disponibilidade do produto. Acredito que a falta de insumos, não só da produção de pneus, mas de qualquer segmento do Brasil, é uma realidade hoje devido a problemas tanto de dólar (valorização perante ao real) quanto de transporte internacional. Isso afeta também a gente na produção de pneus. É uma briga constante, digamos assim, para ter certeza da estabilidade da chegada de insumos.
JC - Essa falta de insumos também afetou produção da Prometeon de alguma forma?
Fonseca - A gente não teve nenhuma parada de fábrica por falta de insumos nos últimos 18 meses graças a um trabalho preventivo que foi feito dentro da empresa, de se adiantar compras e trabalhar com estoques maiores. A gente conseguiu absorver a instabilidade do mercado com ações da área de logística e da área de compras.
JC - Como foi esse trabalho preventivo, pode dar alguns exemplos dessas ações?
Fonseca - Acredito que a principal ação foi realmente trabalhar com estoques maiores de matérias-primas. Isso tem um custo, não é de graça você trabalhar com estoques maiores. Porém, foi uma ação acertada. No segundo trimestre do ano passado a gente tomou essa decisão, acertada para se evitar qualquer tipo de variação de mercado, de disponibilidade de insumo, que pudesse colocar nossa produção sob risco.
JC - As conversa com governo do Estado e prefeitura de Gravataí e medidas de incentivo apresentadas influenciaram nas decisões da empresa?
Fonseca - A Prometeon está muito contente com as ferramentas tanto do governo do Estado quanto da prefeitura municipal de Gravataí de incentivar investimentos na fábrica. Para essa primeira fase de investimentos, a gente não utilizou ainda nenhuma ferramenta, mas estamos nos planejando para uma segunda fase de investimentos com certeza utilizar, principalmente o Fundopem, para utilizar ele e poder justificar o investimento e retorno necessário.
JC - Então podemos esperar mais investimentos na unidade de Gravataí no futuro?
Fonseca - Esse é o plano. Não tem nada aprovado. Está em fase de estudos junto aos nossos acionistas. Porém, a possibilidade de utilizar o Fundopem é uma ferramenta muito importante para a gente ter total sucesso na aprovação desses projetos.
JC - O Fundopem passou a fazer busca ativa por empresas para investirem no Estado. Como foi esse contato?
Fonseca - Ele não foi especificamente até nós, mas porque nós já temos contato com o governo do Estado, junto à secretaria de Desenvolvimento Econômico, que é constante. Essa procura ativa não foi feita mais por uma questão que a gente já tem um canal aberto. A secretaria sempre foi muito eficiente nesse contato com a indústria e nós fazemos parte desse processo que é tradicional já.
JC - Como é o contato da Prometeon com o setor de máquinas no Estado? Antes de tomarem decisões, houve estudo junto às principais fabricantes?
Fonseca - Com certeza, junto às principais produtoras de máquinas no estado do Rio Grande do Sul. A gente, através da nossa Associação da Indústria de Pneus, a Anip, conversa muito com outras associações, então a gente troca informações com relação a futuro de curto, médio e longo prazo, e somado a isso nós temos nossos próprios trabalhos de estratégia interna que nos permitem conversar com potenciais clientes e entender o futuro para tomar decisões necessárias em termos de investimento.
JC - Indo um pouco para o setor dos caminhões, o Brasil vive alta nos preços dos combustíveis. Isso preocupa a empresa?
Fonseca - A gente não acredita que possa afetar. Acreditamos que economia vai crescer, que a gente vai continuar com essa demanda alta por pneus de caminhão, devido principalmente ao agronegócio, e estamos fazendo os investimentos necessários. Acho que o nosso maior investimento em caminhões esse ano foi na planta de Gravataí, com a contratação de 210 empregados no fim de maio. Agora temos a fábrica trabalhando 7 dias, 24 horas. Foi uma ação bastante importante para a gente. Quando você coloca empregados nessa quantidade numa fábrica... a gente está colocando empregados em uma ação de médio e longo prazo. Não está colocando isso para uma ação de curto prazo. Então, independentemente do preço dos derivados do petróleo, a gente acredita que a demanda por pneus de caminhões vai continuar forte principalmente devido ao agronegócio.
JC - Existe a necessidade de transportar o que o agro produz...
Fonseca - No transporte de grãos, o canal rodoviário hoje tem uma importância elevada e vai continuar elevada por muito tempo, mesmo com investimentos em outros segmentos de transporte, como ferrovias e hidrovias.
JC - Geralmente, em entrevista, se questiona para o setor de indústria, e principalmente varejo, a influência do pós-pandemia que se vislumbra com o avanço da vacinação. Influencia o mercado de pneus ou não tem tanto impacto?
Fonseca - Posso dizer somente pelo nosso segmento de pneus que é o pneu de caminhão, ônibus, tratores agrícolas e máquinas de construção. Para nós especificamente a gente acredita que o pós-pandemia não vai ter tanto efeito. Já está numa demanda muito alta nesse momento. Acredito que, em outros segmentos nos quais a Prometeon não atua, mas eu não posso falar isso com certeza absoluta porque não atuo neles, acho que o pós-pandemia vai ter um impacto positivo sim.