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Reportagem especial

- Publicada em 26 de Setembro de 2021 às 00:00

Escalada dos preços traz de volta inflação de dois dígitos

No acumulado de janeiro a agosto deste ano, a alta dos alimentos em Porto Alegre chega a 7,96%, mas quando se analisa um período de 12 meses, o aumento acumulado é de 25,74%

No acumulado de janeiro a agosto deste ano, a alta dos alimentos em Porto Alegre chega a 7,96%, mas quando se analisa um período de 12 meses, o aumento acumulado é de 25,74%


ANDRESSA PUFAL/JC
IPCA, IPCA-E, IPCA-15, INPC, IGP-M e tantos outros indicadores de inflação já são velhos conhecidos dos brasileiros. O que cada uma dessas siglas significa e de que forma são compostas muitas pessoas podem desconhecer, mas, na prática, sabem muito bem o que representam e sentem no bolso: o aumento de preços de produtos e serviços.
IPCA, IPCA-E, IPCA-15, INPC, IGP-M e tantos outros indicadores de inflação já são velhos conhecidos dos brasileiros. O que cada uma dessas siglas significa e de que forma são compostas muitas pessoas podem desconhecer, mas, na prática, sabem muito bem o que representam e sentem no bolso: o aumento de preços de produtos e serviços.
Basta uma ida às compras para perceber esta realidade. Nos pequenos mercados, a máquina de remarcação de preços voltou a funcionar como nos velhos tempos. E a tendência é que a situação se agrave. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), indicador oficial do governo federal, aponta inflação acumulada de 9,68% nos últimos 12 meses, de agosto de 2020 a agosto deste ano.

E a situação deve piorar. Na sexta-feira passada, o IPCA-15 de setembro, uma prévia do IPCA mensal, alcançou 1,14%, a maior alta desde 1994. No acumulado de 12 meses, a inflação oficial do Brasil já deve chegar a 10,05%, percentual só visto antes do Plano Real. Para se ter uma ideia, somente no mês de agosto a cesta básica de Porto Alegre passou a custar R$ 664,67, um aumento de 1,18% em relação ao mês anterior, segundo cálculos do Dieese.
No acumulado de janeiro a agosto de 2021, o aumento dos bens alimentícios básicos na capital gaúcha chega a 7,96% e, quando levada em conta a variação em 12 meses, o índice atinge assustadores 25,74%. Neste período – de agosto de 2020 a agosto de 2021 - os 13 itens da cesta registraram aumento de preços, com as maiores altas verificadas no óleo de soja (56,93%), no açúcar (54,05%), no tomate (38,19%), na carne (35,90%), no café (33,40%), na farinha de trigo (25,11%), no arroz (22,53%) e no feijão (21,42%).
Ao comprar os 13 produtos que compõem a cesta em agosto deste ano, o trabalhador que ganha um salário-minimo precisou destinar 65,32% dos R$ 1.100,00 recebidos. Segundo o Dieese, para fazer frente às despesas mensais – que além da alimentação incluem moradia, transporte, saúde e educação, por exemplo -, o salário-mínimo deveria ser 5,08 vezes o que está em vigência, ou seja, o equivalente a R$ 5.583,90.
Para o economista-chefe da Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), Antonio da Luz, é justamente por ter uma renda média baixa que os alimentos, de maneira geral, têm grande peso na cesta que forma a inflação ao consumidor. “A renda média do brasileiro é baixa para padrões internacionais, então o dispêndio das famílias com alimentos é percentualmente alto”, explica. Por isso, é comum que as pessoas substituam mais um produto pelo outro.

Preços finais incluem fatores globais e aspectos regionais

Daniela Sandi, do Dieese, lembra que a carne já subiu 35,9% em 12 meses

Daniela Sandi, do Dieese, lembra que a carne já subiu 35,9% em 12 meses


MARCELO G. RIBEIRO/arquivo/JC
O preço do produto que aparece na tela do caixa para o consumidor final é formado uma série de fatores. Entram no cálculo custos de produção, frete, desempenho da safra e efeitos do clima e tributação. Mas a lista não para por aí. "Interferem também o comércio internacional, as condições de distribuição, políticas de fomento à agricultura familiar, a participação de feiras livres e o nível de concentração desses mercados nas cidades com mais ou menos concorrência", explica Daniela Sandi, técnica do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), ao mencionar ainda fatores regionais e culturais, hábitos de consumo locais, patamar de poder aquisitivo, entre outros.
São essas características pontuais que fazem muitas vezes o valor pago pela cesta básica em cidades do Interior ser mais baixo do que o praticado na Capital. "O mercado tende a ser menos concentrado em grandes redes e mais próximos das áreas de produção de agricultura familiar, com conexões diretas de produção e distribuição entre agricultores e consumidores", relata Daniela.
Mas há outros fatores que costumam ter impacto geral, caso dos produtos in natura, que estão sujeitos às mudanças no clima, safras e ciclos de produção. Foram justamente itens in natura que puxaram a alta da cesta básica de Porto Alegre em agosto, em especial tomate (8,62%) e batata (11,85%). Outros itens são cotados no mercado internacional e exportados e sofrem reajuste, como é o caso do café (10,95%) e do açúcar (4,18%), que registraram alta no mês de agosto.
Daniela lembra que a alta da cesta básica em 12 meses chega a 25% quase, quase três vezes a inflação do período, e que alguns produtos como a carne (35,9%) e óleo de soja (56,9%) tiveram aumentos ainda maiores. Além dos alimentos, outros vilões da inflação têm sido os preços administrados pelo governo (gasolina, gás, energia elétrica e tarifas públicas).
Essas situações, diz a técnica do Dieese, trazem grande dificuldade de acesso a itens essenciais pela enorme perda do poder de compra da população e agrava a situação de muitas famílias, uma vez que o salário-mínimo não é suficiente para atender as condições básicas. "O valor do salário-mínimo no Brasil está abaixo da média mundial (US$ 486.00) e é também inferior ao de países das Américas (US$ 668.00), considerando a metodologia de paridade do poder de compra, a partir de cálculos da Organização Internacional do Trabalho (OIT)", detalha.
 

Entendendo os termos 'inflacionários'

O que é inflação
Inflação é o nome dado ao aumento dos preços de produtos e serviços. Ela é calculada pelos índices de preços, comumente chamados de índices de inflação. O IBGE ((Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) produz dois dos mais importantes índices de preços: o IPCA, considerado o oficial pelo governo federal, e o INPC.
Para que servem o IPCA e o INPC?
O propósito de ambos é o mesmo: medir a variação de preços de uma cesta de produtos e serviços consumida pela população. O resultado mostra se os preços aumentaram ou diminuíram de um mês para o outro. A cesta é definida pela Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF, do IBGE, que, entre outras questões, verifica o que a população consome e quanto do rendimento familiar é gasto em cada produto: arroz, feijão, passagem de ônibus, material escolar, médico, cinema, entre outros. Os índices, portanto, levam em conta não apenas a variação de preço de cada item, mas também o peso que ele tem no orçamento das famílias.
Qual é a diferença entre eles?
A sigla INPC corresponde ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor. A sigla IPCA corresponde ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. A diferença entre eles está no uso do termo "amplo". O IPCA engloba uma parcela maior da população. Ele aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de um e 40 salários-mínimos. O INPC verifica a variação do custo de vida médio apenas de famílias com renda mensal de um a cinco salários-mínimos. Esses grupos são mais sensíveis às variações de preços, pois tendem a gastar todo o seu rendimento em itens básicos, como alimentação, medicamentos, transporte etc.
Por que se fala tanto em IPCA?
O governo federal usa o IPCA como o índice oficial de inflação do Brasil. Portanto, ele serve de referência para as metas de inflação e para as alterações na taxa de juros.
Como o IPCA é calculado?
O IBGE faz um levantamento mensal, em 13 áreas urbanas do País, de, aproximadamente, 430 mil preços em 30 mil locais. Todos esses preços são comparados com os preços do mês anterior, resultando num único valor que reflete a variação geral de preços ao consumidor no período.
Índice pessoal de inflação
Sua cesta de compras, ou seja, os produtos e serviços que você consome regularmente, pode ser bem diferente da cesta média da população brasileira. Com isso, o seu índice pessoal de inflação pode ser maior ou menor do que o IPCA.
Por exemplo, uma família que não consome carne vermelha e não tem filhos em idade escolar terá, com certeza, um índice de inflação pessoal diferente do oficial, cujo cálculo coloca peso considerável na variação do preço da carne e da mensalidade escolar.
Poder de compra
Se a variação do seu salário, de um ano para o outro, for menor do que o IPCA, você perde seu poder de compra, pois os preços sobem mais do que a sua renda. Se a inflação e o seu salário têm a mesma variação, seu poder de compra se mantém. Se você, porém, receber um aumento acima do IPCA, seu poder de compra aumentará.
Curiosidades do IPCA
O IBGE produz e divulga o IPCA, sistematicamente, desde 1980. Entre 1980 e 1994, ano de implantação do Plano Real, o índice acumulado foi de 13.342.346.717.671,70%. A maior variação mensal do IPCA foi em março de 1990 (82,39%), enquanto a menor variação, em agosto de 1998 (-0,51%).
Outros índices de inflação do IBGE
IPCA-15: difere do IPCA apenas no período de coleta, que abrange, em geral, do dia 16 do mês anterior ao dia 15 do mês de referência. Funciona como uma prévia do IPCA.
IPCA-E: é o acumulado trimestral do IPCA-15.
IPP: é voltado para a indústria e mede a variação de preços de venda recebidos pelos produtores de bens e serviços. Sua sigla corresponde ao Índice de Preços ao Produtor.
SINAPI: é produzido em conjunto com a Caixa Econômica Federal - Caixa e mede a variação de preços para o setor habitacional e de construção. Sua sigla corresponde ao Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil.
Índices de inflação de outras instituições
IGP-M: o Índice Geral de Preços do Mercado, calculado pela Fundação Getulio Vargas - FGV, é formado por três índices diversos que medem os preços por atacado (IPA-M), ao consumidor (IPC-M), e de construção (INCC). O IGP-M é comumente usado para contratos de aluguel, seguros de saúde e reajustes de tarifas públicas.
IPC-Fipe: o Índice de Preços ao Consumidor, calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas - Fipe, mede a variação de preços no município de São Paulo. Ele aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda de um a 10 salários-mínimos.
FONTE: IBGE
 

Alta nos preços leva consumidor a reduzir valor das compras

Antônio Cesa Longo, da Agas, considera preocupante a queda no poder de compra da população

Antônio Cesa Longo, da Agas, considera preocupante a queda no poder de compra da população


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Uma cena que já não era vista há muitos anos volta a se repetir com a alta da inflação: a compra de itens promocionais para fazer estoque na despensa na busca de economizar e aproveitar os preços mais atrativos. Tanto que também passou a ser comum encontrar cartazes nas lojas com número limitado de itens por cliente para não deixar as prateleiras vazias. O fato é que o setor supermercadista já sente o baque na boca do caixa: as compras que passam pela esteira são de valores inferiores ao que era consumido antes da disparada dos preços. "O tíquete médio (valor gasto por compra) está menor, até em função das pesquisas que o cliente está fazendo em mais de uma loja", diz o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, em entrevista ao Jornal do Comércio.
Jornal do Comércio - Como o setor supermercadista avalia o aumento da inflação que vem se intensificando nos últimos meses?
Antônio Longo - Vemos com preocupação a perda do poder de compra do consumidor, ao mesmo tempo em que aprendemos diariamente com ele. A gestão dos recursos que o trabalhador gaúcho está fazendo é invejável. Hoje, o cliente consegue minimizar a inflação trocando de loja, de marca e de tipo do produto, dando uma aula de atenção aos preços e de valorização do seu dinheiro. É uma aula de administração.
JC - De que forma o setor percebe, dentro das lojas, que a inflação está pesando no bolso do consumidor?
Longo - O tíquete médio (valor gasto por compra) está menor, até em função das pesquisas que o cliente está fazendo em mais de uma loja. Com a alta dos preços das proteínas animais, alguns consumidores também migraram para outros produtos, mudando seus hábitos de consumo. Cada loja tem um público diferente. Para cada público, há uma realidade.
JC - A inflação repercute na formação dos preços de todos os itens, de maior ou menor forma?. Quais são os itens que mais pensam nesta composição (frete, combustível, energia etc) e como eles compõem os preços que chegam ao consumidor final?
Longo - São muitas as variáveis, é quase impossível determinar uma fórmula de composição dos preços. A própria situação tributária é diferente para produtos advindos de dentro e de fora do Estado. Mas, certamente, as commodities e o momento cambial repercutem em toda a cadeia, é um movimento natural do mercado.
JC - Em que momento o supermercado entende que é necessário limitar um número de itens por consumidor, em caso de valores promocionais, para que não haja desabastecimento?
Longo - Depende do item promovido, da capacidade de estoque e da profundidade da campanha. Em geral, o supermercado está preparado para absorver plenamente a demanda por suas promoções.
JC - Por que a cesta básica de Porto Alegre está sempre entre as que apresentam os valores mais altos em todo o País?
Longo - A cesta básica de Porto Alegre não é e nem nunca foi uma das mais caras do Brasil. Embora respeitemos o trabalho do Dieese, sublinhamos que a forma de divulgação está equivocada. As cestas do Dieese não são iguais, isto é, a cesta de Porto Alegre não tem os mesmos produtos que a cesta de São Paulo ou de Salvador. É impossível comparar coisas diferentes, nunca 6,6 quilos de carne custarão o mesmo que 4,5 quilos. Se equipararmos as quantidades, a cesta gaúcha nunca será a mais cara.

Custos de produção no campo registram elevação histórica

Alta no preço dos fertilizantes usados nas culturas tem sido o vilão na composição dos custos agrícolas

Alta no preço dos fertilizantes usados nas culturas tem sido o vilão na composição dos custos agrícolas


MARCELO BELEDELI/ESPECIAL/JC
Um dos motivos que faz os alimentos ficarem mais caros são os custos de produção. E, neste quesito, a alta dos preços também tem pesado bem mais para agricultores e criadores. O Índice de Inflação dos Custos de Produção (IICP) do agronegócio gaúcho registrou uma alta de 26,91% no acumulado em 12 meses - de julho de 2020 a julho de 2021 -, o maior resultado da série histórica do indicador, que começou a ser calculado pela Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), em 2010. Também houve elevação no Índice de Inflação dos Preços Recebidos pelos Produtores Rurais (IIPR) no período, que alcançou 38,66%.
Em julho deste ano, o IICP teve forte elevação de 4,71% em relação a junho. O principal fator que influenciou a alta foi a taxa cambial que refletiu no aumento do preço dos fertilizantes. Desde o início do ano, os custos de produção apresentaram altas consecutivas. No ano - de janeiro a julho -, o acumulado do indicador é de 22,92%, enquanto o IPCA ficou em 4,76%.
Já o IIPR de julho apresentou a segunda queda consecutiva de 2021, com variação de - 2,75% em relação ao mês anterior. Mesmo com a retração, a Farsul informa que os preços continuam em patamares superiores ao mesmo período do ano passado. Entre os fatores que contribuíram para a elevação dos preços em 2020 estão a estiagem, que refletiu em menor oferta interna de produtos agrícolas; a desvalorização cambial; e o aumento da demanda por alimentos em função do Auxílio Emergencial. Com exceção da seca, a Farsul lembra que todos estes fatores seguem presentes na conjuntura de 2021 e, por essa razão, os preços mantêm a trajetória de alta.

Programa Campo Futuro aponta redução de ganhos pelos produtores rurais

Na soja, sementes utilizadas chegaram a subir 38% na safra 2021, conta Ruy Silveira Neto, da Farsul

Na soja, sementes utilizadas chegaram a subir 38% na safra 2021, conta Ruy Silveira Neto, da Farsul


LUIZA PRADO/JC
Com o aumento dos custos de produção bem acima da inflação oficial do País e a manutenção deste cenário em 2021, como os preços estão estabilizados, os ganhos dos produtores devem ficar espremidos nos próximos meses. Ou seja, a tendência é que as margens de lucro sejam cada vez mais estreitas até a próxima safra de 2022.
O indicativo vem dos painéis do programa Campo Futuro, com base em levantamento realizado pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) em parceria com a Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) e o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O trabalho consiste na análise das informações obtidas a partir da realidade apresentada pelos produtores. Os painéis aconteceram em Bagé, Camaquã, Carazinho, Cruz Alta, Tupanciretã, e Uruguaiana para as culturas de soja, milho, trigo e arroz.
Soja -  No caso da soja, principal cultura no Estado, os custos relativos aos insumos tiveram uma redução na comparação entre as safras 2019/2020 e 2020/2021. Mesmo assim, as sementes registraram um aumento de 38%. Conforme Ruy Silveira Neto, economista da Farsul, isso aconteceu porque os valores de sementes, especialmente as Intactas, estão relacionados com a taxa cambial.
Outros itens também tiveram forte alta como operação mecânica (20%), juros de capital de giro (14%), custo operacional total, que considera a depreciação de equipamentos, por exemplo (13%), custo geral, valores relativos à administração da propriedade, contabilidade, energia elétrica, alimentação de funcionários (44%), e frete (53%).
A lavoura de soja, no total, ficou 13% mais cara na relação entre as duas safras mais recentes. Porém, os custos seguem acelerando. Se na última, para cobrir todos os custos, o saco da soja deveria ser comercializado por, no mínimo R$ 67,00, atualmente esse valor saltou para R$ 85,00.
Milho - A safra de milho recuperou a perda da produtividade na comparação com 2019/2020, mas ainda está distante do potencial. "Mesmo não tendo uma produtividade excepcional, é a cultura que melhor responde em relação à margem bruta", comenta o economista da Farsul, Ruy Silveira.
A principal razão está na alta de 72% no preço do grão. Entretanto, os custos de produção mantêm o movimento de elevação. Desse modo, o valor mínimo do saco para cobrir os custos que era de R$ 34,87 na última safra, teria que passar para R$ 44,47 atualmente.
Trigo - O trigo também vem de forte aumento no preço, atingindo 90% na safra 2020/2021. Os custos também tiveram elevação. Nos insumos, sementes (35%) e fungicidas (38%) puxaram a alta, junto com Custo Geral (49%).
Mesmo assim, a Farsul destaca o bom momento vivido na última safra e a projeção para a atual. "Foi um resultado histórico, o produtor pagou todos os custos e ainda teve margem bruta confortável. Foi o melhor resultado da última década. A realidade já mudou totalmente. Para empatar os custos, o produtor hoje precisava vender o saco a R$ 70,00, contra R$ 45,00 da safra passada", informa Ruy Silveira.
Arroz - O arroz passa por situação semelhante ao trigo. "Enquanto ainda há espaço para lucratividade para soja e milho, para arroz e trigo não tanto", avalia o economista da Farsul. A safra 2019/2020 já havia registrado bons resultados, mas a 2020/2021 foi bem superior. "Tivemos recorde de produtividade atingindo média de 206 sc/ha no nosso levantamento. Os preços também tiveram mesma trajetória dos demais grãos, garantindo um aumento de receita de 52%", explica.
Os custos também foram reajustados. Os insumos aumentaram 17%, especialmente sementes (29%) e herbicidas (34%), operação mecânica (23%), custos de colheita (19%), frete (10%) e custo geral (29%).
O custo operacional total do arroz foi o que teve maior alta, com 21%. Os valores de irrigação cresceram 32%, fazendo com que os seus custos se aproximem do valor total dos insumos em valores absolutos. " A tendência é que as margens boas não se repitam. Para cobrir os custos, o saco que antes deveria ser vendido por R$ 44,31, agora não pode ficar abaixo de R$ 65,87", analisa Ruy Silveira.

20 dicas para economizar

Perda de rendimento está atrelada aos juros baixos e à alta nos preços dos alimentos e do dólar

Perda de rendimento está atrelada aos juros baixos e à alta nos preços dos alimentos e do dólar


JOÃO MATTOS/arquivo/JC
  • Planeje os cardápios para as refeições na semana é importante. Assim é possível programar o gasto e se manter nele.
  • Consuma frutas e verduras da época.
  • Compre em feiras, em dias de promoção e o opte sempre pelo que está em promoção.
  • Pesquise os preços antes de ir às compras, não só de alimentos, mas de tudo que for consumido.
  • Use plataformas que permitam a comparação de preços na compra do gás. Um deles é o https://app.chama.com.br/offer, ou então aplicativos das próprias empresas que, muitas vezes, pela fidelidade, acabem dando mais desconto.
  • Programe cardápios com itens de promoção.
  • Siga a lista de compras e defina limite de valor a ser gasto, de forma a não ultrapassá-lo.
  • Itens básicos como arroz, óleo e carne tiveram aumentos significativos. Buscar alternativas faz a diferença, como evitar frituras e não usar óleo para grelhados (torna ainda a refeição mais saudável).
  • Procure consumir alimentos mais frescos. Se for fazer algo para acompanhar o arroz, uma opção é usar legumes no lugar da carne, que rende mais e é mais saudável.
  • Não cozinhe demais os legumes. Além de gastar gás desnecessariamente, os nutricionistas alertam para a perda de nutrientes devido ao cozimento excessivo. Prepare legumes com a casca, pois ela ajuda a reter os nutrientes no processo de cozimento. Depois de pronto é só retirar a casca.
  • Evitar desperdício é fundamental. Se sobrou arroz, consuma, faça um aproveitamento.
  • Alguns fogões possuem uma ou mais bocas (queimadores) maiores. O ideal é usá-las somente quando utilizar panelas grandes, pois esses queimadores gastam mais gás.
  • Tampe as panelas. O uso de tampas nas panelas ajuda na retenção do calor e diminui o tempo de cozimento dos alimentos.
  • Uma outra dica do tempo dos nossos avós: deixe o feijão de molho por pelo menos 12 horas. Ele cozinhará muito mais rápido.
  • Por falar em feijão, cozinhe uma quantidade maior e congele o que não for consumir no momento. Faça um cálculo da quantidade consumida por refeição e acondicione cada uma das porções em vasilhas separadas. Fica prático, econômico e menos trabalhoso.
  • No forno, use sempre o papel alumínio com a parte mais brilhosa voltada para os alimentos. Retire somente no final da preparação para dourar, quando necessário.
  • Aproveite o calor do forno para assar mais de uma receita. Se não puder ser ao mesmo tempo, que seja logo em seguida. Preaquecer o forno exige um gasto considerável de gás.
  • Se possível, troque o chuveiro elétrico por um a gás. É uma alternativa interessante, mas, novamente, é preciso levar em conta todo o custo de instalação. No médio e longo prazos, essa substituição poderá fazer diferença significativa no orçamento.
  • Controle o tempo do banho. Não é só o gás ou a eletricidade que contam, mas também o consumo da água, além de evitar o desperdício.
  • A instalação de sistema de energia solar gera uma economia que varia de 50% e 95% na conta de luz. De novo, é preciso calcular o custo de instalação. Mas, da mesma forma que o chuveiro, o investimento fará diferença mais à frente.
 

* Cristine Pires é jornalista formada pela Famecos/Pucrs e atua como repórter no Jornal do Comércio. Já passou pelas redações do Correio do Povo e da revista A Granja.