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Reportagem Especial

- Publicada em 08 de Agosto de 2021 às 14:00

A economia prateada abre espaço nas sociedades urbanas

Com população vivendo cada vez mais, idosos representam uma parcela importante da economia mundial

Com população vivendo cada vez mais, idosos representam uma parcela importante da economia mundial


PIXABAY/DIVULGAÇÃO/JC
 
 

Marcar a entrevista com a personagem que abriria esta reportagem exigiu uma certa ginástica para encaixar horários. Além dos compromissos como modelo e influenciadora digital, o dia da nossa entrevistada ficou ainda mais cheio recentemente, em função do trabalho como empresária. Entre uma reunião com clientes e uma ida relâmpago a São Paulo para hidratar os cabelos na rede de salões de beleza a quem empresta sua imagem nas redes sociais, conseguimos bater um papo animado com Ieda Wobeto, para conhecer seu novo empreendimento.
Cheia de planos, ela está animada com o futuro da boutique de carnes que inaugurou recentemente em Canoas, ao lado de um dos filhos. Detalhe: a modelo, influenciadora e empresária tem 75 anos. A multifacetada e superativa trajetória de Ieda ilustra uma tendência que já se manifestou em vários países e que começa a se tornar visível no Brasil: o envelhecimento da população e a estruturação de uma economia voltada para o público a partir dos 60 anos.
Detectada em pesquisas ao redor do mundo, especialmente na Europa, a tendência já ganhou os apelidos costumeiros: a geração baby boomer, nascida entre 1946 e 1964, no período pós Segunda Guerra, agora é chamada carinhosamente de velhenial ou greyny boom, trocadilhos com termos normalmente utilizados para descrever saltos geracionais como os millenials ou o baby boom. O que no começo dos anos 2000 chegou a ser descrito por pesquisadores europeus como uma catástrofe demográfica iminente, com a implosão dos sistemas de saúde e de previdência social nos países mais envelhecidos, agora é visto como uma nova movimentação no ambiente econômico. A silver economy, ou Economia Prateada, uma alusão aos cabelos brancos dos idosos, passou de ameaça à oportunidade. "A silver economy é o desenvolvimento de todo o tipo de atividades econômicas e empreendimentos dirigidos aos maiores de 60 anos, quando normalmente temos tempo e dinheiro para gastar. O futuro está na gente com passado. Existe uma montanha de oportunidades que surgem com a silver economy", conceitua o pesquisador e consultor espanhol Juan Carlos Alcaide, um dos maiores especialistas em economia voltada ao envelhecimento populacional.
Com 225 mil seguidores no Instagram, Ieda Wobeto tornou-se conhecida no Brasil em 2017, quando foi finalista do BBB. Desde então, arrebanhou uma legião de fãs, com quem interage nas redes sociais. No perfil, Ieda compartilha dicas de beleza e bem estar, além de divulgar marcas parceiras e seus trabalhos como modelo. Mais recentemente, inclui entre as postagens o dia a dia da loja Exclusive - Boutique de Carnes, idealizada durante a pandemia. Mãe de quatro e avó de sete, Ieda também coruja os filhos e netos em seus posts, mas eles estão longe de ser personagens frequentes. Independente e empreendedora, Ieda é uma espécie de embaixadora do envelhecimento empoderado. "Sou uma pessoa muito ativa, sempre gostei de ter muitas atividades. Esse projeto novo me enche de orgulho, mas também de sonhos e de objetivos", destaca.
Ieda Wobeto é uma referência, mas não é um caso isolado. Cada vez mais pessoas maiores de 60 anos estão visíveis nas redes sociais e fora delas, seja curtindo a vida, seja empreendendo, seja quebrando paradigmas e preconceitos. O fato de Ieda ser gaúcha também não é aleatório - ela vive e empreende no Estado mais velho do Brasil, onde as projeções de envelhecimento populacional são mais acentuadas. De acordo com números do IBGE, 10,15% da população brasileira tem 60 anos ou mais em 2021. No Rio Grande do Sul, esse percentual sobe para 13,60%, o mais alto do País - cerca de 1,5 milhão de pessoas. Depois vêm Rio de Janeiro (12,35%) e Paraná (11%).

Porto Alegre e Rio de Janeiro são capitais com maior proporção de idosos

Na Capital gaúcha, população acima dos 65 anos chega a 14,05% dos moradores

Na Capital gaúcha, população acima dos 65 anos chega a 14,05% dos moradores


CLAITON DORNELLES/arquivo/JC
Dados de uma pesquisa divulgada no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas revelam que Porto Alegre e Rio de Janeiro são as capitais brasileiras com a maior proporção de idosos do Brasil - a capital fluminense, segundo o levantamento, ainda tem uma pequena vantagem, com 14,5% da população com mais de 65 anos, contra os nossos 14,05%. Não vai demorar, no entanto, até que Porto Alegre assuma a liderança.
Como será o País, o Estado, a cidade em que há cada vez mais idosos? O pesquisador e consultor Juan Carlos Alcaide pontua que a União Europeia considera que, em torno da silver economy serão criados cerca de 80 milhões de empregos até 2030 em toda a Europa, em todas as áreas, desde o turismo, os cuidados, a tecnologia até a moda e a cultura. Apesar dos efeitos devastadores da pandemia de Covid-19 na população acima dos 65 anos, a expectativa de vida, segundo as projeções do IBGE, seguirá em alta: em 2030, os gaúchos viverão, em média, 80,8 anos; em 2050, serão 83,2 anos. "A silver economy transformará a oferta de serviços sanitários e de cuidado, o comércio, o turismo, e será um estímulo ao crescimento econômico", afirma Alcaide.
Para Ieda Wobeto e os demais personagens desta reportagem, essa realidade já chegou. Com suas histórias em construção, eles abrem a porta deste mundo para uma sociedade que se prepara para envelhecer fazendo parte da engrenagem social e econômica. Quando a economia é silver, o idoso é o futuro.

Longevidadeque movimenta a economia

Para quem ainda não percebeu o poder do envelhecimento da população na economia, alguns dados podem dar a dimensão do fenômeno. Um levantamento feito pela Comissão Europeia em parceria com a consultoria Oxford Economics revela que idosos consumiram € 3,7 bilhões em 2015 no bloco. A perspectiva é que esse volume cresça cerca de 5% ao ano, chegando a € 5,7 bilhões em 2025, quando o público sênior representará aproximadamente 32% do PIB da União Europeia.
Em termos globais, a ONU estima que o público acima de 60 movimente cerca de US$ 7,1 trilhões anualmente - cifras que crescem conforme o percentual de idosos cresce entre a população mundial. O Brasil acompanha a tendência: os 'velhos' são responsáveis por cerca de 20% do consumo no País, segundo a pesquisa Hype 60 , percentual que deve explodir até 2050, quando a população de idosos deve chegar aos 68 milhões.
Chegar a essa fase da vida com poder de consumo é a preocupação de cada vez mais gente no Brasil. A head de operações da Amur Capital, Gisele Borba, comenta que cresce a procura por investimentos diversificados e mais rentáveis pelo público entre 60 e 70 anos. Quem antes contava apenas com a aposentadoria e a poupança, agora está em busca de uma carteira de investimentos variada, que por um lado garanta a segurança do patrimônio adquirido e, por outro, possibilite rentabilidade, o que aumenta o poder de consumo do investidor.
"As pessoas mais velhas já construíram o seu patrimônio e agora buscam ativos de maior liquidez, para usufruir do que conquistaram. Mas não pense que os idosos não correm riscos. Temos muitos clientes com mais de 70 anos que apostam em renda variável para ter maior rentabilidade. Essa estratégia, no entanto, é pensada com mais cuidado, para minimizar os riscos e proporcionar mais retorno", completa Gisele.
 

Avanço no envelhecimento revela desafios e complexidades

Atividade física, além de ser um hábito saudável, é o hobby preferido de pessoas acima dos 60 anos no Brasil

Atividade física, além de ser um hábito saudável, é o hobby preferido de pessoas acima dos 60 anos no Brasil


MARCELO G. RIBEIRO/arquivo/JC
Com 116 mil seguidores no Instagram e quase 73 mil inscritos no canal do Youtube, as Avós da Razão são um dos tantos fenômenos da internet - com o detalhe de que as três influencers, Helena, Sônia e Gilda, têm, respectivamente, 92, 83 e 79 anos. Criados em 2018, os canais das redes sociais são o produto de uma amizade de mais de 50 anos que as três cultivam com muito carinho, liberdade e bom humor. Antes da quarentena, em janeiro de 2020, gravaram um vídeo com o canal Quebrando o Tabu que ultrapassou as 400 mil visualizações, lendo e tirando onda dos comentários sobre velhos postados nas redes sociais. Em seus vídeos, postados também no TikTok, elas apresentam marcas, dão dicas de beleza, viagem, livros, receitas, drinks, discutem novas tecnologias e falam de sexo. Sem grilos, preconceitos ou restrições. Ao comentarem sobre suas rotinas, especialmente antes da pandemia, as três contradizem os estereótipos do idoso e revelam a mudança no perfil sênior que impulsiona a silver economy.
Dados reunidos pela consultoria de Marketing SeniorLab, especializada no segmento 60 , demonstram que os rótulos que até pouco eram amplamente repetidos pela publicidade já não correspondem à realidade da população idosa. Segundo a consultoria, atividade física é o hobby predileto de 62% das mulheres e de 66% dos homens com mais de 60 anos no Brasil. Sair com amigos, passear, viajar e assistir TV e filmes estão entre as preferências desse grupo. Em compensação, cuidar de filhos e netos está entre as tarefas menos aprazíveis para os mais velhos - somente 12% das mulheres e 14% dos homens listaram essa como sua atividade preferencial.
Para o fundador da SeniorLab, Martin Henkel, essa geração de idosos é a primeira que está sendo percebida como grande consumidora pela indústria e pelo marketing em função de sua autonomia e maior exigência em relação às suas necessidades. "Na adolescência dessas pessoas que hoje são avôs e avós, Elvis Presley fazia três filmes por ano, os Beatles tocavam no rádio, o rock transformava comportamentos. Eles o feminismo, a entrada da mulher no mercado de trabalho, a pílula anticoncepcional, o cinema de Hollywood. É essa geração que estamos estudando agora. Eles foram os grandes revolucionários da sociedade e hoje querem mais, querem melhor", salienta Henkel.
Diante dessa percepção, abre-se um enorme leque de desafios para quem pretende aproveitar as oportunidades que essa nova sociedade começa a apresentar. De acordo com Henkel, setores como tecnologia tendem a fazer cada vez mais parte da vida dessas pessoas, que passarão a exigir modelos adequados às suas necessidades. Até mesmo indústrias mais tradicionais, como alimentos, higiene e beleza e moda precisam compreender as especificidades desse público para melhorar a oferta de produtos e serviços. "Pequenos detalhes, como a tampa da embalagem de adoçante ou de xampu, devem ser revistos sob a perspectiva do público sênior, para que se adaptem a detalhes como a perda de força nas mãos e redução de visão."
A missão dos profissionais de marketing nos próximos anos, de acordo com Henkel, será despir-se dos preconceitos para compreender em profundidade o público sênior que se relaciona com as marcas. A comunicação já evoluiu, mas ainda tem um longo caminho a percorrer, segundo ele. "Não adianta colocar o idoso no filme publicitário, sem integrá-lo de forma que faça sentido para ele. Antigamente, a gente via a vovó no fundo do comercial de margarina. Hoje, ela é o centro. Mas será que isso é suficiente?", questiona Hankel, lançando uma pergunta cuja resposta ainda está em construção.

Uma tendência que se revela no turismo

Ter mais tempo e dinheiro para viajar. Quem ainda não teve esse sonho de aposentadoria não está sonhando direito. Por materializar o desejo de quase todo mundo na maturidade, foi justamente o turismo um dos primeiros setores a revelar as transformações trazidas pela economia prateada. E está mal informado quem pensa que os 60 estão confinados às tradicionais excursões em grupos que visitam 15 países em 15 dias. É claro que elas existem, e se qualificam cada vez mais, mas esse público hoje se aventura em todas as modalidades de viagem, derrubando rótulos e estereótipos.
É o caso da bancária aposentada Julianne Mary Odrzywolek, de 63 anos, que desde 2017 reserva tempo para fazer intercâmbio e aprender idiomas. O primeiro foi para Liverpool, na Inglaterra, onde estudou inglês por oito semanas. No ano seguinte, o destino foi Montpellier, na França, também para estudar o idioma com aulas e visitas guiadas pelos professores a museus e centros culturais. Além de viajar sozinha para os intercâmbios, Julianne ainda curte roteiros pelo mundo e pelo Brasil acompanhada do marido. Antes da pandemia, ela já programava uma viagem de estudos para o Canadá - hoje, espera pela abertura das fronteiras e o recuo da Covid-19 no mundo.
Mas, afinal, intercâmbio não é só para estudantes jovens? É isso que muita gente ainda pensa, mas que a agente de viagens Carla Mussoi, fundadora da Experimento Intercâmbio, em Porto Alegre, está tratando de desmistificar. Segundo ela, grande parte das pessoas com mais de 60 anos não veem o intercâmbio como algo acessível - pensam justamente que estudar no exterior é aventura para jovens. Nos últimos anos, porém, a realidade vem mudando. Antes da pandemia, Carla via crescer a procura do público sênior por pacotes especiais de intercâmbio não somente para o estudo de línguas, mas de disciplinas variadas como arte, música e empreendedorismo. "Os idosos já estão entendendo que outras modalidades de viagem, como o intercâmbio, também podem ser desfrutadas por eles", explica.
De acordo com Martin Henkel, da SeniorLab, o turismo é o segmento na área de serviços voltados ao público mais velho que terá o maior impacto com o avanço da vacinação e o relaxamento nas restrições para as viagens internacionais.
 

Porto Alegre tem empreendimentos inovadores para o público de mais idade

Consultora Mariza Abreu, de 67 anos, adquiriu um apartamento sênior para a velhice

Consultora Mariza Abreu, de 67 anos, adquiriu um apartamento sênior para a velhice


LUIZA PRADO/JC
Aos 67 anos, a consultora em educação Mariza Abreu ainda mantém sua intensa rotina de trabalho, com a diferença de ter trocado grande parte das viagens e dos compromissos presenciais por encontros pela tela do computador. O fato de ainda ter uma vida funcional e intensa não a impediu de planejar o próximo passo, na direção de uma velhice ativa e confortável. Prevendo que o espaçoso apartamento onde hoje vive e recebe amigos e familiares ficará grande demais, Mariza comprou uma unidade do recém entregue Vintage Senior Residence, empreendimento da Cyrela Goldsztein inteiramente voltado para o público maior de 60 anos. Aposta inaugural da construtora nesse segmento, o Vintage tem 10 andares e 120 apartamentos projetados para o público 60 , com instalações acessíveis, iluminação especial e botão de pânico. No condomínio, mais de 15 atividades de lazer estarão disponíveis, como hidroginástica, atividade física orientada em grupo, aulas de yoga, pilates, oficina semanal de artesanato e apresentações musicais.
A ATS Hospitalar, empresa de Home Care e atenção à saúde, será a responsável por fornecer os serviços específicos de saúde aos residentes. "O Vintage é uma aposta da Cyrela em um modelo que poderá ser replicado em todo o País. Como Porto Alegre tem a concentração de idosos mais alta, achamos que aqui seria o local ideal para essa primeira experiência", afirma o CEO da Cyrela Goldsztein, Rodrigo Putinato.
Outro empreendimento semelhante foi lançado no ano passado e tem previsão de entrega em 2024. Localizado no bairro Três Figueiras, o Magno Sênior foi idealizado pela ABF Developments para ser um condomínio que atenda a todos os tipos de moradores idosos.
Os bons momentos que Mariza Abreu pretende passar em seu novo apartamento vão demorar um pouco. A unidade que comprou deve ser alugada. "Quero morar aqui depois dos 70 anos, quando eu sentir que já não estou confortável no meu atual apartamento.", destaca.

Obstáculos no caminho da dignidade e do acolhimento dos idosos

Dona Cilda Lottermann planejou mudança para um residencial geriátrico

Dona Cilda Lottermann planejou mudança para um residencial geriátrico


patricia lima/divulgação/jc
Acomodada na sua poltrona, dona Maria Cilda Lottermann, de 87 anos, borda linhas geométricas perfeitamente encaixadas sobre o tecido que ornará uma almofada. A luz que entra da ampla janela permite que ela enxergue com clareza os pequenos pontos. Quando o bordado lhe cansa, caminha até a cafeteira e prepara um cafezinho preto a seu gosto, que acompanha com nozes e pedacinhos de chocolate amargo. Há seis anos Dona Cilda desfruta do conforto e da privacidade do pequeno apartamento de cujas paredes pendem fotos dos filhos, dos netos e do marido, já falecido. No entanto, embora pareça, ela não está sozinha. O ambiente em que vive faz parte do Residencial Geriátrico Pedra Redonda, um dos mais antigos de Porto Alegre, localizado na Zona Sul da cidade. Desmentindo os preconceitos e os termos pejorativos, Dona Cilda não está asilada, tampouco foi abandonada lá pela família. Decidiu conscientemente viver ali e está feliz com a escolha. "Aqui tenho tudo o que preciso, me sinto feliz e segura", comemora.
O casal Lottermann chegou ao Pedra Redonda em função do agravamento do Mal de Alzheimer no marido, que assim que soube de sua condição tratou de orientar os filhos e a esposa sobre o desejo de mudar-se para um residencial quando a memória e a consciência o abandonassem. Para não deixá-lo sozinho, Dona Cilda foi morar com ele no residencial. Por dois anos viveram juntos ali, sob a supervisão e cuidado constante da equipe de enfermagem. Dona Cilda não se preocupava mais com afazeres como a manutenção do apartamento, lavanderia, cozinha. E de quebra ainda fez amizade com outras residentes, que a acompanhavam nos bordados e nas conversas. As visitas constantes dos filhos, especialmente de Maria Inês, também moradora da Zona Sul, amparavam o casal na adaptação. Depois de dois anos, complicações levaram o companheiro de Dona Cilda. Ela, porém, não quis voltar para o antigo apartamento. Preferiu ficar onde já se sentia segura e atendida.
Levantamento da Vigilância Sanitária de Porto Alegre estima que cerca de 4,5 mil idosos viviam institucionalizados na cidade. Em famílias cuja situação financeira é mais confortável, a escolha de um residencial é repleta de boas ofertas, que garantem segurança, conforto e atendimento especializado. O problema recai sobre os lares onde a fiscalização não chega. Diante dos baixos rendimentos do idoso e sem praticamente nenhum subsídio do Estado, muitas famílias recorrem a instalações sem alvará sanitário ou ainda a cuidados domiciliares improvisados que, em muitos casos, não garantem os direitos e a dignidade da pessoa idosa.

Falta de políticas para o idoso dificulta fiscalização

Para o presidente da Comissão Especial dos Direitos da Pessoa Idosa da OAB-RS, Cristiano Martins, a falta de políticas públicas para atender os idosos em residenciais geriátricos é um problema. O Rio Grande do Sul, segundo ele, não possui leitos públicos de geriatria e, nos residenciais filantrópicos, as vagas são escassas. "Muitos idosos ficam submetidos ao que a família pode pagar. Isso pode comprometer até mesmo sua saúde", afirma Martins.
Problema de solução complexa, o financiamento de uma rede de atenção aos idosos é o grande desafio do nosso tempo, de acordo com Martins. Ele salienta que a legislação existe, com as medidas sanitárias impostas pela Anvisa e também com os termos do Estatuto do Idoso, mas o cumprimento fica deficiente pela falta de recursos. Algumas soluções passam pela criação dos Fundos Municipais do Idoso e pela regulamentação de mecanismos de renúncia fiscal para o financiamento de políticas públicas de inclusão. A modernização de normas sanitárias e o cadastramento das Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI) privadas e filantrópicas também são apontadas como ações importantes. Em abril, o Núcleo de Residenciais Geriátricos do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa) promoveu o Fórum Nacional das ILPIs, no qual foi lançada a Carta de Porto Alegre, contendo essas propostas.
O presidente do Sindihospa, Henri Chazan, vê avanços. "O mercado das ILPIs cresce muito por que o estigma social está se desfazendo. As pessoas estão entendendo que um idoso institucionalizado não é abandonado, pelo contrário. Ele é melhor assistido e atendido", completa.
 

* Patrícia Lima é jornalista, mestre em Literatura pela Ufrgs. Em 2016, editou, sob a coordenação do professor Luís Augusto Fischer, as crônicas das séries Inquéritos em contraste e Temas gastos, de Simões Lopes Neto, para o livro Inquéritos em contraste, publicado pela Edigal.