Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Empresas & Negócios

- Publicada em 06 de Junho de 2021 às 19:37

Cervejarias do Estado precisaram mudar o foco durante a pandemia

Presidente da AGM afirma que o impacto inicial da pandemia foi traumático

Presidente da AGM afirma que o impacto inicial da pandemia foi traumático


/Andréa Zysko/Divulgação/JC
Vinicius Appel
Entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020, o número de cervejarias subiu de 236 para 258 no Rio Grande do Sul. O levantamento, feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e apresentado no Anuário da Cerveja no Brasil, mostra que Porto Alegre foi a cidade com o maior número de cervejarias do País no ano passado, com 40 estabelecimentos.
Entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020, o número de cervejarias subiu de 236 para 258 no Rio Grande do Sul. O levantamento, feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e apresentado no Anuário da Cerveja no Brasil, mostra que Porto Alegre foi a cidade com o maior número de cervejarias do País no ano passado, com 40 estabelecimentos.
O documento não leva em conta as cervejarias ciganas, que não possuem fábrica e usam a estrutura de outras cervejarias para fabricar o seu produto. Para descobrir o real número de empresas que utilizam este modo de operação, a Associação Gaúcha das Microcervejarias (AGM) está realizando um censo.
Conforme explica o CEO da Salva Craft Beer e Presidente da AGM, João Giovanella, as cervejarias ciganas têm, normalmente, uma estrutura comercial, além de marca e distribuição própria. Neste processo, as empresas só não possuem o espaço físico, que é considerada a parte mais onerosa.
Com a chegada da pandemia, bares, restaurantes e eventos foram obrigados a paralisar suas atividades. Com isso, o setor de cervejarias se viu muito prejudicado e precisou ir em busca de novas alternativas para sobreviver à crise.
Empresas & Negócios - Como o fechamento de bares e restaurantes em razão da pandemia prejudicou as microcervejarias do Estado?
João Giovanella - As microcervejarias, via de regra, tinham a maior parte de suas demandas focadas no barril, seja para bares, restaurantes ou eventos, e estes três foram ceifados e desapareceram. Então algumas poucas cervejarias conseguiram adequar seus envases, precários que fossem, para conseguir envasar alguma coisa e colocar no mercado. Outras partiram para o growler, pegando sua chopeira, enchendo a garrafa e deixando à disposição do mercado local. Mas o volume de negócio das microcervejarias caiu muito.
E&N - Como as microcervejarias estão sobrevivendo?
Giovanella - Pelo desaparecimento dos bares, as cervejarias acabaram olhando mais para dentro. Estão atendendo muito mais seus amigos, conterrâneos e a comunidade local, para sobreviver. É uma adequação bem importante que estamos percebendo, mas claro que no primeiro momento foi traumático. Empresas que faziam 15 mil ou 20 mil litros de cerveja passaram a fazer 3 mil ou 4 mil. Outras faziam 4 mil litros e estão fazendo 500 litros. Mas agora tenho feedback de gente que diz que não quer mais fazer 20 mil ou 30 mil litros e que prefere ficar produzindo 4 mil ou 5 mil, mas vendendo a clientes mais próximos, onde é mais feliz e no final sobra o mesmo dinheiro ou mais.
E&N - Como a Associação Gaúcha das Microcervejarias atua?
Giovanella - Atuamos em diversas frentes. A primeira seria a equalização do conhecimento. Percebemos, ao longo da última década, que o interesse pela cerveja artesanal surgiu com bastante intensidade. Aconteceu que muitos empreendedores, muitas vezes mais apaixonados do que empreendedores, entravam no negócio sem uma base muito consolidada de conhecimento sobre legislação, tributação e licenciamento ambiental. A Associação acabou tendo uma importância muito determinante para equalizar o setor, para facilitar a vida de quem está entrando no negócio, e a gente vem sentindo que a manutenção desse serviço tem sido muito importante.
E&N - Qual a diferença entre uma microcervejaria e uma macrocervejaria?
Giovanella - Hoje o mercado tem se diferenciado pelo método produtivo. Nas microcervejarias, ele normalmente é muito parecido. As tinas têm uma proporção e obedecem um processo que vai passar pela mostura, pela tina filtro, pela fervura e pelo whirlpool. Quando entra na fábrica e vê a planta, seja ela com tinas de 5 mil, de 2,5 mil ou de mil litros, sabe se ela é uma microcervejaria ou não. Um tanque de fermentação da Ambev tem 800 litros, da Schin tem 600 litros. O meu maior tanque na Salva tem 20 litros. É totalmente desproporcional de uma micro para uma macro. O maior tanque que eu vi até hoje em uma microcervejaria tem 80 mil litros. Então em uma microcervejaria, o tanque de 80 mil litros, leva, no mínimo, 20 dias para rodar. Em uma macro ele gira em três ou quatro.
E&N - A microcervejaria pode ser a fase inicial para quem quer ter uma macrocervejaria?
Giovanella - No Brasil, nunca uma microcervejaria virou uma macrocervejaria. O que a gente vê são algumas microcervejarias despontando e sendo adquiridas por macrocervejarias, ou recebendo aporte de grupos de investimento.
E&N - O que move alguém a ser microcervejeiro?
Giovanella - Parece que a maioria dos microcervejeiros entrou nos negócios por paixão e vive disso. O que a gente tem visto é uma especialização. O pessoal que é mais paixão, que vive mais do comércio local, está consolidando seus brew pubs. Nesse sentido foi muito legal a virada do Simples, porque agora essas pessoas podem estar formalizadas. Antes era impossível. Uma microcervejaria não conseguia sobreviver naquele território supercomplexo da tributação das macros. Então, o pessoal está se especializando neste viés, enquanto algumas microcervejarias estão ganhando um pouco de volume e pertinência regional.
E&N - Há previsão de investimento da Salva Craft Beer para os próximos meses?
Giovanella - Nós temos um mapeamento para os próximos 10 anos. Temos um parque fabril legal, onde ocupamos um hectare e temos mais dois terraplanados para, eventualmente, receber ampliações. Estamos aumentando nossa capacidade produtiva este ano, principalmente com a aquisição da linha de envase nova. Com este processo de aquisições para aumentar a fábrica, teremos capacidade para dobrar a produção.
E&N - Como a Salva se prepara para os próximos meses frente à incerteza causada pela pandemia?
Giovanella - Nós focamos, no auge da pandemia, em adequar as linhas de envase. Já tínhamos linhas de envase aqui que estavam ociosas, não eram o nosso foco. Nós, como as outras microcervejarias, estávamos muito focados no barril. Agora focamos no pet, tendo em vista uma crise da indústria de insumos para cervejarias, acabamos acertando nesta previsão e é ali que a gente vem crescendo. Inclusive compramos uma linha nova de envase focada especificamente no pet.
E&N - Como o setor se prepara para os cenários pós-pandemia?
Giovanella - Em questão de cenários pós-pandêmicos, historicamente a economia pós-pandemia ou pós-guerra costuma ter um movimento muito acelerado de consumo. As pessoas querem viver, então, se esse for o cenário, a gente tem uma elevação nos consumos dos barris. O mercado de chopp seria fortalecido, mas eu vejo isso como um certo risco. Tínhamos muita cervejaria baixando o preço do seu negócio para disputar um mercado que nem tinha tanto a trazer. Então eu torço que essa retomada seja um pouco mais amena para que as peças continuem se encaixando de forma saudável para o desenvolvimento do setor. Eu acabei descobrindo um mercado alternativo, que é o do vasilhame, e não pretendo abrir mão dele. É um mercado mais rentável no qual quero focar. Por mais que a margem seja menor, é um pagamento em dia. Pretendo continuar focado no vasilhame e atender o tripé de bar, restaurante e eventos em parcimônia, não me expondo tanto, na esperança de que as outras cervejarias também entrem nisso com calma para não voltar para aquele redemoinho que estávamos antes.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO