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Empresas & Negócios

- Publicada em 23 de Maio de 2021 às 20:44

Remuneração associada a desempenho gera estresse

Trabalho remoto, amplamente adotado durante a pandemia, torna a situação dos funcionários ainda mais precária

Trabalho remoto, amplamente adotado durante a pandemia, torna a situação dos funcionários ainda mais precária


/tirachardz/freepik/divulgação/jc
Processos que atrelam a remuneração ao desempenho dos funcionários - e que são adotados por diferentes setores da economia, do mercado financeiro às universidade - são alavancas para jornadas de trabalho exaustivas e burnouts, diz Fernando Gastal de Castro, professor de psicologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) com doutorado sobre burnout.
Processos que atrelam a remuneração ao desempenho dos funcionários - e que são adotados por diferentes setores da economia, do mercado financeiro às universidade - são alavancas para jornadas de trabalho exaustivas e burnouts, diz Fernando Gastal de Castro, professor de psicologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) com doutorado sobre burnout.
Segundo Castro, esses métodos tornam o trabalhador "escravo" das metas e exacerbam o senso de urgência. "Tudo vira para ontem. É uma sobrecarga brutal e, se você não atinge a meta, é excluído do sistema."
Castro destaca que tanto os casos de burnout como a adoção de sistemas de meta se intensificaram concomitantemente nos últimos 30 anos. "O burnout é símbolo da irracionalidade que o mundo tem se tornado e abala setores da sociedade cada vez maiores."
Para o pesquisador, o trabalho remoto, amplamente adotado durante a pandemia, torna a situação dos funcionários ainda mais precária. "Temos um incremento do conflito entre vida pessoal e trabalho. Essa mistura torna o home office mais um elemento de sobrecarga." Castro destaca ainda que, com o home office, a lógica social desaparece do trabalho. O tempo produtivo pode se tornar maior, mas o de vida é prejudicado.
Presidente da International Stress Management Association (associação internacional que combate o estresse) no Brasil, a psicóloga Ana Maria Rossi afirma que, especificamente no setor financeiro, o estresse pode ser maior do que em outras áreas por causa da falta de previsibilidade.
"É um segmento que requer planejamento grande - as pessoas estão lidando com os recursos dos outros e vão ser cobradas por isso - em uma sociedade extremamente instável. Essa falta de previsibilidade cria um estresse adicional."
Ana Maria, porém, diz que não necessariamente o número de horas trabalhadas por dia vai significar mais estresse. "Tem gente que ama o que faz e não se importa de passar horas no escritório. O problema é quando a pessoa é pressionada por gestores a trabalhar além do horário", diz. "Muitos se veem forçados a trabalhar mais por medo de demissão ou de ser considerado aquele que não veste a camisa da empresa."
Uma carga de trabalho de no máximo 80 horas por semana - 16 horas por dia, considerando de segunda a sexta-feira - foi o pedido feito por analistas juniores no exterior à direção do Goldman Sachs. No início do ano, eles divulgaram uma série de slides em que mostravam as condições extenuantes de trabalho dos novatos no banco de investimentos.
Em média, eles trabalharam 98 horas por semana (19 horas e 36 minutos por dia) em janeiro. Os funcionários ainda apontaram queda nas condições de saúde mental. Numa escala de zero a dez, a nota atribuída ao bem-estar foi de 2,8. Antes de ingressarem no banco, era de 8,8.
O documento repercutiu no mercado financeiro globalmente. O Goldman Sachs reconheceu, em nota, que seus funcionários estão "muito ocupados". "Um ano após o início da Covid, as pessoas estão bastante sobrecarregadas e é por isso que estamos ouvindo suas preocupações e tomando medidas para resolver o problema", publicou o banco, sem dar detalhes.
Uma semana após os slides dos funcionários do Goldman se tornarem conhecidos, o Citigroup se mostrou preocupado com a situação. A presidente global do grupo, Jane Fraser, enviou um e-mail aos colaboradores em que afirmava que "a difícil separação entre casa e trabalho e o implacável expediente de trabalho pandêmico afetaram nosso bem-estar".
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