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reportagem especial

- Publicada em 20 de Dezembro de 2020 às 20:08

Fumo perde participação na renda do produtor

Dados da Afubra evidenciam a transformação econômica dos produtores filiados à instituição

Dados da Afubra evidenciam a transformação econômica dos produtores filiados à instituição


/AFUBRA/DIVULGAÇÃO/JC
A fatia do tabaco na receita do produtor vem diminuindo. O percentual, que era de 75% em 2001, passou para 49% em 2019. Essa mudança no perfil das propriedades não é resultado de ação isolada ou um movimento recente, mas se acentuou a partir de 2017 e agora ganha novo impulso. A queda de braço entre agricultores e indústria em razão do preço na safra colhida neste ano e a pandemia vêm intensificando o processo de diversificação nas propriedades rurais que tradicionalmente produzem fumo.
A fatia do tabaco na receita do produtor vem diminuindo. O percentual, que era de 75% em 2001, passou para 49% em 2019. Essa mudança no perfil das propriedades não é resultado de ação isolada ou um movimento recente, mas se acentuou a partir de 2017 e agora ganha novo impulso. A queda de braço entre agricultores e indústria em razão do preço na safra colhida neste ano e a pandemia vêm intensificando o processo de diversificação nas propriedades rurais que tradicionalmente produzem fumo.
A Covid-19 provocou uma alta na procura por alimentos saudáveis e contribuiu para a valorização e o aumento das exportações de proteína animal e grãos, pela demanda externa. Esses fatores, somados às estratégias mundiais para controle do tabaco e à mudança no perfil das famílias de produtores, faz a paisagem verde do tabaco ganhar novos contornos e cores. Cresce o espaço dedicados a outros cultivos e à criação animal.
Os dados da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) evidenciam a transformação econômica dos produtores filiados à instituição. Na safra 2017/2018, o tabaco respondeu por 53% da receita nas propriedades, participação que caiu para 49% nos dois ciclos seguintes. Já a produção vegetal, após alcançar 24% da renda em 2018/2019 com safra cheia, passou para 19% no atual ciclo em razão do mau tempo. O destaque neste ano foi a expansão do setor de proteína animal, que chegou a 32% da receita na atividade rural (veja quadro).
Segundo o presidente da Afubra, Benicio Albano Werner, o aumento de representatividade do setor de proteína animal neste ano, que alcançou quase um terço dos rendimentos, é explicado pela expansão do mercado de carnes, especialmente para exportações. Por outro lado, a estiagem impactou o volume da safra de grãos e a qualidade do tabaco. "Faltou chuva na terminação de folha (de fumo), o que reduziu qualidade e, consequentemente, receita", explica o dirigente.
"Para o agricultor se preservar de intempéries e garantir a segurança da propriedade, é necessário diversificar. Antes, muitos agricultores não produziam alimentos nem para consumo interno, e esse cenário está mudando", detalha Marines Bock, supervisora da Emater da microrregião de Santa Cruz do Sul e coordenadora do termo de parceria com a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) para diversificação ao tabaco. E complementa: "independentemente de cenário, falamos para o produtor ter várias fontes de renda. Seja agrícola ou não, como turismo, artesanato, ou mesmo fora da propriedade, quando um membro da família trabalha na cidade, por exemplo".
Além de proteger contra quebra de safra ou dificuldade comercial, a pulverização de rendimentos também ajuda em épocas de catástrofes e garante maior flexibilidade para aproveitar aumento de demanda de determinados produtos no curto prazo. Foi o caso deste ano. A pandemia fez com que as pessoas ficassem mais preocupadas com a origem do que vai parar em sua mesa, o que levou os agricultores a aumentarem a produção de alimentos.
Marines explica que há uma procura maior por feiras e os mercados locais estão priorizando comprar de produtores de sua região, especialmente hortifrutigranjeiros. "Está em expansão a criação de pequenos aviários e a legalização de agroindústrias", conta, detalhando que só o Vale do Rio Pardo chegou a 100 agroindústrias formalizadas. "A diversificação cresceu e a tendência é ser cada vez maior. Em determinada época, somente os técnicos falavam sobre diversificação. Hoje, as próprias fumageiras estimulam", destaca a técnica da Emater.

Consumo menor pressiona a cadeia produtiva

O fator estiagem foi o grande vilão deste ano, ao afetar a qualidade do produto, mas as dificuldades na definição de preço já vêm ocorrendo há, pelo menos, cinco anos. Entre os motivos estão o excesso de matéria-prima disponível e a queda no consumo mundial de tabaco.
O consumo de cigarros caiu 2% entre 2018 e 2019 no mundo, ainda assim são 5 trilhões de cigarros. Essa queda é resultado de uma pequena retração do consumo na China, destino de 40% da produção mundial.
Na outra ponta, os produtores encontram dificuldade em negociar fumo em um valor que consideram justo. "Notamos que as empresas estão procurando áreas de tabaco mais facilmente mecanizadas, pois reduz mão de obra braçal e traz rendimento maior", diz Benício Werner, presidente da Afubra.
De acordo com o dirigente, a tendência, até pela redução de custos das empresas, é haver produtores com áreas mais planas, que podem aumentar resultado com custo menor. Pioneiro no cultivo de tabaco no País, até 2005 o Rio Grande do Sul produzia fumo em morros, cuja geografia exigia maior esforço físico do produtor.
Essas regiões íngremes estão sendo abandonadas, detalha Werner, pois a idade média do trabalhador do campo está mais avançada. Hoje, há equipamentos que ajudam na lida, como plantadeiras e colheitadeiras de fumo, e é possível aumentar a área plantada em terras planas, diminuindo a exigência por mão de obra.
Outro elemento é a dificuldade de sucessão nas propriedades. É comum os filhos preferirem se estabelecer na cidade, onde há oportunidades nas indústrias, no comércio e nos serviços. E, entre os que moram com os pais, alguns se mantêm na atividade e são mais abertos para a tecnologia, enquanto outros preferem plantar alimentos, mudando o perfil produtivo.
 

Tecnologia abre espaço para outros tipos de cultivo

Dificuldades com mão de obra para a lavoura de tabaco levaram a família Schimuneck a investir em máquinas

Dificuldades com mão de obra para a lavoura de tabaco levaram a família Schimuneck a investir em máquinas


/arquivo pessoal/divulgação/jc
As dificuldades com mão de obra para a lavoura de tabaco levaram a família Schimuneck, de Linha Tangerinas, no interior de Venâncio Aires, a buscar outra fonte de renda. Com a experiência positiva nas vendas do excedente da produção de milho, Marcos Antonio, 48 anos, e a esposa, Jussara, 44 anos, decidiram investir mais no cereal e começar a produzir soja.
"Sempre gostei de agricultura. Não tinha plantadeira, mas tinha trator, e estavam sobrando áreas na redondeza", relata o agricultor, que conta ainda com a ajuda do filho, Douglas, 19 anos, enquanto a caçula do casal, Milena, 8 anos, estuda. Foi então que a família passou a investir para não depender só do tabaco em razão dos problemas com a falta de empregados. "Vimos que soja e milho precisavam de pouca mão de obra", diz. Há 10 anos, quando decidiu plantar soja, o agricultor lembra que muitos na comunidade o chamavam de "louco" em razão da pequena área da propriedade, já que a soja, para garantir rentabilidade, precisa de mais hectares. Mas Schimuneck não apenas se manteve firme no propósito como arrendou terras, investiu e foi em busca de assistência técnica.
Além da propriedade de 13,5 hectares, onde consorcia tabaco, milho e soja, a família arrenda outros 30 hectares, destinados exclusivamente ao milho e à soja. "A vantagem de ter mais de uma fonte de renda é que, quando uma não traz retorno, consegue-se compensar com outra", alega Schimuneck.
Hoje, ele possui um pavilhão que abriga colheitadeira, dois tratores, plantadeira e graneleiro. "Tenho tecnologia de ponta, o custo é alto, mas vale a pena", afirma, explicando que presta serviços para terceiros quando as máquinas estão ociosas. Ano passado, construiu uma estufa contínua e comprou uma máquina de colher fumo. Praticamente só a família trabalha, com ajuda de um funcionário. Enquanto toda a produção de tabaco e de soja são comercializados, a maior parte do milho fica na propriedade para alimentar galinhas e porcos, além da produção de grãos e silagem.
Apesar de não depender exclusivamente do tabaco, Schimuneck esclarece que o fumo, cuja colheita está na fase final, ainda é o que traz o melhor resultado para a propriedade. No ano passado, com a seca, mesmo com perda de qualidade, a planta aguentou mais do que soja e milho, recorda o agricultor que planta fumo desde que jovem, quando morava com os pais.
"Trabalhei e investi sabendo que meu filho vai permanecer. Sei que são poucos os jovens que ficam no campo", lamenta, e sentecia: "Vai chegar uma hora em que o produtor será mais valorizado, porque muitas pessoas terão dinheiro, mas poderão não ter alimento para comer."
 

Indústrias antecipam compras a pedido de entidades do setor

As compras das indústrias do ciclo 2020/2021 começaram neste ano. As negociações foram antecipadas por algumas empresas, após pedido da Afubra, com apoio das Federações dos Sindicatos Rurais (Farsul, Faesc e Faep) e Federações dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep) de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Em resposta, a Tabacos Marasca declarou que já começou a negociar. Universal Leaf, JTI Processadora de Tabaco, CTA, ATC e Philip Morris informaram que iniciam suas compras em dezembro. Já as empresas Alliance One, BAT Brasil (Souza Cruz) e China Brasil darão início ao processo em janeiro, destacando que auxiliarão seus produtores, caso necessário.
O pedido das entidades veio após uma longa e desgastada negociação da safra anterior. "Os fumicultores vêm de uma safra com pouca e, em algumas regiões, sem nenhuma rentabilidade. Muitos sequer conseguiram comercializar toda a safra", destaca o presidente da Afubra, Benício Werner.
Segundo o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Iro Schünke, no último ciclo, a falta de qualidade prejudicou a colheita nos três estados do Sul, o que impacta no valor pago ao produtor, enquanto o volume foi satisfatório, em torno de 603 mil toneladas nos três estados, segundo levantamento entre seus associados.
O número tem uma pequena diferença do balanço de safra da Afubra, que ficou em 633 mil toneladas colhidas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, queda de 4,71% sobre o anterior, que totalizou 664 mil toneladas.
Entre os três, o Rio Grande do Sul foi o único a registrar queda de produtividade. Na variedade Virgínia, que representa quase 90% da produção, a redução foi de 15,6%, caindo de 2.244 quilos por hectare para 1.895 quilos por hectare. Isso fez com que os municípios gaúchos perdessem posições no ranking de produção. Neste ciclo, o maior produtor foi São João do Triunfo (Paraná), que alcançou média de 2.347 quilos por hectare, seguido de Canguçu (RS), Itaiópolis (SC), Rio Azul (PR), Canoinhas(SC), Venâncio Aires (RS), São Lourenço do Sul (RS), Ipiranga (PR), Santa Terezinha (SC) e Prudentópolis (PR).
Para a próxima safra, a expectativa é de novo encolhimento no volume, considerando-se os três estados do Sul, dessa vez resultado de menor área plantada na região. A Afubra estima que sejam colhidas em torno de 606,9 mil toneladas de fumo, retração de 4% sobre 2019/2020.
A área foi reduzida em 6%: passou de 290.397 hectares para 273.356 hectares na atual safra. Já o Rio Grande do Sul deve produzir 263.971 toneladas de tabaco. Comparando o tempo da safra atual com a passada, o presidente da Afubra pondera que há melhora, no geral, mas algumas localidades específicas voltaram a sofrer com estiagem neste ano.
 

Plantio de hortigranjeiros reduz a dependência do tabaco

Depois de conhecer o cultivo em estufa na cidade de Feliz junto a técnicos da Emater, a família Bernardy decidiu diversificar a produção

Depois de conhecer o cultivo em estufa na cidade de Feliz junto a técnicos da Emater, a família Bernardy decidiu diversificar a produção


/Hortifruti Bernardy/divulgação/jc
Na propriedade da família Bernardy, no interior de Arroio do Tigre, os únicos alimentos que vêm de fora são arroz, farinhas de trigo e de milho e açúcar. O restante é produzido nos 17 hectares de terra. Há quatro anos, era outra realidade. A maior parte da área estava dedicada ao tabaco, onde já chegaram a plantar quase 100 mil pés. Hoje, são cerca de 25 mil e a tendência é reduzir para cerca da metade.
O fumo sustentou Wellinton Rafael Bernardy, 25 anos, seus pais Cledes e Pedro Bernardy, ambos 56 anos, e o irmão Cleiton, 32 anos, até poucos anos atrás. Em 2016, quando o patriarca viu que o pagamento da colheita não estava cobrindo os custos de mão de obra, foi a Feliz conhecer o cultivo de hortifrutigranjeiros em estufa, junto a técnicos da Emater.
No mesmo ano, Wellinton concluía o curso técnico em agricultura e retornava para a propriedade. Foi quando o pai decidiu montar uma primeira estufa para teste. Outras duas foram implantadas no mesmo ano e a família iniciou ali uma nova produção.
Hoje, são 17 culturas, num total de 10 mil plantas, distribuídas em 11 estufas que ocupam cerca de dois hectares. As principais são morango, tomate, alface, rúcula e temperos. "Investimos muito na propriedade. A primeira estufa foi financiada, depois fizemos mais três, depois mais cinco, e hoje estamos concluindo um pavilhão", detalha o jovem, que trabalha ao lado dos pais na propriedade. A ideia é usar o espaço para armazenar, lavar e embalar os morangos, cuja produção é rastreada para venda em supermercados.
O pavilhão tem ainda uma área para abrigar o maquinário, como tratores e implementos, e veículos, além de espaço para receber as pessoas. "É um local campeiro para quem vem até a propriedade para buscar alimentos e tomar um mate", conta Wellinton, que estuda Desenvolvimento Rural na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Além do consumidor final, a Hortifruti Bernardy fornece para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
No restante da área, a família planta soja para obter uma receita extra e não deixar a terra ociosa, além de milho. Para armazenar o cereal, foi instalado um silo. Há ainda melancia e cebola. Em paralelo à produção vegetal, os Bernardy criam animais para subsistência e para atrair visitantes. Tem coelho, ovelha, gado, porco, galinha e garnizé. E, em breve, os animais devem ganhar a companhia de outras espécies de aves. O objetivo é investir em turismo rural.
"Trabalhamos num sistema autossustentável. Os resíduos das folhas verdes vão para os animais e o esterco serve de adubo para as plantas. É um ciclo completo", explica Wellinton. O jovem relata que a produção é ecológica, mas como os vizinhos, que são muito próximos, utilizam agroquímicos na produção de soja, a Hortifruti Bernardy não conseguiu o selo de orgânicos.
 

Compromisso internacional contribui para o controle do consumo de cigarros

Werner destaca importância de preparar associados para o futuro

Werner destaca importância de preparar associados para o futuro


/luiz fernando bertuol/divulgação/jc
O Brasil teve papel fundamental na adoção de medidas restritivas ao cigarro em âmbito internacional. O País coordenou o processo de elaboração da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), da Organização Mundial da Saúde (OMS), instituída em 2005. Ao aderir à CQCT no ano de seu lançamento, o Brasil se comprometeu a cumprir metas de controle do tabaco. Uma das cláusulas é justamente a promoção e o apoio a atividades economicamente viáveis à produção de fumo na perspectiva do desenvolvimento sustentável.
A atuação da CQCT ajudou a estabelecer diretrizes de políticas públicas e a reduzir o consumo de cigarros em países como o Brasil, Austrália e Reino Unido. A China, que também ratificou o acordo, vem adotando medidas mais rígidas, após ver disparar o consumo com aumento de 20% entre 1986 e 2012 (dado mais recente), ultrapassando 2,5 trilhões de unidades.
Um dos projetos em andamento no Brasil é o da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). Pelo programa, 13.041 famílias dos três estados do Sul recebem apoio técnico. No Rio Grande do Sul, o programa é executado pela Emater. Marines Bock, supervisora da Emater e coordenadora do termo de parceria com a Anater no Estado, ressalta que, nas propriedades onde tem jovens, a diversificação é maior, assim como o interesse pela produção mais limpa, inclusive ecológica.
Com esse novo perfil produtivo florescendo, a Emater da microrregião de Santa Cruz do Sul ajudou a criar uma Organização de Controle Social (OCS), onde seus integrantes certificam a produção orgânica. Agora, está em formação um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC). "Esse movimento mostra que há produtores e consumidores dispostos a investir na produção e no consumo de produtos sem agrotóxicos", explica Marines.
As iniciativas para evitar a monocultura são bem mais antigas e não se restringem a projetos de governo. O estatuto de fundação da Afubra, há 65 anos, contemplava a diversificação das propriedades. Além de assistência técnica, seminários, dias de campo, a entidade promove o evento que se transformou na maior feira da agricultura familiar do Estado, a Expoagro Afubra, que contempla ainda tecnologias e inovações para a produção de tabaco e de grãos.
Apesar de o tamanho médio das propriedades ser de 13,7 hectares, segundo a Afubra, alguns produtores vêm consorciando tabaco e grãos por meio de arrendamento de terras, estimulados por preços recordes da soja e do milho. Atento a esse novo nicho, a Afubra está instalando uma unidade de recebimento de grãos para atender associados e clientes das regiões da Matriz (Santa Cruz do Sul) e das filiais de Venâncio Aires, Candelária e Cachoeira do Sul. Com a concretização do projeto, estuda-se a expansão da atividade para filiais.
"Temos que preparar a associação para o futuro, isso não significa que o cultivo do tabaco irá terminar. A questão é que está diminuindo e precisamos orientar o produtor", afirma Benício Werner, presidente da Afubra.

Depois de 20 anos, lavoura de fumo dá lugar à agroindústria de ovos

Família Rosa divide a área entre criação de aves e canteiros com alimentos

Família Rosa divide a área entre criação de aves e canteiros com alimentos


/Família Rosa/arquivo pessoal/jc
Após duas décadas cultivando tabaco, este é o primeiro ano que a família Rosa, de Vale Verde, não semeou uma única muda da planta. O esforço foi concentrado na formalização da agroindústria TMF Ovos Coloniais e na produção de hortaliças, que ganhou reforços. A área de 3,5 hectares, que já chegou a abrigar 78 mil pés de fumo, agora divide o espaço entre a criação de aves e os canteiros com alimentos.
Tania Maria Fonseca Rosa, 47 anos, e o marido, Marcelo de Oliveira Rosa, 46 anos, sempre se dedicaram à agricultura de subsistência. Cultivavam aipim, batata, verduras, milho, além de criarem vacas de leite e terneiros. "Sempre tivemos a ideia de plantar mais, mas não em comercializar. Começamos quando nosso filho entrou no colégio agrícola de Santa Cruz do Sul, em 2015", lembra a agricultora, contando que Luiz Fernando, hoje com 20 anos, divide as tarefas com os pais na propriedade. O maior volume vai para o consumidor final, outra parte é destinada ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), para famílias carentes atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).
O filho também incentivou a criação da agroindústria. O plano de trabalho de Luiz Fernando no curso técnico era de uma agroindústria de ovos coloniais, que neste ano se formalizou. Os Rosa começaram com 300 galinhas, com uma média de 240 ovos por dia. A ideia é aumentar para 700 aves até fevereiro de 2021, o que vai depender da demanda e da adesão de Vale Verde ao Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf) para poder vender para todo o Estado.
A expectativa é grande para que o município receba o selo do Susaf, afinal de contas, a agroindústria se tornou a principal fonte de renda da família. E vai dar mais segurança, até pela decisão de não plantar mais tabaco. "Meu marido achava que não ia conseguir sem o fumo, hoje ele está mais tranquilo. E está mais faceiro, diz que plantar verdura é brincadeira, que até dá serviço, mas é mais prático e menos trabalhoso que as lavouras que nos sustentaram por 20 anos", diz Tania, que completa: "Me sinto bem mais feliz. Chego a brincar, com a enxada na mão, na horta, estou feliz da vida. Gosto do que faço, no fumo, era obrigada".
Sobre o retorno financeiro da nova atividade, a agricultora afirma que compensa. "Não vamos ficar milionários, mas nem com fumo íamos ficar". Antes, no tabaco, o trabalho era durante o ano todo e o resultado vinha de uma vez só, com um valor alto. Já nas verduras, raízes e tubérculos é "pingadinho", mas Tania destaca que se consegue fazer todas as atividades com mais tranquilidade.
Outro desafio para os três, agora, é trabalhar com agroecologia e conquistar o selo orgânico. O caminho é longo, pois é preciso tempo para preparar a terra, que hoje ainda recebe adubo, além do esterco das galinhas. Mas agrotóxico já não faz parte do dia a dia dos Rosa.

Participação de cigarros ilegais cai em função da pandemia

Schünke diz que, apesar na redução da venda de marcas contrabandeadas, esse ainda é o principal problema do setor

Schünke diz que, apesar na redução da venda de marcas contrabandeadas, esse ainda é o principal problema do setor


/SINDITABACO/DIVULGAÇÃO/JC
A participação das vendas de cigarros ilegais no Brasil caiu cinco pontos percentuais este ano. A retração começou a partir de março, quando teve início a pandemia. Passou de 56% para 51% em setembro. Os dados são da Kantar Worldpanel, empresa de dados, insights e consultoria. "Apesar da diminuição, esse continua sendo o principal problema para as cigarreiras", diz Iro Schünke, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco).
A queda de participação do mercado ilegal é resultado do fechamento da fronteira com o Paraguai em razão da Convid-19 e também de fábricas que encerraram as atividades naquele país. Também ocorreu uma alta nos custos de produção em função da desvalorização do real. Isso fez com que o cigarro ilegal ficasse mais caro, passando de uma média de R$ 4,00 para R$ 4,25, enquanto os preços internos se mantiveram praticamente estáveis.
Além disso, houve aumento do volume de apreensões de cigarros contrabandeados. Também a partir da pandemia, caiu a disponibilidade dos produtos no Brasil com o encolhimento do mercado informal, com menos ambulantes nas ruas. Esse canal equivale a cerca de 9% das vendas dos ilegais.
Porém, essa perda de mercado dos ilegais tende a ser revertida a partir da retomada das atividades econômicas, explica Delcio Sandi, diretor de Relações Externas da BAT Brasil (novo nome da Souza Cruz, controlada da marca British American Tobacco). Segundo o executivo, "não existe bala de prata para combate, mas medidas que devem olhar oferta e demanda".
São dois eixos principais defendidos pela indústria: fiscalização e repressão. Dentro desse escopo, estão as ações de proteção das fronteiras, com o fortalecimento do programa Vigia, do governo federal, um número maior de agentes da Receita Federal, ações das polícias militares e civis, com formação de forças tarefas estaduais e aumento da penalidade para quem comete esse tipo de crime, que movimenta R$ 11 bilhões.
"O mercado brasileiro de cigarros ilícitos é tão atrativo que recebe produtos da Coreia do Sul, Estados Unidos e Inglaterra", conta Sandi. Das 10 principais marcas comercializadas, cinco são ilegais, inclusive a mais vendida: a Eight, que detinha 10% do mercado brasileiro em 2015 e subiu para 16% em 2019. Todas as marcas ilegais aumentaram market share.
Para se ter uma ideia, a BAT, líder na produção brasileira de cigarros, detinha 71,9% do mercado nacional em 2010, enquanto os ilegais representavam 26%. Em 2019, a BAT caiu para 38,4%, enquanto os produtos ilícitos subiram para 57%. Quanto às vendas, a BAT Brasil vendeu 38,4 bilhões de cigarros em 2019. Em 2020, o volume de vendas deve alcançar 40 bilhões. Será a primeira vez, nos últimos 10 anos, que esse número volta a crescer.
 

*Karen Viscardi

Formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs), Karen Viscardi atuou como editora no Jornal Zero Hora e como editora e repórter no Jornal do Comércio.