O agrônomo Eduardo Caierão, pesquisador da Embrapa de Passo Fundo, reconhece que tanto no Sul como no Centro-Oeste existem áreas para produzir o volume suficiente de trigo para abastecer o País. Ocorre que, por problemas de clima, solo e manejo das lavouras, os produtores não conseguem extrair todo o potencial do material genético disponível.
Provas pontuais indicam que há sementes capazes de produzir regularmente 6 mil quilos por hectare no Estado, mas, na prática, o rendimento médio raramente passa de 3 mil kg/ha. Por isso os produtores deixam de investir no trigo, ainda assim a maior lavoura de inverno do Rio Grande do Sul, seguida de longe pela cevada, o centeio, a aveia e o triticale. No território gaúcho, não passa de 1/6 o uso com trigo das terras cultivadas com soja: este ano, foram 930 mil hectares de trigo para 5,9 milhões de hectares de soja.
Avaliando a perspectiva da triticultura no Cerrado, Caierão considera vã a esperança de que essa região se torne um novo celeiro do trigo, não pelo potencial genético do cereal em si, mas porque ali os produtores se acostumaram a ganhar bem com diversas lavouras irrigadas. Já em cultivos de sequeiro, o pesquisador não acredita que a produção, a longo prazo, chegue a 2 milhões de toneladas.
Portanto, para o especialista, o abastecimento tenderia a continuar dependendo de importações, não só porque é grande a oferta mundial de grãos de qualidade, mas em função de a maioria dos moinhos brasileiros estar perto dos maiores portos, no litoral. Para os do Nordeste, é mais barato comprar na América do Norte do que no Sul do Brasil.