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- Publicada em 23 de Novembro de 2020 às 03:00

Ouviravida luta pela continuidade da educação na Bom Jesus

Iniciativa agora é desenvolvida em grupos para diferentes turmas criados no aplicativo WhatsApp

Iniciativa agora é desenvolvida em grupos para diferentes turmas criados no aplicativo WhatsApp


/Divulgação/Sofia Cortese
João Pedro Rodrigues
A música precisou encontrar novos caminhos para chegar até os alunos do Ouviravida durante a pandemia. O projeto de educação musical popular que promove aulas gratuitas para crianças em situação de vulnerabilidade social e econômica da Vila Pinto, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, teve o seu ensino prejudicado na quarentena diante da impossibilidade de realizar atividades presenciais e das limitações digitais apresentadas pelos seus alunos. Foi através do Whatsapp que os organizadores encontraram uma maneira de disponibilizar os materiais necessários para a continuidade dos estudos.
A música precisou encontrar novos caminhos para chegar até os alunos do Ouviravida durante a pandemia. O projeto de educação musical popular que promove aulas gratuitas para crianças em situação de vulnerabilidade social e econômica da Vila Pinto, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, teve o seu ensino prejudicado na quarentena diante da impossibilidade de realizar atividades presenciais e das limitações digitais apresentadas pelos seus alunos. Foi através do Whatsapp que os organizadores encontraram uma maneira de disponibilizar os materiais necessários para a continuidade dos estudos.
Após uma parada realizada no final de março, quando a pandemia chegou ao Brasil, o projeto buscou entrar em contato com os alunos para cadastrar o número de telefone daqueles que possuíam e criar os grupos de Whatsapp para as diferentes turmas. A partir daí, os professores passaram a postar as aulas todas as segundas-feiras de manhã para que as crianças pudessem acompanhar e treinar em casa. As quartas e quintas-feiras foram reservadas para tirar dúvidas.
A professora de piano e teclado e coordenadora pedagógica do Ouviravida, Nisiane Franklin, no entanto, conta que grande parte dos alunos não têm conseguido assistir às aulas pois não têm celulares disponíveis e, mesmo que tenham, são dispositivos com capacidades limitadas. "Os aparelhos de celular dos nossos alunos não comportam. Não dá para baixar um Zoom ou um Meet, porque não tem dados", relata. Segundo ela, foram cadastrados 100 números de telefone, que representam cerca de 80 alunos. Muitos cadastraram mais de um em função de terem que utilizar aparelhos de diferentes familiares em diferentes horários.
Em razão destas dificuldades, o contato com os professores é feito através de áudios e pequenos vídeos disponibilizados no próprio Whatsapp. Até mesmo uma chamada de vídeo no aplicativo é difícil, sendo necessárias inúmeras tentativas para que se consiga entrar em contato uma vez.
Outro problema enfrentado durante a quarentena foi o fato de que muitos dos telefones cadastrados pertenciam aos familiares dos alunos, que não tiveram a opção de parar de trabalhar e precisaram sair de casa com os aparelhos. Por isso, muitas crianças não conseguiam participar das aulas nos horários estabelecidos e acabavam sendo prejudicadas.
É o caso de Daniel Garcia Rodrigues, de 12 anos. Participante assíduo das aulas de canto e flauta antes da pandemia chegar, ele ficou impossibilitado de fazê-las nos primeiros meses de quarentena. Isso porque sua mãe precisava ir ao hospital acompanhar a sua avó, que estava internada, e o seu pai precisava ir trabalhar. "Eu não tinha telefone ainda. Eu usava o da minha irmã, mas não dava para entrar nas aulas", conta.
Em razão desta dificuldade de acesso, ele também ficou impossibilitado de acompanhar as aulas do seu colégio, onde está no 5º ano do Ensino Fundamental. Esta é uma realidade enfrentada por diversas crianças do projeto de acordo com Nisiane. "Para a maioria dessas crianças, o Ouviravida é o único contato que elas estão tendo com alguma forma de educação", diz.
Depois de um esforço do projeto para ajudar o aluno, porém, foi disponibilizado um celular para que ele pudesse dar seguimento às aulas. "Eu gosto muito do Ouviravida. Pretendo tocar mais instrumentos e conhecer mais coisas", afirma. Assim, quando consegue uma doação de aparelho, o Ouviravida paga um crédito mensal para o aluno. A contrapartida é que ele tem participar de todas as aulas, fazer todas as tarefas e cumprir com todos os deveres do estudante dentro do curso.
Outra solução encontrada para o problema foi a oferta de aulas no período da noite. Assim, quando os familiares do aluno chegam em casa após o trabalho, ele ainda tem a possibilidade de participar das atividades. "Isso deu um fôlego bem bacana, porque nós vimos que ali foi a maior adesão mesmo", diz a coordenadora. "Temos conseguido manter a motivação dessas crianças".
Agora, frente à provável continuidade do ensino remoto no ano que vem, a ideia do grupo é realizar uma oficina digital junto às crianças e suas famílias a fim de melhorar a qualidade das aulas. O propósito é verificar a real capacidade dos celulares disponíveis para os alunos a fim de trazer um diferencial para o funcionamento do ensino. "Nós ficamos super satisfeitos com o nosso resultado, mas, na nossa avaliação, o formato de aulas só pelo Whatsapp se esgotou. Estamos pensando em mudar, porque senão as crianças cansam", reflete Nisiane. "Esses projetos, às vezes, são a única opção que essas crianças têm de enxergar um futuro diferente. Isso é o que mais traz satisfação para a gente", conclui.
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