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Empresas & Negócios

- Publicada em 23 de Novembro de 2020 às 03:00

Superdigital apostana inclusão financeira da população

Propósito da empresa é democratizar os serviços bancários, diz a executiva

Propósito da empresa é democratizar os serviços bancários, diz a executiva


Superdigital/Divulgação/JC
Marcelo Beledeli
Quando se fala em fintech (startups financeiras), geralmente a ideia que vem a cabeça do usuário padrão dessas empresas é um jovem millennial de classe alta querendo ganhar dinheiro de forma inovadora. No entanto, desde sua criação, a Superdigital vem apostando em um público bastante diferente: pessoas de renda baixa e desbancarizadas, que não conseguem ter acesso aos pacotes de serviços dos grandes bancos, ou mesmo estão com o nome sujo para obter crédito.
Quando se fala em fintech (startups financeiras), geralmente a ideia que vem a cabeça do usuário padrão dessas empresas é um jovem millennial de classe alta querendo ganhar dinheiro de forma inovadora. No entanto, desde sua criação, a Superdigital vem apostando em um público bastante diferente: pessoas de renda baixa e desbancarizadas, que não conseguem ter acesso aos pacotes de serviços dos grandes bancos, ou mesmo estão com o nome sujo para obter crédito.
Criada em 2012, ainda como ContaSuper, a Superdigital foi comprada pelo Santander em 2016 (antes o banco de origem espanhola tinha apenas uma participação na fintech). O foco está em clientes que ganham de um a dois salários-mínimos e, sobretudo, nas folhas de pagamento de alto turnover, como call centers e construção civil.
A Superdigital funciona como uma conta 100% digital que permite realizar diversas transações financeiras pelo celular, como pagar contas, comprar com um cartão internacional de bandeira Mastercard, recarregar celular, entre diversas outras funcionalidades. A aceitação tem sido forte: 1,6 milhão de clientes já transacionaram na base de dados da fintech.
Para ganhar espaço entre os 36 milhões de desbancarizados que existem no Brasil, os serviços oferecidos pela empresa precisam ser simples e sem cobranças de tarifas, explica a diretora presidente da Superdigital, Luciana Godoy. De acordo com a executiva, o propósito da empresa é democratizar os serviços bancários: em apenas cinco minutos, qualquer pessoa pode abrir uma conta e gerenciar sua vida financeira sem burocracias, pelo celular.
Empresas & Negócios - O que levou o Santander a investir na Superdigital?
Luciana Godoy - A superdigital já tinha conceito de trabalhar em cima de bancarização. Ela surgiu como um cartão pré-pago, e a intenção era que fosse uma oferta complementar ao banco, prospectando aqueles clientes que estão fora do mercado, desbancarizados.
E&N - Qual o tamanho deste público?
Luciana - Antes da Covid-19, estimava-se 45 milhões o número de desbancarizados no Brasil. Com todo o movimento de digitalização da população durante a pandemia, com o maior uso de soluções financeiras digitais, quase 10 milhões de brasileiros se bancarizaram desde março, segundo o Banco Central. É um grande salto se comparado com ano passado, quando, no mesmo período, 6,5 milhões entraram no sistema financeiro. Mas ainda temos um número ainda muito alto que está fora dele, perto de 36 milhões de desbancarizados. O nosso objetivo então é levar essas pessoas para esse mercado, fornecendo contas e serviços mais simples.
E&N - Como é o perfil dos clientes?
Luciana - Temos 1,6 milhão de clientes que já transacionaram na nossa base, da classe C e D. Esse volume está bastante concentrado ainda em um público jovem: 65% deles têm até 34 anos. No entanto, no período da pandemia, a gente percebeu clientes de uma faixa etária mais elevada ingressando. Esse movimento aconteceu por que essas pessoas tiveram que se adaptar a esse novo modelo. Outro ponto é que 80% de nosso negócio é focado em folha de pagamento, atendemos empresas com muitos funcionários, como call centers, prestadores de serviços terceirizados e construção civil. Também estamos começando a atender pessoas que trabalham para empresas digitais, como Uber e Rappi.
E&N - Quais as vantagens em relação a uma conta tradicional?
Luciana - Não temos cheque especial, ou crédito associado, então nossas validações são simplificadas. Somos uma conta para todos, até para quem está negativado, ou tem problemas no Serasa. Servimos inclusive como uma forma para esse cliente voltar para o sistema financeiro. Isso faz com que tenhamos um acesso interessante a boa parte da população.
E&N - Apesar da grande entrada de pessoas no sistema financeiro, 36 milhões de pessoas desbancarizadas ainda é um montante muito alto. Quais as principais barreiras para incluir essa população no sistema?
Luciana - Uma grande dificuldade é a falta de entendimento. Nós mesmos discutimos se, para conseguir uma melhor comunicação com nosso público alvo, não deveríamos fazer mais vídeos ao invés de textos, fazendo uso do YouTube, por exemplo. Quem conseguir se comunicar melhor com esse cliente vai trazer ele para o sistema de forma mais confortável. Além disso, em pesquisas que fizemos, esbarramos na questão do receio mesmo. "Fazer uma conta vai comer meu dinheiro", "meu dinheiro vai ficar preso", esse tipo de medo. E algumas pessoas mais idosas dizem que não vão saber usar. É preciso respeitar esses medos e tentar a melhor forma de se comunicar e educar esse público. Além disso, é necessário investir na simplificação de processos, redução de tarifas, fazer com que o serviço financeiro fique mais barato e acessível para a população.
E&N - O Pix pode contribuir para esse processo?
Luciana - O Pix é uma oportunidade interessante para bancarização. Ele tem um ponto muito bom que é reduzir ainda mais a circulação de papel-moeda, incentivando o uso de outros meios. E a questão de poder fazer transferências on-line gratuitas é muito importante para o cliente da classe C e D, para quem as tarifas bancárias pesam mais. Mas, principalmente, o Pix vai ajudar a trazer confiança para o cliente que ele pode fazer atividades financeiras de forma rápida e simples, ajudando a trazer ainda mais essa população para o mundo digital. E o plano do Banco Central é, em breve, permitir o pagamento de contas pelo Pix. Se você pensar que esse público tem o hábito de pagar em lotérica, pegando fila usando dinheiro em espécie, a mudança será um grande incentivo para bancarização da população. Mas teremos que investir fortemente em segurança digital. O problema de fraudes no Brasil é crítico, e bancos e fintechs terão que olhar isso com atenção.
E&N - Como a pandemia afetou os negócios da empresa?
Luciana - Nos primeiros meses nosso canal de folha de pagamento deu uma travada, pois o mercado demitia e parou de contratar. As folhas só voltaram a contratar em setembro. Entre março e abril a base de clientes teve queda, comprometeu em 10% nosso objetivo. Operávamos folhas de pagamento de shopping centers, que fecharam, e as pessoas desligadas saíam da base por que deixavam de movimentar. Mas em outros pontos, como transacionalidade, tivemos crescimentos surpreendentes. Em volumes de compras, faturas, compras online, faturamento de cartão, a gente começou a se recuperar a partir de julho, e já batemos em agosto e setembro números que fizemos em dezembro do ano passado, quando havia venda de Natal. Também tivemos uma captação grande de clientes que precisaram receber seus auxílios, seja emergencial ou FGTS. E tivemos que criar algumas soluções. Nas folhas de pagamento, por exemplo, somos contratados pela empresa para atender aos funcionários fornecendo um cartão pré-pago em que é depositado o salário dele. Esse cartão geralmente fica no RH da empresa, que entrega ao funcionário. Mas com o movimento das pessoas terem que ficar em home office, as empresas não conseguiam entregar os cartões. Então criamos uma solução para que os funcionários pudessem fazer saques de dinheiro, pagamentos de contas e transferências em caixa eletrônico sem precisar do cartão.
E&N - Quais as expectativas para 2021?
Luciana - Deve ser um ano promissor para o setor financeiro como um todo, em especial com as mudanças e tendências que serão trazidas com o Pix. Em relação aos negócios da Superdigital, esperamos incrementar nossa expansão, especialmente na América Latina. Já temos operação no Chile e no México, e fazendo testes na Argentina. Os países da região possuem um grande contingente de desbancarizados e, portanto, existe um temendo potencial de negócios.
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