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reportagem especial

- Publicada em 12 de Outubro de 2020 às 21:08

Um ano perdido para as festas e os eventos típicos do RS

Organização da festa germância espera definir protocolos sanitários e lotação diária nas próximas semanas

Organização da festa germância espera definir protocolos sanitários e lotação diária nas próximas semanas


agência francisco frantz/divulgação/CIDADES
As festas típicas e os eventos do agronegócio, que costumam movimentar a economia de muitos municípios do Rio Grande do Sul, mudaram radicalmente neste ano. Com a pandemia de coronavírus, a obrigatoriedade de adotar distanciamento social e outras medidas sanitárias, boa parte das programções foi cancelada. Quem arriscou manter a edição deste ano, caso da Expointer e da Expofeira de Pelotas, encontrou na internet uma aliada importante para manter as tradições e não desistir mesmo em um ano considerado perdido.
As festas típicas e os eventos do agronegócio, que costumam movimentar a economia de muitos municípios do Rio Grande do Sul, mudaram radicalmente neste ano. Com a pandemia de coronavírus, a obrigatoriedade de adotar distanciamento social e outras medidas sanitárias, boa parte das programções foi cancelada. Quem arriscou manter a edição deste ano, caso da Expointer e da Expofeira de Pelotas, encontrou na internet uma aliada importante para manter as tradições e não desistir mesmo em um ano considerado perdido.
Um ano atrás, por exemplo, a família Schimmelpfennig estava mergulhada em sonhos e expectativas com o início das atividades da agroindústria instalada em sua propriedade, na localidade de Colônia Santana, no interior de Turuçu, no Sul gaúcho. Semanas depois, os integrantes participaram da Festa do Morango e da Pimenta, promovida pela prefeitura e, em seguida, estiveram na tradicional Expofeira de Pelotas. Assim, viram a renda mensal de R$ 3 mil triplicar com a venda de conservas, doces e geleias nos eventos.
Para este ano, a realidade não poderia ser mais diferente: a primavera não terá festas, feiras ou grandes acontecimentos no Estado. A pandemia de Covid-19 mudou o cenário e, por todo interior do Rio Grande do Sul, feiras agropecuárias e festas regionais são canceladas ou migram para os meios digitais, alterando culturas quase seculares e atingindo em cheio a economia de famílias de agricultores e setores inteiros. Foi o caso recente da Expointer, em Esteio, e da Expofeira de Pelotas, cujas edições de 2020 ocorrem apenas virtualmente.
"O impacto é muito grande pois, há dez anos, temos na festa o momento para vender nossa produção, que antes era comercializada in natura e agora processada. O resultado foi tão bom, no ano passado, que pensamos em ir para a Expointer. Mas, agora, temos esperar 2021 e ver o que acontece", comenta Francine Schimmelpfennig, que contabiliza uma redução de 40% na renda mensal da família ao longo do ano. Além da ausência das feiras, a situação foi agravada pelo fechamento temporário da cooperativa pela qual vende seus produtos, também em função da pandemia.
A perda de renda e de oportunidade de trabalho que afeta os Schimmelpfennig atinge em cheio, segundo dados da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf), outras 300 agroindústrias da agricultura familiar no Rio Grande do Sul, que costumam participar de diferentes festas e feiras espalhadas pelo território gaúcho.
A estimativa dos técnicos da entidade aponta para uma redução média de 30% da renda dessas famílias. O presidente da Fetraf, Rui Valença, lembra que o setor já sofre com a perda de outras frentes importantes de negócios, como o fornecimento de alimentos para merenda escolar e programas públicos de aquisição de alimentos, o que agrava mais a crise.
A dificuldade de logística para envio dos produtos e os custos de transporte desse tipo de mercadoria são apontados por representantes do setor como empecilho ao ingresso de agroindústrias familiares no e-commerce. "Uma coisa é a venda de uma máquina agrícola, outra é vender a produção da agricultura familiar, pois os valores são pequenos e não compensam o custo de entrega", analisa Carlos Joel Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS).
Uma das tentativas de amenizar o baque para parte desses produtores veio do maior evento agropecuário do Estado: a Expointer. Atingida em cheio pela pandemia, a feira, que em 2019 movimentou R$ 2,66 bilhões, neste ano ocorreu apenas virtualmente. No entanto, as cerca de 50 bancas da agricultura familiar que participaram da Expointer Digital puderam comercializar suas delícias no formato drive thru, e o resultado foi bem positivo, com 2 mil veículos indo até o Parque Assis Brasil, em Esteio, em busca dos produtos.

Cavalo crioulo online

Criadores da raça se adaptaram à nova realidade

Criadores da raça se adaptaram à nova realidade


Felipe Ulrich/divulgação/jc
Símbolo da Expointer e do Rio Grande do Sul, o cavalo crioulo transformou-se, em 2020,  em case de sucesso da adaptação das feiras e eventos agropecuários ao novo momento mundial. A raça foi a primeira no Estado a migraras atividades para o mundo online e, desde abril, retomou a realização das seletivas para a grande final do Freio de Ouro, ocorrida na Expointer Digital.
"Ao invés de ficar negando o problema, encaramos que era real e precisávamos nos adequar", alerta Francisco Fleck, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC). A partir disso, a entidade firmou parceria com a Santa Casa de Porto Alegre para elaborar um protocolo de segurança sanitário que possibilitasse a realização das provas seletivas.
A iniciativa teve aval do governo do Estado e permitiu que 12 etapas consideradas essenciais fossem promovidas. O número ficou bem abaixo das 800 atividades normalmente realizadas pela ABCCC até a final, em Esteio, mas ao menos manteve a raça e toda sua cadeia produtiva em atividade. "Cumprimos o protocolo à risca e não tivemos nenhum caso de contaminação", comemora.
O incremento das transmissões ao vivo das provas potencializou o interesse pela raça. Prova disso é a etapa do Bocal de Ouro - primeira semifinal do Freio de Ouro - realizada em junho, que garantiu 600 mil acessos no canal da ABCCC no Youtube e um público simultâneo de 11 mil espectadores.
"O uso das plataformas online transforma o cavalo crioulo em um espetáculo mundial. Somos privilegiados por conseguir realizar as provas, e a associação é vencedora por conseguir realizar o ciclo do Freio de Ouro em plena pandemia", analisa o criador José Luiz Laitano. A expectativa, agora, é que o sucesso da iniciativa contagie entidades que representam outras raças a seguir o mesmo rumo.
 

Leilões virtuais ao gosto do freguês

Gedeão Pereira diz que o produtor já se acostumou à tecnologia

Gedeão Pereira diz que o produtor já se acostumou à tecnologia


LUIZA PRADO/JC
Atração principal das feiras agropecuárias de primavera e responsáveis por movimentar a economia rural do interior do Rio Grande, os remates acabaram migrando para plataformas como o Youtube. A mudança gera dúvidas sobre a liquidez das pistas que, no ano passado, movimentaram algo em torno de R$ 32 milhões, com 15% de valorização dos preços com relação a 2018.
A promoção de vendas virtuais através de canais de tevê fechados desde o início dos anos 2000 e a chegada de uma geração de administradores afeitos à tecnologia são argumentos usados para dissipar dúvidas sobre o ritmo dos negócios. "O produtor está acostumado a usar o celular, não há dificuldade alguma", diz o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, que aposta, ao menos, na manutenção do volume de vendas da temporada passada e indica o cenário externo favorável à exportação de carne brasileira para a China como estímulo para os pecuaristas irem às compras nessa estação.
"Os impactos causados pela Peste Suína Africana (PSA) à China, que resultaram desde o ano passado na redução brusca do seu rebanho e da produção de carne suína, podem criar oportunidades para o Brasil. Os impactos e consequências dessa crise sanitária devem se estender por um longo período, mas criam grandes oportunidades para empresas brasileiras exportadoras de todos os tipos de proteína de origem animal", comenta.
Para o diretor e leiloeiro Marcelo Silva, da Trajano Silva Remates, a estimativa é de uma alta das médias de preço em torno de 10% nesta temporada. "Achamos que teremos muita liquidez, que os leilões serão muito ágeis apesar de serem virtuais, em função da valorização da carne, da valorização da reposição e das perspectivas a curto e médio prazo que parecem ser muito boas". Silva argumenta, ainda, que as vendas virtuais são uma realidade a qual o setor deve se acostumar.
Opinião semelhante tem Eduardo Knorr cuja empresa, Knorr Leilões, tem investido pesado em pessoal e equipamentos para qualificar as transmissões dos remates, o que representa um incremento de 60% no número de empregos gerados. No ano passado, durante os remates presenciais tradicionais, a Knorr Remates costumava ocupar 15 colaboradores por evento, entre pessoal de pista, apoio e administrativo. Hoje, com a entrada da equipe de transmissão, esse número subiu para 25.
O modelo atual exige, segundo Knorr, muito mais trabalho e envolvimento das equipes a partir da necessidade de se captar imagens dos animais - em muitos casos, diretamente nas propriedades - editá-las, tratá-las e, depois, organizá-las para exibição. Fã do remate presencial, o leiloeiro se resigna em aceitar o fato de que o modelo atual parece ter chegado para ficar, mas não deixa de ter esperanças em tornar a ver pistas e arquibancadas cheias novamente. "A pandemia oportunizou acelerar a modernização do modo como o gaúcho vende seu gado e acredito que isso será bom, mas também penso que vai passar e, ano que vem, teremos a volta dos leilões presenciais que tanto gostamos".
Enquanto isso não acontece, Knorr aposta em um aumento das vendas na estação embaladas pelo bom momento da pecuária e um contexto de crescimento da demanda pela carne gaúcha.
 

Em Pelotas, parque físico migra para o mundo virtual

Campo de provas vazio na expofeira pelotas

Campo de provas vazio na expofeira pelotas


álvaro guimaraes/divulgação/jc
Diante do avanço dos casos de contaminação e mortes pela Covid-19 em todo o País e pressionada pelas restrições dos distanciamento social, a diretoria da Associação Rural de Pelotas (ARP) decidiu investir na construção de um ambiente virtual capaz de garantir a realização da mais tradicional feira agropecuária do Sul do Estado: a Expofeira.
No ano passado, o evento que, no ano passado, alcançou a marca de R$ 40 milhões em negócios e atraiu 70 mil visitantes em sete dias de realização. Os nove remates, juntos, movimentaram R$ 4,3 milhões. Em 2020, assim como a Expointer, a Expofeira ocorreu de forma virtual, buscando manter a tradição de ser uma das pistas de negócios mais aquecidas do Rio Grande do Sul.
"Somos uma das poucas feiras a acontecer nesta temporada e isso deixa os produtores ansiosos para fazer negócio", comenta o presidente da ARP, Rodrigo Gonzales. A programação de julgamentos morfológicos responsáveis por premiar os criadores de exemplares de excelência genética dentro de cada raça foi mantida mediante a obediência de um rígido protocolo de segurança sanitária.
A medida permitiu limitar o número de pessoas presentes nas pistas apenas aos julgadores e encarregados da apresentação dos concorrentes. O concurso leiteiro e o julgamento das raças Holandesa e Jersey não aconteceram neste ano.
A manutenção de eventos técnicos tradicionais, como o Simpósio de Ovinocultura, que chegou à 29ª edição, e os seminários de arroz irrigado, bovinos de leite, equinos crioulos, gestão ambiental, turismo rural e agronegócio, colaboraram para garantir que profissionais, pesquisadores e estudantes das Ciências Agrárias permanecessem conectados à plataforma nos sete dias da 94ª Expofeira de Pelotas.
"Em 94 anos de existência, nossa Expofeira já passou pela última grande pandemia mundial e por uma grande guerra - agora, está pronta para se adaptar novamente ao momento atual", afirma Gonzales. A mais antiga feira de animais rústicos do Brasil, a Expofeira de Bagé, que chegou este ano à 103ª edição, também mudou para sobreviver ao ano do coronavírus e ocorreu, no início de outubro, com formato exclusivamente virtual.
Já na Fronteira-Oeste, a Expofeira de Uruguaiana, que em 2020 teria sua 84ª edição, foi cancelada. A feira, que no ano passado movimentou aproximadamente R$ 13 milhões, foi substituída por um ciclo de remates com um total de oito atrações entre setembro e outubro. Todos terão transmissão por plataformas digitais ou canais especializados de tevê por assinatura.
 

Adaptação não é consenso entre os criadores

Farm Show levou 20 mil visitantes a Dom Pedrito ano passado, destaca José Weber

Farm Show levou 20 mil visitantes a Dom Pedrito ano passado, destaca José Weber


/MARCELO G. RIBEIRO/arquivo/JC
Apesar de adaptação ser a palavra da vez no departamento comercial das empresas ou entidades, não é fácil para o gaúcho rural abandonar modelos quase centenários de fazer negócios. Em regiões onde a cultura tradicional está mais arraigada, não é simples convencer produtores, sejam eles compradores ou vendedores, a simplesmente acessar uma plataforma e escolher os lotes que desejam através de vídeos. "Aqui o pessoal gosta de ver para comprar", resume Eduardo Coutinho, presidente do Sindicato Rural de Santa Vitória do Palmar que, neste ano, chega à 89ª edição de sua Expofeira Rural.
A cidade de 29,6 mil moradores no extremo Sul do estado registrou, até a semana passada, 380 casos de Covid-19 e três mortes causadas pela doença desde o início da pandemia e, por isso, cancelou parte de sua feira agropecuária. Atrações culturais, exposição de comércio e serviços e palestras foram canceladas, mas julgamentos e remates acontecerão no modelo presencial obedecendo a um protocolo estabelecido pelas autoridades sanitárias entre os dias 21 e 25 de outubro.
"O mergulhão é tradicional, tem uma cultura diferenciada, além disso nossa clientela é basicamente local, somos um mercado restrito com raros compradores de fora", justifica Coutinho, referindo-se ao termo pelo qual os moradores e a cidade é conhecida. Entre as regras impostas está a visitação dos lotes diretamente nas propriedades, sempre em pequenos grupos.
A 612 Km de Santa Vitória do Palmar, na região da Campanha, o presidente do Sindicato Rural de Dom Pedrito, José Weber, também lança mão do argumento da cultura tradicional para justificar a realização presencial de seis dos sete remates programados para a versão reduzida 87ª edição da Farm Show.
Apontada como a maior festa do município de 38,5 mil habitantes, a feira atraiu 20 mil visitantes em 2019, mas nesta temporada não terá shows, exposições ou qualquer atração fora os leilões. "A situação na cidade com relação à pandemia está relativamente tranquila, mas não vamos abusar da sorte, apesar de saber que isso irá gerar um impacto negativo na economia local, pois um bom dinheiro deixará de circular na cidade", informa Weber.

Preocupação atinge regiões de colonização germânica

Oktoberfest, que levou 128 mil pessoas a Santa Cruz ano passado, precisou ser cancelada

Oktoberfest, que levou 128 mil pessoas a Santa Cruz ano passado, precisou ser cancelada


agência francisco frantz/divulgação/jc
O mês de outubro costuma ser marcado pela alegria nas regiões de colonização alemã do Rio Grande do Sul com a realização de pequenas e grandes festas típicas que celebram a cultura germânica. Porém, neste 2020, o contentamento proporcionado pelas marchinhas e polkas das bandinhas e o chope gelado deu lugar à preocupação com o cancelamento de eventos responsáveis por aquecer a economia das cidades-sede.
Em Santa Cruz do Sul, por exemplo, a não realização da 36ª Oktoberfest representa um grande baque - no ano passado, o evento registrou um público pagante de 128 mil pessoas em 12 dias, que movimentaram R$ 7,4 milhões e geraram um lucro de R$ 1,6 milhão. Deste montante, R$ 170 mil foram destinados pelos organizadores para Brigada Militar, Corpo de Bombeiros e Fundo Municipal de Cultura como forma de contrapartida social. Além disso, o ingresso solidário promovido em shows nacionais arrecadou nove toneladas de alimentos, distribuídos para entidades assistenciais.
As contas dos dirigentes da Associação de Entidades Empresariais de Santa Cruz do Sul (Assemp) indicam que, ao longo da festa, a cidade, que tem uma população residente de 129 mil moradores, recebeu aproximadamente 400 mil visitantes.
"Cancelar a Oktoberfest ocasiona um grande impacto econômico e social na comunidade, principalmente pela geração de renda e empregos. A medida foi necessária para preservar a saúde e segurança dos nossos visitantes, pois a nossa festa tem a sua essência na aglomeração, seja pelos bailes no Pavilhão Central e Lonão, ou nos desfiles de carros alegóricos pelo centro da cidade", diz Eduardo Kroth, presidente em exercício da Assemp.
Sentimento semelhante toma conta da comunidade de São Lourenço do Sul, no Sul do estado, onde o cancelamento da 33ª Südoktoberfest significa que 200 empregos temporários diretos e indiretos deixarão de ser criados em outubro, e que aproximadamente R$ 200 mil deixarão de circular na cidade de 44 mil moradores.
Criada no final da década de 1980 pelos integrantes do Grupo de Danças Folclóricas alemãs Sonnenschein, a festa começou como uma celebração comunitária das culturas alemã e pomerana e, hoje, é um dos principais eventos do calendário turístico da cidade localizada às margens da Lagoa dos Patos. Em sua última edição, atraiu 25 mil pessoas que movimentaram o comércio local e lotaram hotéis e pousadas durante os seis dias de festa.
"O comércio já está sentindo muito, principalmente, o setor de tecidos e aviamentos, que normalmente nesta época do ano costuma zerar seus estoques para atender a demandas por confecções de trajes típicos", comenta Edna Bosenbecker, diretora do Grupo Sonnenschein. Na tentativa de amenizar parte do impacto negativos, os organizadores promovem campanhas para que a comunidade local consuma gêneros alimentícios típicos dos fornecedores da festa como, por exemplo, peitos defumados de gansos, uma das iguarias servidas no evento. A justificativa é que os criadores dedicam sua produção anual exclusivamente para a festa.
Fora do eixo da imigração alemã no Estado, Bagé é outra cidade que sente o impacto do coronavírus no turismo regional. O cancelamento da 17ª Festa Internacional do Churrasco retirou dos cofres municipais os gastos de cerca de 20 mil pessoas que o evento costuma atrair em novembro.
A festa representa, ainda, a principal fonte de receita para as entidades tradicionalistas de Bagé, que se envolvem no assado coletivo e ficam com o lucro da venda do churrasco. Shows de artistas reconhecidos da música gaúcha servem de atração à parte para os visitantes.
 

Organizadores buscam alternativas por todo o Rio Grande do Sul

Em São Lourenço do Sul, preocupação é com as festas de fim de ano

Em São Lourenço do Sul, preocupação é com as festas de fim de ano


CAMILA DOMINGUES/ARQUIVO/PALÁCIO PIRATINI/JC
Apesar de reconhecer a frustração pela impossibilidade de realização da Festa Internacional do Churrasco, o coordenador de projetos da Secretaria de Cultura (Secult) de Bagé, Neimar Rodrigues, admite que a pausa nos eventos por causa da pandemia tem um lado positivo: a chance de reorganizar o mix turístico municipal.
Assim a equipe local tem aproveitado 2020 para qualificar o roteiro turístico do Bioma Pampa e planejar as grandes atividades como a Festa do Churrasco e o Bagé em Dança, um festival que atrai grupos de todo o País e, em 2019, levou 1,2 mil bailarinos até a cidade.
"A partir disso, nossa avaliação não é tão negativa sobre o impacto da pandemia no setor, pois estamos podendo fazer essa importante reavaliação e reestruturação que vai possibilitar uma retomada rápida e positiva quanto tudo passar", esclarece ele.
Estudos e planejamentos de como retomar o turismo e os eventos também fazem parte da rotina do secretário de Turismo de São Lourenço do Sul, Luis Carlos Braga, nos últimos meses. A mais recente tarefa é planejar a temporada de veraneio, considerada o ponto alto do setor.
Dados da prefeitura mostram que, a cada temporada, 600 imóveis de aluguel, 1,1 mil leitos de hotelaria além de 5 mil vagas no camping municipal costumam ficar lotados, isso sem contar as milhares de pessoas que se deslocam de cidades vizinhas como Arroio do Padre, Camaquã, Turuçu e Pelotas apenas para passar o dia nas margens das praias de água doce da cidade.
Conforme Braga, a administração trabalha com três cenários: fechamento completo, situação estabilizada/controlada e abertura completa. "O que temos visto nas grandes cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Santos serve de alerta para nós e nos ajuda a pensar em como agir e quais alternativas são mais viáveis", comenta ele, referindo-se às aglomerações na beira da praia.
Uma das grandes preocupações do secretário é o show da virada do ano. Com uma programação de apresentações artísticas variadas e queima de fogos, a festa atrai em média 80 mil pessoas - o dobro da população local - a cada Réveillon. Por enquanto, a celebração está mantida. A ideia é protelar a decisão de realização ou não para novembro, considerado último prazo viável para organizar tudo a tempo. "Se as coisas seguirem como estão, vamos ter que cancelar", declara.
Ainda em São Lourenço Sul, o Grupo Sonnenschein também se dedica a encontrar alternativas para compensar a não realização da Südoktoberfest, a proposta que ganha força na comunidade é de realizar periodicamente - a partir da liberação de atividades com público - pequenas festas de rua de um único dia ou noite com música, comida e bebidas típicas. "A ideia é fazer isso para manter o espírito da festa vivo até outubro de 2021, quando esperamos poder realizá-la novamente", diz Edna Bosenbecker.
Manter o espírito da alegria enraizado na comunidade também é o objetivo da 1ª Oktoberfest Digital de Santa Cruz do Sul, cujo projeto já tramita no Comitê Estadual da Lei de Incentivo à Cultura do RS. Conforme o presidente da Assemp, a proposta é montar um estúdio no Pavilhão Central da Oktoberfest de onde acontecerão transmissões ao vivo de shows de bandas e grupos de dança locais. Paralelamente, se pretende realizar duas caravanas culturais pelos bairros da cidade, em dois domingos pela manhã, com animação de uma bandinha típica alemã e com coleta de alimentos.
O impacto do cancelamento das feiras e festas regionais na economia do interior do Estado só poderá ser realmente dimensionado dentro de alguns meses quando os números dos negócios rurais começarem a ser divulgados, os prefeitos em final de mandato fecharem suas contabilidades e o governo do Estado fizer o balanço de geração de emprego e renda no Rio Grande do Sul em 2020. Mas, pelo que se nota até o momento, a partir dos relatos de organizadores, secretários e prefeitos, não pode ser menosprezado.
Porém, é possível encontrar alento nas palavras da prefeita Selmira Fehrenbach, de Turuçu, a pequena cidade de 3,4 mil habitantes cujo o cancelamento da Feira do Morango e da Pimenta - que atrai 15 mil pessoas até a cidade a cada ano - abriu esta reportagem. "Não podemos falar em tristeza porque na nossa comunidade não perdemos nenhuma pessoa para essa doença e isso é uma grande alegria, pois a verdadeira alegria é a vida com ou sem festa. Ano que vem a gente faz", conta, esperançosa.
 

Natural de Rio Grande, Álvaro Guimarães é jornalista formado pela Universidade Católica de Pelotas. Atualmente, trabalha como assessor de comunicação e repórter freelancer.