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Empresas & Negócios

- Publicada em 13 de Outubro de 2020 às 03:00

Tecnologia ajuda a reduzir endividamento

Lara diz que há avanços nos últimos anos, mas o mercado de crédito tem muito a desenvolver

Lara diz que há avanços nos últimos anos, mas o mercado de crédito tem muito a desenvolver


BLU365/DIVULGAÇÃO/JC
Marcelo Beledeli
O endividamento é um problema recorrente dos brasileiros, e que só aumentou com a pandemia de Covid-19. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em setembro, 67,2% dos consumidores tinham dívidas em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestação de carro e de casa.
O endividamento é um problema recorrente dos brasileiros, e que só aumentou com a pandemia de Covid-19. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em setembro, 67,2% dos consumidores tinham dívidas em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestação de carro e de casa.
No entanto, a grande quantidade de pessoas em dificuldades financeiras também gera oportunidades de mercado. Esse pensamento levou à fundação, em 2015, da BLU365, fintech especializada na recuperação de crédito. A empresa é focada no uso de inteligência artificial para ajudar consumidores a ficarem no azul.
Hoje, a BLU365 tem mais de 20 milhões de clientes com comportamentos conhecidos, além de cerca de 200 mil famílias resolvendo seus problemas financeiros por meio da plataforma mensalmente. Para empresas, a fintech conta com mais de R$ 1 bilhão em carteiras inadimplentes avaliadas para cessão.
Para o CEO e fundador da BLU365, Alexandre Lara, apesar dos avanços dos últimos anos, o mercado de crédito no Brasil ainda tem muito o que se desenvolver. Segundo o executivo, o uso da tecnologia para buscar dados e estatísticas melhora o atendimento a consumidores e os ajuda a sair da condição de inadimplência. Lara destaca que, durante a pandemia, a população tem usado o auxílio emergencial para saldar débitos. No entanto, com o término do benefício no fim do ano, pode haver redução de liquidez no mercado, afetando a retomada da economia.
Empresas & Negócios - De onde veio a ideia para criar a BLU365?
Alexandre Lara - Sou engenheiro de computação e, trabalhando no mercado financeiro, percebi que havia muita coisa errada na forma como as empresas se relacionavam com clientes com alguma dificuldade financeira. Justamente quando o consumidor mais precisava de ajuda para dar a volta por cima, era o momento em que a empresa desconectava e delegava para terceiros, como empresas de cobrança, que nem sempre fazem um trabalho de qualidade. Isso ficou na minha cabeça, pensando que, com a tecnologia, o uso de dados e estatísticas, era possível melhorar muito a condição desse cliente em dificuldade e também a atuação das empresas. Dessa forma começamos a BLU365 em 2015.
E&N - Qual a sua avaliação do mercado de crédito brasileiro?
Lara - No Brasil, o mercado de crédito iniciou um período de crescimento há 10 anos, e esperávamos começar outro em 2020, antes da pandemia. Nessa década, houve um grande aprendizado das empresas do setor, a criação de novos mecanismos e produtos, mas o consumidor não amadureceu na mesma proporção. Ainda temos uma população desbancarizada muito grande, que desconhece os produtos ofertados. Felizmente, algumas medidas estão sendo feitas para tentar ajudar, como open banking, cadastro positivo, entre outras legislações, e a própria atuação de fintechs como a BLU365. Buscamos trazer uma nova relação entre empresas e consumidores, e ajudar a educá-lo financeiramente.
E&N - A falta de educação financeira é o principal obstáculo para que o consumidor amadureça?
Lara - O problema é que quase não se fala em educação financeira com o consumidor. É um tema difícil de ser trabalhado. E não adianta abordar o assunto e apoiar um cliente quando ele já está completamente comprometido. Houve toda uma jornada que levou ao endividamento. Muitas vezes, essa dívida é resultado de uma realização, a compra da casa própria, por exemplo. Mas fazer um endividamento mal planejado leva a fortes crises nas famílias. É importante conversar com consumidor de uma forma funcional, explicar que precisa prestar atenção nas compras que paga, ver o que é supérfluo, tentar preservar um recurso mínimo, fazer uma poupança. Uma hora a pessoa precisará desse dinheiro, pois é muito fácil surgir necessidades por causa de doença, desemprego ou para ajudar um membro da família.
E&N - Como a pandemia de Covid-19 afetou o setor de crédito?
Lara - Houve um aumento de negociações muito grande durante a pandemia. Nossa empresa, por exemplo, triplicou de tamanho em relação ao começo do ano. Mensalmente, registramos 200 mil eventos de negociação de dívidas. Claro, muito desse crescimento foi por ganhos de eficiência, a gente também compreende melhor o comportamento consumidor, somos mais assertivos para ajudar. Mas existe um fator que é o grande aumento de liquidez no mercado durante a pandemia. Isso vem de dois fatores. Um é o auxílio emergencial, que liberou muito dinheiro na economia. Um levantamento que fizemos em nossa base de cerca de 15 milhões clientes mostra que o número de negociação e pagamento de dívidas foi 10% maior no grupo de quem recebeu o auxílio emergencial em comparação a quem não teve o auxílio. A dívida média de quem teve a ajuda é de R$ 476, enquanto a dívida média daqueles que não receberam é de R$ 510 (7.5% maior). Além disso, houve redução de consumo com o isolamento, as pessoas tiveram uma poupança maior e assim puderam resolver débitos. Esse processo de maior liquidez ocorreu mesmo com o aumento do desemprego - que não foi tão grande quanto inicialmente previsto.
E&N - Que tipo de dívidas as pessoas que receberam auxílio emergencial têm priorizado?
Lara - A prioridade tem sido as que tem juros maiores, como cartão de crédito, ou alguns produtos bancários. Além disso, percebemos um movimento interessante em alguns setores profissionais. Muitos revendedores de cosméticos, por exemplo, que fazem crédito com as empresas que representam antes de comercializar os itens, têm quitado débitos para ter condições de seguir vendendo os produtos. Dessa forma, eles priorizaram a possibilidade de fazer alguma renda.
E&N - O que se pode esperar do cenário futuro?
Lara - O "novo normal" não será um retorno à economia plena. Temos dois fatores para afirmar isso. Um é a diminuição dos auxílios, que injetam liquidez no mercado. Outro é o ritmo de reaquecimento da economia, se ela será retomada com uma força maior do que o impacto da retirada dos incentivos. Neste ano, ainda teremos liquidez, quem está empregado vai receber o 13º salário, e isso deve trazer mais vitalidade aos mercados. Mas 2021 será desafiador. A gente não vê uma volta ao normal pleno, a economia deve operar no máximo em 90% do que era antes da pandemia. A retomada será mais lenta em 2021, talvez só tenhamos uma situação mais forte em 2022. E ainda há várias dúvidas pela frente, como a situação sanitária - quando afinal teremos a vacina para o Covid-19? - e questões de como estará a política brasileira.
E&N - Recentemente, a BLU365 também começou a oferecer soluções para empresas. Como funciona esse novo produto?
Lara - O que oferecemos é bem inovador, entendendo o momento de dificuldade das empresas, que vão passar por momento de inadimplência dos clientes. A gente percebeu no mercado uma situação crítica de liquidez, o que incentiva a prática da chamada venda de carteira, geralmente praticada por grandes varejistas ou mesmo bancos, como o Bradesco fez recentemente. Nesse caso, companhias com muitos créditos vencidos e não pagos vendem essas cobranças para um terceiro. Mas geralmente somente grandes empresas tem acesso a essa solução. Nós então lançamos o BLU Cash, que oferece essa possibilidade para empresas menores e regionais, que não têm quem esteja interessado nesse tipo de operação, que as ajuda a sair desse momento de dificuldade. Assim damos uma alternativa de liquidez mais barata que o empréstimo bancário e a um preço mais justo que os das empresas tradicionais de compra de carteiras inadimplentes. É um produto que está encontrando boa aceitação, especialmente entre varejistas de médio porte.
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