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reportagem especial

- Publicada em 05 de Julho de 2020 às 20:17

Soja lidera o crescimento do agro brasileiro nas últimas décadas

Soja teve recorde de 86,8 milhões de toneladas em 2014

Soja teve recorde de 86,8 milhões de toneladas em 2014


/YASUYOSHI CHIBA/AFP/JC
A estiagem que começou em setembro do ano passado e se estendeu até março de 2020 provocou uma queda de 43,4% na produção de soja do Rio Grande do Sul, segundo a atualização do levantamento da safra 2019/2020 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada no dia 9 de junho. Com a colheita de apenas 10,8 milhões de toneladas, o rendimento médio da sojicultura gaúcha caiu de 3.321 quilos por hectare para 1.839 kg/ha, recuando a desempenhos de 40 anos atrás, quando os pioneiros pelejavam para adaptar o grão aos solos ácidos do Norte do Estado - ou vice-versa.
A estiagem que começou em setembro do ano passado e se estendeu até março de 2020 provocou uma queda de 43,4% na produção de soja do Rio Grande do Sul, segundo a atualização do levantamento da safra 2019/2020 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada no dia 9 de junho. Com a colheita de apenas 10,8 milhões de toneladas, o rendimento médio da sojicultura gaúcha caiu de 3.321 quilos por hectare para 1.839 kg/ha, recuando a desempenhos de 40 anos atrás, quando os pioneiros pelejavam para adaptar o grão aos solos ácidos do Norte do Estado - ou vice-versa.
Os rendimentos eram baixos e não havia salvação para os prejuízos. Recentemente, houve quedas igualmente fortes nas secas de 2012 e de 2005. Mas agora, em vez da loteria de outrora, os agricultores dispõem de mecanismos de recuperação.
Na safra recém-encerrada, metade dos produtores tinha alguma forma de seguro. Tanto para estes quanto para os que estavam a descoberto, a resolução 4.802 do Banco Central, baixada em 9 de abril, autorizou os bancos a renegociarem, pelo prazo de até sete anos, os contratos de custeio agrícola e de investimentos, respeitando o limite de R$ 20 mil para os agricultores familiares e de R$ 40 mil para os médios.
"Não acredito que alguém vá abandonar a agricultura por causa da estiagem", diz o agrônomo Ivan Bonetti, da Secretaria Estadual de Agricultura. Para ele, os prejudicados pela seca podem reverter a situação em até três anos, desde que contem com o apoio dos bancos. Muitos agricultores partiram logo para a produção de trigo, cuja área plantada deve registrar um bom aumento nesse inverno - situação que também remete ao passado, quando o trigo e a soja se amparavam em situações adversas.
Este ano, por causa da pandemia do coronavírus, pela primeira vez os técnicos não puderam realizar as costumeiras vistorias técnicas para checar os estragos. Como lembra Alencar Rugeri, diretor técnico da Emater, a instituição usou diversas ferramentas de avaliação para concluir que as perdas foram de 2% nas lavouras menos afetadas a 100% nas mais atingidas. Para fins de ressarcimento pelo seguro rural, usaram-se as médias municipais. Ainda assim, dadas as diferenças regionais de solo, topografia e manejo das lavouras, não dá para generalizar. Em Frederico Westphalen, onde a sojicultura está implantada há meio século, uma perda de 1.200 quilos significa apenas 25% da produção. Em Bagé, na Metade Sul, região que vem apostando na soja mais recentemente - em terras baixas, sistematizadas para o arroz -, o mesmo volume de quebra representa 50% da produção.

A história do grão

A soja está presente no Brasil desde o fim do século XIX, quando alguns sitiantes e técnicos iniciaram experiências de plantio de sementes trazidas por imigrantes. Um dos primeiros polos de experimentação foi o Instituto Agronômico de Campinas, criado por D. Pedro II em 1887. Outro era Pelotas, cuja escola de Agronomia, desde 1901, distribuía as sementes amareladas entre colonos que usavam os grãos para alimentar porcos. Um século atrás, a soja era pouco mais do que uma curiosidade botânica que passou a interessar a incipientes indústrias de óleo vegetal - de amendoim e algodão, em São Paulo; de amendoim e linhaça, no Rio Grande do Sul. Os governos pareciam não ligar para o feijãozinho dourado. Até que o atacadista gaúcho Frederico Ortmann, ativo na importação/exportação, embarcou uma carga de soja para a Alemanha. Foi em 1938, às vésperas da II Guerra Mundial.

O impulso no País e no Rio Grande do Sul

A sojicultura ocupa hoje 5,9 milhões de hectares no Rio Grande do Sul; no País, são 36 milhões de hectares, pouco mais da metade da área cultivada por lavouras

A sojicultura ocupa hoje 5,9 milhões de hectares no Rio Grande do Sul; no País, são 36 milhões de hectares, pouco mais da metade da área cultivada por lavouras


LOURENÇO FURTADO/FATO E FOTO/DIVULGAÇÃO/JC
A I Festa Nacional da Soja foi realizada em 1966 em Santa Rosa, município tido como o berço do cultivo dessa planta nativa da China. Calhou de ter sido lançada nessa festa a variedade de soja batizada com o nome da santa pelo técnico agrícola Juarez Pinto Gutterres, da Secretaria da Agricultura. Descendente da linhagem L-326, desenvolvida em Campinas pelo americano Leonard Williams, a Santa Rosa se tornou a variedade mais difundida nos anos 1960 não só no Rio Grande do Sul, mas em outros estados atentos à estrela agrícola emergente no "milagre econômico brasileiro".
O ano de 1967 é considerado o ano zero da arrancada profissional da sojicultura. Foi quando o Banco do Brasil, que sempre comandou a política de crédito rural (criada em 1961 pelo presidente Jânio Quadros), decidiu financiar a Operação Tatu, um experimento de aplicação de calcário nos solos ácidos do norte gaúcho. Segundo os agrônomos, os campos tapados de capim barba-de-bode precisavam ter seu pH corrigido para se tornar férteis a ponto de favorecer a substituição da pecuária por lavouras de grãos. Tocada ali havia décadas com apoio oficial, a triticultura capengava.
A ideia era que, plantada em rodízio, a soja servisse de muleta para o trigo produzir mais nas mesmas áreas. A receita técnica mandou sulcar o solo de modo a se aplicar o calcário um palmo abaixo da superfície - no mesmo sulco, deviam ser colocadas as sementes de soja. Dando certo, a área experimental de 20 mil hectares em 2 mil propriedades na região de Cruz Alta, Ijuí e Passo Fundo seria duplicada no ano seguinte, e assim por diante.
Os resultados foram tão bons que a dobradinha trigo-soja foi louvada até por dupla sertaneja. Mas ninguém esperava que, em poucos anos, a soja avançaria pelo Brasil afora, desfazendo o casamento de ocasião arranjado pelo governo. O tatu da Emater foi atropelado pela louca aventura levada ao Brasil Central por milhares de gaúchos que trocaram pequenas propriedades coloniais por amplas áreas virgens nos Cerrados.
Meio século depois, a sojicultura chegou ao recorde de 5,9 milhões de hectares cultivados no Rio Grande do Sul - no País, são 36 milhões de hectares, pouco mais da metade da área cultivada por lavouras temporárias. Com mais de 120 milhões de toneladas, a produção brasileira equiparou-se à dos EUA, líder agrícola desde o início do século XX. A revolução promovida pela soja não se restringiu à eficiente exploração das terras cultivadas: também houve mudanças na agronomia, nos transportes, no comércio exterior, na industrialização e até nos costumes alimentares.

A migração

Um dos aspectos mais significativos da explosão da soja foi a intensa migração de agricultores que desde os anos 1940 deixaram o Rio Grande, primeiro para ocupar o Oeste catarinense; na década seguinte, o Sudoeste do Paraná; nos anos 1960, o Sul do Mato Grosso; depois Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso até alcançar territórios próximos da linha do Equador, onde a imaginação de alguns técnicos criou o Matopiba, território fictício formado por porções do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Encerrado praticamente na década de 1990, o fenômeno migratório gaúcho não chegou a ser estudado senão superficialmente. Numa cerimônia no Palácio Piratini na primeira metade do seu mandato, o governador José Ivo Sartori (MDB, 2015-2018) comentou as perdas de capitais, tecnologia e capacidade gerencial decorrentes da evasão de milhares de empreendedores rurais. Muitos realizaram o sonho de enriquecer, outros ficaram no meio do caminho e não poucos voltaram.

Óleo de soja, protagonista na indústria e na cozinha das famílias

Investimento da Samrig em Esteio, nos anos 1950, ajudou na criação do Instisoja, organismo de fomento do setor

Investimento da Samrig em Esteio, nos anos 1950, ajudou na criação do Instisoja, organismo de fomento do setor


/fundação bunge/divulgação/jc
Nos anos 1960, o Brasil começou a exportar alguns produtos manufaturados como calçados, suco de laranja e têxteis. No meio deles meteu-se o farelo de soja, subproduto da indústria vinda no rastro de primitivas extratoras de óleos vegetais. No começo eram experimentos de curiosos. Nomes como Santa Rosa, Violeta e Merlin ainda são lembrados no Interior como marcas de óleo criadas pelas pioneiras Sorol, Igol, Olvebra e Merlin.
Entre os mais ousados empreendedores pioneiros, destacou-se um grupo de chineses dissidentes da revolução comunista de 1949. Eles conheciam as técnicas de extração de óleo e possuíam contatos com importadores. Progrediram. É fruto deles o atual grupo Ling.
O maior investimento industrial dos anos 1950 foi feito em Esteio pela Samrig, do grupo Bunge y Born, que possuía grandes moinhos de moagem de trigo em cidades portuárias. A Samrig liderou o Instisoja, um organismo privado de fomento que se articulou com a Secretaria da Agricultura, cujos técnicos apostaram firme no feijão-soja. Na edição de 1/4/1955, o Correio Rural (suplemento do Corrio do Povo) publicou artigo do agrônomo oficial Paulo Annes Gonçalves, que vaticinou: "A soja será breve uma grande cultura rio-grandense. Figurará a par com três grandes culturas: milho, arroz e trigo".
Com o passar do tempo, o óleo de soja tomaria o lugar da banha suína na culinária caseira; a margarina dividiria receitas com a manteiga; e o farelo e a torta da leguminosa se tornariam a base da alimentação de aves, porcos e bovinos, dando nova feição à agroindústria de carnes e rações.
A industrialização dos grãos de soja chegou ao final do século XX com uma centena de unidades fabris que foram se instalando nas recém-abertas fronteiras agrícolas. Algumas dessas indústrias usam hoje o óleo de soja para produzir biodiesel, o último dos subprodutos desse vegetal capaz de fornecer centenas de derivados usados em alimentos, cosméticos e medicamentos.
Nos bastidores dessa revolução agroindustrial, prosperou a indústria brasileira de máquinas e implementos rurais, com plantas em Santa Rosa, Horizontina, Passo Fundo, Caxias do Sul, Cruz Alta, Panambi e Canoas, entre outras cidades gaúchas. Na realidade, eram antigas oficinas que, nos melhores casos, evoluíram para linhas de montagem de colhedeiras. A maior delas foi a SLC, de Horizontina, hoje controlada pela John Deere, que possui uma segunda fábrica em Montenegro.
Outros ramos industriais também embarcaram no boom da soja. Um dos mais salientes foi a indústria de implementos rodoviários (carrocerias), cuja capacidade individual de carga triplicou no afã de assegurar às rodovias a liderança no escoamento da produção. Mesmo operando em estradas simples desde as zonas de produção até o porto de Rio Grande, os caminhões graneleiros dominam o transporte de grãos, superando largamente as ferrovias e as hidrovias.

Cooperativismo contribuiu para a expansão da cultura no Estado

Hoje em liquidação judicial, Cotrijuí foi uma das principais incentivadoras da sojicultura no Rio Grande do Sul

Hoje em liquidação judicial, Cotrijuí foi uma das principais incentivadoras da sojicultura no Rio Grande do Sul


/COTRIJUI/DIVULGAÇÃO/JC
Não se pode contar a história da soja sem reservar pelo menos um capítulo ao cooperativismo. Ele esteve nas origens do processo de expansão da sojicultura no Rio Grande e em outros estados. Se não chegou mais longe, foi por acidentes de percurso. Por exemplo, alguns líderes se descolaram das bases, embarcando na ilusão de que estavam no poder e podiam dar passos maiores do que as próprias pernas. Foi o caso da Fecotrigo-Centralsul, que faliu em 1982 por não poder sustentar operações dolarizadas de exportação de soja e importação de fertilizantes. O colapso da Fecotrigo e de algumas cooperativas manchou a reputação do sistema no Rio Grande do Sul, mas o cooperativismo técnico se manteve de pé em diversos setores - destaque para os de laticínios e crédito.
Na arrancada da sojicultura, nenhuma cooperativa empenhou-se tanto na aliança produtores-governo quanto a Cotrijuí, fundada em 1957. Além de colocar-se na vanguarda do plantio no Rio Grande do Sul e da logística de transporte dos grãos por hidrovia, usando barcaças no percurso Estrela-Rio Grande, essa cooperativa atendeu a pedidos do governo militar para assumir projetos de assentamentos de colonos em áreas de fronteira agrícola de outros estados, onde o único fator de infraestrutura era a terra coberta por alguma vegetação nativa. Em suas mãos desapareceu uma usina de açúcar e álcool implantada em 1974/75 pelo Incra em Altamira, no Km 92 da Rodovia Transamazônica.
A poderosa cooperativa de Ijuí estava tão enfronhada na dinâmica das exportações que promoveu uma inédita excursão de agricultores gaúchos aos Estados Unidos. Desfrutando dos lucros da safra de 1974, mais de 100 produtores, jornalistas e políticos percorreram durante três semanas vários elos da cadeia produtiva da soja em território ianque. Um dos pontos altos foi uma visita ao pregão da bolsa de mercadorias de Chicago, a meca dos grãos.
Dissidências sobre dívidas e projetos arrastaram a Cotrijuí para uma situação de insolvência. Em outubro passado, com dívidas de mais de R$ 2 bilhões, ela teve sua liquidação decretada pela Justiça. Restam-lhe algumas atividades, como uma rede de supermercados; armazéns e um frigorífico estão arrendados, mas apenas um grupo de associados ainda luta pela sua sobrevivência. Jonas Vieira, repórter da Rádio Progresso, disse ao JC que a Cotripal, de Panambi, está de olho para ocupar espaços antes ocupados pela Cotrijuí, responsável, nos anos 1970, pelas operações que deram origem ao chamado superporto de Rio Grande, ponto final do primeiro "corredor de exportação" de soja.

Grão contou com rede de pesquisadores em todo o País

Primeiras pesquisas para o melhoramento da produção de soja no Brasil, realizadas pela Embrapa, foram lideradas por gaúchos

Primeiras pesquisas para o melhoramento da produção de soja no Brasil, realizadas pela Embrapa, foram lideradas por gaúchos


/embrapa/divulgação/jc
Durante o boom inicial da soja, foi ministro da Agricultura o agrônomo gaúcho Luiz Fernando Cirne Lima, que ficou no cargo por três anos. Antes de sair, em maio de 1973, ele teve tempo para assinar a fundação da Embrapa, fruto da confluência de diversos núcleos de pesquisa agrícola espalhados pelo País. No caso da soja, as unidades mais experientes naquele momento eram as de Pelotas, Passo Fundo e Londrina (PR), onde se fixaria, a partir de 1975, o Centro Nacional de Pesquisa da Soja. Não por acaso, os primeiros líderes da pesquisa da soja foram gaúchos, a começar por Francisco de Jesus Vernetti, um dos pioneiros das pesquisas de melhoramento em Pelotas.
Posteriormente, entrariam em ação outros polos como os de Sete Lagoas (MG), Planaltina (DF) e Goiânia (GO). Havia, ainda, parcerias com universidades como as de Viçosa (MG) e do Rio de Janeiro, além da colaboração de institutos estaduais como o IAC, o Iapar, a Epamig, a Emgopa, a Epagri e a Fepagro. Com o passar do tempo, a Embrapa estendeu ao País inteiro uma rede de experimentos responsável pelo melhoramento de milhares de variedades de sementes adaptadas a todos os biomas, ecossistemas e microclimas.
Desse gigantesco esforço resultou a tropicalização da soja, originária do clima temperado da Ásia. Por isso esse vegetal é considerado um fenômeno, não só no aspecto agronômico, mas por seu potencial como matéria-prima industrial e alimento rico em propriedades nutracêuticas (alimento remédio). Sua expansão geográfica foi tão rápida que os pesquisadores alarmados com o risco de um apagão ambiental precisaram correr para estudar as frutas, as ervas e as raízes dos Cerrados, bioma que cobre 22% do território brasileiro. Uma das pessoas sobreviventes dessa correria é a bióloga Semíramis Pedrosa, baiana de Barreiras que trabalhou por 40 anos na Embrapa de Planaltina e catalogou mais de 200 espécies vegetais nativas: araticum, baru, cagaita, cajus etc., cujos frutos antes ignorados estão na culinária do Brasil Central, ao lado do tradicional pequi.

Cooperação técnica e valor nutricional

Em meados dos 1950, visitou a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul o agrônomo paulista José Gomes da Silva (1925-1996), pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas, que liderava uma campanha pela expansão da soja no estado de São Paulo. Ele queria incluir o RS no esquema triangular de cooperação técnica entre agricultores, pesquisadores e industriais - modelo visto por ele em Iowa, nos Estados Unidos, onde fizera mestrado. Em Porto Alegre, conversou com o secretário da Agricultura, Maneco Vargas. Também formado em Piracicaba (SP), Vargas não lhe deu estribo: achava que os dois estados estavam separados por enorme distância, não apenas geográfica, mas técnica. Melhor andarem cada um por si.
Em alguns aspectos, São Paulo já andava na frente. Caso da correção dos solos dos Cerrados com calcário. Desde 1951, um grupo de técnicos norte-americanos acampara no município de Matão, entre Piracicaba e Araraquara, para executar um projeto de pesquisa de calagem de lavouras de café, cana, cítricos, algodão e soja. Apoiada por cientistas de Campinas e Piracicaba, a empreitada era custeada pelos irmãos Rockefeller, donos da Standard Oil of California, a maior petroleira do mundo, representada no Brasil pela Esso.
No fomento ao plantio paulista, atuavam diversas indústrias lideradas pela Anderson Clayton, também dos Estados Unidos. Com uma defasagem de dois a três anos, o fomento da soja no Rio Grande do Sul era feito pelo Instisoja, liderado pela Samrig, que também atuava em São Paulo como o nome de Sanbra.
O tripé pregado por José Gomes funcionou espetacularmente, tanto que a soja se tornou o carro-chefe do agronegócio brasileiro, mas não alcançou senão parcialmente os resultados esperados por ele na nutrição dos pobres. Já nos anos 1980, o leite de soja era adicionado aos pacotes da merenda escolar, primeiro passo para sua adoção em cestas básicas do Tudo Pelo Social do governo de José Sarney (1985-1990).
Apenas no século XXI, no governo Lula (2003-2010), foi retomada a ideia de subsidiar a alimentação das camadas mais carentes da população. Na gestão do programa Fome Zero, oficialmente transformado no Bolsa-Família, sobressaiu o agrônomo José Graziano Gomes da Silva, filho de José Gomes, o Zé Sojinha. Depois do trabalho executado em Brasília, ele se mudou para Roma, onde cumpriu oito anos como diretor da FAO, o braço da Organização das Nações Unidas para a Agricultura, cujo foco é alimentar os pobres do mundo.

A soja na cultura

Soja estará em livro 
de Anna Mariano

Soja estará em livro de Anna Mariano


/CARIN MANDELL/DIVULGAÇÃO/JC
Os grandes ciclos econômicos nacionais lastreados em produtos agrícolas geraram obras de arte com Banguê e Riacho doce, romances de José Lins do Rego sobre a colonial cana-de-açúcar; e telas como os Trabalhadores de Di Cavalcanti, baseado no imperial café. Já a republicana soja, com apenas 50 anos de presença na cena econômica brasileira, segue aparentemente virgem na parada das artes. Até agora rendeu abundante literatura técnica e algumas biografias de empreendedores como André Maggi, o rei da soja, que migrou do Sul para o Centro-Oeste. Em Porto Alegre, porém, há um livro de ficção em gestação nas mãos de Anna Mariano, escritora que, apesar de ser filha de um agrônomo, apenas recentemente assistiu a uma colheita de soja no Oeste gaúcho, onde se criou. Com o título provisório de Contadores de raízes, seu romance tem lançamento previsto para o final de 2021 - se a pandemia permitir. Abaixo, um trecho cedido ao JC:
 

* Geraldo Hasse é jornalista formado em Pelotas em 1968. Trabalhou por 30 anos em revistas e jornais do Sudeste. Voltou ao Sul em 2000.