Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Empresas & Negócios

- Publicada em 28 de Junho de 2020 às 23:14

Investidor deve mudar estratégia para ter ganho

Portella, fundador da Monte Bravo Investimentos, destaca mudanças em carteiras com baixa de juros

Portella, fundador da Monte Bravo Investimentos, destaca mudanças em carteiras com baixa de juros


MONTE BRAVO/DIVULGAÇÃO/JC
Marcelo Beledeli
A queda das taxas de juros (hoje em 2,25% ao ano) vem reduzindo fortemente a lucratividade da renda fixa, tradicional forma de investimento no Brasil. Para não perder ganhos, cada vez mais brasileiros estão migrando para o mercado de ações. Mas essa mudança precisa ser compreendida pelo público, explica Filipe Portella, assessor de investimentos e fundador do escritório Monte Bravo.
A queda das taxas de juros (hoje em 2,25% ao ano) vem reduzindo fortemente a lucratividade da renda fixa, tradicional forma de investimento no Brasil. Para não perder ganhos, cada vez mais brasileiros estão migrando para o mercado de ações. Mas essa mudança precisa ser compreendida pelo público, explica Filipe Portella, assessor de investimentos e fundador do escritório Monte Bravo.
Com mais de 12 anos de experiência no mercado financeiro, Portella, que é de Santa Maria, na região Central do Rio Grande do Sul, iniciou sua trajetória profissional aos 20 anos como estagiário do Banrisul. Aos 22, começou a carreira como assessor de investimentos pela XP Investimentos. Em maio de 2010, junto com o sócio Pier Mattei, decidiu empreender e fundou em Santa Maria a Monte Bravo, hoje afiliada à XP.
Desde 2015, a Monte Bravo já ganhou quatro vezes o título de melhor atendimento entre os escritórios filiados à XP Investimentos. Atualmente, a empresa possui cerca R$ 8 bilhões sob assessoria, e conta com escritórios em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Goiânia, Belo Horizonte, Caxias do Sul, Santa Maria e Curitiba.
Portella lembra um pouco da trajetória da empresa para o Empresas & Negócios, e destaca a nova situação do mercado no Brasil. Segundo o assessor, "o investidor que costumava usar a renda fixa precisa mudar um pouco de perfil e buscar alternativas que gerem um ganho maior".
Empresas e Negócios - A Monte Bravo completou 10 anos em maio. Quais foram as principais dificuldades para começar a empresa?
Filipe Portella - Meu sócio Pier Mattei e eu não tínhamos recursos. Montamos a primeira unidade em um escritório antigo de contabilidade com 20 metros quadrados. E Santa Maria, em geral, não era uma cidade próspera, havia poucas pessoas com recursos para investir. A gente era jovem, eu tinha 25 anos, era um desafio a quebrar. Então tivemos que trabalhar muito em prospecção, fazíamos palestras sobre assuntos de mercado, ações, análises técnicas, e cursos nos finais de semana em empresas e universidades, a fim de angariar clientes. Mas isso ajudou a forjar muito do que somos hoje, pois o que dava resultado era o trabalho duro. Depois de seis meses, abrimos o escritório de Porto Alegre. Depois expandimos para Caxias do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia e Belo Horizonte, Caxias do Sul e Santa Maria. Recentemente abrimos também em Curitiba. Em nosso primeiro ano, éramos responsáveis por um volume de R$ 4 milhões sob assessoria. Hoje temos uma carteira de R$ 8 bilhões e 10 mil clientes, atendidos por um time de mais de 300 profissionais.
E&N - Existem diferenças regionais no perfil médio dos investidores?
Portella - O gaúcho tem uma cultura boa de investimento. Ele costuma ser mais conservador do que os de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas menos do que os mineiros. O que o gaúcho tem muito arraigado é a questão do relacionamento. Ele gosta de falar pessoalmente com a pessoa que vai assessorá-lo, ver a estrutura do escritório onde está instalado, mas quando estabelece um bom relacionamento dificilmente troca de assessoria. Já o paulista é um cara mais agressivo em investimento, tem naturalidade maior com o mercado financeiro. Ele quer fazer negócios. Ele não precisa te ver em teu escritório para virar teu cliente, o que importa é entregar resultado, saber explicar e atender bem, fazer um bom trabalho.
E&N - De 2009 a 2017 o número de pessoas físicas na Bolsa brasileira variava entre 550 mil e 620 mil. Agora, a B3 fechou 2019 com 1,6 milhão de investidores, e em maio de 2020, mesmo com a crise do coronavírus esse número já havia subido para 2,4 milhões. Esse movimento de entrada de novos investidores na Bolsa deve continuar, ou está se esgotando?
Portella - O cenário atual incentiva o investimento em ações, pois estamos em condições muito diferentes do que o brasileiro era acostumado até poucos atrás. Em 2016, por exemplo, o mercado brasileiro tinha a taxa básica de juros, a Selic, de 14,25% ao ano. Com uma inflação em torno de 6% ao ano, o ganho real na renda fixa era de 8% anuais. Mas agora temos uma taxa de juros de menos de 3%, muito baixa para garantir rendimentos, e então as pessoas são forçadas a investir em ativos com maior risco para terem lucros. Por isso aumentou tanto o número de investidores na B3. Como o prêmio para investir sem correr risco está muito pequeno, o investidor que costumava usar a renda fixa precisa mudar um pouco de perfil e buscar alternativas que gerem um ganho maior.
E&N - Esse cenário se mantém mesmo com a crise provocada pela pandemia de coronavírus?
Portella - No início da pandemia o índice Ibovespa caiu de 110 mil para 60 mil pontos. Mas agora já está em mais de 90 mil de novo, e até o fim do ano deve recuperar os patamares iniciais. Isso deve acontecer não pela recuperação das empresas, que ainda vão estar sofrendo, mas muito pelo fluxo de dinheiro que está saindo do investimento conservador para o mercado de ações, que está muito atrativo. Um exemplo é o Banco do Brasil. Hoje, a renda fixa paga menos de 3% ao ano. Se eu comprar ações do BB hoje, só a distribuição de dividendos é de quase 7% ao ano. Ou seja, o investidor ganha o dobro da renda fixa apenas em distribuição de lucros.
E&N - Quando a Bolsa sofreu a grande queda durante o início da pandemia várias ações ficaram muito baratas. Agora, passado o susto inicial, ainda existem oportunidades interessantes?
Portella - Muitos ativos ainda estão extremamente baratos. Papéis de bancos, por exemplo. Existe uma percepção - correta - de que a economia vai girar menos e haverá menos crédito, que é onde os bancos ganham muito dinheiro, mas as ações do sistema financeiro estão baratas demais mesmo com esse cenário. Banco do Brasil, por exemplo, era negociado a 80% do valor patrimonial. Além disso, também há oportunidades interessantes em empresas de infraestrutura, como Gerdau e Usiminas, que sofreram bastante, mas deverão ganhar incentivo na retomada da economia.
E&N - De que forma o brasileiro precisa mudar sua forma de planejar investimentos?
Portella - Com o juro tão baixo ele vai ter que aceitar um pouco de volatilidade na carteira. Antes, com a renda fixa e a Selic alta, o investidor estava acostumado a ter um ganho estável, digamos 1% todo mês. Agora ele tem que saber que no mercado de ações vai ganhar, por exemplo, 1% num mês, perder 1% em outro, no seguinte ele ganha 2% e no outro vai dar 0%. O investidor precisa entender que terá que acumular resultados. Mesmo quem é mais conservador com o investimento terá que aceitar mais risco na carteira. Quem tiver apenas renda fixa acabará perdendo dinheiro para a inflação.
E&N - As mudanças na situação do mercado favorecem a atuação dos escritórios de investimento?
Portella - Podemos ver um exemplo nos Estados Unidos, onde os juros são baixos há mais tempo. Depois da crise de 2008, a taxa de juros norte-americana caiu de 4% ao ano para 0%. Isso mexeu muito no mercado de assessorias. Os investidores começaram a buscar ainda mais ajuda especializada para ganhar dinheiro num momento em que havia juro baixo e pouca inflação. Então aposto no crescimento desse tipo de atividade no mercado brasileiro. Deve haver uma busca forte por assessorias como a Monte Bravo. Teremos uma mudança estrutural no funcionamento desse mercado, que sempre foi muito dependente dos bancos.
E&N - As crises políticas, que tem sido tão frequentes, não geram efeito forte no mercado?
Portella - Apesar de haver um sentimento de que a política interfere no mercado de ações, o que mais afeta é a conjuntura internacional, como o mundo está se comportando. Grande parte das empresas com os papéis mais negociados na Bolsa têm ativos fora do Brasil ou são exportadoras, especialmente de commodities. Então as crises internas têm influência a curto prazo, mas no longo o que importa é a situação global dos mercados.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO