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Reportagem Especial

- Publicada em 07 de Junho de 2020 às 20:12

Exportações gaúchas começam 2020 com o pior desempenho em 11 anos

O Estado exportou US$ 4 bilhões de janeiro a abril deste ano, ante US$ 5,9 bilhões em igual intervalo de 2019 - um tombo de 35%

O Estado exportou US$ 4 bilhões de janeiro a abril deste ano, ante US$ 5,9 bilhões em igual intervalo de 2019 - um tombo de 35%


JCOMP/FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
As exportações totais do Rio Grande do Sul registraram, em 2020, o pior quadrimestre inicial do ano em mais de uma década. Em um reflexo da crise econômica global provocada pela pandemia de coronavírus e do novo perfil da economia gaúcha, com maior peso do setor primário, o Estado exportou US$ 4 bilhões de janeiro a abril deste ano, ante US$ 5,9 bilhões em igual intervalo de 2019 - um tombo de 35%. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia e foram compilados pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
As exportações totais do Rio Grande do Sul registraram, em 2020, o pior quadrimestre inicial do ano em mais de uma década. Em um reflexo da crise econômica global provocada pela pandemia de coronavírus e do novo perfil da economia gaúcha, com maior peso do setor primário, o Estado exportou US$ 4 bilhões de janeiro a abril deste ano, ante US$ 5,9 bilhões em igual intervalo de 2019 - um tombo de 35%. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia e foram compilados pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
É preciso recuar 11 anos, até 2009, para encontrar uma queda tão expressiva das exportações gaúchas em números absolutos e em comparação com o mesmo período do ano anterior. De janeiro a abril daquele ano, na esteira da recessão causada pelo colapso do sistema de hipotecas dos EUA, o setor obteve um resultado de US$ 3,55 bilhões no RS, 28% a menos do que no primeiro quadrimestre de 2008.
O resultado gaúcho deste ano contrasta com o do Brasil. Embora tenham recuado em relação a 2019, as exportações totais brasileiras tiveram queda mais suave, de apenas 6,63%. Até abril, o setor no País atingiu um resultado de US$ 67,3 bilhões, ante
US$ 72,1 bilhões no ano anterior. A disparidade entre exportações totais no Estado e no País deve-se à maior diversidade da pauta brasileira de exportações, conforme Márcio Guerra, representante do Escritório Sul da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
"O Rio Grande do Sul sentiu efeito maior da presente crise mundial em suas exportações em valor agregado e industriais do que nas voltadas para o agronegócio", afirma.
O diagnóstico de Guerra encontra respaldo nos números. O fraco desempenho das exportações industriais foi o principal responsável pela queda das exportações totais, como mostram os números divulgados pela Fiergs. O setor atingiu um resultado de US$ 3,17 bilhões no primeiro quadrimestre, 41,7% a menos do que no mesmo período de 2019. Os setores que mais encolheram foram celulose e papel (-68,4%), tabaco (-38,5%) e químicos (-34,3%). Em compensação, o setor de alimentos registrou aumento de 30,1%, e o de bebidas, de 92,8%.

Agronegócio evita desequilíbrio maior na balança comercial do Rio Grande do Sul

Exportações agrícolas gaúchas tiveram um resultado de US$ 894 milhões, superior em 9% ao do primeiro quadrimestre do ano passado

Exportações agrícolas gaúchas tiveram um resultado de US$ 894 milhões, superior em 9% ao do primeiro quadrimestre do ano passado


David mark/pixabay/divulgação/jc
Com importância crescente na pauta exportadora gaúcha, o agronegócio evitou um desequilíbrio ainda maior na balança ao conseguir um resultado de US$ 894 milhões, superior em 9% ao do primeiro quadrimestre do ano passado. O destaque foi a soja, que registrou exportações superiores em 34,3% em relação a igual período de 2019.
"Desde a abertura comercial, no início dos anos 1990, há uma commoditização da pauta exportadora brasileira, justamente porque não somos fortes em inovação e pesquisa. O Brasil tem dificuldade de competir mundialmente, mesmo em setores industriais tradicionais que já tiveram importância no Estado, como vestuário e móveis", afirma Bianca Martins Rockenbach, doutora em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e pesquisadora de comércio exterior.
Autora de tese sobre exportações de bens intensivos em trabalho, Bianca exemplifica os obstáculos enfrentados por setores como o calçadista, por meio de uma comparação com países europeus. "Em termos de qualidade, nossos concorrentes são Itália e Alemanha. Esses países transferem suas linhas de produção para países asiáticos, onde a mão de obra é mais barata. As matrizes ficam com a parte de qualidade, de diferenciação, de marca", sustenta.
Os números da série histórica, iniciada em 1997, espelham a perda de impulso das exportações de manufaturados e semimanufaturados. No primeiro quadrimestre de 1997, a relação entre o setor e o de produtos básicos na pauta exportadora gaúcha era praticamente dois terços a um terço.
No primeiro quadrimestre de 1997, manufaturados e semimanufaturados somaram US$ 1,25 bilhão dos US$ 1,74 bilhão das exportações gaúchas, ou 68% do total. No mesmo período, os produtos básicos perfizeram US$ 480,9 milhões, ou 28% do resultado. Este ano, a balança equilibrou-se: básicos somaram US$ 2,056 bilhões das exportações totais, e manufaturados e semimanufaturados, US$ 2,006 bilhões.
Embora a queda reflita, em parte, o contexto criado pelo novo coronavírus, o impacto da pandemia deve ser relativizado. No primeiro quadrimestre, o Estado passou do primeiro caso detectado da Covid-19, em 28 de fevereiro, a 2.224 doentes, em 30 de abril. Medidas de restrição à atividade econômica e à circulação de pessoas foram adotadas, porém, apenas a partir da segunda quinzena de março.
Além dos primeiros reflexos da pandemia na atividade produtiva do Estado, a queda capta parcialmente a desaceleração econômica nos principais destinos das exportações rio-grandenses, como China, Estados Unidos e Argentina. Os dois primeiros foram atingidos pela doença ainda em janeiro.
Os indícios de que o setor exportador gaúcho enfrenta dificuldades vem desde outubro de 2019, quando foi registrada a primeira de sete quedas mensais consecutivas nas exportações totais. Nesse intervalo, o Estado caiu do quarto para o sétimo lugar entre os 10 maiores estados exportadores. O fraco resultado do quarto trimestre do ano passado contribuiu para que as exportações totais fechassem 2019 em queda de 13,5% em relação ao ano anterior.
"Quando as economias vizinhas retomarem suas atividades e níveis de confiança, o Rio Grande do Sul deve recuperar, aos poucos, seus níveis de exportações industriais", estima Márcio Guerra, representante do Escritório Sul da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).

Estudo identifica chances de ampliação de mercado

Levantamento foi realizado pela ApexBrasil

Levantamento foi realizado pela ApexBrasil


apex/reprodução/jc
Entre os itens de exportação do Rio Grande do Sul com maior capacidade de ampliar participação de mercado junto aos cinco principais destinos de produtos com origem no Estado, estão polietilieno para a China, tecido de algodão para a Argentina e acessórios de automóveis para os Estados Unidos. A avaliação faz parte do estudo Rio Grande do Sul: perfil e oportunidades de exportações e investimentos 2019, publicado no ano passado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) com base em números de 2017.
A pesquisa lista 74 itens com mais chances de incremento de exportação para os cinco principais destinos da produção gaúcha (China, Argentina, Estados Unidos, Chile e Paraguai). Esses produtos são classificados pelo órgão como "abertura". A categoria inclui mercadorias com exportação descontínua ou com participação de mercado muito baixa nas importações do país de destino. Para que um produto seja considerado abertura pela ApexBrasil, deve apresentar "demanda considerável no país destino", segundo o estudo.
Em relação à China, a pesquisa identificou 15 produtos como oportunidades em abertura. Desse total, apenas nove foram classificados da mesma forma para o Brasil, indicando que o Estado encontra-se em posição privilegiada na disputa pelo mercado. No caso do polietileno de densidade 0,94, em forma primária, as exportações gaúchas para a China foram de apenas US$ 37,2 milhões em 2017 (0,49% do mercado). O principal concorrente é a Arábia Saudita, com 21,42% de participação. Enquanto a China importou cerca de US$ 7,5 bilhões do produto em 2017, o Brasil exportou um total de US$ 82,1 milhões no mesmo ano.
No caso da Argentina, tradicional parceiro gaúcho, tem peso o tecido de algodão tinto em ponto de tafetá. Em 2017, toda a exportação brasileira para o país vizinho, no valor de US$ 21,7 mil, foi produzida no Rio Grande do Sul. O mercado é dominado pela Espanha (54,8%), enquanto o Brasil ocupa 19,11%. Ao todo, a ApexBrasil identificou 15 produtos em abertura para a Argentina em 2017.
A análise das exportações para os Estados Unidos levou ao registro de 15 produtos gaúchos em abertura para o país em 2017. O principal é outras partes e acessórios para veículos automóveis das posições 8701 a 8705 (SH870899). O Estado exportou cerca de US% 55 milhões para os EUA em 2017, ocupando 0,40% num mercado liderado pelo México (31,17%). No caso de betoneiras, as exportações gaúchas para o parceiro norte-americano alcançaram US$ 514 mil em 2017, numa participação de 4,83% no mercado daquele país.
 

Relatório da ApexBrasil avalia consequências da pandemia no comércio global

Documento chama atenção para o impacto da pandemia na Argentina

Documento chama atenção para o impacto da pandemia na Argentina


JUAN MABROMATA/AFP/JC
Em relatório de inteligência de mercado de abril de 2020, intitulado Mercados globais e coronavírus, a ApexBrasil prevê que a América Latina estava em vias de se tornar um foco importante da Covid-19 "nas próximas semanas".
O documento chama atenção para o impacto da pandemia na Argentina, com queda significativa da arrecadação de impostos no primeiro trimestre, tendência a redução nas vendas de veículos e turismo em colapso após o cancelamento de 154 voos semanais em razão do fechamento de fronteiras.
Em termos de acesso a mercado, o relatório enfatiza que o governo argentino zerou a tarifa de importação de álcool, artigos de laboratório ou farmácia, desinfetantes, equipamentos e outros insumos considerados relevantes para o combate ao novo coronavírus. Em relação às exportações, restringiu a comercialização de respiradores mecânicos, com eventuais exceções arbitradas pelo Ministério da Saúde.
O Chile, conforme o estudo, sofreu com a queda do preço e das exportações de cobre, provocada especialmente pela desaceleração da economia chinesa. As vendas do agronegócio, especialmente vinhos, frutos do mar, cerejas e mirtilos, sofreram com a retenção de produtos em portos da China.
Por outro lado, os produtores chilenos de carne sonham com a expansão das vendas para a China dos atuais 12% da produção nacional para 25%. Já o Paraguai registrou queda de 27% nas importações em janeiro e fevereiro. A fatia da população paraguaia que vive na informalidade é de 47%.
Em relação à China, foco inicial da pandemia do novo coronavírus, o relatório informa que as vendas no varejo diminuíram 20,5% em relação ao ano anterior. O país deve apresentar o menor crescimento anual em décadas, estimado por organismos internacionais entre 1,2% e 1%. O gasto das famílias, com previsão inicial de aumento de 7,2%, deverá crescer 2%, de acordo com a agência de avaliação de crédito Fitch.
O relatório mostra que as vendas de alimentos e bebidas não alcoólicas aumentaram este ano na China, mas que, no primeiro bimestre, as vendas de álcool e tabaco caíram 15,7% em relação a igual período do ano passado. O fechamento de bares de karaokê, muito populares no país, foi uma das principais causas da redução.
Um dos setores que experimentou crescimento acentuado foi o de entrega de alimentos (delivery). Os pedidos de entrega sem contato físico entre o entregador e o cliente responderam por mais de 80% do total de pedidos em fevereiro no País.
 

Economia gaúcha pode apresentar respostas diferentes da nacional

Câmbio apreciado ajudaria indústrias do Estado, afirma Marquetti

Câmbio apreciado ajudaria indústrias do Estado, afirma Marquetti


MARCOS NAGELSTEIN/JC
A velocidade de disseminação do novo coronavírus fez com que a doença afetasse produção e consumo de forma generalizada e rápida, travando as cadeias globais de produção e distribuindo os efeitos da crise entre todos os países. Esse cenário é particularmente preocupante no caso do Rio Grande do Sul, uma vez que, mesmo antes de a pandemia atingir o Estado, a cada vez mais importante participação do agronegócio na pauta de exportações vinha sendo prejudicada pela estiagem e o setor industrial sofria os efeitos da turbulência na vizinha Argentina. Essa é a avaliação do professor do Programa de Pós-graduação em Economia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Adalmir Marquetti. Por outro lado, afirma o pesquisador, uma eventual manutenção do câmbio apreciado, com o dólar acima dos R$ 5,00, pode significar um impulso às exportações industriais do Estado. 
Empresas & Negócios - Por que as exportações totais gaúchas registraram, no primeiro quadrimestre de 2020, o pior desempenho em 11 anos?
Adalmir Marquetti - Vamos começar pela comparação entre a situação atual e a de 2009. A crise financeira atingiu o Brasil no final de 2008, com impacto maior nos primeiros meses de 2009. Como a economia mundial entrou em colapso, as exportações do Rio Grande do Sul caíram significativamente. Foi uma crise intensa, que tem significado mudanças importantes no mundo e de modo mais lento. Uma transformação importante ocorreu no terreno político: o Brexit, a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, e a eleição do presidente Jair Bolsonaro no Brasil. O comércio mundial deixou de crescer no início dos anos 10 deste século. Como as economias nacionais continuaram registrando crescimento, há uma pequena queda da participação das exportações em relação às importações no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Essa mudança é importante porque, até ali, exportações e importações vinham crescendo de forma combinada. Pode-se dizer que esse momento marca uma freada do processo de globalização. Depois, esse fenômeno reflete-se no discurso político: o Brexit, Trump com "Estados Unidos primeiro" (America first). A crise atual é distinta da de 2008, que teve forte componente externo. A economia mundial já vinha se desacelerando desde o ano passado. Um dos casos mais graves é o da Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil e, particularmente, do Rio Grande do Sul. A crise argentina impacta as exportações brasileiras, especialmente as de produtos industriais. Estados Unidos, China e Europa já vinham registrando queda nas taxas de crescimento. E aí vem o novo coronavírus.
E&N - Qual é o impacto da pandemia em termos globais?
Marquetti - O coronavírus atinge primeiro a China. Parcela da indústria brasileira importa componentes fabricados na China, como parte do que hoje se chamam cadeias globais de produção. No momento em que regiões inteiras da China pararam em razão da pandemia, não havia mais como importar nem como produzir. A crise aprofundou-se no mundo de maneira muito rápida. Inicialmente, houve um impacto do lado da produção, mas muito rapidamente surgiu um problema do lado da demanda. Quando se olha os dados das exportações, percebe-se que as que continuam crescendo são as de alimentos: há expansão de soja, de carnes e de outros produtos.
E&N - Fatores domésticos agravaram o quadro?
Marquetti - Há um efeito significativo da seca. A região produtora de tabaco, no Vale do Rio Pardo, sofreu muito com a estiagem. É preciso acompanhar, nos próximos meses, um possível impacto da seca na exportação de soja. Até o momento, isso não ocorreu.
E&N - Como fica a situação de setores da indústria gaúcha que já enfrentavam dificuldades na competição com outros países, como vestuário e móveis?
Marquetti - A economia gaúcha reflete a situação nacional. No início dos anos 1990, a pauta de exportações do Brasil indicava um peso maior de produtos manufaturados e semimanufaturados. Com a maior concorrência da China e do restante da Ásia, esses produtos brasileiros perdem espaço. Ao mesmo tempo, cresce o peso das commodities, em resposta à maior demanda dos países asiáticos, especialmente da China. A economia gaúcha é afetada por essa situação como parte da economia brasileira.
E&N - Quais especificidades da indústria do Estado devem ser levadas em conta?
Marquetti - Nossa economia tem duas características um pouco diferentes da brasileira. Em primeiro lugar, a indústria tem um peso ainda maior no Rio Grande do Sul do que no Brasil. Nossa indústria está concentrada no eixo que vai da Região Metropolitana de Porto Alegre, passando pelo Vale do Sinos e chegando à Região Metropolitana de Caxias do Sul, com polos como Passo Fundo, Lajeado e Santa Cruz do Sul. Essa indústria tem uma participação do setor de bens de capital maior do que a média brasileira. Em segundo lugar, o Estado é um pouco mais aberto, exporta mais do que o Brasil. Se a indústria brasileira não vai bem, a situação gaúcha piora, porque esse segmento é mais importante aqui do que no restante do país. A indústria gaúcha sempre foi intensiva em mão de obra. Uma vez que essa mão de obra é relativamente mais barata em termos mundiais, isso permitia que competíssemos mais fortemente com a produção chinesa.
E&N - Essas particularidades, porém, até agora não têm se mostrado suficientes para que o Rio Grande do Sul vire o jogo.
Marquetti - Hoje, alguns desses setores intensivos em mão de obra estão migrando da China para outros países asiáticos, como Vietnã. Nesse momento, ganha importância a questão cambial, ou seja, a relação salário/-dólar. Para melhorar o desempenho nessas condições, a economia brasileira e gaúcha precisaria aumentar a produtividade do trabalho. Não temos sido capazes de fazê-lo. Há um grande debate sobre por que isso não acontece. Assim, a indústria brasileira e, no seu interior, a gaúcha têm tido dificuldade para se adaptar a esse novo processo que começa nos anos 1990. Temos perdido espaço. A desindustrialização brasileira e gaúcha é muito preocupante. O Brasil tornou-se um grande exportador e importador de petróleo. Na década de 1980, ninguém imaginava que o país se tornaria exportador de petróleo. Quando o setor exportador avança, a economia gaúcha se sai um pouco melhor do que a economia brasileira como um todo. A desvalorização do real tem efeitos sobre a economia gaúcha, porque nosso setor exportador recebe mais em reais pelos seus produtos. Agora, por exemplo, se o câmbio se mantiver apreciado, com o dólar cotado perto de R$ 5,80, as exportações do setor industrial serão impulsionadas, uma vez que o produtor gaúcho, que vende em dólar lá fora, terá receita comercial maior. A economia gaúcha acompanha a economia brasileira, mas, dependendo das circunstâncias, pode apresentar respostas um pouco diferentes.
E&N - Como o senhor avalia a resposta das autoridades a esse cenário?
Marquetti - O movimento dos governos federal e estaduais foi na direção correta, mas com grande timidez. Seria preciso ter política de estímulo. O Estado tem um papel fundamental na ajuda à sobrevivência das empresas. Era necessária uma política mais agressiva, com um volume de recursos muito superior ao que foi colocado. Tivemos tempo para nos preparar para a doença. Os governos federal e estadual não aproveitaram esse tempo. O Brasil ainda detém conhecimento técnico. Seria possível ter alocado recursos e aproveitado esses dois ou três meses para desenvolver testes diagnósticos e respiradores de baixo preço nas universidades, nos centros de pesquisa e nas empresas. A preparação para enfrentar a pandemia foi muito ruim. Até agora estamos discutindo se o Banco Central (BC) pode ou não emitir moeda. Há 5 milhões de pessoas sem acesso ao auxílio emergencial de R$ 600. É preciso dar agilidade à distribuição desses recursos porque esse dinheiro vai retornar. O governo tem de socorrer os Estados. A direção das medidas foi correta, mas a velocidade e o ritmo foram muito lentos.
* Luiz Antônio Araujo é jornalista e colabora com BBC Brasil, The Intercept Brasil, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo. Professor de Jornalismo na Pucrs desde 2015, é mestre em Comunicação e Informação e doutorando em Estudos Estratégicos Internacionais pela Ufrgs.